quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Dossiê - O ESCOTISMO BRASILEIRO


 Podemos dar alguns passos no sentido de dar, mesmo ao jovem mais pobre, um começo e uma chance na vida, dotando-o, de certo modo, com esperança e uma habilitação.
Baden Powell
  

O Dossiê - O ESCOTISMO BRASILEIRO
No primeiro decênio do século XXI

        Recebi há alguns dias, não lembro quem me enviou, um relatório feito pelo Dr. Jean Cassaigneau, que a pedido da União dos Escoteiros do Brasil, fez um diagnóstico, perspectivas, proposta e recomendações sobre o Escotismo Brasileiro. Um excelente trabalho. Não o conhecia. Imaginem que isto aconteceu em 2007. Acredito que todos os órgãos escoteiros, aí incluindo Grupos Escoteiros no Brasil tenham recebido uma cópia pela importância do conteúdo. Portanto meus comentários hoje estão muito defasados. Mas passou-se pelo menos cinco anos. Se suas observações ou sugestões foram aceitas não sei. O que confirmo é que muito do que escreveu não deixa de ser atual hoje em dia. Muito atual. Não vou entrar aqui em todos os detalhes de suas observações, pois isto iria alongar muito. (os interessados em receber o estudo completo, podem solicitar pelo meu e-mail elioso@terra.com.br que envio imediatamente – em PDF).

        Não digo que tudo que escreveu e todas as suas observações seriam perfeitas. Mas o pouco tempo que teve acertou em cheio nas suas colocações. Visitou dez regiões escoteiras, conversou com mais de cento e sessenta escotistas, pioneiros e até com pessoas não escoteiras. Ele mesmo diz que viu na UEB recomendações de membros ativos para modificar alguns aspectos negativos ou controversos e incentivar o crescimento tanto qualitativo como quantitativo. Isto até serviu de subsídios em seu trabalho. De posse de uma boa documentação seu relatório vai ao âmago da questão que eu acredito aflige nosso movimento, o deixando estagnado há décadas e décadas.

        De uma maneira simplificada, escreveu o que o seu estudo pretendia ser e não ser. Claro, dentro de suas prioridades as mais importantes foram de recolher ideias, opiniões e sugestões de membros da UEB em boa parte do território Nacional, não só dos dirigentes. Não faltou uma identificação e uma análise das realidades e tendência. Comentou sobre uma proposta para uma visão de consolidação e desenvolvimento do Escotismo no Brasil. Não deu a solução, apesar de que ficou explícita no final do relatório. Deu a entender que em sua opinião existem sim soluções concretas, articuladas e coerentes. Interessante foi sua comparação entre os membros da UEB e a população brasileira. Só como exemplo, temos uma media de 0,4% de participação enquanto no Chile ela é de 0,22%.

      Interessante notar seus gráficos do nosso crescimento, uma verdadeira “sanfona” de vai e vem. O ápice foi em 1991 e se manteve até 1993 aonde chegamos a mais de 70.000 membros. A partir daí uma queda vertiginosa. Suas observações sobre a movimentação do efetivo nos estados é excelente. Faz um breve retrospecto da evasão e me baseando pelas minhas parcas informações não sei se concordo com seus números nos dias de hoje. Sua comparação com outros países sobre a arregimentação de adultos nos coloca em boa posição, mas em relação aos jovens perdemos e muito.

        Poderia me aprofundar no todo de suas observações, principalmente no que disseram a maioria dos entrevistados. Mas isto iria alongar muito. Mas do que disseram os entrevistados não me escapa algumas preciosidades: - O escotismo é visto como um clube – Falta divulgação e quando é feita muita vezes é desvirtuada. Os jovens não escoteiros não compram muito a ideia do que estão vendo. Muitos escotistas e escoteiros tem vergonha do uniforme, não fazem marketing com ele em atividades extra-sede. (aprovaram o traje, é mais fácil se apresentar com ele que com um uniforme). Não existe um bom trabalho para mostrar o escotismo na sociedade e principalmente junto aos responsáveis pela educação no país. Acham que o público acredita que somos um movimento fechado (sempre dentro das sedes escoteiras), mudar a imagem do Escoteiro “biscoito” para um escotismo com formação do caráter, um movimento sério com preparação vocacional e compromisso social. Rebatem sempre a vergonha de se mostrarem em público, sua linguagem (o programa) muitas vezes são incompreendidas. Mudar a imagem do Escoteiro “babaca”, do Escoteiro “cata-lixo” e bobo e diversificar para uma presença ativa na comunidade.

           Isto foi que disseram a ele em suas entrevistas. Tem muito mais. Centenas.  Os próprios membros da UEB na época (2007) já diziam que parece que somos uma organização secreta, não temos penetração visual. Ficamos trancados em nossas sedes. As pessoas respeitam o que conhecem, quem não é visto não é lembrado. TEMOS QUE VENDER NOSSO PEIXE! Centralização não é a solução. A Nacional busca fora o que tem dentro. Precisamos ter menos burocracia, menos política, menos instabilidade. A UEB é um trem com vagões pesados. A UEB não faz rodar a roda que inventou o Baden Powell (BP).  A UEB é como uma ostra – apenas abre-se e fecha-se imediatamente. A UEB cuida da política e não da administração. A ESTRUTURA DA UEB É FEUDAL E FECHADA. Cada membro da UEB está fazendo do seu jeito. É preciso ser um colegiado e não levar em conta a promoção pessoal. A UEB é uma fogueira de vaidade onde se briga por besteira!

         Isto meus amigos está no relatório. Não são palavras minhas. Claro, de 2007 podem dizer, mas será que mudou alguma coisa? E para encerrar, algumas outras pérolas do que disseram membros da UEB na época – O Escotismo, antes era desafio e conquista, agora é brincadeira. Qualquer grande organização que se preze, antes de ʺvenderʺ um produto novo, realiza uma pesquisa de opinião para saber se aquele produto irá ʺvenderʺ bem, ou a melhor forma de fazêlo. Perguntar não ofende, não faz mal, pelo contrário, valoriza a pessoa e torna a política mais sábia. Os escotistas e dirigentes, quando podem, têm que fazer ʺimportaçãoʺ (ou seria ʺcontrabandoʺ), de publicações, de um Estado para outro. O programa novo é calmo de mais.

       Nada diferente do que escrevi e sempre escrevo. Realmente não sei e não posso afirmar se fizeram alguma coisa sugerida pelo relatório do eminente Dr. Jean Cassaigneau. Sua experiência como antigo Secretário Geral Adjunto da Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME) não deixa dúvidas quanto ao seu excelente trabalho. Dizer mais o que? Vamos mudar quando? Vamos crescer quando? Esta fogueira de vaidades por poder, não importa onde, desde o Grupo Escoteiro até os dirigentes quanto ainda vai perdurar?

      O relatório tem muito mais. São 75 páginas. Se não o leu peça. Envio de graça. Que os defensores continuem a defender o indefensável. Como disse nosso querido BP, o que importa são os resultados e infelizmente eles não são bons. Não fiquem satisfeitos com suas alcateias e tropas pequenas, não fiquem alegres com estas atividades caça-níqueis de nossos dirigentes. Procurem ver se a evasão existe e cobrem das autoridades. Todos nós somos responsáveis!  

A prática do Escotismo atrai jovens de todas as classes
e camadas (altas e baixas, ricos e pobres) e igualmente
inclui, também, os que tenham defeito físico... Ele
inspira o desejo de aprender.
Robert Baden-Powell. 1919


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O adestramento ou formação do Escotista.




"Bons líderes fazem as pessoas sentir que elas estão no centro das coisas, e não na periferia. Cada um sente que ele ou ela faz a diferença para o sucesso da organização. Quando isso acontece, as pessoas se sentem centradas e isso dá sentido ao seu trabalho."

O adestramento ou formação do Escotista.

           Temos hoje uma gama variada de cursos de formação, antigamente chamados de adestramento para os chefes escoteiros. Isto é bom. Muito bom. A variedade pode dar um conhecimento bem teórico ou quem sabe prático de sua vivencia Escoteira e quem ganha com isto claro é sua sessão. Mas, no entanto vejo que em alguns casos a sofisticação coloca em duvida se realmente ainda somos um movimento de atividades realizadas ao ar livre onde o aprender a fazer fazendo continua a ser a tônica da formação Escoteira.
           Pretendemos dar ao jovem uma variedade de atividades onde a prática é testada de frente, onde orientamos nossos monitores como fazer, e ele junto a sua Patrulha viver situações inusitadas para viver como bons mateiros, aprendendo que ali no campo de Patrulha é sua nova casa e para isto devem ter se possível ter o melhor conforto. Viver realmente em equipe. Nota-se que a prática supera a teoria.
            Lembro quando fiz meus cursos no passado. Todos vivendo em patrulha, aprendendo o respeito necessário entre si, aprendendo a obedecer ordens e ao mesmo tempo aprendendo a liderar. Não era fácil. Aqueles que juntos a outros cinco ou seis ficaram em uma Patrulha acampados por algum tempo sabem que não é fácil. Principalmente quando somos adultos. Aprender a conhecer um por um e entender os erros e acertos não é tarefa que se aprende de um dia para o outro.  O primeiro curso era de cinco dias. A parte II do IM (campo) era de oito a nove dias. Como fiz o de Escoteiro e Sênior, aprendi a conviver em equipe, mas até hoje ainda fico em duvida. Fiz também o de lobo. Cinco dias.
           Alguém outro dia me disse que já não se fazem cursos como antigamente. A sofisticação agora é bem complexa. Preocupam-se os dirigentes com vários quesitos que antes eram relegados a segundo plano. Agora temos bons alojamentos, temos cozinha geral e muitos contratam cozinheiros para que os alunos se sintam bem. Luz elétrica, internet, telefone e uma biblioteca para pesquisa. Com isto os cursos ficaram mais caros. Apostilas, livros, e tantas coisas que o preço sempre fica além do esperado. Tenho minhas dúvidas sobre isto. Mas como o mundo está mudando e o escotismo também segue o mesmo caminho. Dirão alguns que existem cursos mateiros. Mas sabem, eu gostaria de voltar a fazer um curso lá dentro de uma mata, receber o material de campo e aprender a fazer fazendo. Como era bom ver o apito de chamada do intendente!
             Aprendemos no CAB (curso d Adestramento Básico) o primeiro, que tínhamos na nossa hierarquia, ter tudo lá em nosso campo. Tempo? Mínimo. Fossas, WCs, Fogão suspenso, responsabilidades de cada um e havia mais de oito horas de atividades básicas diárias dadas pela equipe dirigente.  No primeiro IM que dirigi, recebi um manual mimeografado, com traduções em português feitas a mão. Para mim foi magnifico e não sei para os alunos. O caderno. Ah! O caderno. Era tudo. Anotar tim, tim por tim, tim. No final do curso a equipe dava uma olhada e não faltavam uma anotação de um ou outro dirigente sempre a elogiar.
            Todos nós nos tornamos peritos na arte mateira e claro nos ensinamentos de Baden Powell (BP). Uma época em que a evasão era mínima. O jovem permanecia em sua totalidade por mais de dois anos fazendo escotismo. Hoje não sei. Claro a evasão é enorme. Chega quase a empatar com a admissão. Mas por que escrevo tudo isto? Não sei. Talvez porque os preços dos cursos tem assustado muito os que desejam aprender. Não sei se procuram nestes cursos a vivencia Escoteira ou um bom fim de semana cinco estrelas. Não sei mesmo.
                  Participei como dirigente de muitos cursos cuja taxa não chegava a dez por cento a de hoje. Mas não sei se isto será mais possível. Teremos sem sombra de dúvidas defensores da atualidade, do novo estilo. E eles não estão errados. Mas que seria bom seria. Já pensaram? Receber um convite e neste estaria escrito:
- Os cursantes, deverão estar de uniforme de campo, com suas mochilas e apetrechos para um acampamento de oito dias, (não digam o que levar, deixem que ele aprenda por sí só) na entrada da Mata do Pavão, próximo à rodovia. De lá seguiremos ao local do curso em um percurso de cinco quilômetros. Beleza! – Mas afinal será isto mesmo? Teremos participantes ou a maioria iria desistir? Escotismo, força, atividades ao ar livre, sistema de patrulhas, vivencia Escoteira. Não podemos perder isto jamais.

"Para ser um líder, você tem que fazer as pessoas quererem te seguir, e ninguém quer seguir alguém que não sabe onde está indo."