Contos
da terceira idade.
O
Velho sou eu!
Você me pergunta se gosto de
ser Velho. Gostar é uma palavra amável, pois sinceramente adoro ser Velho. Por
quê? Quer mesmo saber? - Eu
nunca trocaria meus amigos surpreendentes, meu escotismo, minha vida
maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais
lisa. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos
crítico de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo. Eu não me censuro por
comer biscoito extra, chocolate quando posso comprar, balas de hortelã que
adoro, ou por não fazer a minha cama, ou pela compra de algo bobo que eu não
precisava, como uma lamparina à querosene, que parece algum desproporcional no
meu quarto. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de
compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me
censurar se resolvo ficar lendo ou escrevendo histórias dos escoteiros no meu computador
até às quatro da manhã e dormir até meio-dia?
Eu ainda em sonhos danço aqueles maravilhosos sucessos dos anos 60 &
70, ouço uma sinfonia de Mozart, Beethoven ou mesmo Rachmaninoff. Suas sinfonias
ou seus trabalhos para piano são uma das maravilhas que o mundo me oferece até
hoje. E se eu, ao mesmo tempo, sentir desejo de chorar por um amor perdido...
Eu choro apesar de não os ter. Posso andar na praia com um short excessivamente
esticado sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu
quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros. Eles, eu sei que também, vão
envelhecer.
Eu sei que eu sou às vezes
esquecido. Mas há mais, algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me
recordo das coisas importantes. Claro, ao longo dos anos meu coração foi
quebrado. Como não quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou
quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é
atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força,
compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e
nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.
Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos
grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos
em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem
prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa
menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Eu ganhei o direito
de estar errado.
Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser velho. Ele me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estiver aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer). Eu vou continuar amando minha esposa, o escotismo, meus filhos e netos sem esquecer os meus amigos. Para você que perdeu tempo em ler, eu espero que nossa amizade nunca acabe porque vem direto do coração! Afinal eu sou um Velho Escoteiro feliz!
Conto
baseado em um visto na internet.