Conversa ao pé do fogo.
Como alcançar a estabilidade escoteira.
Baden-Powell no
seu livro o Guia do Chefe Escoteiro escreveu que o mínimo para se formar um Escoteiro
pensando que ele quando adulto tivesse a formação esperada do caráter, da
palavra, da honra dentre outros do programa Escoteiro, ele precisaria passar
pelo menos dez anos no escotismo. Dez anos? Isto hoje podemos dizer que é
impossível. Sem perceber estamos passando por uma fase que se o jovem ficar um
ano acredito que está bom demais. Temos uma evasão enorme, evasão que até hoje
eu não sei por que ainda não foi atacada de frente. Outro dia um Chefe Escoteiro
quando comentei que o SIGUE deveria ser o caminho lógico para se saber quantos
entram e quantos saem, ele me confirmou que sim. O SIGUE é capaz. E porque não
se faz uso dele neste pormenor? Quem sabe estudando profundamente a evasão chegaríamos
à conclusão do que ela é a culpada pela falta de crescimento do nosso efetivo
nacional.
Infelizmente
nossa direção peca pela falta de ação. Se ela própria é capaz de colocar em seu
relatório de 2014 que estamos crescendo, e ao mesmo tempo mostrando números menores
que 2013 ficamos na duvida até que ponto podemos acreditar na verdade. Se começarmos
a “papear” sobre o tema sem sombra de duvida que cada Chefe cada dirigente tem
seu ponto de vista formado e poderia dizer onde atacar para que fosse reduzida
ao máximo. Estamos caminhando para uma formação de opiniões que os chefes
emitem em nome dos jovens. Sei que se o jovem ou a jovem aprende que se pesca
baleia em uma lagoa, ninguém vai demovê-lo disto. O Chefe ensinou, o Chefe fez,
o Chefe disse que é o melhor. Mas vai chegar a hora que ele vai desistir de
pescar, afinal onde está a Baleia? A própria direção nacional é prodiga em
alterar, mudar, substituir tudo que poderia afetar como está afetando o
programa Escoteiro e até posso pensar que isto justificaria esta evasão tão
grande.
No final da
década de oitenta as mudanças tiveram seu início. Tivemos muitas, mas hoje vou
me segurar somente no Programa Escoteiro. Se formos ao site da UEB ficaremos
maravilhados com o que ela apresenta para que o jovem se sinta motivado em
continuar. O programa de progressão é bem apresentado. Alcançar a Lis de Ouro e
o Escoteiro da Pátria deveria ser a meta final para cada um jovem na formação
escoteira. O que se faz hoje não é nada
comparado pelo menos com o que se fazia no passado, onde a sede de aventuras
era explorada e o desejo de vencer mais uma etapa era frequente. Se alguém conheceu
e se ainda lembram-se do exigido para o Escoteiro Noviço, Segunda Classe e
Primeira classe deve saber que isto era motivo da permanência de muitos. Isto
sempre foi motivador entre os jovens escoteiros.
Não vou
entrar no mérito do programa Rumo e Travessia da UEB para tropas Escoteiras. Em
princípio parece bonito, bem feito bem organizado. Mas e então porque muitos
jovens não estão interessados nele e a ficar por mais tempo no escotismo?
Quando a UEB resolveu acabar com o sistema de progressão de classes não
perguntou, não pesquisou e nem ouviu pelo menos vinte por cento dos jovens
escoteiros no Brasil. O número de chefes que não concordaram foi grande. Tentei
entender e documentar as vantagens ou desvantagem do novo programa e da extinção
do outro. Havia uma grita geral por terem acabado com o sistema de classes. Sempre
os adultos resolvendo em nome dos jovens. O que me chama atenção é que todos os
chefes que conheço sempre dizem que o jovem deve ser ouvido e ser levado a
sério. Sei que ainda tem muitas tropas que fazem isto. Os jovens em primeiro
lugar para dar sua opinião e sugestão. Mas a grande maioria não faz assim.
A UEB na
sua falsa interpretação que seu programa era o melhor para os jovens nunca deu
ouvidos a eles. Se notarem bem, foi a partir dai que a evasão começou a surgir levando
todo um trabalho de roldão. Até hoje a UEB (seus lideres é claro) não dá a mínima
para ouvir os interessados. Tudo que faz é de seu livre arbítrio. Dizem que os
Jovens Lideres estão aí para opinar. Será verdade? Será que eles representam
toda a gama de escoteiros e Escoteiras do Brasil? Jovens lideres de 16 a 27
anos? Com dezoito ele já responsável sobre si mesmo, Com 27 anos tem muitos que
dirigem empresas e até politico eles são. Eu casei com 23 anos. Seria na época
um jovem líder? Os que realmente estão na linha de frente, os escoteiros atuantes
nas tropas Escoteiras nunca foram consultados. Fico pensando porque nossos
lideres ainda não se tocaram que tem alguma coisa errada no reino da Dinamarca.
Eles não se preocupam? Não discutem o tema? O importante para eles são os números
e não o individuo?
Quantos
me afirmam que o jovem agora quer uma vida moderna, interagir e participar, estar
junto com as necessidades locais eu fico em dúvida. Estes chefes nem de longe
pensaram que o jovem poderia pensar diferente. Uma vez um deles me garantiu que
para isto existem os chefes. Para resolver, programar e fazer o que os jovens
precisam e para isto não se precisa ouvi-los. Eu sempre me pergunto a mim
mesmo: - Onde estão os resultados? Onde? Se estamos perdendo milhares deles se
existe uma falta de interesse e a motivação porque esta insistência em não ver
onde está o erro? Me preocupo muito com a aceitação absoluta de muitos. Entram
para o escotismo, aprendem o de hoje, não sabem não sabem do passado e
concordam com tudo. Se cada um enfronhasse mais na sua Tropa ou Alcateia,
procurasse saber o porquê esta saída abrupta dos jovens, conversasse, os
ouvisse, então quem sabe poderíamos chegar a uma conclusão satisfatória.
Acho que para
muitos chefes as idas e vindas de meninos e meninas que entram e saem é
deprimente. Deve dar uma sensação de vazio, de trabalho perdido e ter sempre
que recomeçar com os novos. Patrulhas de dois, três ou quatro nem dá para fazer uma boa reunião de Tropa quiçá
um acampamento. Não preciso ir longe, qualquer um de nós pode ver que se o
menino se sente motivado ele fica se desmotivado ele sai. Dizer que o sistema
antigo de classe não era bom é faltar com a verdade. Vejo hoje muitos bons
escotistas alguns até na liderança nacional mostrando suas ideias, o que deveria
ser mudado e alterado. Seus palavreados são para mim difíceis de entender. São doutores
nas ideias e muitos pretendem discutir e mostrar como podem dar vazão a um
maior contingente Escoteiro nacional. E onde estão os jovens para opinar? Eu
fico pensando se eles estão certos, se viveram outra época para opinar onde
está o certo e o errado.
Qualquer
jovem que tivesse a disposição uma vida de aventuras, de descobertas de saber
que pode conquistar sem sombra de dúvida seria uma motivação para ele
continuar. Não gosto de muitos que dizem que a culpa é do Chefe. Sempre ele. E
a nossa liderança da UEB não tem responsabilidade nenhuma? Colocar os pés no
chão, ouvir mais e falar menos então e só então iremos conseguir atingir o que
todos nós escoteiros do Brasil sonhamos.