domingo, 9 de fevereiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Voluntário... Sou um deles?



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Voluntário... Sou um deles?

... O caminho para se conseguir a felicidade é fazendo as outras pessoas felizes... Se tiver o hábito de fazer as coisas com alegria, raramente encontrará situações difíceis... Vale a pena ser bom, mas o melhor é fazer com simplicidade sem arrogância... Não existe ensino que se comparece ao exemplo! Baden-Powell.

- Segundo definição das Nações Unidas, "voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos...".

- Se quisermos aperfeiçoar nossos conhecimentos sobre o trabalho voluntário, na internet temos milhares de páginas que falam a respeito. Algumas dizem que incluir o voluntarismo no currículo é importante para seu reconhecimento profissional. Comentários diversos diz que é gratificante e faz bem a saúde... Aumenta o aprendizado no seu modo de viver... Aumenta sua agenda de contatos... O torna mais feliz... Coloca suas ideias em prática... Vai praticar o que está aprendendo e melhora seu carisma. Pessoas importantes e algumas famosas fazem questão de trabalho voluntário seja ele qual for sem pavonear e se mostrar o melhor.

Temos inúmeros casos de alguns que se dedicam anonimamente a ajudar o próximo, principalmente doentes e crianças. Em um programa de voluntariado, é muito comum adquirir novas habilidades como aqueles que nos fins de semana ajudam na construção de casas para famílias necessitadas. Fazer o bem que mal tem? Inúmeras pessoas desempenham atividades voluntárias acreditando fazer do mundo um lugar melhor para viver. Os Doutores da Alegria, pessoas que acreditam ajudar os doentes e os fazer felizes seja em hospitais, casas de repouso, clínicas podem ajudar no tratamento e em alguns casos existem resultados comprobatórios. Muitos são anônimos, não fazem de sua obra voluntária uma amostra dos seus conhecimentos e nem mesmo comentam em redes sociais.

Ainda ontem li sobre uma senhora, nova ainda e seu trabalho semanal com crianças de escolas públicas que não vão bem em seus estudos e ela todo sábado está presente para ajudar. Isto há mais de dez anos! Não li sobre ela nas redes sociais. Que eu saiba é um trabalho esplêndido e pouco reconhecido. Médicos sem fronteira, doadores de sangue, bombeiros voluntários, os que percorrem ruas e avenidas trazendo alento com sopas ou congêneres sem serem premiados para tal. Milhares de outros estão ai ajudando sem alarde sem dizer quem são e sabendo que o importante é sua consciência fazendo outros tantos felizes. Li sobre o portal de Ação Voluntária e outros que arregimentam pessoas interessadas em fazer um trabalho voluntário. O Escotismo não está lá. Milhares de organizações atendidas nas diversas necessidades por recursos humanos e voluntários. Existe uma Lei de Numero 13.297 de 16 de junho de 2016 que regula a assistência a pessoas com objetivos de atividade não remunerada reconhecida como serviço voluntário.

Mas e o escotismo? Sabemos que só na Escoteiros do Brasil sem considerar as associações independentes já passam de 12.000 participantes. Não deviam ser mais? O acesso através dos filhos, dos amigos ou da sua vida escoteira que guardaram na mente e no coração seu amor à filosofia escoteira é um caminho? Será que somos um voluntariado diferente dos demais? Enquanto a maioria se mantem anônimo no seu trabalho, no Escotismo não. Sem menosprezar os dedicados e afoitos no seu trabalho ao jovem, tem outros exibicionistas muitas vezes prepotentes no trato com os demais. Nosso caminho com Chefe voluntário não pode ser a fonte eterna de satisfação pessoal que a primeira vista enobrece, nos dá possibilidade de ascensão e de poder. Muitos ficam extasiados com tal abertura de endeusamento, já que a mística e a simbologia encanta desde os mais antigos aos mais novos.

Enquanto no passado os adultos voluntários tinham uma caminhada simples com seus rapazes na prática escoteira, hoje isto não acontece. O deslumbramento tomou conta de alguns, claro que nem todos. Ainda existem muitos que enveredaram pelo verdadeiro espírito escoteiro, visando única e exclusivamente à colaboração na formação do jovem conforme preceitos metodológicos que foram escritos pelo fundador Robert Baden-Powell. Mas encantam alguns suas performances no crescimento não só ideológico como na mística sem contar o poder já que muitos ainda sonham ficar em posição de mando mesmo não sendo mestres do conhecimento escoteiro e suas necessidades junto aos rapazes.

A Insígnia de Madeira é fator preponderante no brilhantismo individual. Ter o lenço, ter o anel e as contas é motivo de orgulho pessoal em muitas redes sociais. Alguns ainda não tem ideia do que podem ajudar aos jovens. A presença em atividades onde fazem questão de marquetear e ao assumir poderes trás há muitos dividendos de ser conhecido e reconhecido como autoridade escoteira. O sonho de muitos na hierarquia, acreditando ser um novo docente, sendo olhado como um doutor ou melhor como um Velho Lobo no saber escoteiro costuma ser frequente.  Lá estão eles contando suas proezas, seus cursos, seus encontros nacionais e algumas vezes internacionais. A sede de poder não só na unidade local e também nas demais subsequentes é uma realidade. Alguns acham que assim sendo estão abrindo um novo caminho para as condecorações. Já sonham com a Cruz São Jorge, a Tiradentes ou o Tapir de Prata. Afinal as demais basta ter uma boa lábia e uma boa escrita nos Grupos Escoteiros e são fáceis para conquistar.

Nos entretantos de tudo isto onde estão os meninos? As meninas? Poucas fotos, poucos relatos de atividades próprias do programa escoteiro. Agora ao contrário lá estão os novos IM, os novos Formadores sem contar cargos na hierarquia escoteira. Será que estes têm boas alcateias, boas tropas, quase completas fazendo um escotismo de primeira qualidade no campo, vida ao ar livre vivenciando a natureza conforme pensou BP? Será que estes próceres no saber podem discutir e ensinar escotismo sem uma boa base no seu aprendizado anterior? Cursos avançados para formadores darão a eles condições para formar ou como se dizia no velho jargão do passado, adestrar? Não precisam mais de técnicas, de vivencia de campo de aprender a fazendo?

Sem desmerecer muitos que estão participando e colaborando com seus jovens, fico triste ao ver poucos jovens em suas Patrulha ou Matilhas, com seu sorriso aberto, seus anos de vivência não só na individualidade, mas no coletivo, e ao chegar em sua vida adulta valorizam o escotismo que fizeram. Ainda há um longo caminho a percorrer para que todos entendam que só os resultados interessam. O escotismo deve desenvolver a todos e não só um mais afoito que para alguns lideres são exemplos nem sempre seguido pelos demais. Voluntariado é sinônimo de espontâneo, natural, facultativo. Ser voluntário é mais do que se imagina, sem estrelismo e se dedicar a ajudar sem esperar nada em troca.