segunda-feira, 30 de abril de 2018



Baden-Powell Cidadão do Mundo!

- A chave que abre o espírito do jovem é o romance da vida na natureza. Onde existir um jovem (ou até mesmo uma pessoa adulta) sobre quem não exerçam atração, nestes tempos materialistas, o apelo da selva e os caminhos abertos da terra são reais. Isso, talvez, seja um instinto primitivo, mas, de qualquer forma, existe e é real. O Escotismo oferece ao jovem a oportunidade de tomar sua mochila, seu equipamento, e lançar-se a aventura. O ar livre é por excelência a escola da observação e compreensão das maravilhas deste grandioso universo. Ele revela aos jovens das cidades esse mundo de estrelas que se escondem atrás dos arranha-céus e que as luzes da cidade e a fumaça das fábricas não permitem admirar. – Baden-Powell.

domingo, 29 de abril de 2018



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Qual o futuro do Escotismo Brasileiro?

Boa pergunta. Não tenho resposta. Muitos dizem amar, adorar, dar seu coração pela filosofia tão linda e tão perfeita nos seus ideais. Uns alardeiam fazer o melhor escotismo do mundo, outros fecham os olhos para a realidade e uns tantos outros se afastam a procura de novas plagas de novos ideais. Qual caminho a seguir? Qual caminho a evitar? Seria eu um cego para não ver ou não teria a clarividência, a habilidade visualizar os acontecimentos futuros?

Dizem que a função de qualquer organização ou associação é a de servir aos seus associados. Servir! Isto vem acontecendo no escotismo Brasileiro? “Servir a União dos Escoteiros do Brasil”. É isso mesmo? Os associados estão sendo servidos pela sua associação? Ela é uma ouvinte pródiga? Uma consultora dos caminhos propostos, uma visão real dos resultados? Onde anda o marketing, onde anda a liberdade, onde anda as mudanças dos ventos que sopram nos ideais Badenianos de outrora? Já passou ou está passando?

Temos pelo menos uma sofisma alguma argumentação para visualizar um futuro melhor? Volto para o passado em outras plagas. Altos dignitários liderando seus países com dignidade e o orgulho de um dia terem sido abençoados por serem Badenianos. Dos astronautas escolhidos por possuírem uma “Eagle Scout” ou mesmo aquele Escoteirinho primeira classe ao aportar no sertão: - Pai, mãe venha ver o escoteiro do Brasil! Onde está o orgulho em dizerem na mídia impressa falada e televisada seu orgulho por serem escoteiros do Brasil?

Da marcha patriótica, do amor ao próximo, da boa ação diária, do orgulho de sua postura na farda que tantos lutaram para conseguir? “Onde vais tu, ó escoteiro, com teu bastão lesto a marchar, cadência certa passo certeiro, onde vais tu a acampar”? Hino do infante? Uma tradução escoteira? – Marcha escoteiro, cabeça de papel se não marchar direito vai falar com o coronel!

O garbo, o sorriso trigueiro, o avante pelas campinas, as bandeiras desfraldadas pelas colinas onde se dizia “Avante” onde estão? Ficaram no tempo? Sumiram com os ventos de outono? E quem se importa chefinho, hoje falamos outro idioma mano, o negocio é outro, nosso escotismo é bossa-nova, o mundo mudou, viva a modernidade, a nova vestimenta, cada um veste como quer!

De novo chefinho, essa implicância como o que vestimos ou deixamos de vestir? Ah! UEB, ou EB sei lá. Onde está você? Cem mil? Onde estão? Nos relatórios anuais? E onde estão vocês nas mídias nacionais? Quem sabe se ainda existem escoteiros no Brasil? Cem mil membros... Cem mil consumidores de produtos escoteiros? Cem mil pagos para processar os que não falam o mesmo idioma? Cem mil diásporas espalhando novas ideias, novos ideais de um escotismo patriótico, de raiz e tradicional?

E alguém reluz nos ventos de outono: - Estou partindo, vou lá representar os cem mil, vou dar minha contribuição. E perguntou a quem? Quais as ideias leva no bornal? Tome meu amigo sua IM, vista o que quiser ela é sua. Não tens mais a obrigação de ser um líder exemplar. Esqueça chefinho, agora o papo é outro mano. Solte sua camisa, amarre seu lenço e todos irão ver um novo escoteiro do Brasil... Será!


Nota – Sem menosprezar, sem diminuir a importância da liderança nacional. Mas me pergunto e as respostas não me satisfazem: - Para onde vai o Escotismo Brasileiro? Qual o seu futuro? E a sociedade aplaude ou desconhece? Perguntas e mais perguntas. Cada um responde como quiser. Eu já tenho minhas respostas.

sábado, 28 de abril de 2018



Mafeking!
"Tudo bem. Quatro horas de bombardeio. Um cachorro morto."

Todos reconhecem que sem B.P. o Escotismo jamais teria visto a luz do dia. A isto, pode ser acrescentado que sem o prestígio mundial dele, como herói de guerra, o Movimento Escoteiro nunca teria alcançado suas atuais dimensões. O renome de B.P., como herói de guerra, foi ganho no período de 11 de outubro de 1899 a 17 de maio de 1900 - exatamente em 217 dias. Nos quase sete meses, ele emergiu como salvador do que será para sempre conhecido na história como o cerco de Mafeking, uma cidadezinha obscura localizada na África do Sul que, por acidente, foi projetada no palco mundial quando se tornou cenário do conflito entre os "Boers" e os britânicos. A reputação, em âmbito mundial, de B.P, pode remontar-se ao papel que ele desempenhou no cerco de Mafeking.


Não é fácil explicar a histeria coletiva que tomou conta do povo britânico - normalmente tão calmo e fleumático -, quando foi anunciado o levantamento do cerco àquela cidade, há tanto tempo esquecida. Mas, nada era normal, naqueles dias frenéticos do mês de maio de 1990, e a Nação Britânica deu vazão ao seu alívio e aclamou o seu herói - Baden-Powell - e, ele próprio, ficou assombrado com a fama que lhe impuseram. O telegrama anunciando a boa notícia levou cerca de dez horas para chegar, de Pretória a Londres. Caiu no birô de notícias da Reuther 17 minutos após as 9 horas da noite. Meia hora mais tarde, uma imensa multidão invadiu as ruas de Londres para irromper em uma orgia de comemorações, e que foi seguida pelo resto do país, alguns minutos depois.

Plateias, artistas, atores, nos teatros de variedades, levantaram-se, espontaneamente, para cantarem o hino nacional. A Rainha Vitória abandonou a mesa do jantar para despachar telegramas de congratulações, em nome do Império Britânico, a Baden Powell e às tropas dele, a milhares de milhas de distância, na África do Sul. Os jornais, em edições especiais, descreveram a bravura das forças britânicas, como "uma nova página na história do heroísmo humano". B.P. foi promovido a General de Divisão na hora - o mais jovem naquele posto, do Exército Britânico. Estava com 43 anos de idade. Um modelo dele, em cera, tomou lugar na plataforma dianteira, do famoso Museu da Madame Tussaud, em Londres. O vencedor de Mafeking, repentinamente, tornou-se o maior herói, depois de Nelson e Wellington.

Com todo o devido respeito às vítimas inocentes da legendária Mafeking, deve ser mencionado que o cerco não foi notável pela bravura, de qualquer dos lados. Ao todo, 20.000 granadas caíram sobre a cidade, umas 100 por dia, causando danos relativamente pequenos e interferindo muito pouco na vida quotidiana dos seus defensores. Além disto, Mafeking em tempo algum esteve inteiramente sitiada pelos 'Boers'. Espiões e mensageiros entravam e saíam livremente e, consoante às palavras de um historiador moderno e irreverente, sobre o evento, os piores inimigos das tropas e da população, na cidade sitiada, eram as pulgas, moscas, mosquitos e formigas. Os suprimentos de alimentos eram adequados e não havia nem mesmo falta de diversão. Por exemplo, o jantar oferecido às vésperas do Ano-Novo, que constituiu de uma dúzia de pratos diferentes, não poderia ter difamado um hotel três estrelas. Jogos de polo e de cartas (bridge), bilhar e apresentações teatrais, animavam uma atmosfera que se caracterizava especialmente pelo aborrecimento.

Houve, por certo, alguns casos fatais e de danos materiais, mas o número total de mortos não foi superior a 400. Pelo lado britânico, os combatentes totalizavam 1.213 oficiais e praças, e 6.000 pelo lado dos "Boers". A população civil, na cidade sitiada, era estimada em 1.800 brancos - incluindo mulheres e crianças - e 7.500 negros. Tampouco foi exorbitante o custo da guerra - 123.251 libras esterlinas, que incluíram custos de alimentação dos defensores e a compensação dos danos causados pelas granadas à população local.

E, antes de tudo, não foi um cerco sangrento. De fato, houve apenas dois confrontos, que poderiam ser descritos como violentos. Não admira, pois, que o cerco de Mafeking tenha sido habilmente descrito por um eminente historiador como "a última das guerras de cavalheiros". A título de esclarecimento, as hostilidades cessavam nos domingos que eram observados como uma espécie de trégua não oficial, por ambos os lados. Aquele era o dia consagrado à igreja, ou para descanso e, para que as mulheres lavassem e passassem a ferro as roupas. Bandeiras brancas emblemas da Cruz Vermelha eram escrupulosamente respeitados e os mensageiros que portavam cartas dos atacantes eram tratados com deferência e até cumulados com presentes.

O império Britânico estava no ápice de sua glória e era inconcebível que a "Paz Britânica" pudesse ser perturbada por qualquer quadrante do mundo. Duas repúblicas absurdas, como eram chamadas pela imprensa britânica - O Transvaal (comumente conhecido como República Sul Africana) e o Estado Livre de Orange, habitadas por camponeses frustrados e religiosos - tinham ousado torcer a cauda do invencível Leão Britânico, para divertimento do resto do mundo.

A despeito de sua superioridade numérica e técnica, o Exército Britânico tinha sofrido humilhantes e inesperadas derrotas e o obscuro cerco de Mafeking tornou-se, repentinamente, o símbolo da sobrevivência do Império Britânico - o maior que o mundo tinha até então visto. Após a humilhante derrota em Magersfontein - um evento que traumatizou a opinião pública britânica, mais do que qualquer outro, durante a era Vitoriana - as esperanças da Nação estavam centralizadas sobre Mafeking. Resgatar a cidade do domínio do 'Boers', tornava-se um ponto de honra.

Quanto a Baden-Powell, estranho foi o destino dele: um soldado por acidente, herói por acidente que preencheu, assim, uma necessidade do público. Ninguém contestou suas qualidades e, positivamente, não em nível militar. Com um punhado de homens apenas, tinha resistido a um grande exército que era no mínimo, três vezes mais numeroso, e permitido, assim, que o grosso das desorganizadas tropas britânicas se reagrupasse para um contra-ataque. Em nível humanitário, igualou-se à imagem que o público tinha criado em torno da personalidade dele: calmo, fleumático, corajoso e capaz de realiza atos de heroísmo onde que surgisse a necessidade. E o senso de humor dele apenas aumentou sua popularidade. Era mestre em elaborar boletins autocríticos de guerra: "Tudo bem. Quatro horas de bombardeio. Um cachorro morto.”.

Nota – Existem muitas versões sobre o Cerco de Mafeking. Dizem os historiadores que sem essa Batalha Baden-Powell não seria conhecido como é hoje. Verdade ou não seu estilo sua maneira de agir, o famoso “Jogo de Blefes de Mafeking” o tornou um herói que o elevou ao nobre titulo de Lord e após o de Sir pela Rainha. Convenhamos que defender uma cidade aberta com pouco mais de 800 soldados contra mais de 6.000 dos Boers é um feito que não pode ser desconsiderado. Aguardem outras publicações de Mafeking.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Coração Escoteiro!



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Coração Escoteiro!

                      Na minha época não tínhamos o hábito de dizer coração escoteiro, alma escoteira e espírito escoteiro. Para nós significava a mesma coisa. Escotismo era uma religião, uma doutrina uma maneira de viver a Lei e saber que tínhamos uma promessa a cumprir. Noto até com uma ponta de orgulho o ufanismo escoteiro de hoje por muitos que praticam o escotismo de alma e coração.  

                     Separei diversos artigos e contos para publicar. Parei em um que me chamou a atenção. A postura de um Chefe portador da Insígnia de Madeira. Chama escoteira? Alma Escoteira? Coração Escoteiro? Muitos acreditam que sim. Fazem do escotismo seu caminho de vida uma filosofia de ajudar e fazer o bem.

                     Desculpem-me se alguns não são assim. Fazem da nova postura um ato de liderança, de conhecedor, muitas vezes altivo e até prepotente na sua maneira de participar dentro de sua comunidade escoteira. Sabemos todos que a mística do lenço, do colar, do Primeiro Grupo de Gilwell permanece até hoje imutável. Quem não se lembra da velha canção Volta a Gilwell?

                       Um Velho Lobo das antigas me disse: - Chefe, este lenço e este colar pesam. Ele vai distinguir você de outros que estão no seu nível de conhecimento, mas ainda não puderam receber. Não pense que isto vai mudar sua maneira de ser, que vai ficar mais importante. O que a Insígnia de Madeira está lhe concedendo é o inicio na sua luta para formar melhor os jovens de sua sessão. Você por ser insígnia não é instrutor diferenciado. E nem tão pouco tem o direito de ambicionar ir mais longe só porque agora é um IM.

                        Retorno ao tópico desse artigo. Coração Escoteiro. Será que estamos tendo mesmo uma alma escoteira disposta a dar sem receber? Será que servir faz parte de uma ponte aonde alguns chegam e outros não? Lembro quando no passado se dizia: Você agora é um membro do 1º Grupo de Gilwell, um exemplo na sua apresentação e no seu garbo. Seja humilde, não seja arrogante. Você não é melhor que os demais chefes. Evite ser o antidoto do “chefão” que muitos detestam.

                       Quantas vezes repetimos as próprias palavras de BP e de muitos pensadores e educadores sobre ser o exemplo? Porque confiar em alguém que merece ter nossa estima como educador exemplar pelo saber e pelo exemplo? Lembrei-me de um artigo interessante, diversas vezes publicado aqui e que acredito alguns ainda não tiveram conhecido.

                      - Tudo começou quando um Chefe se achou importante por ter recebido a Insígnia de Madeira. Ficou tão eufórico que quase não se conteve. Comentou com outro Chefe sua nova posição na hierarquia escoteira: Agora que sou IM preciso de um novo uniforme imediatamente. Que faça jus a minha nova posição na sociedade, no Grupo Escoteiro e em minha vida.

                     - Conheço um alfaiate perfeito para você – replicou o amigo, também um IM de muitas luas vividas. – Ele o alfaiate é um "Velho" sábio que sabe dar a cada cliente o corte perfeito. Vou lhe dar o endereço. E assim lá foi o novo futuro IM ao alfaiate, que cuidadosamente tirou suas medidas. Depois de guardar a fita métrica, o sábio alfaiate disse: - Há quanto tempo o senhor é IM?

                     - Ora, o que isso tem a ver com a medida do meu uniforme? – perguntou o cliente surpreso. – Não posso fazê-lo sem obter esta informação senhor. É que um IM recém fica tão deslumbrado que mantem a cabeça altiva, ergue o nariz e estufa o peito! Assim sendo, tenho que fazer a parte da frente maior que a de trás.

                    - Anos mais tarde, continuou – Quando está ocupado com o seu trabalho e os transtornos advindos da experiência o tornam sensato, olha adiante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito a seguir. Aí então eu costuro o uniforme de modo que a parte da frente e a de trás tenha o mesmo comprimento. - E mais tarde, depois que está curvado pelos anos de trabalho cansativo e pela humildade adquirida através de uma vida de esforços, então faço o uniforme de modo que as contas fiquem mais longas que a frente.

                    - Portanto Senhor Chefe, tenho de saber a quanto tempo o senhor foi nomeado para que a roupa lhe assente apropriadamente.

                     Coração Escoteiro? Alma Escoteira? Espírito Escoteiro? Quem sabe precisamos refletir muito nestes três temas tão importantes e comentados. Um poeta disse que pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas, muito conhecimento que se sintam humildes. O lenço pesa e a responsabilidade mais ainda. Mantenha seu padrão de apresentação, seu garbo, um olhar meigo, carinhoso, mostre ser um amigo fraternal e isto fará de você um “Insígnia de Madeira” que todos seus amigos sentirão orgulho. Nunca se esqueça disto!


Nota - Antes de falares, deves pensar primeiro se o que vais dizer é mesmo necessário ou não; se o não for, evitarás gastar palavras e a atenção dos outros. Tem alto valor e grande arte o saber ficar calado. Aprende-se muito assim. O falar revela muitas das fraquezas de uma pessoa ao observador calado. É o homem calado, o que só fala quando tem algo de importante a dizer, que é escutado com atenção. “São os homens calados que fazem as coisas”. Baden-Powell.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Dia do Escoteiro!



Dia do Escoteiro!

Adendo: Na foto de BP, está escrito: - “Esta estrutura foi construída para Lord Baden-Powell de Gilwell - O.M., G.C.M.G., G.C.V.O., K.C.B., fundador do movimento Escoteiro que liderou aqui em outubro de 1938 até sua morte em 8 de janeiro de 1941”.

                      Hoje nas mais remotas cidades onde se pratica o escotismo todos sabem que o dia 23 de abril é o dia do Escoteiro. Quando menino escoteiro não sabia. Acredito que o Akelá e o Balu também não. Acho que só em 1951 fiquei sabendo. Era domingo, não fui acampar e nem tinha atividade programada com a Patrulha. Fui para a Estação da Vitória Minas trabalhar com minha caixa de engraxate. Com ela comprei tudo que precisava no escoteiro.

                   Um senhor que usava um cinto parou próximo, me olhou de cima em baixo e perguntou quanto cobrava para engraxar os seus sapatos. Disse o valor ele encostou-se à parede da estação e disse: - Faça o seu melhor. Quando estava terminando ele olhou para minha flor de lis na lapela. Sorriu e disse: - Sempre Alerta! Ele também portava uma. Ia perguntar quando terminasse. Não gostava de conversar quando estava trabalhando.

                    Ele me contou que foi escoteiro até os 21 anos e hoje não dava mais. - Caixeiro Viajante pouco paro em minha cidade. Mas fui escoteiro desde lobinho, sai já como pioneiro. Ele então me perguntou: - Sabe que dia é hoje? Hoje é 23 de abril. Dia de quem? De São Jorge. Achei que estava mostrando a ele que não era um matuto mineiro. Lia muito e estudava muito.

                   Sabe o que significa? Com um sinal de cabeça disse que não. Enquanto dava os últimos retoques com o pano de feltro ele ia me contando deste dia. Este dia meu jovem é celebrado em boa parte dos países que tem escoteiros. Quer conhecer a lenda? Respondi com um aceno e ele começou a contar a história de São Jorge e Porque Baden-Powell escolheu como nosso protetor.

- Baden-Powell sempre comparou os escoteiros aos bravos cavaleiros de outros tempos, pois os dois se comprometiam voluntariamente, seguindo um Código de Honra ou uma Lei, praticando o bem numa entrega total, e particularmente o serviço aos mais necessitados, protegendo sempre os fracos e oprimidos.

- São Jorge é o único santo cavaleiro. Ele foi também o santo padroeiro dos cavaleiros, sendo também o santo protetor de Inglaterra. No entanto existe uma lenda, que mostra os valores que definem um cavaleiro e um escoteiro, a generosidade e a valentia, que são sempre reconhecidos e louvados.

- Corria o ano de 303, quando a 23 de Abril nasceu São Jorge na zona da Capadócia, onde se situa atualmente a Turquia. Ainda novo alistou-se como Cavaleiro, e graças à sua entrega e esforço se fez notar.

- Um dia, em Silene, uma antiga cidade da Líbia, soube que diariamente um dos seus habitantes, tirado à sorte, era oferecido a um horrendo dragão que o devorava furiosamente, e só assim era possível acalmar a besta.

- Por razão do acaso, nesse mesmo dia da chegada do Santo Cavaleiro, Cleolinda, a lindíssima e formosa filha do Rei, fora a escolhida para ser sacrificada à besta. São Jorge como cavaleiro, nunca poderia permitir que uma atrocidade destas tomasse lugar, e ficou extremamente indignado por ninguém tomar uma posição. Nesse mesmo momento São Jorge prometeu a si mesmo pôr termo à situação, mesmo que isso custasse a sua própria vida.

- Rapidamente dirigiu-se a ao pântano onde habitava o dragão. S. Jorge embora intimidado com os urros do dragão, nunca vacilou, e empunhando a sua lança trespassou o dragão com um golpe fulminante! Assim terminava a triste sina da cidade de Silene, assim como a da sua bela princesa, que finalmente fora salva.

- O Rei ficou eufórico ao ver a sua amada filha poupada ao horrível sacrifício, e em forma de agradecimento quis oferecer a mão da princesa ao seu nobre salvador. Mas São Jorge prometera perante si e perante Deus, lutar o mal até que este fosse banido da face da terra, recusando assim o tentador convite.

- Os Escoteiros em tudo se devem assemelhar a São Jorge: enfrentando as dificuldades e perigos corajosamente, com determinação, empenho e vontade, até vencer, levando a luta até ao fim.

- Portanto meu caro escoteiro B.P escolheu São Jorge para ser o nosso Patrono e no Dia de São Jorge, ou seja, 23 de Abril festeja-se também o Dia Mundial do Escoteiro.

Pagou-me o dobro que eu cobrava, me deu a mão esquerda, me elogiou pelo trabalho dizendo que ficou ótimo (seus sapatos) e pegou o Trem Rápido para Vitória. Muitos anos depois os escoteiros que estavam comigo em Patrulha me disseram: - Vado, não tem outra história para contar? Eu franzia a testa e lembrava que contei mais de duzentas vezes esta história nos Fogo de Conselho, nas subida das serras, nas trilhas em busca de um bom local para acampar.

- São coisas de escoteiros. Eles sempre tem uma história para contar e não ficar repetindo como eu repetia sempre a mesma historia. Do cavaleiro andante São Jorge o padroeiro dos escoteiros!

Nota - Aos meus amigos escoteiros. Tentei ontem postar esta crônica. Não consegui. A saúde não vai nada bem. Minhas mãos tremem e não consigo digitar. Hoje com muita dificuldade e fazendo um enorme esforço pensei que não poderia ficar sem saudar a todos da fraternidade mundial o dia do escoteiro. Peço desculpas a todos meus amigos escoteiros que me acompanham com tanto carinho. Logo que estiver melhor, volto às postagens diárias. Abraços fraternos.



quinta-feira, 19 de abril de 2018

Matar ou morrer! Já leu? Não? Veja uma pequena parte da historia: - O FANTÁSTICO JOGO NOTURNO NA ILHA DO GAVIÃO NEGRO.



Matar ou morrer!
Já leu? Não? Veja uma pequena parte da historia:
 - O FANTÁSTICO JOGO NOTURNO NA ILHA DO GAVIÃO NEGRO.

            Dezoito horas e quinze minutos. Sinaleiro ouviu um trovão no céu. O foguete do Chefe Nemo parecia um tiro de canhão. Os patrulheiros da Falcão tremeram. Dominó olhou para Sinaleiro de olhos arregalados. – Calma Dominó é só um jogo. Lembre-se você é um falcão e um falcão não tem medo! Olhou para os outros dizendo: – Logo que entrarmos na mata vamos nos separar. Não ficar longe mas nunca juntos. – Fechem os olhos por dois minutos e vão se adaptar logo a escuridão.  

              Continuou: - É um jogo e temos de matar para não morrer.  – Sinaleiro riu baixinho. Sabia que seria uma barra chegar ao Forte. Quase três quilômetros. Todos monitores receberam o mapa da selva. Andaram menos de cem metros e a trilha sumiu no meio da mata. Amarrou a bússola em seu pescoço. A senha era o grito do Sabiá Laranjeira. A selva estava muda. Nenhum som.

          Corredor tinha orgulho de sua patrulha. Treinaram semanas o grito do bugio com perfeição. Camuflados Corredor e os patrulheiros não sentiam medo. Era uma Patrulha unida. Anos juntos fazendo escotismo. Tinham histórias para contar. Ninguém disse nada quando entraram na mata e a escuridão os pegou em cheio. Quase não viam nada. Montanha parecia dominar a escuridão. Olhos abertos para não ser morto desprevenido. Sabia que mataria mais de dez. Jurou que seria o campeão.

            Eram peritos em andar em matas. Inclusive à noite. Ficaram cinco dias treinando como rastejar em florestas. Sabiam que poderiam perder, mas seriam páreo duro. Deram uma parada. Corredor só ouvia a sua respiração. E a mata? Ela não respondia? Porque este silêncio? Aqui não têm animais e pássaros noturnos?

              Professor olhou com carinho para Pequeno Polegar. Ele fingia que não tinha medo, mas Professor sabia que ele tremia. Fique ao meu lado disse! Noviço, entrou há quatro meses. Parecia um lobinho apesar dos seus onze anos. Fora Lobinho Cruzeiro do Sul e chorou muito quando passou para a tropa. Mas quem não chorou? Professor conseguiu que sua tia fizesse oito toucas ninjas negra. Ficaram ótimas. Dava para impressionar principalmente à noite.

               Fez o possível para treinar os patrulheiros da Lobo Cinzento na mata do Onça. Esqueceu-se de treinar uma senha, mas sabia que sempre estariam por perto se fizesse algum sinal. Sinal no escuro? Faltava pouco para começar a matança. Matança? Isto não o preocupava. Interessante é que sentiu que a floresta se calava. Nenhum sinal mortal parecia viver dentro dela.

            Dentuço sussurrou para Centeralfo. – Estamos nos distanciando! Não podemos nos dispensar e sumir na escuridão da selva. – Têm razão Dentuço, chegue perto de cada um e diga para ficarmos próximos. Os patrulheiros da Patrulha Quati eram na maioria fortes, altura normal, mas bem maiores que os outros Escoteiros das demais patrulhas. Centeralfo não sabia se seria uma vantagem ou desvantagem. Todos se achavam vencedores do jogo.

             Eram vitoriosos nos jogos de Scalp. Ganhavam com facilidade o troféu eficiência. Centeralfo era um grande mateiro. Conseguiu tocar um quati e um tatu sem perceberem sua presença. Assustava com a floresta calada. Por quê? Olhou para cima, para os lados, com dizem os lobinhos abriu os olhos e os ouvidos e nada. O único som que ouviu foi de um estalo de um galho que alguém da patrulha pisou.

               Chefe Nemo, Chefe Euclides, Goiabada e Calango os seniores estavam calados próximo ao Forte. Sentados um ao lado do outro na Pedra Grande onde montaram seu staff. Todos de olhos na floresta. – Diabos pensava Chefe Euclides, que coisa esquisita! A mata não fala? Era mesmo de assustar. Não havia lampiões acesos. Nem tochas. Essas só às cinco da manhã onde todos se encontrariam. O relógio marcava uma meia. Chefe Nemo não gostava do que estava acontecendo.

               - Jogo é jogado e lambari é pescado pensava. Sentia algum fantasmagórico no jogo. Almas do outro mundo dizem não gostar de ser incomodadas. A ilha era uma delas? Não preparação não viram nada. Três meses dentro da selva. Os pássaros cantavam, os bichos corriam prá lá e prá cá. Ouviram um estalo. Outro e parou. Goiabada o Sênior levantou e pegou um bastão. Não tinha medo de alma do outro mundo. Que venham os demônios, estou preparado. Gostava de um jogo Quebra-pau. Calango outro sênior olhou para cima e assustou. Um enorme Gavião Negro voava nos céus. Era um vulto fantasmagórico e não esperado.

              Trinta Escoteiros avançavam cautelosamente na floresta escura. Ninguém via ninguém. Cada Patrulha escolheu um canto da ilha. Três da manhã. Eles sabiam que breve iriam se encontrar. Que Deus tivesse piedade de quem corresse, seria presa fácil ao ficar longe dos seus amigos. Nenhum som. Só se ouvia a própria respiração. Era uma aventura inesquecível. Pensavam que seria a única. Rezas e orações pipocavam nas mentes dos escoteiros. Nervos a flor da pele. Professor suava, não tremia, mas estava em uma situação anormal que nunca aconteceu com ele.

             Sinaleiro de olhos arregalados buscava na floresta algum sinal. Os patrulheiros sumiram de sua vista. Corredor pela primeira vez na vida teve medo. Isto é anormal pensou. Onde estão todos para lutarem? Que espera infernal. Centeralfo parou. Sua respiração ofegante. Medo? Impossível, Centeralfo não sabia o que significava a palavra medo. Sentiu um barulho esquisito, era um galho de árvore a toda velocidade em direção ao seu rosto. Não deu para desviar.

             Sinaleiro via a sua frente uma figura espectral pulando freneticamente como se fosse um zumbi do outro mundo. Tremeu! Meu Deus! Não gritou, pois Sinaleiro era um Escoteiro de verdade. Um barulho monstro como se o inferno estivesse chegando a terra caiu sobre a floresta. Mil latas explodindo no chão. Uma torrente de água jorrando do céu sem parar, Cafuné foi jogado ao ar preso por um cipó dois metros acima do chão de cabeça para baixo gritando feito um louco e pedindo socorro. Ninguém se entendia, os planos foram por agua abaixo, 30 meninos Escoteiros se encontraram naquela escuridão alguns gritando outros chorando e muitos sendo mortos sem dó e sem piedade...

- Epa! Essa é só uma parte do meu livro: - O FANTÁSTICO JOGO NOTURNO NA ILHA DO GAVIÃO NEGRO! Quer ler todas a história? Peça no meu e-mail e recebe em PDF de graça. ferrazosvaldo@bol.com.br. Não peça por aqui. Não vai dar para atender. Só no meu e-mail. E melhor vai junto outras quatro para você viajar no fantástico mundo dos escoteiros. Aguardo seu e-mail.


Nota - Ainda não leu? São cinco livros com histórias narradas de forma simples e direta, mas com uma pitada de aventura que não pode faltar aos escoteiros e chefes. Todas em PDF e gratuito. Histórias eletrizantes onde você vai vibrar com cada uma delas. Contada de maneira simples, e com aquela pitada de quero mais. Peça no meu e-mail e terei prazer em enviar para você! Em PDF. Peça na minha caixa postal ferrazosvaldo@bol.com.br e terei prazer em saber que vai ler. Se vai gostar não sei!

terça-feira, 17 de abril de 2018

Conversa ao pé do fogo. O trabuco do pistoleiro Calango. (para divertir)



Conversa ao pé do fogo.
O trabuco do pistoleiro Calango.
(para divertir)

                 Não sei de onde o danado apareceu. Sorriu para mim com seu 45 cano longo apontado para minha testa. Eu sabia que seu sorriso era enganação. Calango era um pistoleiro. Matava por qualquer tostão. Mas me matar? Eu não fiz nada, era de boa paz, sei que tinha a língua grande e afiada e escrevia o que não devia dos “homes” lá de cima, assim diziam, mas não queria mal a ninguém. Levantei as mãos! – Calango porque quer me matar? Sou de paz meu amigo, sou Escoteiro, agora um Velho Escoteiro duro Banguelo sem tostão. Dizem que sou chato e implicante, mas não me mate agora. Deixe pelo menos eu dar um abraço na Célia antes que me mande para minha última morada nas estrelas!

               - Cale a boca seu “merda”! Você fala muito, escreve o que não deve... Olhei para ele espantado. - Chega desta palhaçada de escrever contra a nossa querida Escoteiros do Brasil. Lá só tem gente fina, professores, pedagogos, inteligentes demais! - Vou mandar você para o inferno e lá irá prestar contas de sua esperteza ao capeta. Diga a ele o que aprontou aqui na terra. Quer uma bala no bucho? No trazeiro? Na boca? Ou no coração? – Deus do céu que me proteja! – Calango não quero bala nenhuma a não ser de hortelã ou puxa-puxa de chocolate que adoro!

                Calango estava possesso. Foi menino como eu. Nunca usou arma e quando brigava era de socos. Um dia tentou ser Escoteiro e Galo Seco Guia da Tropa falou para o Chefe Farofa: - Melhor não chefe, este menino vai ser um ladrão ordinário e nem Baden-Powell pode dar jeito. O Chefe Farofa sabia que quando Galo Seco falava era para levar a sério. Sei não, quem sabe se ele tivesse sido Escoteiro eu não estaria ali agora todo "mijado" e quase borrando as calças?

                Calango prometeu dar uma coça em Galo Seco. Não conseguiu, pois Galo Seco era macho prá xuxu. Quem levou uma coça foi Calango. Calango descontou em muitos Escoteiros raquíticos eu mesmo apanhei duas vezes. Passamos a andar sempre em dupla. Não podíamos facilitar. O tempo passou, eu cresci, fiquei bobo continuei escoteiro e envelheci. Mal conseguia andar e falar e o filho da mãe ali na minha frente dizendo que ia me matar pode?

                          Ajoelhei e disse – Calango me deixa rezar. Quero ir para o céu sorrindo e em paz com o Senhor. Orar faz bem, por favor, Calango! – Ele me olhou, seus olhos estavam vermelhos de ódio. Achei que o demônio o incorporou. – Me jogou uma sacola – O que tem na sacola Calango? A vestimenta Escoteira seu maldito. Vista e vou deixar você viver mais alguns anos. – Putz grila! Vestir aquele troço? – Calango camisa para fora da calça ou dentro? Ele me fuzilou com os olhos. De meinha branca ou azul? Ele vomitou de raiva.  Calça comprida ou curta?

                         - Ele apontou o trabuco para mim. Lenço amarrado nas pontas ou puxado pelo arganéu? Chapéu australiano ou texano? Vá a “merda” ele gritou. Vista logo antes que lhe meta uma bala naquele lugar! – Bah! Ia doer prá xuxu. Calango! Falei atire nos meus olhos! Estou com catarata se uma bala entrar virarei defunto que come barata. Kkkk. Levei um chute no traseiro. – Vista logo seu merdinha. Os lindos dirigentes da EB me disseram que se eu mandar uma foto sua com a vestimenta e publicar nas redes sociais, eu posso deixar você viver mais dois anos.

                          – Só dois anos Calango? E agradeça a benevolência dos presidentes do CAN e do DEN, são gente boa apesar de estarem se digladiando. Não regatearam quando pedi cem mil reais para mandar você para o inferno. Olhe que eles gastam muito menos para processar esta cambada tradicionalista que se juntam por aí e que dizem ser Escoteiros!

                  Olhei a vestimenta. Ardeu como pimenta! Vestir este troço? Não disse um dia que nem morto iria usar? Tirar meu caquezinho querido e colocar esta coisa escura no corpo? Coisa feia que até o lenço Escoteiro e os distintivos reclamam? – Olhei para Calango, tirei meu lenço de IM que ganhei em 1966, minha camisa caqui e só de calças curtas e meião disse: - Atire seu merda! Prefiro morrer a vestir este troço! Calango não se fez de rogado. Engatilhou e atirou. Tiro certeiro. Abriu uma brecha em minha testa.

                  - Morri na hora com meu caqui querido. Acordei com o Anjo Gabriel e Baden-Powell lutando com dois capetas e um demônio. Queriam me levar para o céu e os outros para o inferno. – Calma! Calma eu disse. Se a capetada e o demônio vestir a vestimenta Escoteira irei com eles sem reclamar e me queimar nas profundezas do inferno! O Demônio e a capetada me olharam sorriram e disseram: - Nem morto, nem morto Velho Escoteiro de uma figa! Putz! Mas eles não estavam mortos?

                    Acordei aos berros com a Celia me chamando. Acorde Osvaldo, acorde! Pare de gritar. – Perguntei a ela: - Cadê o Calango? Calango? Não conheço e nunca ouvi falar. Ele existe? Sorri, a respiração voltou ao normal. Corri até o Guarda Roupa, meu caqui estava lá limpinho e bem passado. Vesti com orgulho e fui dormir de novo, desta vez uniformizado e abraçado ao meu chapéu de três bicos. Sonhei com coqueiros, montanhas picos enormes, vales inimagináveis luas estrelas o por do sol e minha Patrulha Lobo ao meu lado cantando o Rataplã!   

Nota: Meus amigos e amigas que usam a vestimenta, por favor, não liguem para meus escritos. Se vocês gostam da vestimenta porque não? Só espero que usem com garbo, bem apresentado para o público não reclamar. Eu nunca vou usar. Considero um ultraje da UEB forçar um uniforme que ninguém sugeriu ninguém opinou e ninguém foi consultado. E essa camisa fora da calça é de doer! - Se tivessem feito o contrário eu aplaudia. Mas olhe, agora é fato consumado. Não tem volta.  Abraços fraternos.     

domingo, 15 de abril de 2018

Baden-Powell, por Winston Churchill. Retirado do livro “Grandes Contemporâneos” - 1937. Traduzido da versão em espanhol Por Clóvis Henrique.



Baden-Powell, por Winston Churchill.
Retirado do livro “Grandes Contemporâneos” - 1937.
Traduzido da versão em espanhol Por Clóvis Henrique.

- Os três generais mais famosos que conheci em minha vida não se destacaram por ganharem batalhas contra inimigos estrangeiros. No entanto, seus nomes, todos os quais iniciados por “B”, se converteram para nós em expressões familiares. São os generais Bootli, Botha e Baden-Powell. Ao general Booth nós devemos o Exército da Salvação, ao General Botha, a União Sul-Africana e ao General Baden-Powell, o Movimento Escoteiro.

- Dadas as incertezas deste mundo, de nada podemos estar certos, no entanto parece provável que daqui a uns duzentos anos ou mais, as obras destes três grandes homens estarão propagando a fama de seus criadores. Não com um testemunho frio de bronze ou pedra, mas sim como instituições que guiam e formam vidas e pensamentos dos homens.

- Recordo-me perfeitamente da primeira vez que vi o herói deste artigo, hoje Lord Baden Powell. Eu tinha ido com minha equipe para participar da copa de cavalaria em Meerut. Nesta localidade estavam situados os círculos sociais e desportivos do exército inglês na Índia. Durante a noite diante de numerosa plateia eram feitas pequenas apresentações teatrais e a atração principal se constituía em um animado número de música e dança levado a cabo por um oficial da tropa, vestido com uniforme brilhante, e por uma bela senhora.

- Ocupando, entre os outros jovens oficiais, uma cadeira na plateia, me causou surpresa a excelente apresentação que poderia competir com vantagem com qualquer dos teatros de variedades da época. Disseram-me: “Este é B-P, um homem extraordinário! Ganhou a copa Kadir, tem muitos anos de serviço em nossa corporação. Falam muito e não acabam os seus méritos como militar, no entanto não deixa de ser surpreendente ver um oficial antigo dançar com tanto entusiasmo diante de seus subalternos!” Tive a sorte de conhecer essa celebridade de várias facetas antes que fossem encerradas as competições.

- Três anos se passaram antes que eu o voltasse a ver. O cenário e a ocasião eram distintos. O exército do Lord Roberts acabava de entrar em Petroria e o General Baden Powell, que acabava de ser liberado de Mafeking após um cerco de 217 dias, vinha a cavalo por duzentas ou trezentas milhas desde Transvall para apresentar-se ao General Chefe e apresentar os relatórios de sua missão. Estive com ele para uma entrevista com o objetivo de proporcionar ao jornal “Morning Post” um relato fiel de sua famosa defesa.

- Cavalgamos juntos durante pelo menos uma hora e quando por fim se decidiu falar, foi esplêndido! Seu relato me comovia e ele se exaltava ao referir-se aos acontecimentos. Antes de encerrá-lo, eu o mostrei e ele, após atenta leitura e com certa demonstração de constrangimento, me devolveu sorridente, dizendo: “Falar com você é o mesmo que falar com um gravador”. Eu não posso deixar de reconhecer que me senti agradecido pelo comentário.

- Naqueles dias, a fama de B-P como soldado era tamanha que virou um herói popular da guerra. Afinal, vendo as outras bem organizadas tropas inglesas lutando com os Boers, o povo não podia deixar de reconhecer e aplaudir a grande e obstinada defesa de Mafeking feita de maneira incansável por um grupo de homens dez ou doze vezes menos numeroso que o dos inimigos.

- Ninguém acreditava que Mafeking resistiria à metade do tempo que assim o fez. Na época, a incerteza e o desalento reinavam diante do temor da derrota. Milhões de pessoas que não podiam acompanhar os detalhes dos acontecimentos da guerra buscavam atentamente detalhes na imprensa sobre as desventuras dos sitiados de Mafeking. E quando correram nos jornais as notícias de sua liberação, multidões deixaram as ruas de Londres intransitáveis durante as comemorações.

- Os festejos do mais puro patriotismo tomaram conta das pessoas com tal alegria que só foi igualada com a declaração do armistício, em novembro de 1918. Mas a noite de Mafeking tem sua marca. Na ocasião as pessoas não se comoviam pelos danos da guerra, experimentavam emoções comparadas ao frenesi dos torcedores em grandes espetáculos esportivos. Em 1918 os sentimentos de alívio e congratulação se sobrepunham a alegria. Todos levavam em seus corações as marcas dos sofrimentos passados.

- Causou-me certo espanto em ver como B-P foi desaparecendo na hierarquia militar uma vez que a guerra havia terminado. Ocupou alguns cargos honrosos ainda que de importância secundária, no entanto todos os altos postos foram entregues a homens cujas façanhas não transcendiam aos círculos militares e cujos nomes jamais haviam recebido a recompensa do aplauso popular. Sem dúvida, Whitehal não se sentia bem ao ver os aplausos desproporcionais que as massas haviam acumulado sobre uma única figura. Não havia algo de “teatral”, de “não profissional” em uma pessoa que suscita o entusiasmo ingênuo do homem da rua?

- A versatilidade provoca sempre certa desconfiança nas esferas militares. As vozes da inveja falavam de B-P. De todo jeito, a brilhante fusão da sorte e do êxito foi de plano encoberta por uma nuvem fria, através da qual o sol brilhava, mas com um raio tímido e não ofuscante. Os caprichos da sorte são incalculáveis, incontáveis são seus métodos. Às vezes quanto mais indiferente se apresenta a situação é quando está preparando seus mais surpreendentes dons. Que sorte foi para B-P não estar no meio dos assuntos militares no início do século! (…) Foi uma sorte para ele e para todos nós!

- A isso se deve sua fama perenemente renovada, sua oportunidade de prestar serviços pessoais do mais duradouro caráter, e a ele devemos uma instituição e inspiração tipicamente britânica, essências puras de seu gênio, encaminhadas a unir em um laço de camaradagem não só a toda a juventude do mundo da língua inglesa, mas de quase todas as terras e povos abaixo do Sol.

- Foi em 1907, que B-P implantou seu primeiro campo para ensinar os garotos a arte de explorar bosques e a disciplina da vida de descobertas. Vinte e um garotos de todas as classes, desde o extremo de Londres até Eton Harrow. Montaram suas pequenas barracas na ilha de Brownsea em Dorsetshire. Desde modesto início surgiu o movimento mundial do escotismo, constantemente renovado no transcurso dos anos, até alcançar hoje uma força que excede em muito os milhões de associados.

Em 1908, o explorador chefe, como ele se chamada, publicou seu livro “Escotismo para Rapazes”. Suscita em todos os espíritos da aventura e o amor pela vida ao ar livre que é tão forte na infância. Mas, sobretudo desperta os sentimentos de cavalheirismo e essa correção e empenho nos jogos, seja o sério ou o inútil, que constituem a parte mais importante do sistema educacional britânico. O sucesso foi imediato e transcendental. O uniforme simples, calça e camisa cáqui, que estava ao alcance de todos, foi inspirado na antiga tropa do exército de Baden-Powell.

- O chapéu foi o famoso, com as abas retas, que havia sido usado em Mafeking. O lema “Sempre Alerta” (Be Prepared) estava formado por suas iniciais. Quase imediatamente vemos nos dia de festa, pelos caminhos da Grã Bretanha, pequenas tropas e patrulhas de exploradores, grandes e pequenos, bastão na mão, avançando animados até os bosques e terrenos demarcados que por sua exemplar conduta eram rapidamente franqueados. Imediatamente brilharam os fogos de viva de um grande exército, cujas filas nunca estarão desertas e cuja marcha não acabará enquanto fluir o sangue pelas veias da mocidade.

- É difícil entender a saúde mental e moral que esta simples e profunda concepção trouxe a nossa pátria. Naqueles dias passados, o lema “Sempre Alerta” teve um significado especial para o país. Os que avistavam a proximidade de uma grande guerra acolheram com simpatia o despertar da adolescência inglesa. E ninguém, nem sequer os mais pacifistas puderam sentir-se ameaçados, porque o movimento não tinha caráter militar, e até os mais ásperos críticos viram como um meio de dissipar a vadiagem juvenil.

- Muitas instituições veneráveis e muitos regimes famosos foram honrados por homens que pereceram na tormenta, mas o movimento escoteiro sobreviveu. Sobreviveu não só a grande guerra, mas às dificuldades do pós-guerra. Enquanto tantos elementos da vida e do espírito das nações pareciam perdidos, aquele movimento florescia e crescia incessantemente. Seu lema adquire novo significado nacional à medida que os anos passam sobre nossa ilha. Leva a todos os corações sua mensagem de honra e dever: “Sempre Alerta” para se levantar e defender o direito e a verdade seja de que forma os ventos soprem.

Nota – Este é um artigo longo, quase três páginas. Não tive como diminuir. A história contada por Winston Churchill tem um toque especial. Relembra vários fatos que ficaram na história do Escotismo. Churchill um dos homens mais importantes da história contemporânea é reconhecido até hoje como um politico conservador e estadista britânico e famoso por sua atuação como primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial. Arrisquem-se a ler. Vale a pena!

sábado, 14 de abril de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. São Escoteiros?



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
São Escoteiros?

                 Ontem passeando nas páginas do Facebook deixei de lado as Fake News horríveis, muitas postas por membros da EB (o que não devia acontecer) e me deparei com uma desavença de alguns sobre a posição de um determinado Grupo Escoteiro. Comecei a ler os comentários a favor e contras. Tudo começou com um revoltado membro da EB com um Presidente do Grupo que não registrou os membros da diretoria. A discussão chegou às raias da ameaça e da punição.

                 Algumas explicações foram entrepostas e um que me parece ser um líder do distrito disse que todas as providencias estavam sendo tomadas. Ameaças veladas no ar. Fiquei pensando nas normas, nos artigos de um estatuto que rege os papa escoteiros de hoje. A discussão foi evoluindo. Se estivem no mesmo local sairiam para o sopapo sem dúvida. Não sei o motivo real, mas seja o que for este tipo de comportamento não coaduna com os princípios escoteiros.

               Contra meu modo de agir coloquei minhas ponderações sobre o motivo da contenda. Falei da amizade, do sexto artigo do direito de agir, falei da fraternidade, da irmandade tão usada pelos dignitários escoteiros. Disse da minha perplexidade de tal discussão ser lida por milhares e milhares de escoteiros do Brasil e do Mundo. Não gosto de dizer que roupa suja se lava em casa... Mas...

               Parece que se tocaram e retiram a postagem alguns minutos depois. Já vi esse filme. Alguns poucos me escrevem reclamando a mesma coisa. Sou um velho escoteiro de setenta anos de escotismo e não um Salomão Escoteiro. Costumo pensar que apesar de ser um leitor emérito de Baden-Powell nunca li que ele disse que para ser escoteiro tem de ter registro, que a associação do país tem de ser reconhecida e registrada por um órgão internacional.

               Li sim muito do que escreveu que o escotismo bem aplicado tem tudo para dar certo na formação da juventude. Deu a fórmula através de um método perfeito. Deu uma Lei e uma Promessa. Disse que para crescermos devemos aprender fazendo. Sempre repetia em seus escritos que o Chefe é exemplo. Os jovens farão o que seu líder faz. Não disse nada sobre registro, sobre Presidente, sobre Diretores e outros badulaques. Falou muito do Chefe. Do Chefe...

               Às vezes me olho e olho em volta perguntando? São Escoteiros? São fraternos, convivem em harmonia, procuram ajudar, ouvem muito e falam pouco? Pensam primeiro nos outros? A lealdade acima de tudo, à cortesia e a irmandade do sexto artigo prevalece em suas ações? Acreditam mesmo que são exemplo para conduzir escoteiramente esta moçada no porvir?

                 Falamos de ética, de honra, de caráter de personalidade de Servir, falamos tanto que essa preocupação em condenar, em exigir o registro para ser reconhecido sem nos dar o direito de agir como acreditamos não é um bom exemplo. Não seria melhor o dialogo em vez de ameaças? Essas ações dos Dirigentes demandam gastos e processos. Interessante é que colocaram na promessa sem consultar BP: “Servir a União dos Escoteiros do Brasil”. Ufa!

                  Se eu quero ser escoteiro e prefiro fazer dentro dos parâmetros que acredito não tenho esse direito? Se não estou agindo dentro da lei existe um caminho correto para resolver. O que não pode é essa intolerância, essa opressão pensando que somos todos soldadinhos do que dizem os estatutos e os mandatários da EB. Ah! Esses líderes de grupo que se acham dono da verdade.

                  Se uns acreditam que ter o registro é melhor, que o faça. Não discuto as vantagens, mas quando acusar pense primeiro em você se está agindo como um escoteiro leal, cortes, amigo e irmão dos demais. Sei que minhas ponderações pouco vão resolver. Sou ainda a favor do direito de escolha, do direito de acreditar nas palavras de BP. De uma coisa em sei, em tudo que li sobre ele não vi escrito que ele tenha dado procuração para falar e agir sobre seu escotismo a ninguém.

Nota – Hoje tem reunião. Alegria de montão. Que haja paz, que haja amor, que haja união e boa vontade em todos os adultos que ali estão dando seu exemplo de como ser ético e ter a vivência escoteira nos princípios da Lei e da Promessa que nos deixou Baden-Powell. Feliz reunião, um ótimo sábado e não esqueçam: Boas ações dignificam o caráter!