sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Apenas uma homenagem aos escoteiros do Nordeste. Lembranças gostosas que o tempo escondeu.


Apenas uma homenagem aos escoteiros do Nordeste.
Lembranças gostosas que o tempo escondeu.

                    Eu conheci Zeca Boleia, meninote rapazote de meia dúzia de dente, mas escoteiro macho prá xuxú. Não no sentido de conquistas, de farras de nada que pudesse desfazer seu sonho de menino, pois sempre foi um Escoteiro de verdade, lealdade a toda prova caráter e fibra de um nordestino que escolheu o escotismo para amar. Zeca não perdia um sorriso, sabia dar um abraço amigo aqui ali e em qualquer lugar. Tinha facilidade no papo, ficava horas a prosear e não era invenção, pois ele era um Escoteiro, homem de palavra e de ação. Foi lá pela invernada que a escoteirada resolver confraternizar. Vieram chapéus do sul, lenços do norte alvissareiro, do leste muitos mateiros e finalmente do oeste o sol trouxe dezenas de escoteiros. Jamborees? Necas meu caro amigo. Apenas um encontro para matar a saudade e contar prosa, tocando uma boa viola, pois lá no norte é assim. Em volta de uma fogueira não tem quem não conta causos, que fala a noite toda e enquanto correr a viola o papo não vai acabar.

                    Mas se aqui estou a contar, foi porque estava lá, nos idos anos cinquenta, em uma cidade chamada Caroço da Pimenta, bem no meio das catingas ou Mata Branca todas com muitas Xerófilas, mas floridas prá daná! Tinha Batata de Purga, Palma e Baba de Sapo, tinha Bromélia e Catingueira, Cajueira e Crisântemo. Chico Nolasco trouxe batata, Mano Pinta banana Caturra. Foi Bastião da Macaxeira que matou três bodes para que “nóis” pudesse churrascar. A festança da escoteirada foi até de madrugada e naquele dia a alvorada se assustou com cantoria de versos, improvisadas na viola que nem deu bola ao sol que despontou. Os velhos cantadores escoteiros, nordestinos do Brasil xavecavam seus pandeiros com cantos e desafios ali no meio do sertão. Foi ali que na despedida, Zeca Boleia subiu na árvore e lá de cima empacou de susto a escoteirada quando declamou em voz cortante, com o vento assobiante que eu nunca mais pude esquecer.   

- Disse ele em voz rasante, cortante possante como um homem do lugar: - Sou nordestino valente, Escoteiro e domador de boi. Este é meu destino, sou o rei do rodeio amanso cavalo “brabo” e desde menino, amansando boi bravo pelo caminho, seguindo meu destino, armo barraca no vento, na lua em qualquer lugar. Por que nordestino Escoteiro nunca desiste, é um povo guerreiro sonhador e corajoso e assim eu sou desde menino... E a vida da muitas voltas e o mundo segue a girar, vendi meu cavalo, meu arreio, deixei a espora de lado, joguei a mochila nas costas e pelo mundo fui acampar... Viajando pelas estradas descobri que existe um mundo novo a explorar, me tornei um estradeiro um Escoteiro explorador, dominador de cavalo, mas não de pelo e patas e sim de fazer o bem nas cidades ou na estrada onde puder armar minha barraca, onde fiz muitos amigos e deixar o mundo girar. Não mudei muito e se mudei foi para enfrentar a vida do Escoteiro, valente e grande guerreiro e onde passo e acampo digo a todos com orgulho, que eu sou um Escoteiro e com muita satisfação eu grito prá todo mundo, eu sou eu e me mando pelo mundo e montado no vento eu vou por aí a escoteirar...


                       Nada mais a dizer, a não ser que Gustavo Barroso que era um homem do povo ficou todo afogueado, e Manoel Bandeira nome de nossas letras, diante daquele cantador disse que ele era um poeta, pois soube escoteiramente fazer uma boa improvisação. E como bom violeiro Escoteiro se tornou um cantador do Sertão! Eu aqui vou terminando, pois eu amo meu povo do meu Brasil, aqueles que estão no sul ou no norte que metem a viola no saco, a pé vão pelo mundo de Deus, arrumando ideias e dando asas a imaginação!