Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Ensinando
democracia.
Não sei se a maioria dos
Grupos Escoteiros tem levado ao conhecimento dos seus associados jovens o
significado da Democracia ou mesmo se em sua estrutura ela é levada a sério e
respeitada. Sei de muitos Grupos Escoteiros que fazem assim. Isto é bom, pois
as escolas hoje ensinam conforme o pensamento dos dirigentes políticos
educacionais. Se quisermos formar homens e mulheres dentro de um conceito
democrático, precisamos antes de tudo praticá-lo e exercitá-lo o melhor
possível. Será que todos os nossos jovens sabem o que significa democracia?
Sabemos que uma das principais funções dela é a proteção dos direitos humanos,
a liberdade de expressão, de religião, a proteção legal e as oportunidades de
participação da vida pública econômica e cultural da sociedade. Afinal
democracia é a forma de governo em que a soberania é exercita pelo povo.
Tivemos e ainda estamos
tendo uma liberdade de escolha para decidir o que iremos vestir. Muito badalado
pelos nossos dirigentes e pelos escotistas dos Grupos Escoteiros que deram a liberdade
de escolha. Foi mesmo uma forma democrática o fato acontecido? Todos na unidade
local (Grupos Escoteiros) estavam cientes de suas responsabilidades? Os jovens
estavam preparados para decidir? Não houve interferência ou ingerência de nenhuma
forma pelos adultos do grupo Escoteiro? Cada um deve ter analisado amplamente
se a realidade democrática foi completa na decisão. Pensemos um pouco
civilizadamente sobre o próprio grupo Escoteiro se em seu meio a democracia
existe e se ali temos exemplos bons para os rapazes e moças, afinal o que eles
vêem e sentem serão copiados. Não vamos discutir aqui o termo democracia e
disciplina. BP em suas explanações foi enfático nisto. Ele acreditava que sem a
democracia e aprender a fazer fazendo, o caminho era incerto. Se os jovens são
formados com disciplina rígida como se fossem soldadinhos e não tinham direto
de opinar, interferir e sugerir eles só aprenderão a seguir a ponta do nariz e
mais nada.
Quando o grupo Escoteiro tem
as bases para isto é meio caminho andado. Vejamos como podemos ensinar a eles a
exercitarem a democracia entre todos os participantes do grupo. Vamos iniciar
pela Alcateia. A idade não é pequena para eles entenderem? Eu acredito e não
tenho nenhuma duvida é o melhor caminho para começar a exercitar a Democracia.
Como? Um conselho de primos bem feito para começar. Chefe, mas isto existe? Se
for proforma melhor não ter, mas se for para exercitar a democracia tem grande
valia. Veja os primos, eles são preparados desde cedo para autuarem
democraticamente em suas matilhas? Ou eles são meros formadores e suas funções
não condiz com a responsabilidade que deveriam ter? Pensemos que as matilhas
não são meros ajuntamentos para formar e fazer jogos. Nada disto. Não
confundamos com o Sistema de Patrulhas, mas ele o sistema de patrulhas tem
muitas lições a dar. Claro se for realizado a contendo.
Eu não costumo abrir mão
na Tropa escoteira e sênior do Conselho de Patrulha, do Conselho de Tropa e da
Corte de Honra. Cada qual com sua responsabilidade, mas todos visando o amplo
debate, com direitos de voz e voto e a chefia só interferindo para orientar ou
mostrar até que ponto aquela decisão pode trazer benefícios a toda Tropa. Eu costumava
solicitar aos monitores no passado pelo menos um Conselho de Patrulha a cada
quinze dias. Sem a minha presença é claro. Ele podia ser realizado na casa dos
patrulheiros ou na sede em horários que não prejudicassem a rotina do jovem e a
reunião de Tropa. O Conselho de Tropa deve ter um motivo sério e pedido por uma
patrulha ou uma decisão de monitores ou cinco ou mais escoteiros da Tropa. Reúne-se
ordinariamente a cada dois meses e extraordinariamente quando se fizer
necessário. Ele discute, toma ciência, vê o que está errado, mas a decisão
final cabe a Corte de Honra. Como porque quando e onde são tratativas que devem
ser decidas pela Corte de Honra com seus monitores ouvindo primeiramente seus
patrulheiros.
Tanto na Alcateia como na
Tropa escoteira e Sênior o Chefe ou a Chefe tem de ter razoável conhecimento
sobre a prática democrática. Sem isto nada tem valor. Se eles os chefes não
gostam de ouvir, de entender os jovens, de abaixar até a compreensão deles
então nada pode dar certo e eles nunca irão aprender o que é democracia.
Lembremos que em todos os órgãos dos jovens é importantíssimo dar condições de
funcionamento, ensinar como realizar debates, votações nominais ou abertas. O Grupo
Escoteiro estatutariamente já deve praticar a democracia através da Assembleia
de Grupo. Ela tem sua importância para uma vivencia democrática entre seus
associados. Entretanto eu valorizo mais o Conselho de Chefes do Grupo. Na
assembleia tudo passa a ser normativo, onde vale o artigo ou o item. Ali a
possibilidade de dirimir dúvidas, aumentar amizades, criar raízes entre os
adultos é mais burocratizado e pouca preocupação para a compreensão das partes
ou da fraternidade que tão sobejamente damos valor. Claro, que votar e ser votado,
aceitar a opinião da maioria é fato preponderante em um sistema democrático.
Tenho sempre em minha
maneira de pensar que o melhor para um Grupo Escoteiro funcionar
democraticamente é o CONSELHO DE CHEFES o maior e mais importante órgão ativo
na unidade local. É nele que se pode falar sem constrangimento, que se pode dar
sugestões mesmo que estapafúrdia, que dá oportunidade de sanar desavenças (elas
existem, acreditem) e o melhor, ali se conhece mais profundamente cada um dos
adultos atuantes em um grupo Escoteiro. A rotina da reunião de chefes é
decidida por todos. Mensal ou quinzenal e nunca mais que isto. Muitos adotam o
regime de atas outros não. Fico na duvida. Tenho como principio que Grupos
Escoteiros que não levam a sério os pequenos órgãos criados nas sessões e o Conselho
de Chefe, antevejo que a Assembleia de Grupo não funciona democraticamente.
Existem milhares de Grupos
Escoteiros no Brasil. Cada um deles com sua criatividade, com a sua democracia
ou sua autocracia. Alguns tem um pseudo ditador, fundador ou hereditário. Estes
muitas vezes andam fraquejando. Que me desculpem os Presidentes e Diretor
Técnico a culpa é exclusivamente deles. As razões não são de um só. As razões
são individuais e elas só devem ser consideradas quando o sistema democrático
atingir a todos os membros do grupo Escoteiro. Seria bom esquecer o linguajar
tão formal e utilizado hoje em dia por boa parte de nossa chefia, tais como: -
O meu grupo, a minha Tropa, a minha Alcateia, o meu monitor, o meu primo. Isto dá
um sintoma possessivo e muitas vezes não é benéfico para desenvolver a
democracia entre os jovens.
Temos uma finalidade muito
importante no contexto educacional. Nenhum grupo Escoteiro poderá formar jovens
conforme esperamos na filosofia escoteira sem ter a democracia por inteiro. Sem
ela seremos a metade do que poderíamos ser.