Meu nome é Osvaldo... Um Escoteiro!
Muitos sabem pouco sobre mim. Afinal
mesmo colocando diversas fotos minhas o faço para mostrar que devemos levar a sério
nosso uniforme, afinal é por ele que a comunidade nos julga se somos aquilo que
dizemos ser. Há tempos não comento minha vida escoteira. Alguns mais chegados
me conhecem e sabem que não sou diferente de milhares de outros que existem no
movimento Escoteiro. Desculpe, alguns dizem que sou um chefão, um Velho Lobo e
tem aquele que disse que sou uma lenda viva, eu? Impossível. Lendas são narrativas
“fantasiosas” transmitidas pela tradição oral através dos tempos. Não sou
lenda. Nunca fui. Meu escotismo é jogo aberto e sem censuras, talvez seja este
um motivo de me considerar uma oposição ao escotismo moderno que estão fazendo
por aí. Para mim nem BP foi uma lenda. Ele existiu, foi real, fez o que ninguém
fez pela juventude com um programa fácil de assimilar e que hoje estão tentando
modificar e complicar.
Estou
com 75 anos, entrei no escotismo em 1947 como lobo há quase 68 anos. Penso que
aprendi um pouco sobre o Movimento Escoteiro. Quem sabe é por isto que escrevo,
costumo até ser grosseiro nos meus dizeres para mostrar qual seria o Caminho
para o Sucesso. Tento ao meu modo fazer a todos felizes. Sei que fiz um
escotismo à moda antiga, mas cheio de aventuras, de descobertas, de fantásticas
atividades aventureiras que hoje não se faz mais. Se era um escotismo de
“raiz”. Aquele que o jovem pensava e agia então era o meu. Uma época que os
chefes eram mais irmãos e menos pais ou professores. Onde os chefes sorriam
quando fazíamos e não como hoje que muitos ainda querem fazer. Onde o respeito,
a palavra, o exemplo e a sinceridade e o garbo faziam parte de nossa formação.
Acampei demais, atividades aventureiras sem fim. Não dei a volta ao mundo, mas
conheci lugares lindos para ver e sentir que a vida vale a pena ser vivida no
escotismo que sempre amei.
Não fiquei rico com o escotismo, sinceramente fiquei mais pobre e hoje
no fim da vida luto com extrema dificuldade, não reclamo e sou feliz vivendo
como sou. Não sou doutor ou formado em Faculdade ou Universidade e meus
conhecimentos foram adquiridos na Escola da Vida. Acreditava e acredito que o
escotismo é para todos e não para uma classe privilegiada como o escotismo está
caminhando hoje. Não adoto a postura que nossos dirigentes mantêm. Consideram-se
uma casta privilegiada. Aquela que dão direitos e fama aos que lá estão. Aquela
que sendo membros da corte pode fazer ou desfazer sem consultar ninguém. Eu
também já fui desta casta. Fui Presidente de uma região escoteira que na época era
chamado de Comissário Regional. Fui membro da equipe de formação antes chamada
de equipe Nacional de Adestramento. Dirigi centenas de cursos. Aprendi mais que
ensinei.
Como simples Chefe de sessão eu vivi grandes momentos. Vibrei com lobos
na Jângal, fui irmão mais Velho de centenas de escoteiros e monitores dos quais
guardo lindas recordações. Hoje não sou nada, apenas um Velho Chefe Escoteiro que
acredita ainda poder ajudar. Reafirmo que não sou lenda, nunca fui e nunca
serei. Paulo Coelho disse que a lenda pessoal é aquilo que você sempre desejou
fazer. Todas as pessoas, no começo da juventude, sabem qual a sua lenda
pessoal. Nesta altura da minha vida vivo de lembranças querendo transmitir aos
que se interessam como fazer um escotismo gostoso, simples, sem mistérios ou
burocracias. Não gosto de cara feia apesar de ser feio demais. No passado
assustava os jovens pela minha maneira de ser. Demorava a demonstrar que meu
coração era aberto e não havia nenhum sinal de caminho a evitar.
Fiz milhares de
amigos, tinha facilidade para arregimentar adultos a trabalharem pelo escotismo.
Sempre fui contra os chefões, os que se sentem acima do bem e do mal e hoje
estamos cheios deles. Aqueles que se arrogam como dono da verdade. Aqueles que
impõem sua vontade, que menosprezam opiniões de terceiros e se acham perfeitos
em suas colocações nada comparado com o escotismo que BP nos deixou. Se
quiserem mesmo saber não faço registro na UEB há anos. Motivo? Evitar
conchavos, evitar admoestações, evitar tomar atitudes que um Velho Escoteiro
que se julga ético e cavalheiro possa tomar. Poderia ter fundado a minha
própria organização escoteira, mas isto seria trair a minha consciência, pois
entrei como lobo pertencendo a UEB e quero morrer sendo da UEB.
Aceito ideias, aceito
uma boa conversa ao pé do fogo, gosto de uma discussão de homens educados. Não
tenho a salvação do escotismo só uma pequena visão do que aprendi vivenciando o
escotismo que aprendi. Não aceito dizerem que nosso sistema é perfeito. Que ao
discordar dizem que a assembleia é o ponto certo para opinar. Isto é irreal. Lá
não temos a palavra e nem podemos discordar. Aceito as outras organizações
escoteiras que existem no Brasil. Os considero irmãos de ideal. É um direito de eles discordarem e viverem o
ideal de BP como acreditam. Isto se chama democracia. Quero ter o direito de
discordar, de sugerir (e isto sempre fiz) sem criar inimigos. Chega de
punições, comissões de ética onde muitos foram perseguidos por discordarem. Já
vi ações de dirigentes que até hoje penso onde ele aprendeu sobre o escotismo
de fraternidade. Primeiro a norma, depois o abraço.
Não
acuso os dirigentes de hoje e os de ontem. Sei que nunca fizeram uma liderança
cujos propósitos deram resultados. Não temos uma democracia participativa, plena,
aberta e transparente sem limites conforme o direito universal do homem. Fico triste
ao ver tanta prepotência de alguns (não todos) onde fazem dos demais seus
servidores. O lema de hoje é servir a União dos Escoteiros do Brasil. Sempre
pensei que fosse o contrário. Fico triste ao ver muitos dizendo que devemos
ouvir os jovens, e eles nunca foram ouvidos. Nosso Estatuto foi feito na medida
para uma continuidade. Ele nunca foi discutido abertamente por todos os membros
da UEB. Não participo de nenhum Grupo Escoteiro. Tenho uma saúde que me obriga
a hibernar em minha caverna sem poder sair. Quando mais jovem participei em
cinco Grupos Escoteiros com muito orgulho. Deixei milhares de amigos, lobos e
escoteiros que até hoje entram em contato ou me visitam. Não tenho inimigos e
se eles existem não os conheço. Prefiro um dar um mão esquerda, um abraço e
dizer baixinho: - Prazer, honrado em cumprimentar você!
Não sou e nunca serei um suprassumo
na especialidade escoteira e nunca serei uma lenda imortal. Eu sou o Osvaldo um
Escoteiro, o contador de causos e histórias, um saudosista, mas com os pés no
chão que conhece nosso movimento como ninguém. Até os últimos dias na terra irei
lutar dentro dos meios que disponho (a facilidade da escrita) e tentar até meu
último suspiro dizer que o escotismo é lindo, que o amor que ele transmite é
grande demais. Meu sonho é que o escotismo tenha o respeito que merece. Que
seja reconhecido e o respaldo para seguir sua história. Sonho com democracia,
ética, respeito, fraternidade.
Enfim este sou eu, Osvaldo... Apenas um Escoteiro!