terça-feira, 13 de agosto de 2013

Se não tens ouro esqueça. Nunca será um Escoteiro!

Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei.
Para os ricos, é dura lex, sed latex. “A lei é dura, mas estica”.



 Se não tens ouro esqueça. Nunca será um Escoteiro!

           Existe um velho ditado não escrito que diz: Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo o que balança cai. Interessante e curioso é que o último desses versos repete textualmente uma máxima de Montaigne, que diz: - Tout ce qui branle ne tombe pas. Em síntese nada a ver com o que pretendo escrever. Risos. Mas é interessante, pois folheando frases e fotos aqui e ali ainda vejo esporadicamente meninos maltrapilhos com um lenço no pescoço e dizeres lindos como – Eles também querem ser escoteiros. Têm aqueles outros que já estão em um patamar mais elevado. Ganharam ou adquiriram uma camiseta com dizeres do grupo (a propaganda é a alma do negócio) e assim se apresentam como escoteiros. Mas não duvidem eles são realmente escoteiros e já vi alguém dizendo que não é o uniforme que faz o Escoteiro. Pode ser e concordo. Mas precisa ser e não parecer ser. Não é assim que dizem da donzela ou da mulher de Cesar?

          Eu não tenho dados concretos, mas imagino que mais da metade de nossos Grupos Escoteiros são de origem humilde. Lutam com dificuldade e alguns deles a gente se orgulha em conhecer e visitar. Dá gosto. Estão bem apresentados e fazem da sua postura um marketing que leva o nome Escoteiro aos Píncaros da Gloria. Orgulhamo-nos quando o vemos. Mas cada caso é um caso e não vou generalizar. Em nome da pobreza tem alguns que se comprazem em se contradizer e insistir na pobreza. Não é difícil fazer escotismo sem meios financeiros. Os erros natos de alguns dirigentes é querer mostrar quantidade em vez de qualidade. Sabemos por principio que qualquer grupo bem estruturado começou com poucos. Isto faz parte da formação escoteira. Se vamos trabalhar com monitores eles sim serão os primeiros e os demais virão com o tempo.

          Sabendo onde colocar os pés, e alçando voo aos poucos qualquer grupo Escoteiro poderá ter tudo àquilo que precisa. No passado estas discussões atuais de que para ser Escoteiro tem de ser rico não existia. Conheci meninos cujos pais não tinham nada e os filhos sempre bem uniformizados e com sua tralha escoteira completa. Compete ao Escotista preparar cada um para que ele acredite em si mesmo, que ele aprenda a andar com suas próprias pernas e ele claro irá dar valor ao que adquiriu com seu próprio suor. Não sou muito a favor de sempre dizer que eles nada tem e precisam de ajuda. Parece esmola. Conheci centenas de grupos que todos pagavam sua taxa mensal sem problema. Taxa esta que era acessível aos participantes. Foi combinada e decidida por todos.

         Aprender com os outros é bom. Que são diferentes cada comunidade uma com as outras é real, mas isto não significa que o Grupo Escoteiro não possa trabalhar com o manancial existente nela. Centenas de grupos espalhados em todos os estados brasileiros fazem atividades escoteiras ao ar livre sempre. Acampamentos, excursões, atividades aventureiras enfim, nunca se apertaram por ser pobres. Portanto não sou muito de ter comiseração com os que choram e não procuram aprender como acertar. Participei de três grupos escoteiros em comunidades carentes e fizemos esplêndidas atividades escoteiras. Conheci jovens que demoraram meses e meses para adquirir seu uniforme, mas adquiriram. Como líder de uma região escoteira fizemos juntos com diversos chefes grandes atividades regionais. Facilitamos o mais possível. O intuito não era e nunca foi o de fazer caixa para a região e sim dar aos jovens o sonho de conhecer centenas de irmãos e confraternizar em todas as atividades típicas escoteiras.

          Que me desculpem alguns chefes hoje vejo muitos deles que não dão conta do que podem fazer e realizar. Um Velho ditado diz que quem quer faz quem não quer arruma uma desculpa. Muitas vezes em cursos que participei vi alunos apresentando centenas de problemas em seus grupos de origem. Sempre comentava sobre a velha história escrita por Helbert Hubbard que escreveu há muitos anos um artigo que ficou marcado para sempre e até hoje serve de exemplo em todas as nações. Hoje grandes personalidades dão como exemplo, e surpreendentemente é exaltada em cursos de dirigentes, de Diretores, de CEOS e tantos outros. Trata-se da Mensagem a Garcia. Um herói da Guerra de Cuba foi o protagonista de tudo. Vejamos uma parte do artigo:

- Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se rapidamente com o chefe dos insurretos, Garcia, que se sabia encontrar-se em alguma fortaleza no interior do sertão cubano, mas sem que se pudesse precisar exatamente onde. Era impossível comunicar-se com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente tinha que tratar de assegurar-se da sua colaboração, e isto o quanto antes. Que fazer? Alguém lembrou ao Presidente: "Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan". Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro dias, saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão, para depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregando a carta a Garcia - são coisas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. “O ponto que desejo frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan pegou a carta e nem sequer perguntou:” Onde é que ele está?”“.

Hosannah! Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze imarcescível e sua estátua colocada em cada escola do país sem esquecer também que todos os grupos escoteiros mereceriam tal estátua. Não é de sabedoria livresca que a juventude precisa, nem instrução sobre isto ou aquilo. Precisa, sim, de um endurecimento das vértebras, para poder mostrar-se altivo no exercício de um cargo; para atuar com diligência, para dar conta do recado; para, em suma, levar uma mensagem a Garcia.

               O General Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias por aí. A nenhum homem que se tenha empenhado em levar avante um Grupo ou uma tropa escoteira, em que a ajuda de muitos se torne precisa, têm sido poupados momentos de verdadeiro desespero ante a imbecilidade de grande número de homens, ante a inabilidade ou falta de disposição de concentrar a mente numa determinada coisa e fazê-la. Não quero de maneira nenhuma culpar aos nossos dignos chefes escoteiros de até hoje não terem conseguido levar a mensagem a Garcia. Claro sei de muitos que assim o fazem sem se mostrarem ser possuídos de liderança incomum. Nosso movimento sofre de uma letargia crônica. Achamos que temos de nos preocuparmos com o atual e muitas vezes deixamos de programar o futuro, pois só ele nos trará os resultados esperado. Deixo o final do meu artigo para o próprio Helbert Hubbard fechar com chave de ouro suas observações e que cada Chefe se coloque na pele daqueles que são citados não como uma empresa, mas sim como se fosse o seu Grupo Escoteiro ou sua tropa:

- Leitor amigo, tu mesmo podes tirar a prova. Estás sentado no teu escritório, rodeado de meia dúzia de empregados. Pois bem, chama um deles e pede-lhe: "Queira ter a bondade de consultar a enciclopédia e de me fazer uma descrição sucinta da vida de Corrégio". Dar-se-á o caso do empregado dizer calmamente: "Sim, Senhor" e executar o que se lhe pediu? Nada disso! Olhar-te-á perplexo e de soslaio para fazer uma ou mais das seguintes perguntas: Quem é ele? Que enciclopédia? Onde é que está a enciclopédia? Fui eu acaso contratado para fazer isso? Não quer dizer Bismark? E se Carlos o fizesse? Já morreu? Precisa disso com urgência? Não será melhor que eu traga o livro para que o senhor mesmo procure o que quer? Para que quer saber isso?

- E aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a tais perguntas, e explicado a maneira de procurar os dados pedidos e a razão por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Garcia, e, depois voltará para te dizer que tal homem não existe. Conheço um homem de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra precisa para gerir um negócio próprio e que ademais se torna completamente inútil para qualquer outra pessoa, devido a suspeita insana que constantemente abriga de que seu patrão o esteja oprimindo ou tencione oprimi-lo. Sem poder mandar, não tolera que alguém o mande. Se lhe fosse confiada uma mensagem a Garcia, retrucaria provavelmente: "Leve-a você mesmo".

Hoje este homem perambula errante pelas ruas em busca de trabalho, em quase petição de miséria. No entanto, ninguém que o conheça se aventura a dar-lhe trabalho porque é a personificação do descontentamento e do espírito de réplica. Refratário a qualquer conselho ou admoestação, a única coisa capaz de nele produzir algum efeito seria um bom pontapé dado com a ponta de uma bota de número 42, sola grossa e bico largo. Sei, não resta dúvida, que um indivíduo moralmente aleijado como este, não é menos digno de compaixão que um fisicamente aleijado. Entretanto, nesta demonstração de compaixão, vertamos também uma lágrima pelos homens que se esforçam por levar avante uma grande empresa, cujas horas de trabalho não estão limitadas pelo som do apito e cujos cabelos ficam prematuramente encanecidos na incessante luta em que estão empenhados contra a indiferença desdenhosa, contra a imbecilidade crassa e a ingratidão atroz, justamente daqueles que, sem o seu espírito empreendedor, andariam famintos e sem lar.

Dar-se-á o caso de eu ter pintado a situação em cores demasiado carregadas? Pode ser que sim; mas, quando todo mundo se apraz em divagações quero lançar uma palavra de simpatia ao homem que imprime êxito a um empreendimento, ao homem que, a despeito de uma porção de empecilhos, sabe dirigir e coordenar os esforços de outros e que, após o triunfo, talvez verifique que nada ganhou; nada, salvo a sua mera subsistência. Também eu carreguei marmitas e trabalhei como jornaleiro, como, também tenho sido patrão. Sei, portanto, que alguma coisa se pode dizer de ambos os lados.

          Nosso movimento precisa de uma sacudidela, de mostrar a todos nós que não estamos vendo tudo que precisamos ver. Que o ouro que dizem por aí que precisamos para ser Escoteiro esteja dentro das próprias ideias, dos próprios passos e tenho certeza que fazendo isto iremos ter um escotismo forte e unido não só em quantidade, mas também em qualidade.

Essa história de que o dinheiro não dá felicidade é um boato espalhado pelos ricos para que os pobres não tenham muita inveja deles.