quarta-feira, 2 de março de 2016

Este escotismo não é o meu – Parte II.


Conversa ao pé do fogo.
Este escotismo não é o meu – Parte II.

                      Eu tento entender as mudanças do tempo. Do escotismo de ontem e o de hoje. De uma fraternidade sem igual antes hoje temos alguns poucos demonstrando tal agressividade que muitas vezes fujo do ambiente para evitar contestações que não constam do meu dicionário Escoteiro. Existe por parte de alguns poucos uma enorme vontade de crescer, de ser alguém, de comandar, de demonstrar conhecimentos que não medem seus atos para atingir seus objetivos. Espalham-se pela nação brasileira, chefes que se tornaram lideres em suas unidades, cuja performance não tínhamos contato e que hoje parecem pertencer à outra classe social escoteira. Nem ao menos um alô, como vai tudo bem, um dia destes vamos tomar um cafezinho e falar de nossa amizade. Isto não existe mais. Se você publica um artigo, um pensamento, uma escolha, sempre um a interpretar a sua maneira e as respostas são muitas vezes agressivas, esquecendo-se um pouco da cortesia do cavalheirismo. Sempre pensei que o escoteiro é cortês, pois assim aprendi no ontem que julgo valer para o hoje.

                        Outro dia publiquei um relato de um ex-voluntário, ou ex-chefe sobre sua decepção com o trato daqueles que deviam lhe dar apoio. Se o monitor não dá um sorriso, um aperto de mão, se ele não se mostra cavalheiro no trato com seus liderados quem vai querer continuar naquela patrulha? O mesmo seria no Grupo, na sessão onde atua e encontra alguém que se posa de dono da verdade, de autocrata, demostrando ser superior a tudo e a todos. Quem vai ficar ali naquele ambiente que o sorriso, o abraço o bem vindo e o eu conto com você não existe? Não é um caso isolado, eu mesmo na minha idade, achava conhecer o escotismo de B-P e já fui ridicularizado, achincalhado, não só aqui como também em algumas atividades que compareci. Falta de respeito? Falta de ética? Ou seria falta de espirito Escoteiro ou de educação?

                          Porque este endeusamento, esta vontade de ser maior que todos, este sonho estupido de mostrar que é o tal, de sobrepujar um companheiro que procura ter os mesmos ideais e é ridicularizado, tratado com inferior? Não seria melhor receber com um sorriso, dar um abraço respeitoso, dizer com carinho que você é benvindo, que contamos com você, que você é importante para nós? Isto é difícil? Nossa fraternidade está sendo destruída por estes que se julgam mais que os outros, estes prepotentes que se aninharam no escotismo e aqui se acasalaram para tentar mostrar ao mundo deles que também são lideres, são chefes importantes, são velhos lobos, são formadores, ou seja, lá o que for. Sei que são minoria. Fico na duvida se isto é marketing, se é para nosso crescimento, se é para mostrar que nossa lei vem em primeiro lugar. Já me disseram que temos tal numero de chefes que quase chega a quatro jovens para cada adulto. Bom isto não? Mas me diga, qual é a evasão, o Turnover, a rotatividade? Quantos chegaram ao presente e quantos se foram?

                        Já fui ridicularizado por falar do meu passado, do escotismo que fiz dos meus sonhos que ficaram no tempo e que gostaria de deixar um legado, mas poucos são os que se preocupam em ouvir os velhos lobos. Eles não se interessam em ouvir os mais velhos que passaram por tantas vissitudes e adversidades. Em qualquer ambiente que chego alguém me olha enviesado. Parecem assustados, outros se transformam em Grandes chefes. Poucos consultam, poucos perguntam. Você fica triste quando vê sua atuação junto aos jovens. Ali ele mostra seu estilo ditatorial, esquecendo que o escotismo não é para ele e sim para os que estão ali esperando dele receber a felicidade de um escotismo perfeito.

                      Estes se arrogam em dizer que sabem o que fazer. Querem sim deixar seu legado. Dizem que B-P ficou no passado só faltam dizer que B-P agora são eles. Quanto engano do nosso fundador. Pessoa de fino trato, educado, sempre dizendo nós em vez de dizer eu.  Mudam tudo, são pródigos em batizar programas e projetos cheios de pompa para declinar a força sem consulta seus programas de hoje e de amanhã. Afinal a modernidade é dos novos que vivem ela a cada dia assim dizem. Os velhos escoteiros só entendem de machadinha, de nós, de orientação. O moderno supre tudo isto. Na minha condição de saudosista fico matutando, porque tantos estão saindo? Ninguém diz nada? Os boquirrotos falastrões sempre tem uma explicação.

                          Aí vem novas eleições Escoteiras. Alguns estados já elegeram seus novos lideres e outros ainda o farão. A União dos Escoteiros do Brasil terá uma nova safra. Quem são? Tem algum que se preocupa em dar a todos o direito da palavra, de votar e ser votado? De ser consultado? Ou ele só saberá pedir votos e se mostrar como competente dando tapinhas nas costas e sorrindo como politico nacional? Será que perdeu algumas horas para perguntar, dar aos jovens a palavra para opinar e programaram seus feitos futuros com suas ideias? Dizem que os Jovens lideres foram criados para isto. É mesmo? Jovens lideres? A maioria acima de dezoito anos até vinte e seis? Nesta idade eu casado com três filhos, IM, DCB, dava cursos e o escambal. Eita humildade que não existe a não ser para bajular alguém. Eles sabem que sempre tem alguém para bater palmas dar parabéns, dizer palavras bonitas de incentivo.

                       Hoje somos quase perfeitos. Temos uma nova safra de grandes pensadores, de pedagogos, de psicólogos que se gabam do seu curriculum. Estão esquecendo que o escotismo é do jovem. Falam em nome dele, mas esquecem de conversar com ele. De ouvir suas opiniões e por em prática o que pensam. Fico pensando se não estamos formando jovens robôs, jovens que sabem ouvir e seguir e incapazes de dirigir seu próprio rumo. Que adianta a chegada de milhares de voluntários e nem sabemos quantos ficam e quantos se vão. Não sabemos de nada. Não temos dados confiáveis. A UEB é uma fortaleza onde se discute mudanças em quatro paredes e que poucos conseguem chegar. Suas publicações escondem muitas verdades que foram discutidas e aprovadas a quatro mãos. Aquele Velho Doutor de nome Jean Cassaigneau (vide relatório publicado na Fanpage Só historias e contos do Chefe Osvaldo) já dizia que a estrutura da UEB é feudal e fechada. Cada membro está fazendo do seu jeito. Só querem fazer sua promoção pessoal. Ele feliz recita que a UEB é uma fogueira de vaidades onde se briga por besteira! Palavras dele não minha.


                        Alguns destes lideres repetem sempre que o passado se foi e devemos viver o presente pensando no futuro. Concordo, mas se querem saber no passado éramos mais amigos, mais fraternos. Ficávamos horas e dias conversando, trocando ideias, pensando qual o melhor caminho a seguir. Éramos uma raça de cavalheiros leais, humildes sem pensar ser o melhor de todos. Eu como muitos também tenho um sonho. Um sonho Escoteiro aonde o amor vem em primeiro lugar. Onde a fraternidade não tem fronteiras e reconhecer o direito de quem quer fazer escotismo em outro lugar Meu sonho tem muitos caminhos, caminhos difíceis cheios de pedras e difíceis de atravessar. Mas ainda vejo a meninada, a moçada, os adultos e todos que estão chegando recebendo um aperto de mão, do lobo ao chefão sempre dizer – Seja bem vindo, gosto de você, nos ajude nesta cruzada, contamos com você!