quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Conversa ao pé do fogo. O Troféu Eficiência da Patrulha Corvo.




Conversa ao pé do fogo.
O Troféu Eficiência da Patrulha Corvo.

... - Quando uma patrulha resolve agir como um time, como uma equipe e quando todos estão imbuídos do mesmo ideal, não existem motivos para achar que não podem conquistar o que julgaram impossível.

                          Zé Lineu olhava sua patrulha com admiração. Ele foi escolhido como monitor, ninguém dava nada por ele, magrinho, piquitito, olhos pequeninos, estava querendo aprender a ser líder. Quando foi escolhido leu muito sobre liderança, leu tudo que o Chefe Leão indicou. Havia três meses que fora eleito. Não sabia por que tinha sido escolhido. Na corte de honra os monitores das outras três patrulhas não concordaram muito. – Chefe, sendo uma nova patrulha com novos patrulheiros um sub nosso deveria ser o escolhido e indicado. – Chefe Leão não disse nada. Afinal foi decisão da patrulha. Quando ele tentou explicar que precisavam de alguém mais experiente eles foram contra. Afinal se decidiram assim que seja. Isto se chama democracia. Não dizem que precisamos aprender a fazer fazendo?

                        Tonico Souza foi aclamado Submonitor. Zé Lineu deixou que cada um escolhesse o local que ficariam na formação e qual o cargo preferido. Parecia que tudo estava combinado. João Moreno ficou com a intendência. Pedro Luiz como bombeiro e aguadeiro. Joel Siqueira sorriu quando disse que seria o cozinheiro. Manolo Xavante ficou como Construtor e na sede Almoxarife. Sobrou para Zico Capixaba ser o socorrista e lenheiro. Faltava o cargo de escriba e Zico Capixaba assumiu até entrar o oitavo Escoteiro da Patrulha Corvo. Todos se sentiram importantes. Era uma patrulha nova, com menos de três meses de atividade, mas que não deixavam por menos seus afazeres obrigações e responsabilidades. Na sede as outras patrulhas davam risadas. Eram escoteiros mais antigos, muitos primeira classe e outros tantos segunda classe. Consideravam os Corvos amadores perto deles.

                    Na primeira Corte de Honra que Zé Lineu compareceu, gostou do rito, do simbolismo e do respeito que ali imperava. Laércio Barbosa Guia da Tropa e o monitor mais antigo. Tinha três anos de lobo e já ia entrando nos quinze anos. Breve iria fazer a Rota Sênior. Zé Lineu nunca duvidou de sua capacidade e quando o Chefe Leão comentou na Corte sobre o próximo acampamento e a conquista da Eficiência Padrão Ouro de campo ele ficou boquiaberto. Era demais para ele. Olhou para os outros monitores e viu seus olhos brilharem. Na reunião de patrulha na casa de João Moreno ele expor como seria o Padrão Ouro de Eficiência. Todos ouviram atentamente – Todos os dias cinco pontos para as barracas bem armadas e conservadas. Dez pontos para a verificação na inspeção dos objetos individuais. Vinte e cinco pontos para novas pioneirías. Vinte ponto para a limpeza das panelas. Vinte pontos para o campo limpo. Vinte pontos para a apresentação pessoal. O uniforme limpo e bem passado para as inspeções e para o cerimonial de bandeira.

                    - Monitor! – Disse Zico Capixaba, uniforme limpo e bem passado no campo? Zé Lineu riu e respondeu – Dizem que existe uma técnica que só os escoteiros sabem. Portanto vamos saber como é e treinar para quando estivermos acampados. Zé Lineu continuou – Serão quatro dias de acampamento no Vale da Tartaruga. O Chefe vai levar os monitores lá para conhecer no próximo domingo. Prometo ver tudo e contar para vocês. Cada dia os pontos serão comunicados na Bandeira após a inspeção geral e o Hasteamento. A Patrulha que alcançar o primeiro lugar no último dia ganha um belo troféu em forma de Totem e feito em couro especial. Não esqueçam tudo que fizermos durante o dia também vale ponto. As chamadas, as formações, os sorrisos e a limpeza. Os jogos terão menas pontuação. Vamos nos preparar. Sei que é impossível sermos os melhores, mas não custa tentar.

                        Durante os dois meses que antecederam o acampamento nunca se viu uma patrulha como a Corvo treinando e praticando tudo que deveriam fazer. As demais patrulhas assistiam a tudo sorrindo. – Joílson sub da Pantera ria a beça dos pata tenra (assim chamados por serem novatos). Para todas as patrulhas a Corvo sonhava o que nunca poderiam conquistar. – Nas reuniões eram motivo de chacotas, mas o Chefe Leão não gostou. Chamou os monitores e os alertou para o respeito e a fraternidade. O dia chegou. Partiram em um caminhão da prefeitura. Uma hora e meia de viagem. A chegada, o arvorar da bandeira, a escolha do campo pelas patrulhas, todas elas lutando para darem o grito do café pronto, do almoço pronto, do jantar pronto, eram um brilho para os olhos do Chefe Leão.

                         No primeiro dia todos formados na porta da sede e como sempre aquela alegria geral. No campo cada monitor junto a sua patrulha pode escolher seu campo. Os patrulheiros do Corvo se assustaram no primeiro dia. Não fizeram quase nada e foram os últimos a darem o grito nas refeições. Na hora de Dormir Zé Lineu reuniu a patrulha. Tentou encorajar, mas todos só queriam dormir. Levantaram cedo. A ginastica o café e a limpeza do campo tomou toda a manhã. As nove em ponto o Chefe chegou para iniciar a inspeção. Bela tentativa, mas na bandeira viram que ficaram em último lugar. Foi Manolo Xavante quem deu ânimo a todos. Um dia vá lá, mas dois dias? Somos escoteiros ou ratos? – Bem dito, no segundo dia ficaram em terceiro e no terceiro dia em segundo. Agora a maioria das patrulhas olhavam os corvos de maneira diferente. Veio o último dia. Dia esperado.

                          Os corvos ficaram boa parte da noite fazendo pioneirías. Pequenas mas com enorme utilidade. Fizeram uma chaminé para o fogão para evitar a fumaça nos olhos do cozinheiro, fizeram um WC e João Moreno construiu um belo banco com encosto. Pela manhã Zé Lineu passou os olhos no campo. Zico Capixaba com folhas de coqueiro fez um belo capacho. As fossas de líquido e detrito tinham tampas tipo sanfona, abriam a um toque de um cipó. A casinha de lenheiro estava perfeita. Neste dia quem fazia a inspeção eram os monitores. Este só não fazia na sua. Cada monitor olhou com atenção as pioneiras. Zé Lineu notou que nas outras patrulhas eles não tinham igual. Tonico Souza o sub recebeu todos com a canção do Cucu. Até mesmo as vozes treinadas e a maneira de cantar fazendo gestos foi perfeito.

                        No cerimonial de bandeira um frenesi na Corvo. Quem seria o primeiro? O monitor da Anta sabia que não conseguiriam. O Monitor da Pica Pau também. Só o monitor da Onça tinha esperança. Zé Lineu que viu o campo de todas as patrulhas não cabia de contente. Desta vez seriam os primeiros. Os olhos de Zé Lineu brilhavam. Chefe Leão fez o suspense. Baixinho sem gritar anunciou o primeiro lugar – A Patrulha... Onça ganhou o troféu eficiência! Ninguem acreditava no que ouvia. O Chefe Leão disse para todos: - A luta foi tremenda, todos mereciam, os Corvos tinham tudo melhor que as outras, mas não obedeceram ao horário de silencio e ficaram a noite toda fazendo as pioneiras. É certo isto? Não, obedeceram as ordens. Meus parabéns aos corvos e espero que no próximo acampamento eles ganhem de igual para igual com as outras patrulhas!

                           Zé Lineu e os demais patrulheiros em reunião na casa de Pedro Luiz chegaram à conclusão que o Chefe estava certo. Ganhar sim, mas dentro das regras. Tonico Souza o Sub sorriu. Manolo Xavante se levantou e disse: Teremos novas oportunidades. Nunca iremos desistir. Verdade ou não a Patrulha Corvo no passar dos anos teve muitos troféus e muitas histórias para contar.