quarta-feira, 11 de abril de 2018

Papos ao pé do fogo. Os mistérios da Corte de Honra.



Papos ao pé do fogo.
Os mistérios da Corte de Honra.

               Beatriz estava encantada. Estar ali naquela salinha, onde todos sonharam estar, poder ouvir, conhecer e saber o que se passava era um sonho quase impossível. Mas com ela aconteceu. Isabel a Monitora a escolhera para Sub.Monitora e agora ela podia participar da “Corte de Honra”. Desde que entrara como escoteira que ouvia falar na Corte de Honra. O que seria? Alguém disse que era como a Suprema Corte, onde se decidia os destinos da tropa.

             Uma vez por mês ao terminar a reunião olhava Isabel arrumar o uniforme, pentear seu cabelo, conferir o lenço e seguir sorrindo para a sala secreta. – “Um dia irei conhecer e saber o que elas fazem” dizia para si mesma. Lorena, Silvia, Katia e Joelma sabiam tanto quanto ela. Tudo bem que era uma Patrulha unida, orgulho de ser um Azulão, aquele pássaro que diziam ser o mais lindo do Brasil. Adorava tudo que a Patrulha oferecia, seu lema, seu grito e sua fraternidade.

           Sonhava com os sábados quando estaria com elas, amigas e irmãs escoteiras cujo juramento na Patrulha dizia-se ser para sempre. Foi somente no quarto mês que notou Beth a Sub e Isabel se arrumarem após a reunião e se dirigirem para a sede. – Não vai comigo para casa? Perguntou. – Não Beatriz, hoje tem Corte de Honra. Não disseram mais nada e ela curiosa perguntou a Silvia o que era a tal Corte de Honra...

            Acampou, fez bivaques, adorou a atividade noturna no Vale do Beija Flor, cozinhou na Praia dos Sonhos para a Patrulha, adorou semáforas, aprendeu tudo sobre orientação, passo escoteiro, passo duplo e amava aprender os mistérios do universo, quando sua monitora falava das constelações, de como seguir o vento, de como sentir o orvalho da madrugada, de como ver o nascer e o por do sol.

           Agora era diferente. Esqueceu suas 80 noites de acampamento. Esqueceu sua Segunda Classe, esqueceu suas especialidades e seu sonho do cordão dourado. Deu à mão a Beatriz se arrumou como ela fazia e foi com ela para sua primeira reunião de Corte de Honra. O segredo para ela ia ser desvendado. Foi Katia quem disse que tudo que ali se passava era segredo. Sigilo absoluto por um juramento feito a Baden-Powell.

             Será que ela ia fazer o juramento? Tudo era para ela desconhecido. Iria agora desvendar o enigma, a incógnita o segredo de um órgão escoteiro que transpunha tudo aquilo que um dia pensou da mística que o escotismo na sua plenitude e beleza apresentava para ela. Entrou... Uma mesinha com uma toalha branca, uma foto de BP na parede, uma bandeira do Brasil em um mastro fixo em um pequeno tronco feito para isso.

               Soube depois quando foi eleita monitora que as salas de Corte de Honra não diferia de tantas outras. O Pavilhão Nacional obrigatório, um pequeno armário de parede para guarda de suas tradições, uma foto de Baden Powell e outra de Jesus, uma banqueta que serve para manter a bilha de água, copos de papel, uma mesa com seis cadeiras. Na mesa forrada com uma costura de arremate simples de cipós sempre tinha uma flor de lis...

              A mente de Beatriz correu pela primeira vez nos presentes. Lá estava a Chefe Stella, ela e mais cinco. Três patrulhas, três monitoras e três subs. Em pé Donana a monitora mais antiga eleita Presidente da Corte deu aberto à sessão. O que se passou ali Beatriz não iria contar. Jurou também que podiam confiar que ela nunca em toda sua vida iria dizer o que discutiram o que escreveram e o que fizeram na Corte de Honra, salvo o que fosse decidido para toda a tropa conhecer.

                Dizem que cada Corte de Honra tem seu estilo, suas manhas, suas tradições e suas místicas. Sei que aquelas mais antigas guardam segredo até hoje. Suas atas ficam nas mãos de uma escriba e trancada a sete chaves. Tem aquelas que o Chefe quase não fala, deixa que os participantes decidam o melhor e só por motivo extraordinário dá algum palpite. Contaram-me também que as melhores tropas escoteiras são aquelas que a Corte de Honra funciona com toda a liberdade de ação por parte dos seus participantes.

                De que são feitos os sonhos? Para alguns antigos os sonhos são a chave do conhecimento mágico e espiritual, onde se poderia conhecer o passado e o futuro. A Corte de Honra é um sonho para muitos cuja imaginação supera o sonho de participar. A liberdade, a democracia, o respeito à disciplina, a mística, o misterioso, o profundo existe no pensamento nas palavras e nas ações daqueles que um dia estiveram lá.

                Beatriz viu o tempo passar, de sub a monitora, guia e Assistente, Chefe e agora aposentada, relembra com saudades seus tempos de escoteira. Dos acampamentos, dos fogo de conselho, das viagens nas florestas verdes do Brasil. Das subidas incríveis nos picos mais altos, nas noites de céu estrelado, de luar incrivelmente belo e de sua estrela preferida onde dizia ia morar.

                Beatriz nunca esqueceu sua Corte de Honra. Seus mistérios, seus contos, suas decisões suas amizades e lealdades de um juramento que um dia fez e nunca mais esqueceu!

Nota – Gosto de dizer tudo que sei sobre escotismo. No meu estilo, na maneira de contar, de deixar a mente vagar... Para aprender... Nada de didatismo, do ponto e do contra ponto. Sem interrogação e mais voltado ao ponto de exclamação. Gosto de deixar que cada um pense e traduza como quiser. Não gosto de impor, de discutir a não ser em um tête-à-tête para sorrir e ouvir o que o outro tem a dizer. Gosto de escrever, de escotismo, de belas aventuras e hoje escrevo sobre a Corte de Honra, onde tudo pode acontecer...