sábado, 26 de março de 2016

Pedagogia Escoteira.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Pedagogia Escoteira.

“Companheiro, já viste a luz das madrugadas,
Uns veleiros azuis singrando mar afora?
Ou em marcha a cantar patriótica toada,
Um grupo que na serra alcantilada,
Em plena mata acampa e uma Bandeira arvora?

                       Outro dia um Chefe Escoteiro em resposta a um artigo que aqui postei disse: - Não vejo a diferença ou onde está o escotismo simples de raiz de outrora comparado com o de hoje. Completa ele: - Sou novo no escotismo, cinco anos, pedagogo e estudioso da metodologia escoteira. Eu amo o escotismo como qualquer um, estudei cada livro de Baden-Powell, fiz cursos, atuo em um grupo e posso me comparar a um antigo Escoteiro, portanto não aceito o termo do antigo e do novo tal como é apresentado neste artigo. Li e reli várias vezes sua resposta. Por sinal ótima resposta, pois são poucos que definem o escotismo como eles definiu. Como ele se colocou com um pedagogo, estudioso, professor com curso superior me senti pequeno, um tiquitito de nada, pois não tenho estudo, não sou formado e se aprendi alguma coisa foi na escola da vida. Fiquei a pensar, meditar se eu não estaria errado em minhas colocações.

                         Na minha época a gente conversava, era um por todos, todos por um, vivíamos em equipe respeitando a individualidade e hoje isto se chama “interagir”. Novos nomes, novos estudos e agora o pedagogo tem seu lugar na educação dos jovens. Isto é bom. A União dos Escoteiros do Brasil tem muitos. Eles discutem fazem modificam tem ideias miraculosas para um escotismo autêntico ou quem sabe igual ao que pensam os novos pedagogos estudiosos que estão a trazer novas formulas de educação da juventude. Segundo a concepção dos estudiosos, a pedagogia estuda os princípios, métodos e estratégias da educação do ensino, relacionadas à administração de escolas e a condução dos assuntos educacionais em um determinado contexto. Isto é formidável, e fico a pensar porque hoje há uma revolta de estudantes, a fecharem escolas, ir contra a educação dada pelos seus professores e indo de encontro ao pedagogo profissional escolar. Ops! Desculpe isto não é a maioria.

                         Tento imaginar o novo escotismo e compará-lo ao antigo. Um dia escrevi que no passado (sempre no passado eim?) ficávamos mais tempo no movimento, fazíamos atividades que nos agradavam, os jovens opinavam, discutiam, programavam e nos acampamentos havia um ar de liberdade onde o “tempo livre” era uma tônica para se criar sentir a natureza, ouvir o som do vento enfim quem sabe éramos filósofos sem saber. Mas Chefe! Podem me contradizer, hoje também fazemos isto! Pode ser, pode ser, mas não na intensidade de outrora. Vejo por aí uma teia a aprisionar os jovens, com chefes dirigentes que se postam mais como sargentos ou quem sabe cabos, (turma da pesada que admiro muito) mandando, dirigindo comandando não dando oportunidade dos jovens criarem. Se vão para uma excursão estão lá em fila, o Chefe ao lado como a proteger sua ninhada de um carro desgovernado, de um marginal e sabe-se lá mais o que. Na fila lá atrás vai o Joãozinho acabrunhado sem poder ver aonde vão. Ele nunca verá onde o sol vai se por.

                         E na sede? Tudo é formatura. Alerta! Descansar! Em linha! Por patrulha! Fila indiana! Cobrir! Cansativo demais. Um apito, dois três, chamada geral. Ordens do chefão são dadas. Vamos jogar escoteirada! E lá vem um jogo onde se desponta um campeão. E tem aqueles que em fila indiana os levam como ovelhas para algum lugar para fazer um preleção. São bons nisto. Falam sem parar. Sentados ou se arrastando os escoteiros dormitam, conversam entre si e imaginam o que estão fazendo ali. Mas convenhamos que não são todos. Acredito que alguns bons chefes não fazem assim. Mas eu insisto dificilmente os escoteiros terão liberdade de criar, de sentir o vento, de descobrir o outro lado da montanha, de se entrosar em um acampamento, vivendo dias em uma patrulha, discordando, amando, ou mesmo no modernismo de hoje se interagindo. Dificilmente terão oportunidade como tínhamos no passado.

                       Antes tínhamos a liberdade de acampar só a patrulha, de ter um Chefe amigo e irmão. Um Chefe que a gente gosta para conversar, trocar idéias, ver que ele nos ouve, se cala adora sentir nossos problemas e juntos acharmos uma solução. Um Chefe que pergunta que discute que concorda ou discorda, mas educadamente, sabe nos motivar, acreditar que temos condições de vencer sem ser preciso um empurrão daqueles de cair ao chão. Um Chefe que nos visita em casa, amigo do pai da mãe, conhecedor das necessidades de cada um. Sabe que os pais podem contar com ele, sabem que terão sempre o apoio deles e nunca irão criticar seus métodos de homem bom amigo e irmão dos filhos de cada um. O que está havendo José? Estás cansado? Calado? Não diz nada? Não tem ideias para dar? – Quem sabe um bom pescado em algum lago ou remanso em um acampamento para divertir?

                          Não sei se isto coloquei no meu artigo. Comparei o ontem do hoje. Falei palavras simples sem afetação. Comentei sobre a pedagogia que conheci. O escotismo de raiz simples que sempre vivi. Onde pude parar em uma trilha a noite, deitar na grama, ver o brilho das estrelas, cantar uma canção bem bolada sem o Chefe a nos dizer o que fazer. Eramos um Caio Viana Martins a andar com nossas próprias pernas e com a supervisão de um adulto que era nosso irmão Escoteiro mais Velho, conhecedor dos segredos do campo que sem se mostrar nos ajudava a fazer fazendo. Pois é, não sei se me fiz entendido. Quatro anos de lobo, quatro anos de Escoteiro, três e meio de Sênior, dois de Pioneiro e Chefe Escoteiro por uma vida. Quem sabe ela a vida me deu conhecimentos que hoje tenho e ninguém quer ouvir. Quem sabe hoje aprendi com meus erros um escotismo gostoso de se fazer, de motivar e crescer com ideias simples de um escotismo bem feito... Simples... E de raiz!

Desta flotilha azul quem são os marinheiros,
Que se animam a escalar das serranias as alturas?
Contemplais que vereis, são jovens escoteiros,
Entusiastas joviais briosos brasileiros

Que lá vão brincar ao léu de uma aventura!