domingo, 16 de dezembro de 2012

Do passado ao futuro.


A vida vale a pena ser vivida apesar de todas suas dificuldades, tristezas e momentos de dor e angustia.
O mais importante que existe sobre a face da terra é a pessoa humana. E surpreender o homem no ato de viver é uma das coisas mais fantásticas que existe.

Do passado ao futuro.

                        Já escrevi muitos artigos sobre o que penso do escotismo de hoje. Quem me honrou visitando meus blogs sabe disto. Alguns me tomaram como se eu fosse um elefante branco no fim da vida. Outros me chamaram de “Dinossauro” e até colocaram palavras nos meus lábios que nunca disse. Nunca disse que sou contrário as mudanças. Disse que elas poderiam ter sido feitas de outra forma. Para os novos nada de novo no front. Eles nasceram dentro deste sistema e vão defendê-lo até o fim. Para os antigos uma mudança brusca. Muitos desistiram pelo caminho. Outros vão deixando as coisas acontecerem sem sequer uma tomada de posição. E eles dentro do “sistema” nada podem fazer. Disse sobre a importância da tradição. Desfiguraram-na por completo. Valores? Cada um pensa de modo diferente. Tudo que escrevi foi no intuito de melhorar o que já existe. Tomaram ao pé da letra o que não disse. Nunca pensei em mudar de lado e nunca o farei. Sou um oposicionista leal ao que se faz no escotismo ontem e hoje. Vejamos algumas verdades de um e outro:

- Tudo que foi mudado foi decidido por poucos, principalmente em nomenclaturas, que sempre existiram e em nome da modernidade foram alteradas. Por quê? Eram arcaicas? Professor vem desde o início do século e não somos professores. Somos conhecidos como chefes. Quem tem Chefe é índio? Ora, ora. Chefe é um termo carinhoso para designar um responsável. Em Lojas, Fábricas, Grandes empresas este nome faz parte. Já tem alguns querendo alterar a palavra Chefe. Até já se falam em chama-lo de líder. Sempre copiando os “além-mares”. E o Chefe de Grupo? Mudaram. Agora é Diretor Técnico. Parecemos que somos copias de outras organizações que tem estas nomenclaturas há séculos. Para nós não servia. Achavam que Chefe de Grupo era considerado um figurão.  Um manda chuva e a Comissão Executiva pouco mandava. Mudou mesmo? Não. O Diretor Técnico continua ainda em sua maioria nos Grupos Escoteiros sendo o homem forte, o homem que decide. Nossos nomes era uma forma única de se conhecer nossa organização. Desfiguraram tudo. Copiaram dos outros com explicações que para muitos não convencem.

- Uniformes. Como já discutimos isto. É enfadonho voltar a falar neste assunto. É bom saber que não mais que 0,5% do nosso efetivo foi quem começou as mudanças. Quando falo em 0,5% é hipotético. Muitas vezes são três ou quatro que lançaram a ideia e mais meia dúzia aprovaram. Tomaram decisões em nome de toda a organização. Hoje dizem que os meninos não gostam, querem outro, preferem este e aquele. Claro. Deixou de ser um hábito de comportamento. Afinal se o Chefe é liberal veste qualquer coisa ele é o espelho dos demais. O exemplo. Antes nem se discutia isto. Era norma. O caqui para as atividades escoteiras (curto, nada de comprido) e na década de setenta para agradar a alguns se criou o Cinza chumbo. Calça de tergal nada de jeans para “atividades sociais”. ATIVIDADES SOCIAIS! Tínhamos até paletó e gravata. Mas os 0,5% foram alterando e hoje temos isto que está ai. Uma Torre de Babel. Cada estado resolveu o que vestir. Alguns caqui, outros azul outros uma camiseta com lenço e tem cada invencionice que melhor não comentar. Agora acham que vão unificar. Risos. Rir é o melhor remédio. Certo ou errado nunca irão provar que um novo dará uma nova aparência ao nosso movimento. Somos o que somos e não o que irá acontecer. Leva-se séculos para incutir na mente de muitos um hábito de comportamento ou um marketing para ser gravado na memória. Chame um jovem de caqui e chapelão. Chame outro de camiseta e lenço. Façam uma pesquisa com o público. Qual deles são escoteiros. O resultado é previsível. (todas as explicações de gastos, preços, clima é motivo de discussão). Não vou comentar aqui.

- Classes. Porque acabaram com a primeira e segunda estrela? Porque acabaram com a segunda e Primeira Classe? Porque acabaram com a eficiência I e II? Sempre foi um hábito de comportamento. Conhecido. Amado. Sonho de muitos que conseguiram e outros que lutavam para conseguir. Para que? Para modernizar? Na época consultaram os jovens de norte a sul do Brasil? Se precisava modernizar, dar aos jovens novos valores e conhecimentos era só alterar as etapas do que eram exigidas pelo que hoje se apresenta. Outro dia comentei sobre atividades mateiras. Acredito que nem vinte por cento dos grupos as fazem hoje em suas atividades. Não posso aceitar mudanças que eram padrões e vinham sendo usadas por anos e anos. Dizem que hoje temos que nos adaptar a modernização. Inteiramente de acordo. Mas mudaram tanto que se trouxe um aumento do efetivo ou mesmo se valorizaram mais o jovem para que ele permaneça nas fileiras do escotismo deu tudo errado. A evasão e tremenda. A procura quase não existe. Um amigo muito “cricrí” me disse que a ideia das mudanças nos distintivos foram de um que não passou nas provas. Risos. Claro, não acredito nisto. Apenar para rirmos um pouco.

- Atividades ao ar livre. Dizem que o mundo é outro. A marginalidade hoje é enorme. Concordo plenamente. Mas se vão acampar com cinco ou vinte chefes muito bem. Mas isto não justifica a falta da aplicação do método, de um programa mateiro, de técnicas escoteiras, de atividades de Patrulha, de campos de Patrulha, de aprender a fazer fazendo e com os chefes tendo seu campo sem ficar interferindo. Eu brinco sempre – Xô Chefe! Sei que não cabe mais uma jornada de Primeira Classe. É praticamente impossível deixar uma Patrulha acampar sozinha. Mas esta marginalidade tão comentada pelos modernistas está enraizada principalmente nas cidades. Vejam o que acontece nas escolas. A matança desenfreada. O bullying pavoroso que amedronta os jovens. Em cada esquina um traficante. Vamos proibir nossos filhos de ir à escola? De saírem para encontrarem os amigos? Isto é moderno? Não existia como hoje nesta intensidade. E nas cidades que estão os marginais, os vícios degradantes e onde se mata por prazer. Não é lá no campo não.  

- Podem acreditar meus amigos leitores. É triste ver que as mudanças aconteceram e os resultados não. A cada década aparecem novas ideias, novos programas e tem mais de trinta anos que os resultados são pífios. Nos meios educacionais salvo pequenas exceções somos ainda vistos como um movimento atrasado e ineficaz. Mendigamos em um congresso a participação politica e aqueles que lá estão e foram escoteiros não dão à mínima. O verdadeiro programa para crescer não foi realizado. Profissionais escoteiros em todas as áreas. Enquanto nos Estados Unidos são eles são mais de cinco mil, agora estão contratando aqui o segundo. Claro é um começo de um caminho.

- Eu teria muito o que falar, muito mesmo. Quando escrevo e vejo replicas desisto das tréplicas. Gostaria de ter visto as mudanças serem feitas com idealismo, com participação de pelo menos uma boa parte da comunidade Escoteira. Mas não me venham dizer que sempre ouviram os interessados. Não é verdade. Que falta faz um Escoteiro Chefe, aquele que gostaríamos de apertar as mãos e dizer – Ele é o nosso Chefe do Brasil. Mas não. Falar das nomenclaturas existentes é chover no molhado. Escoteiro Chefe, Comissário é sinônimo de atraso. Agora se fala de Diretor Presidente, Presidente, membros do CAN membros da DEN e por aí vai. Se fizermos uma pesquisa garanto que em cada dez membros do escotismo, sete não sabe o que significa. Como não somos politizados e somos levados iguais lobinhos no jogo do dia, poucos muito poucos procuram saber os melindres de um POR, Regimento Interno e Estatutos.

         Não me chamem de ultrapassado. Estou entrando nos meus setenta e dois anos. "Velho" com saúde debilitada, mas com a mente viva, repleta de ideias como se fosse um jovem nos meus tempos de outrora. Deste que o computador surgiu que sempre tive um em casa. Aqui sou um dos mais frequentes. Os filhos me procuram para resolver problemas técnicos no computador. Tenho seis blogs. Os montei com meu próprio esforço aprendendo a fazer fazendo. Escrevo muito. Domino com facilidade o Office da Microsoft. Faço programas para meu uso. Faço inúmeras pesquisas. Procuro conhecer os modernos meios de comunicação e tiro de letra o que está vindo por aí. Leio dois jornais por dia. Duas revistas de grande tiragem nacional por semana. Ainda tenho tempo de ler um livro em cada duas semanas. Procuro conhecer tudo que aparece escrito por pedagogos, professores, cientistas que se refere à educação. Meus programas favoritos de TV são os documentários e noticiosos. Portanto meus amigos, aqueles que acham que estou “fazendo horas extras” e falando palavras sem nexo, não estou não. Sei onde piso. Tenho um passado Escoteiro e dele me orgulho. Escotismo para mim não tem segredos sem falsa modéstia posso dizer que conheço tudo.

           Vou encerrando dizendo que levamos quase cem anos para criar uma imagem e em menos de vinte anos acabaram com ela começando tudo de novo. Foi certo? Valeu a pena? Quanto tempo vamos levar para que o tal marketing da modernidade alcance todos os jovens e adultos em nosso país? Quanto tempo para termos dentro da comunidade, da nação homens de valor, com Espírito Escoteiro, sabendo o que é honra, dignidade e ética para dar de volta o que receberam no escotismo? Quem venham às réplicas. Podem vir. Mas baseadas em resultados. Não do meu grupo e do grupo do vizinho. O importante é o todo, ou seja a totalidade dos grupos escoteiros do Brasil.

As crianças de hoje não conhecem nem uma galinha. Só quando ela já está na panela.
Ary Fontoura - Ator.