Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
Pedagogia
Escoteira.
“Companheiro,
já viste a luz das madrugadas,
Uns
veleiros azuis singrando mar afora?
Ou
em marcha a cantar patriótica toada,
Um
grupo que na serra alcantilada,
Em
plena mata acampa e uma Bandeira arvora?
Outro dia um Chefe Escoteiro
em resposta a um artigo que aqui postei disse: - Não vejo a diferença ou onde
está o escotismo simples de raiz de outrora comparado com o de hoje. Completa
ele: - Sou novo no escotismo, cinco anos, pedagogo e estudioso da metodologia
escoteira. Eu amo o escotismo como qualquer um, estudei cada livro de
Baden-Powell, fiz cursos, atuo em um grupo e posso me comparar a um antigo Escoteiro,
portanto não aceito o termo do antigo e do novo tal como é apresentado neste
artigo. Li e reli várias vezes sua resposta. Por sinal ótima resposta, pois são
poucos que definem o escotismo como eles definiu. Como ele se colocou com um pedagogo,
estudioso, professor com curso superior me senti pequeno, um tiquitito de nada,
pois não tenho estudo, não sou formado e se aprendi alguma coisa foi na escola
da vida. Fiquei a pensar, meditar se eu não estaria errado em minhas
colocações.
Na minha época a gente
conversava, era um por todos, todos por um, vivíamos em equipe respeitando a
individualidade e hoje isto se chama “interagir”. Novos nomes, novos estudos e
agora o pedagogo tem seu lugar na educação dos jovens. Isto é bom. A União dos
Escoteiros do Brasil tem muitos. Eles discutem fazem modificam tem ideias
miraculosas para um escotismo autêntico ou quem sabe igual ao que pensam os
novos pedagogos estudiosos que estão a trazer novas formulas de educação da
juventude. Segundo a concepção dos estudiosos, a pedagogia estuda os
princípios, métodos e estratégias da educação do ensino, relacionadas à
administração de escolas e a condução dos assuntos educacionais em um
determinado contexto. Isto é formidável, e fico a pensar porque hoje há uma
revolta de estudantes, a fecharem escolas, ir contra a educação dada pelos seus
professores e indo de encontro ao pedagogo profissional escolar. Ops! Desculpe
isto não é a maioria.
Tento imaginar o novo
escotismo e compará-lo ao antigo. Um dia escrevi que no passado (sempre no
passado eim?) ficávamos mais tempo no movimento, fazíamos atividades que nos agradavam,
os jovens opinavam, discutiam, programavam e nos acampamentos havia um ar de
liberdade onde o “tempo livre” era uma tônica para se criar sentir a natureza, ouvir
o som do vento enfim quem sabe éramos filósofos sem saber. Mas Chefe! Podem me
contradizer, hoje também fazemos isto! Pode ser, pode ser, mas não na
intensidade de outrora. Vejo por aí uma teia a aprisionar os jovens, com chefes
dirigentes que se postam mais como sargentos ou quem sabe cabos, (turma da
pesada que admiro muito) mandando, dirigindo comandando não dando oportunidade
dos jovens criarem. Se vão para uma excursão estão lá em fila, o Chefe ao lado
como a proteger sua ninhada de um carro desgovernado, de um marginal e sabe-se
lá mais o que. Na fila lá atrás vai o Joãozinho acabrunhado sem poder ver aonde
vão. Ele nunca verá onde o sol vai se por.
E na sede? Tudo é
formatura. Alerta! Descansar! Em linha! Por patrulha! Fila indiana! Cobrir!
Cansativo demais. Um apito, dois três, chamada geral. Ordens do chefão são
dadas. Vamos jogar escoteirada! E lá vem um jogo onde se desponta um campeão. E
tem aqueles que em fila indiana os levam como ovelhas para algum lugar para
fazer um preleção. São bons nisto. Falam sem parar. Sentados ou se arrastando
os escoteiros dormitam, conversam entre si e imaginam o que estão fazendo ali. Mas
convenhamos que não são todos. Acredito que alguns bons chefes não fazem assim.
Mas eu insisto dificilmente os escoteiros terão liberdade de criar, de sentir o
vento, de descobrir o outro lado da montanha, de se entrosar em um acampamento,
vivendo dias em uma patrulha, discordando, amando, ou mesmo no modernismo de
hoje se interagindo. Dificilmente terão oportunidade como tínhamos no passado.
Antes tínhamos a liberdade de acampar só a
patrulha, de ter um Chefe amigo e irmão. Um Chefe que a gente gosta para
conversar, trocar idéias, ver que ele nos ouve, se cala adora sentir nossos problemas
e juntos acharmos uma solução. Um Chefe que pergunta que discute que concorda
ou discorda, mas educadamente, sabe nos motivar, acreditar que temos condições
de vencer sem ser preciso um empurrão daqueles de cair ao chão. Um Chefe que
nos visita em casa, amigo do pai da mãe, conhecedor das necessidades de cada
um. Sabe que os pais podem contar com ele, sabem que terão sempre o apoio deles
e nunca irão criticar seus métodos de homem bom amigo e irmão dos filhos de
cada um. O que está havendo José? Estás cansado? Calado? Não diz nada? Não tem
ideias para dar? – Quem sabe um bom pescado em algum lago ou remanso em um
acampamento para divertir?
Não sei se isto coloquei
no meu artigo. Comparei o ontem do hoje. Falei palavras simples sem afetação.
Comentei sobre a pedagogia que conheci. O escotismo de raiz simples que sempre
vivi. Onde pude parar em uma trilha a noite, deitar na grama, ver o brilho das
estrelas, cantar uma canção bem bolada sem o Chefe a nos dizer o que fazer.
Eramos um Caio Viana Martins a andar com nossas próprias pernas e com a
supervisão de um adulto que era nosso irmão Escoteiro mais Velho, conhecedor
dos segredos do campo que sem se mostrar nos ajudava a fazer fazendo. Pois é,
não sei se me fiz entendido. Quatro anos de lobo, quatro anos de Escoteiro, três
e meio de Sênior, dois de Pioneiro e Chefe Escoteiro por uma vida. Quem sabe
ela a vida me deu conhecimentos que hoje tenho e ninguém quer ouvir. Quem sabe
hoje aprendi com meus erros um escotismo gostoso de se fazer, de motivar e crescer
com ideias simples de um escotismo bem feito... Simples... E de raiz!
Desta
flotilha azul quem são os marinheiros,
Que
se animam a escalar das serranias as alturas?
Contemplais
que vereis, são jovens escoteiros,
Entusiastas
joviais briosos brasileiros
Que
lá vão brincar ao léu de uma aventura!