domingo, 25 de setembro de 2016

Um domingo qualquer.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Um domingo qualquer.

             Domingos são dias iguais para um Velho Chefe Escoteiro. Como sou aposentado e nada faço a não ser pequenas rotinas cheias de manias, lá ia eu caminhando no mesmo rumo de todos os domingos que caminhei. Era uma avenida, a placa dizia que era uma avenida para mim uma rua mais larga. Gostava de andar por ela indo e vindo mesmo sendo uma avenida sem graça, sem tchan, sem grandes atrativos, mas era a única mais próxima de minha morada. Despretensiosamente, bengalando na calçada espúria, um carro preto, tipo SUVs, acho que era um Mitsubishi Pajero preto freou ao meu lado. Saltaram quatro homens de preto. Assustei. Seriam do filme MiB? Afinal eu não era um alienígena e meus conhecimentos ufológicos eram chegados à zero.

             Dois deles parecendo o Tommy Lee Jones e o Will Smith se aproximaram de mim. – Chefe entre no carro! Um deles falou. Olhei de soslaio. Era “boca escura” aquele convite. Agradeci dizendo que ia comprar mortadela para a Célia. Pegaram-me pelo cotovelo me levantando do chão e me jogaram na poltrona trazeira. Enfiaram-me um saco preto na cabeça e não vi mais nada. Eu sem defesa me lembrei do meu bastão com ponteira de aço, que fiz de um pé de goiabeira a anos e anos passados. Ele agora seria de serventia, pois era bom em bastonadas e fui um excelente Escoteiro campeão em salto do bastão. Nem mesmo meu canivete suíço eu levava. Tiraram a venda e vi que estava no Aeroporto de Cumbica em Guarulhos. Pensei em fugir, mas na Base Aérea impossível. Arrastaram-me até um avião da Policia Federal e em segundos o bicho levantou voo.

              Ninguem falou nada durante o voo e os brutamontes sentados ao meu lado calados como se fossem bonecos de cera de um filme de terror só olhavam para frente. Quarenta e cinco minutos depois taxiaram em um pequeno aeroporto de uma enorme fazenda. De novo me arrastaram até uma caminhonete e me levaram a sede central. Fui recebido efusivamente pelo Juiz Sergio Moro. – Putz Grila! Pelas barbas do Profeta! Entrei de gaiato na lava jato? – Ele com sua voz calma e simplória me agradeceu por ter aceitado o convite. – Aceito? Generalíssimo me obrigaram! – Calma Velho Lobo, ninguém pode saber desta nossa conversa! – Que conversa? – Preciso do Senhor. A turma do Senado e da Câmara contrataram oito dos mais famosos pistoleiros do mundo, e vinte soldados do Estado Islâmico para dar cabo da minha vida. Preciso um lugar para me esconder e urgente!

                - Chefe eu fui informado que quando de sua juventude e mesmo depois de ter assumido como chefão, o senhor acampou em lugares nunca antes imaginado. Pensei que poderia me indicar uns dois para que eu me esconda lá por uns tempos. – fiquei calado pensando. A Mata do Tenente? O Vale das Corujas? O Pico do Gavião? Podia ser nas dunas macabras do Vale do Rio doce? Ou quem sabe a Caverna do Lobo Cinzento? Precisava pensar. Precisava dar uma mãozinha ao Doutor Juiz. Afinal ele era o herói brasileiro e graças a ele muitos grandões foram passar umas temporadas no xilindró. Quem diria eim? – Doutor, tem um lugar supimpa. Subindo a Serra da Piedade, existe uma pequena abertura na Trilha do Capenga, lá um túnel vai levar o senhor até um grande vale que ainda é desconhecido pela civilização!

                   - Perfeito, Vado Escoteiro. Leva-me até lá? – Preciso avisar a Célia. Posso telefonar? – Nem pensar ele disse. Estamos sendo monitorados! – Bem o jeito é ir assim mesmo. – Vamos de avião até Crenaque, para não dar na vista saltamos de paraquedas e de lá damos uma volta no Pico do Labrador e chegamos à serra da piedade por trás. – Antes que disse mais alguma coisa uma bomba de enorme poder explosivo caiu no pátio da fazenda. Tommy Lee Jones e o Will Smith pegaram o Juiz gritando: - O exercito do Estado Islâmico descobriu onde estamos. Vamos fugir! Uma balburdia dos infernos. Milhares de policiais do legislativo, com Eduardo Cunha a frente avançavam armados até os dentes para a fazenda. – Arregacei a manga da blusa de frio. Afinal sabia dar um rabo de arraia com perfeição. Ainda tinha o soco da Cocada Preta. Não ia entregar o Moro para a bandidada.

                  - Levei uma coronhada na testa. Olhei e vi o Cunha rindo feito uma hiena. Que falta fazia meu bastão de ponteira de aço agora. Levei outro catiripapo na “cacunda” e cai feito ovo podre no galinheiro. Fui pisoteado por oito deputados e seis senadores. A coisa engrossava. Comecei a dar meu grito de guerra e alguém me enfiou um picolé de limão na boca. Eu gosto de picolé de limão e pensei em saboreá-lo devagar e com gosto. Alguém me puxava pelo nariz. Acordei sorrindo e apanhando. Era a Célia como sempre a me acordar de meus pesadelos. – Mulher eu gosto de picolé de limão, devia deixar pelo menos em saboreá-lo! – Ela riu. – Marido você estava enfiando o pão seco que estava comendo e engasgando!


                  - Pois é. Nem sei se o Cunha venceu, se o Moro se entregou ou se sumiu. Eu agora acordado pensei em continuar meu passeio na Avenida do meu bairro que nem avenida é. Desta vez botei meu canivete suíço no bolso, minha faca escoteira escondida e meu bastão de duas e meia polegada com ponteira de aço na mão. Que venham os Homens de Preto. Desta vez estava preparado para dar a eles uma lição, uma lição que só escoteiros sabem como é. E viva o Brasil!