segunda-feira, 4 de abril de 2016

Uma historia para pensar. Ficção ou realidade?


Uma historia para pensar.
Ficção ou realidade?


                      Zé das Quantas tinha 45 anos. Morava em Brejo Seco uma pequena cidade perdida em algum estado brasileiro. Zé das Quantas era pedreiro. Cidade pequena muitas vezes ele ficava meses sem trabalho. Ganhava pouco e sua esposa Maria ajudava fazendo semanalmente alguma faxina a pedido das damas da cidade. Zé das Quantas não tinha poucos sonhos, sabia que sua realidade não ia mudar. Se tinha algum que amava era seu Grupo Escoteiro. Dizia seu, mas sabia que ele não era dono de nada. Não gostava de quem dizia meu Escoteiro, meu Lobinho, meu monitor e meu grupo. Dava uma aparência irreal. Ninguem era dono de nada. Deus sim, ele era o dono, pois foi ele quem ajudou a fazer do Grupo uma fraternidade de meninos e meninas que se consideravam irmãos. O Grupo Escoteiro tinha oito anos de atividade e quase ninguém na cidade ajudava. Pudera Zé das Quantas era iletrado e o escotismo para a população era como se fosse mais uma organização de guardinhas que sempre alguém fundava para ver se sobrava uns trocados da ajuda da população.

                    Zé das Quantas um dia recebeu um oficio. Registrado teve de assinar a correspondência que diizia: - A União dos Escoteiros do Brasil vem informar que este grupo está atuando ilegalmente, fora dos padrões e normas do Escotismo Brasileiro. Para evitar problemas maiores sugerimos entrar em contato conosco, pois Grupos Escoteiros e Regiões Escoteiras só podem ser reconhecidos e autorizados a funcionar se cumprirem as disposições contidas no Estatuto e demais regulamentações da UEB. Ele sabia disto, mas desistiu, pois não tinha como pagar o registro de todos. Ele sabia dos isentos, aqueles que não podiam pagar, mas as exigências além de humilhantes eram difíceis de conseguir. Desistiu quando tinha resolvido pedir uma Autorização Provisória. Como não tomou nenhuma providencia neste sentido recebeu outro ofício desta vez o ameaçavam abrir um processo legal nos tribunais.

                     Zé das Quantas não sabia o que fazer. Dois meses sem receber um tostão. Maria conseguia as duras penas colocar arroz e feijão na mesa e não sobrava nada. O pior foi quando soube que teriam de decidir o uniforme a usar. Usavam o caqui, muitas vezes doados pelos que saiam ou cresciam. Passavam de pai para filho. Tinha seu orgulho em ver todos no grupo uniformizados mesmo com a aparência velha eles se sentiam bem e sabendo que se apresentavam com garbo e boa ordem. Ele leu uma norma que instruía o que deviam fazer: - Reunir a Assembleia do Grupo, com todos os presentes inclusive os jovens e votar para escolher o que iriam usar. Porque agora? Pensou. Porque quando decidiram a vestimenta não pediram opinião e nem ouve votação se queriam ou não? Mas ele não se preocupou. Não ligou. Continuou fazendo seu escotismo como gostava e como já lhe tinham dito dentro da metodologia Badeniana. Ele nem sabia o que era isto.

                       Mosquito tinha doze anos. Sonhava. E como sonhava. Era considerado a mascote do Grupo Escoteiro e chamado de o Escoteirinho de Brejo Seco. Sua avó era cega, recebia do Bolsa Família um dinheirinho que dava para comer arroz e farinha. Algumas vezes feijão. Ganhou seu uniforme de Pedrinho quando passou para os seniores. Pequeno não podia trabalhar. Várias vezes sonhou em ir em um Jamboree. Quando soube do preço chorou. Nunca poderei ir pensou. Soube que o Grupo da Cidade vizinha tinha ido. Encontrou com Antonio Mauro o filho do comendador. Falou maravilhas. Mosquito queria sentir inveja, mas não sentiu. Sabia que faziam belos acampamentos, belas aventuras e isto não tinha preço. Quase chorou aos prantos quando o Chefe Zé das Quantas leu o comunicado da UEB. – Chefe, vamos lutar aqui ninguém vai fechar o grupo. Nós não vamos deixar. Afinal não vai ter golpe!

                       Uma tarde eles receberam uma visita. Um homem alto, de vestimenta nova, sorriso nos lábios se apresentando como Advogado da UEB. Abraçou todo mundo prometeu ajudar. Pediu que o apresentassem ao prefeito, ao presidente da Câmara dos Vereadores, ele iria dizer a que veio. Zé das Quantas se assustou. Quando o prefeito iria recebê-lo? Nunca. O Argelino da Câmara? Sempre bêbado e nem sabia o que dizia. Tentou explicar e nada. O Advogado partiu e disse que nada poderia fazer. Ele iria receber uma intimação do processo que iriam abrir. – Melhor Zé é fechar seu grupo. Vai evitar dissabores e gasto que vocês não podem fazer. Zé das Quantas abraçado com Maria suspirava. – Mulher, eu amo você, mas amo o Grupo Escoteiro demais. O que fazer? Não entendo nada disto, de processo, de leis só entendo do amor que criei entre a meninada que no escotismo fizeram amizade, agora existe o amor e a paz.

                         Bem a história termina por aqui. Afinal floreei muito. Criei sentimentos, criei interpretações quem sabe falei demais. Desculpem mas dizem que sou um escritor e sem dar um sabor as minhas narrativas acho que não teria valor em não ser sentimental.  Mas sei de muitas associações que passaram e ainda estão passando por isto. A UEB, ou melhor, a EB não abre mão do seu poder. Se julga dona de tudo que se diz escotismo, tem as ações e propriedades que Baden-Powell nunca deu a ninguém. Sei que seus processos não encontra respaldo por onde passam. Na primeira Instância tem perdido quase todas. Na segunda também. Fico agora pensando o dia que estes processos chegarão ao Supremo Tribunal Federal. – Em uma tarde, TV a postos, Brasil assistindo os Ministros em suas togas, piscando os olhos e verão mais um processo absurdo de alguém que se julga dono das ideias. – Senhores, este é o processo 5.456. De um Lado a União dos Escoteiros do Brasil, do outro lado uma associação que achou que podia fazer escotismo sem a interferência de ninguém!


                           Vai ser um programa supimpa. Pela primeira vez um dos poderes da republica vai falar em escotismo. Um marketing para ninguém botar defeito. Ouvir cada ministro julgando a quem pertence o nome “Escoteiro” “Jamboree” “Patrulha” entre muitos outros será realmente formidável. Vamos então dar um belo exemplo na arte de fraternidade, de usufruir do poder que uma associação acha que lhe foram dados, da falta de realidade onde a lei Escoteira é clara: - “O Escoteiro é amigos de todos e irmãos dos demais escoteiros”. E ainda ouço por aí quem está mesmo pagando estes processos absurdos. Quem vai subsidiar a contra partida do outro lado que pode pedir indenização. Será Você? De uma coisa eu sei, Zé das Quantas e o Escoteirinho de Brejo Seco estarão por aí a escoteirar nas montanhas e florestas do Brasil.