quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Cozinha mateira? Sei não!


Conversa ao pé do fogo.
Cozinha mateira? Sei não!

          Tenho visto por ai muitas ideias de Cozinha Mateira. São bons mateiros que se divertem no campo a improvisarem e se fartarem da boa comida mateira. Nos dias de hoje porque não? É o pão do caçador? A sopa de cebola? O pão do minuto? Ovo no espeto? Ovo na casca de laranja? Ovo no barro? Milho assado na brasa? A maçã recheada? Frango no barro? Carne moída na batata? Arre! São centenas se deixar os mateiros Escoteiros engordam esta lista em minutos ou horas. Dizem os bons técnicos mateiros que a comida mateira escoteira é a técnica de se cozinhar sem a utilização de utensílios domésticos. Dizem também que é a comida típica dos Escoteiros nos acampamentos. Um deles disse que preparar a própria comida é um desafio e sempre uma grande distração para os jovens. Saber improvisar, ter paciência ver como substituir as tradicionais panelas (pelo menos se tem uma vantagem, evitar lavar panelas, arre!).

            Nada como um bom fogo, boas achas para brasa e já pensou colocar ali uma banana verde uma cebola, uma batata e enrolar o pão do caçador para depois de cozido se deliciar? Só não vale um churrasco no campo de patrulha. Não vale? Vale sim, uma noite fria, um bom fogo mateiro, caçar uns patos do mato ou marrecos, quem sabe uma carninha de tatu, uma cobrinha bem limpa e cortar em rodelas pequenas ficadas em espetinhos, ou de um belo Gavião que voou baixo e se danou? Bom demais. Bem sei que hoje isto não pode, mas quantos patos selvagens ainda existem por aí? Está dando sopa nas lagoas o pato-do-mato, pato-crioulo, pato-bravo, cairina, pato-selvagem e o pato-mudo. Haja patos para encher a “pança” dos escoteiros. Risos. Não pode? Bem o respeito à natureza e a liberdade dos animais e pássaros precisam ser respeitados. Mas ouve uma época que nós Escoteiros vivíamos da natureza selvagem. Na mochila não faltava meio quilo de sal, um vidro de gordura de porco, (quase não havia óleo de cozinha) eu gostava de uns dentes de alho e dependendo o lugar a acampar isto bastava. Lista de mantimentos? Meu Deus! Nem pensar.

             Será que teríamos jovens para um acampamento assim? Uma mochila, uma manta, mudas de roupas e material de higiene, uma pequena lona, claro não podia faltar uma boa faca mateira ou um facão, um canivete Escoteiro, uma machadinha pequena e mais nada. Ops! Esqueci o sal a gordura e o alho. Sem eles dava para se virar, mas no máximo alguns dias. E você quer ir comigo? Use de sua imaginação e lá vamos nós. Para onde? Para onde o vento nos levar. Quem sabe na lagoa do Epaminondas? Gente boa. Sempre a nos presentear com um franguinho vivo ou morto. Risos. A lagoa era o máximo. Dela tirávamos belas traíras, bagres e quando chovia enormes corvinas. Pegamos uma vez um pequeno Jacaré. Coitado serviu a seis seniores sem saber que eles adoraram. E os patos selvagens dando sopa a pedir: - Nos faça no espeto bem tostado, por favor! Risos. Uma sopa? Era só desencavar a macaxeira, ou melhor, o aipim, mandioca-doce, mandioca mansa e frita então? Bela lagoa. Era como dizia Pero Vaz de Caminha, nesta lagoa se plantando tudo dá. Mas ele estava errado, nela não precisava plantar, pois tudo dava.

           Mas vamos lá, não vamos ficar somente na lagoa, quem sabe ir até o Rio Chorão? Gente ali vamos nos fartar de peixe, Zé Bigode o intendente da Patrulha Leão, aquele que não tinha bigode disse que pegava com as mãos. Verdade ou não na piracema lá na curva da Cachoeira do Cavalo eu mesmo peguei vários. Mochila nas costas desfraldem a bandeira e lá vamos nós continuar nossa jornada. Cuidado ao atravessar o Riacho do Piraçu, a correnteza é forte, mas se amarre no cipó e fique frio. Melhor arranchar ali. Tem uma clareira na Mata do Guaporé linda de morrer. Cada um faz uma coisa. Um prepara o fogo mateiro, outro busca lenha, eu vou buscar uns timburés e uns chuchu do mato. Aqui tem dos grandes. E você Boca Larga entre na selva e veja se encontra uma colmeia e devagar sem alarde retire um ou dois favos. Não tenha medo das abelhas. Afinal elas sabem que você é um escoteiro. Vamos retirar da cera todo mel que precisarmos. Vamos nos empanturrar de doces de mel. Tem vasilhame? Que isto meu caro amigo, estava na lista?

         Acho que não vai chover turma portando durmam com Deus. Que o céu seja sua barraca. Fiquei a vontade para contar as estrelas, façam seu pedido ao passar um cometa brilhante no céu. Eu hoje nem papo quero, estou cansado e preciso de descanso, pois amanhã o dia não vai ser mole. Sei onde estão as galinhas d’angolas selvagens. Muitos as chamam de Cocar. Vamos pegar três e vamos nos regalar. Um bom cipó e aqui na floresta eles abundam em todo lugar. Você sabia que temos uma grande variedade deles? Tem espécies medicinais, são bons para diarreia, hepatite, leishmaniose e até câncer. Bem não sou médico, mas além de servirem como uma boa corda, eu os uso como tempero e conheço um com aroma e sabor de alho e cravo. Putz! Sua meia está furada Chefe? Troque já. Calo nas jornadas não é bom. E vamos dar belos galopes atrás delas e não acreditem se começarem a gritar. São danadas para cantar: - Tô fraco! Tô fraco! Risos, não acreditem nelas! Se forem bons escoteiros vamos pegar umas três rapidamente. Depois abrimos o bucho, deixamos as penas, dentro um pouco de óleo e sal e já devemos ter prontas as assadeiras. Três buracos de uns 40 de fundo por 12 polegadas de diâmetro. Cobrir com barro (as galinhas d’angola) e colocar na brasa fechando o buraco em seguida.



            Agora pé na taboa. Deixe as gostosas galinhas d’angola se aquecendo. Vamos voltar em três horas e elas estarão prontas. Ao tirar o barro saem as penas. E que delicia! Mochila nas costas e lá vamos nós novamente. Na Floresta do Jangadeiro vai ser fácil encontrar a Castanha e o Açaí. E olhe o que não falta lá é o Palmito (uma delícia) e na descida vamos passar pelo Lago Vermelho. Uma vez encontrei lá belos inhames, maracujás bananas da terra e folhas de Lobrobô. Não conhecem? Risos. Vais ver o ensopado que vamos fazer sem panelas. Sem panelas? Calma. É o truque que uso. Não conto para ninguém, só para quem acampa comigo risos. É como o sabonete das três e meia da manhã um belo banho principalmente no inverno! Quem vai aguentar cinco dias assim? E dez dias? É não é fácil. O melhor mesmo é voltar a Comida mateira. Tudo é levado da sede. Lá é só preparar. Mas você que esteve comigo nesta bela viagem de sonhos aventureiros não gostou? Lembra-se do Macaquinho que pulou em seu ombro na selva do Soldado? São tantas lembranças que tenho certeza estes cinco dias vão lhe marcar para sempre. Quem sabe um dia vamos voltar?