Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
A presidenta, o Velho Chefe Escoteiro e o escambal.
- Sente-se! – Era uma
voz firme, daquelas que estão acostumadas a mandar e todos obedecerem. Estava
em pé, meu chapéu de abas largas no peito, sempre fora assim em sinal de respeito.
Olhei para ela assustado. – De novo ela disse: - Sente-se Chefe! Tinha de
obedecer. Ao lado dela o Mercadante. Seu bigode preto grande e que parecia
aqueles Coronéis de Fazenda de antigamente era uma sombra do passado. Agora
embranquecido ralos. Ele me olhava gostosamente como a glosar da minha cara.
Atrás dela o Vice-Presidente Michel Temer sem saber o que dizer. Mais ao lado
Jaques Wagner sorria baixinho. Ele sempre teve cara de gozador. José Eduardo
Cardoso com sua ordenança, por sinal uma linda moça tinha ares de General. Até
o Cassab estava lá. Porque não sei. Vi num cantinho meio sem graça, aquela cara
de menino riquinho o Ministro Joaquim Levi. Raios! O que ele e eu faziam ali?
Tudo começou com a
Celia me chamando. – Marido tem um carro da policia Federal ai na porta. Querem
falar com você. Cacilda! O que eu fiz? Não tenho nada com a Petrobras e
continuo duro sem um tostão para gastar! – Eles educadamente disseram: - Senhor
vista seu uniforme Escoteiro o caqui de calças curtas e leve o chapelão. A
Presidenta Dilma quer falar com o senhor! Nossa mãe! E agora José? Em Congonhas
entrei em um jatinho da FAB e uma hora e meia depois desembarquei na Base Aérea
em Brasília. Uma Mercedes preta com quatro batedores me levou direto ao Palácio
do Planalto. Eu tremia igual vara verde. Será que vão me jogar no pau de arara?
Banho de afogamento? Lembrei-me do Carlos um amigo meu que na revolução o DOPS
arrancou a unha de um dedo da mão dele. Coloquei as duas mãos no bolso de medo.
Subi a rampa com
honra militares. Lá estavam os Dragões e Granadeiros fazendo continência. Um
tocava clarim. Quase pedi para tocar também. Agora estava gostando. Acenei como
o Obama acena quando vai a uma solenidade importante em Londres ao visitar a
Rainha da Inglaterra. Fomos direto ao segundo andar. Quando entrei na sala
presidencial quase borrei as calças. A nata do governo estava lá. Minhas pernas
começaram a tremer. Onde meu Deus eu amarrei minha égua? A Presidenta levantou
e foi ao meu encontro me cumprimentando. Com a mão esquerda! Tentei sorrir e
não consegui. O medo era demais. Chefe Osvaldo seja bem vindo! Caramba, não
sabia que era tão importante, mas já previa a Policia Federal na porta na minha
saída. Destino? Cadeia da Policia Federal no Paraná ou Presidio da Papuda.
Agora sentado eu olhava de soslaio a cambada em minha volta. Não tinha a menor
ideia do que queriam de mim. Afinal sou um Velho Chefe Escoteiro sem eira nem
beira, duro sem um tostão, mal consigo falar, pulmão sempre reclamando falta de
ar, pernas que não me obedecem mais. O que será que queriam com esse velhote
chato de galocha e metido a Escoteiro sabido?
Dona Presidenta não se fez de rogada. Entrou
logo no assunto: - Chefe, precisamos do senhor. Vou fazer uma revolução em meu
governo. Todos dizem que estou em bancarrota, fragilizada, não tenho mais nada
a oferecer e o Aecinho só quer me ver na lona. Vou mostrar a ele como se rema
uma canoa. Não é assim que dizia seu Líder Baden-Powell? Madre de Dios! A
presidenta sabia de tudo. Continuei calado. Não sabia o que ela queria e o que
eu podia ajudar. Já pensou? Ajudando a Dona Presidenta? A turma do Facebook
iria me jogar na fogueira. – Olhe Chefe ela continuou, vamos colocar a meninada
brasileira para ser escoteira. Do Oiapoque ao Chuí. Irei baixar uma Medida
Provisória, e o Levi aqui presente vai acompanhar a gastança. O Cassab ministro
das cidades ficará responsável. Duzentos milhões de reais para começar. Um Grupo
Escoteiro para cada 5.000 habitantes. Chefes profissionais, bons salários,
serão treinados pelo senhor! Levantei assustado. Eu Dona Presidenta? – O senhor
mesmo, é o homem que confio. Mas Presidenta! E a União dos Escoteiros do Brasil?
E a ENA o DEN e a E.N.I.T.? Eles quem mandam no escotismo brasileiro!
Não mandam mais, mandei o Cardoso
prender todos eles. São fanfarristas, dizem que vão fazer o escotismo do futuro
e até hoje nada. Nem o Dossiê do Dr.
Jean Cassaigneau eles se interessaram. São uns come quieto! O senhor sabe que
no ano passado quase seis mil escoteiros se mandaram? De quem é a culpa?
Caramba, ela estava me jogando em uma fogueira. Iria levar pau de todo lado. A
imprensa ia cair matando. Já antevia os jornais noturnos da TV gritando:
Velhote Escoteiro agora é o dono do escotismo no Brasil através de decreto da
presidente do Brasil! – Dona Presidenta não me deu folga. – Chefe! Quero em
dois anos, dois milhões de escoteiros e escoteiras, quero ver os meninos e
meninas de caqui e chapelão, nas montanhas cantando o rataplã, quero ver eles
desfraldando a bandeira do Brasil! - Mas Dona Presidenta, agora o uniforme é
outro, é uma tal de vestimenta! – Esqueça Chefe, não gosto dela por isto
escolhi o senhor!
Todos ficaram de pé. Olharam para mim, alguns sorriram outros pensaram;
- Ali está um coitado, vai levar pau de todo lado! – Ela foi até próximo a mim.
Chefe posso experimentar o seu chapéu escoteiro? Sempre amei este chapéu!
Colocou na cabeça, pipocaram fotos, todos correram para cumprimentá-la. Até que
tinha estampa eu pensei. Será que ficaria bem de calça curta caqui e lenço cor
de anil? – Osvaldo! Osvaldo! Era a Célia. Danada de linda mulher e esposa. Acordar-me
àquela hora? Agora que me sentia importante? Nem deixou eu fazer continência
aos Dragões da Independência! Levantei espreguiçando e pensando. Até que foi bom,
já pensou eu o Escoteiro Chefe do Brasil? Melhor seria o Escoteiro Chefe Imperador
do Brasil!