Conversa
ao pé do fogo.
Salvem
minha bandeira que está no céu.
Não era uma tarde de sol, o
tempo estava nublado. O acampamento sorria com a escoteirada fazendo seus
bordados com cinzais nas dobras de uma costura de arremate. Um pequeno punhado
deles carregavam um tronco, uma birosca de barro, bambus aos chumaços cada um
querendo fazer mais e mais para aprender. Não ouve trovão, não ouve faíscas e
nem relampejar no ar. Em segundos o céu escureceu com uma nuvem cor de cobre.
Muitos disseram para si e para os outros: – “É temporal que se descobre”. É
hora de aprisionar no seio da barraca a matutagem do campo, fincar no alto da
cabeça o chapéu para proteger. Todos deviam se abrigar, pois o molhado na mata
não perdoava ninguém. Até a passarinhada que se aninhavam a cantar para ver a
escoteirada escoteirar se calaram. As burras da borrasca pronunciava uma
torrente de águas cristalinas a cair do céu. Cada um sabia o que fazer, pois ao
anoitecer tudo seria mais difícil para ver, para imaginar e para consertar os
estragos que iam acontecer.
Aflito o amofinado
cozinheiro protegia seu lenheiro, berço do fogaréu que em breve horas iria cantarolando
nos comes a fazer. O mal aventurado abençoava o temporal, mísero chuveiro que
Deus lhe reservou. Não haveria na hora do costado o bife pança vazia, guardada
proporções ele sabia que a fome da escoteirada ao debandar no bucho e na goela,
depois da chuva seria de matar. Melhor uma sopa, daquelas bem brasileiras,
daquelas famosas Escoteiras que um sal, óleo e um pouco de mingau aguado daria
para sustentar. O céu desabou no acampamento. Não havia firmamento, não havia
sol, ninguém cantava o arrebol. Correm os corvos na bandeira, ela desce bem
treteira naquele enorme vendaval. Mas o vento, oh! O vento danado soprou
enviesado e a bandeira subiu aos céus. A escoteirada se animou e desandou a
correr atrás. Pega aqui pega ali é nossa pátria, a ela vamos salvar. Cada um
virou herói, herói da bandeira, herói do universo do nosso querido Brasil.
Salvem ela, é nossa pátria, por ela vamos lutar ou morrer.
Um pé de vento mais
forte, a bandeira foi lá pru norte e ninguém ficou para trás. Sobem montes,
atravessam lagos, correm bem no costado do morro da Vaca Preta, e a escoteirada
gritando: - Pega bandeira! Não deixem ela escapulir. Parecia um jogo infernal.
O vento sorrindo o danado, a escoteirada mesmo cansada não desistia. Afinal ali
não era a terra do nunca, eles não podiam voar, mas tinham pernas treteiras,
pernas bem Escoteiras e a bandeira não ia escapar. Eis que ela subiu e se
deitou bem no alto do Jequitibá, numa galhada enorme, pequena até disforme e a
escoteira em volta olhando o vento que sumia, deixando no alto da coxia, da arvore
que escolheu para ficar. A bandeira molhada encolheu. Zé do Osso, um
escoteirinho, amarelo magro que nem angu do brejo, esbelto cabeça chata, se
lança no tronco da dita cuja. Seus braços pequenos não dava a volta que
precisava para firmar e subir. Mas quem desiste depois da promessa? Promessa
que um dia prometeu amar a Deus e a Pátria, portanto a bandeira ele fazia
questão de salvar.
O vento escondido nos
montes olhava de esbugalho o escurecer do horizonte, sorria ao ver Zé do Osso,
subir no Jequitibá. Deixa ele, ele pensou. Quando estiver para chegar, vou lá
de novo pé de vento a levo para longe do acampamento. Não deu outra, os
bracinhos bem curtinhos de Zé do Osso arranhou. Um galho pegou no menino, o
sangue correu pelo corpo, mas quer saber? Zé do Osso não desistiu. Seu chapéu
de abas largas foi levado pelo vento, amarrou no tronco seu lenço e sem mostrar
canseira ele abraçou a bandeira. Embaixo se ouviu um urro da escoteirada. A
bandeira estava salva. Honras a Zé do Osso o nosso Escoteiro herói. Salvou a
Pátria, salvou a honra, palmas e bravos pipocaram no ar. E depois da aventura,
foi carregada nos altos, a escoteirada sorrindo todos se divertindo e a
chefaiada aplaudindo.
À noite no céu de
estrelas, a lua brotou no céu, espantou o vendaval o vento e seu carnaval. A
fogueira foi acesa, sussurros de boca em boca, saudando um Escoteiro valente que
não deixou de barato, afinal se tornou um mateiro dos maiores aventureiros
cabra macho dos bons. Salvou nossa alma nossa honra... Nossa Bandeira. Alegria e contentamento valeu acampamento. Zé
do Osso ficou famoso, teve glorias de valente, foi saudado docemente pela linda
escoteira Maria. Hoje de tempos passados, os dois já bem casados, contam
histórias sem fim. Maria sabia da saga, da bandeira lá na mata, do espinhaço
sofrido, contava a seu filho Walfrido o que seu pai realizou. E assim a
história termina lembranças de fatos passados, aqui aos poucos narrados de um
vendaval que se foi.