segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ensinando democracia.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Ensinando democracia.

                     Não sei se a maioria dos Grupos Escoteiros tem levado ao conhecimento dos seus associados jovens o significado da Democracia ou mesmo se em sua estrutura ela é levada a sério e respeitada. Sei de muitos Grupos Escoteiros que fazem assim. Isto é bom, pois as escolas hoje ensinam conforme o pensamento dos dirigentes políticos educacionais. Se quisermos formar homens e mulheres dentro de um conceito democrático, precisamos antes de tudo praticá-lo e exercitá-lo o melhor possível. Será que todos os nossos jovens sabem o que significa democracia? Sabemos que uma das principais funções dela é a proteção dos direitos humanos, a liberdade de expressão, de religião, a proteção legal e as oportunidades de participação da vida pública econômica e cultural da sociedade. Afinal democracia é a forma de governo em que a soberania é exercita pelo povo.

                     Tivemos e ainda estamos tendo uma liberdade de escolha para decidir o que iremos vestir. Muito badalado pelos nossos dirigentes e pelos escotistas dos Grupos Escoteiros que deram a liberdade de escolha. Foi mesmo uma forma democrática o fato acontecido? Todos na unidade local (Grupos Escoteiros) estavam cientes de suas responsabilidades? Os jovens estavam preparados para decidir? Não houve interferência ou ingerência de nenhuma forma pelos adultos do grupo Escoteiro? Cada um deve ter analisado amplamente se a realidade democrática foi completa na decisão. Pensemos um pouco civilizadamente sobre o próprio grupo Escoteiro se em seu meio a democracia existe e se ali temos exemplos bons para os rapazes e moças, afinal o que eles vêem e sentem serão copiados. Não vamos discutir aqui o termo democracia e disciplina. BP em suas explanações foi enfático nisto. Ele acreditava que sem a democracia e aprender a fazer fazendo, o caminho era incerto. Se os jovens são formados com disciplina rígida como se fossem soldadinhos e não tinham direto de opinar, interferir e sugerir eles só aprenderão a seguir a ponta do nariz e mais nada.

                    Quando o grupo Escoteiro tem as bases para isto é meio caminho andado. Vejamos como podemos ensinar a eles a exercitarem a democracia entre todos os participantes do grupo. Vamos iniciar pela Alcateia. A idade não é pequena para eles entenderem? Eu acredito e não tenho nenhuma duvida é o melhor caminho para começar a exercitar a Democracia. Como? Um conselho de primos bem feito para começar. Chefe, mas isto existe? Se for proforma melhor não ter, mas se for para exercitar a democracia tem grande valia. Veja os primos, eles são preparados desde cedo para autuarem democraticamente em suas matilhas? Ou eles são meros formadores e suas funções não condiz com a responsabilidade que deveriam ter? Pensemos que as matilhas não são meros ajuntamentos para formar e fazer jogos. Nada disto. Não confundamos com o Sistema de Patrulhas, mas ele o sistema de patrulhas tem muitas lições a dar. Claro se for realizado a contendo.

                      Eu não costumo abrir mão na Tropa escoteira e sênior do Conselho de Patrulha, do Conselho de Tropa e da Corte de Honra. Cada qual com sua responsabilidade, mas todos visando o amplo debate, com direitos de voz e voto e a chefia só interferindo para orientar ou mostrar até que ponto aquela decisão pode trazer benefícios a toda Tropa. Eu costumava solicitar aos monitores no passado pelo menos um Conselho de Patrulha a cada quinze dias. Sem a minha presença é claro. Ele podia ser realizado na casa dos patrulheiros ou na sede em horários que não prejudicassem a rotina do jovem e a reunião de Tropa. O Conselho de Tropa deve ter um motivo sério e pedido por uma patrulha ou uma decisão de monitores ou cinco ou mais escoteiros da Tropa. Reúne-se ordinariamente a cada dois meses e extraordinariamente quando se fizer necessário. Ele discute, toma ciência, vê o que está errado, mas a decisão final cabe a Corte de Honra. Como porque quando e onde são tratativas que devem ser decidas pela Corte de Honra com seus monitores ouvindo primeiramente seus patrulheiros.

                        Tanto na Alcateia como na Tropa escoteira e Sênior o Chefe ou a Chefe tem de ter razoável conhecimento sobre a prática democrática. Sem isto nada tem valor. Se eles os chefes não gostam de ouvir, de entender os jovens, de abaixar até a compreensão deles então nada pode dar certo e eles nunca irão aprender o que é democracia. Lembremos que em todos os órgãos dos jovens é importantíssimo dar condições de funcionamento, ensinar como realizar debates, votações nominais ou abertas. O Grupo Escoteiro estatutariamente já deve praticar a democracia através da Assembleia de Grupo. Ela tem sua importância para uma vivencia democrática entre seus associados. Entretanto eu valorizo mais o Conselho de Chefes do Grupo. Na assembleia tudo passa a ser normativo, onde vale o artigo ou o item. Ali a possibilidade de dirimir dúvidas, aumentar amizades, criar raízes entre os adultos é mais burocratizado e pouca preocupação para a compreensão das partes ou da fraternidade que tão sobejamente damos valor. Claro, que votar e ser votado, aceitar a opinião da maioria é fato preponderante em um sistema democrático.

                     Tenho sempre em minha maneira de pensar que o melhor para um Grupo Escoteiro funcionar democraticamente é o CONSELHO DE CHEFES o maior e mais importante órgão ativo na unidade local. É nele que se pode falar sem constrangimento, que se pode dar sugestões mesmo que estapafúrdia, que dá oportunidade de sanar desavenças (elas existem, acreditem) e o melhor, ali se conhece mais profundamente cada um dos adultos atuantes em um grupo Escoteiro. A rotina da reunião de chefes é decidida por todos. Mensal ou quinzenal e nunca mais que isto. Muitos adotam o regime de atas outros não. Fico na duvida. Tenho como principio que Grupos Escoteiros que não levam a sério os pequenos órgãos criados nas sessões e o Conselho de Chefe, antevejo que a Assembleia de Grupo não funciona democraticamente.

                     Existem milhares de Grupos Escoteiros no Brasil. Cada um deles com sua criatividade, com a sua democracia ou sua autocracia. Alguns tem um pseudo ditador, fundador ou hereditário. Estes muitas vezes andam fraquejando. Que me desculpem os Presidentes e Diretor Técnico a culpa é exclusivamente deles. As razões não são de um só. As razões são individuais e elas só devem ser consideradas quando o sistema democrático atingir a todos os membros do grupo Escoteiro. Seria bom esquecer o linguajar tão formal e utilizado hoje em dia por boa parte de nossa chefia, tais como: - O meu grupo, a minha Tropa, a minha Alcateia, o meu monitor, o meu primo. Isto dá um sintoma possessivo e muitas vezes não é benéfico para desenvolver a democracia entre os jovens.


                  Temos uma finalidade muito importante no contexto educacional. Nenhum grupo Escoteiro poderá formar jovens conforme esperamos na filosofia escoteira sem ter a democracia por inteiro. Sem ela seremos a metade do que poderíamos ser.