sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O Escoteiro é cortês.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O Escoteiro é cortês.

... – Respeito: - Jamais trate o interlocutor como tolo, ingênuo ou mau! Reflita sobre a razão da conversa ou discussão. Se for só pelo prazer de estar certo, não valerá a pena continuar...

- Às vezes me pergunto onde anda o cavalheirismo escoteiro. Tunico Polegar ria quando dizia isso. – Chefe! Ainda existem cavalheiros neste mundo moderno? Tunico era único, podia colocar nele dezenas de sinônimos de cortesia. Era amável, afável, bom, amistoso, atencioso, educado, agradável, civilizado, cordial, distinto gentil e... Tudo que você pensar em um escoteiro educado ele se portava como tal. Poderia dizer que adquiriu essas qualidades na educação que recebeu de seus pais, mas que o escotismo ajudou, há! Isso lá ajudou. Dizem que cavalheirismo é um substantivo masculino Ação, característica, atributo ou comportamento de cavalheiro, qualidade de quem demonstra gentileza, cortesia e civilidade.

Mas porque estou entrando nesta seara? Bem voltando das minhas pequenas férias na barraca de enfermaria, o qual está virando rotina, me deparei com pseudos chefes escoteiros (assim acredito) comentando um artigo meu sobre o fato atual da pedofilia existente no meio escoteiro. Fui desafiado a dar nomes aos bois, quem sabe achincalhado pelo meu artigo do qual li de novo e não vi nada contra. Pode até ser que tenham razão, mas será que não havia uma maneira mais cortês de comentar? Estou vendo nas redes sociais valentes chefes, desafiadores na sua maneira de agir, muitas vezes ofendendo, dizendo que irão as raias da lei, defendendo seus pontos de vista como se fossem os guardiões escoteiros da moralidade nas ações de dirigentes ou até mesmo um já velho Chefe como eu.

Li outro dia um artigo interessante orientando você (eu) a evitar entrar em celeuma ou discussão principalmente com aqueles que se julgam dono da verdade. Dizia que devemos refletir sobre a razão da conversa. Se for só pelo prazer de estar certo, não valerá a pena discutir... Ensina que devemos levar em consideração a idade, a cultura e a religião do interlocutor. Não esperar que ele seja como nós (eu). Quando a discussão chegar a um ponto inegociável, pare de falar ou escrever e mude de assunto. Tinha outras sugestões que para não alongar o tema paro por aqui. Não conheço nenhum dos meus interlocutores. Não é a primeira vez que alguns se insurjam com o que escrevo. É um direito, mas levar para uma discussão é totalmente inútil, pois nenhum dos lados irá convencer o outro da sua razão. Esconder-me atrás da minha idade ou experiência não sei até que ponto é válido.

Tive também a surpresa em outro artigo de ver um Chefe Escoteiro que não conheço pessoalmente, educadamente me dar conselhos sobre o que eu publico sobre escotismo. Disfarçadamente deu suas razões para tal. Pensei que poderia ser uma admoestação, uma censura ou aconselhamento voltado para proteger a disciplina escoteira da nossa associação.  Temos no Movimento Escoteiro aquele faz de conta que tudo que os lideres dizem devemos dizer “amem”. Insistem em dizer que somos um movimento democrático e temos as normas próprias onde discordar e sugerir. Por um lado sem disciplina o Movimento Escoteiro não tem como manter sua metodologia e ter adultos a seguir sua metodologia. Concordo.

Mas esta disfarçada forma de repreender que julgo uma censura, não faz parte de cavalheiros se pensarmos que no escotismo não somos assim. Meus artigos às vezes são ferinos e nem sempre palatável para uma boa parte da elite escoteira da Escoteiros do Brasil. Como sabem sou de uma velha estirpe escoteira em extinção onde a preocupação era colaborar na formação do jovem tentando dar a ele um pouco de ética, honra, dignidade, e condições de atuar na ajuda ao próximo e a formar seu próprio caráter com o programa delineado por Robert Baden-Powell. Para isso nosso exemplo sempre foi inquestionável para o jovem. Não somos santos. Somos humanos. Temos uma série de erros para corrigir. Mas para nós chefes deveria ser ponto de honra o nosso exemplo. Se um dia fizemos uma promessa, prometemos “fazer o melhor possível” para cumprir a Lei Escoteira, acredito que nossa maneira de se apresentar tem de ser levada a sério.

Nesta nova era, chamada de moderna, se vê grande preocupação no comportamento, no costume vivenciando não só seu país que passa a fazer parte da globalização. Com isto o Escotismo recebe uma forte pressão de muitos para que tudo deva mudar. Nos grupos temos hoje uma nova nomenclatura. Aquelas tradicionais desapareceram. O Programa também mudou. Não Há uma preocupação do que os outros fazem sem ao menos ver se os resultados são melhores. A visualização da uniformidade mudou. Aquela velha reprodução do escoteiro de outras eras desapareceram. Só os antigos ainda mantem-se atrelado ao passado. Viver amar e compreender a natureza como fonte do aprendizado para a vida, aos poucos está sendo substituído por outras formas mais modernas como  pensam os novos arautos do escotismo.

É longo o caminho a seguir. Dou meia volta e retorno aos novos cavalheiros da moderna atualidade. Muitos esperando que sua nova criação tenha o efeito esperado e para isso fazem questão de manter viva a chama entre os viventes no escotismo. Já não existe mais o espírito de BP como antigamente. Antigamente? Palavra proibida para nos novos pedagogos e pensadores do poder escoteiro. Posso estar enganado, mas ainda vejo o sorriso do jovem, ainda acredito em sua opinião e ainda acredito se ele mantem dentro de seu espirito a juventude aventureira em busca do seu eu, como um herói dos seus ancestrais. Na minha humilde opinião a violência gera a violência. Gritos, força bruta, ofensas e censura não tem mais lugar ou nunca teve no seio da família escoteira.

Afinal somos queira ou não irmãos. Irmãos por parte da espiritualidade para quem acredita, irmãos nesta vida terrena, irmãos de lenço para levarmos a frente os ideais de uma ideia que teve e ainda tem tudo para transformar uma nação. Quanto ao cavalheirismo precisamos repensar esta maneira intempestiva de tratar ao seu oponente. Escoteiramente manter o respeito, a civilidade entre os chefes seja em qualquer nível faz parte da boa educação e cavalheirismo. Abstenho-me de manter uma discussão inócua. Sei que não vou mudar concepções assim como eu também dificilmente irei mudar só porque alguém discordou e anotou em meus alfarrábios. Discutir em grupo, em seminários, onde as técnicas próprias satisfazem a ambos debatedores deve ser levado em consideração e aceito pela maioria.

Finalmente penso que temos que nos preocupar com nosso exemplo para com os jovens. O segundo artigo da Lei Escoteira, ser leal cortês, amigo e verdadeiro trás a tona o sentido do exemplo que devemos dar. A essência da lealdade e confiança lastreiam os valores que trabalhamos no escotismo através da Promessa Escoteira e por conseguinte, da Lei Escoteira a qual prometemos cumprir.