quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Filosofia Escoteira?




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Filosofia Escoteira?

... - Nada que ficar de bem com a vida e aproveitar horas de descanso para pensar. Nada entendo de filosofia, mal lí sobre Immanuel Kant, Rousseau, Friedrich Nietzsche, Platão Aristóteles e Sócrates. Sempre vi o escotismo como algum impossível de tocar, como o vento, como as ondas do mar, um por do sol na primavera... Afinal para mim o escotismo sempre foi à beleza das coisas que existe no espírito de quem as contempla e ama...

                              Outro dia alguém disse que temos no escotismo um grande número de filósofos escoteiros. Pensei bastante sobre o tema. Seria verdade? Li que a palavra “filosofia” significa amor pelo conhecimento. Um filósofo não é apenas alguém que sabe muito ou que ama aprender. Um verdadeiro filosofo é quem pensa sempre de maneira crítica sobre questões importantes que não possuem respostas óbvias. A vida de um filósofo escoteiro não é nada fácil, mas caso você goste de explorar as complexidades das relações humanas e de pensar seriamente sobre temas importantes e frequentemente controversos no escotismo, talvez você seja um predestinado para ser um filósofo escoteiro.

                     Mas seria eu um filosofo? Um humanista, um pensador? Padre Pedro que o diga, no Colégio Ibituruna vivia dizendo que eu não chegaria a nada na minha luta pela vida, será que ele disse a verdade? Pode ser, não me formei, fui um estudante médio, o que sei aprendi lendo e vivendo na Escola da Vida. Disseram-me que os filósofos não ficam batendo papo sobre as próprias opiniões. Gostam de desenvolver argumentos baseados em premissas que são muito criticadas por outros “filósofos”. (verdade). Mas afinal o objetivo do pensamento filosófico não é estar sempre certo, mas fazer perguntas pertinentes e buscar entender melhor o mundo?

                          Com seis anos e meio subi o Pico do Ibituruna com mais 20 lobos da Alcateia e com meu Balu na direção. Ele um Chefe sem eira nem beira sabia conquistar, falava bonito, sorria com seus dentes grandes e brancos, mexia com os braços tentando nos convencer da maravilhosa vista que se descortinava a nossa frente. Meninada na flor da idade ainda não sabia das belas cores do por do sol, da serpente em noites enluaradas que o Rio Doce fazia na sua jornada correndo para o mar. Mas onde estava ali a filosofia? Quem sabe na fraternidade entre os lobos e no olhar infinito do nosso Balu?

                         Nunca aceitei a tese que preto é preto branco é branco. Juntando os dois temos belos exemplos de cores cinza, chumbo, e se quisermos criar cores da imaginação é só acompanhar o vento com a interpretação que temos de belas cores, as do arco íris, das matas, do céu, da lua do sol e tantas mais. Meu Balu dizia que uma das coisas mais importantes na vida era ler, ler muito, engolir as histórias e sentir no coração o escrito que entendeu do livro que leu. Quando passei para os escoteiros vi o outro lado das minhas leituras, belas jornadas, belos acampamentos, sorrir ao ver o Rael contar como foi ver e amar o seu primeiro por do sol...

                         Nunca fui capaz de abandonar a filosofia escoteira que morava em meu coração. Li Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Kant e São Tomaz de Aquino. Alguém me disse que na filosofia oriental as ideias de La-Tsé, Confúcio e Buda também merecem a atenção dos filósofos escoteiros iniciantes. Adotei a palavra filosofia no Escotismo que significa amor pelo conhecimento. Mas completam meu raciocínio: - Chefe um filósofo não é apenas alguém que sabe muito ou que ama aprender. Como dizia Sócrates sábio é aquele que conhece os limites da sua própria ignorância.

                         Quem sabe meu intelecto não agrada a maioria dos “çabios” escoteiros de hoje. Olham por uma prisma diferente do que sempre adotei. Amor em primeiro lugar, respeito em segundo e saber ouvir antes de falar. É bom ouvir um bom papo, uma boa história, um bom caso um bom conhecimento de quem está falando. Meu escotismo filosófico mudou? Um corre-corre para ser o melhor? Melhor de que? Se posar de medalhão? Isto é filosófico? Ser admirado, ser contemplado como um “douto” filosófico do escotismo moderno? Desdenhar antigos que amaram o que sempre fizeram e acreditaram?

                         Minha filosofia é feita de erros, aprender caindo, repetindo frases sem eira nem beira. Tente mover o mundo, o primeiro passo será mover a sí mesmo. Dizia Platão. Ou complementando: - Não espere por uma crise pra descobrir o que é importante em sua vida, afinal o que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê... Será que no escotismo não aprendemos nada, que não nos preocupamos em refletir sobre a ética e a moral humana? Respeito... Uma palavra simples que nunca pode ser esquecida.

                        Termino copiando Aristóteles: Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura. E finaliza, o ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete. O filósofo nos dá lições poderosas, pensar fora da caixa exige certa anormalidade e a forma como a gente age geralmente define a nossa personalidade. Já dizia Santo Agostinho, ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser, ou então pensar que o mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página. Eita Filosofo santo poderoso, refletindo suas palavras quem não gostaria de ler uma página do incrível livro da sua vida?