terça-feira, 30 de outubro de 2012

Revendo conceitos do escotismo.


Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo. 
Ghandi.

Revendo conceitos do escotismo.

                     Os cursos dos rios são impossíveis de serem alterados. A própria essência do terreno não nos dá condições de reverter o fluxo das águas. Porque estou dizendo isto? Porque na nossa Organização Escoteira brasileira nada mais pode impedir seu caminho inexorável às mudanças que estão sendo feitas paulatinamente. Viramos uma máquina de copiar. Tudo que os outros fazem do outro lado do oceano, aqui em pouco tempo é aplicado. De vez em quando dou uma olhada nos sites escoteiros do além mar. Também no da WOSM. Seu site é perfeito. Mas se procurar em todo seu conteúdo quase não se vê escrito os princípios e o nome de Baden Powell com seus formidáveis livros de orientação, conforme ele preconizou como deveria ser o escotismo. Seus livros são claros.

                    Vejamos a definição da OMME no Wikipédia.
A missão da OMME é "contribuir para a educação dos jovens, através de um sistema de valores baseado na Promessa Escoteira e Lei Escoteira, para ajudar a construir um mundo melhor onde as pessoas são auto-realização como indivíduos e desempenhem um papel construtivo na sociedade". WOSM é organizado em regiões e opera com um comitê de conferência, e bureau.
                    Perfeito. Dá a entender bem que nosso caminho é calcado no método e na filosofia de Baden Powell. Engano. Se procurarmos lá a vida ao ar livre, razão de ser do movimento Escoteiro quase não encontramos. Hoje viramos “copiadores”. Copiamos tudo. O passado foi enterrado. Os valores hoje são defendidos pelos novos dirigentes e escotistas cuja grande maioria não tiveram a oportunidade de vivenciar o escotismo como pretendia BP no passado. Saudosistas? Nada disto. Apenas alguém que acha que o caminho deveria ser compartilhado com todo o efetivo Escoteiro do país. Impossível? Não. Garanto que não. Outros artigos publicados aqui podem explicar melhor o que penso a respeito. 
                     Através dos anos as mudanças foram feitas de tal maneira que absorvidas hoje são consideradas normais. Organizações outras que não o escotismo não se preocuparam tanto em mudar como o nosso movimento. Em pouco tempo nos tornamos um movimento moderno, na visão dos idealizadores da mudança. Passamos a absorver a tecnologia esquecendo que nosso sucesso era a vida ao ar livre. Feita de maneira simples, com uma mochila as costas e vivendo a vida mateira de uma maneira salutar que trouxe enormes benefícios a quem dela participou. De uma hora para outra, as classes e especialidades foram substituídas em nome de nomes pomposos e os que viram a transição se sentiram perdidos e só o tempo deu prazo para os acertos que as mudanças precisavam ter.
                    Daí em diante, as mudanças continuaram. Nomes, normas, regulamentos vieram em profusão. Alguns corretos outros intimidatórios para aqueles que não aceitavam facilmente as alterações. De vez em quando dou uma olhada no Manual prático de atuação no regime disciplinar da UEB. Um calhamaço. Fico pensando que movimento somos para tantas normas disciplinares. Acredito que os seus idealizadores, que me parecem são “dois” dirigentes bem intencionados tem bons conhecimentos de direito. Como eu não entendo nada, nada posso dizer.
                   O tempo passou e estamos vendo um efeito “sanfona e sazonal” no crescimento Escoteiro. Evasão e baixa procura são fatos incontestáveis. Um relatório que eu chamei de Dossiê – O Escotismo Brasileiro no primeiro decênio do século XXI de ´2007 e apresentado pelo Dr. Jean Cassaigneau, que a pedido da União dos Escoteiros do Brasil, fez um diagnóstico, perspectivas, proposta e recomendações sobre o Escotismo Brasileiro, não teve receptividade. Considerei um excelente trabalho. Depois que mostrei a amigos e publiquei diversos dirigentes vieram contradizer suas diretrizes e outros há afirmarem que muito foi executado. Discutir o que?
                   Viajando pelo passado nos escritos que guardo, pois gosto muito disto, dei uma lida rápida em uma análise do método Escoteiro, um condensado do Dr. Salvador Fernandes Bertrán, antigo Comissário Viajante do Bureau Internacional da Boy Scout para a América Latina que brilhantemente nos mostra um escotismo autêntico, mas que infelizmente irão dizer que foi escrito lá pelos anos de 1970. Tudo que é passado não vale na premissa de alguns dirigentes. Mas anotei dois trechos interessantes:
                   1) Há dois aspectos dignos de ser considerados: um, que diz respeito àquilo que o Escoteiro aprecia, busca e gostaria de fazer no Movimento; o segundo, que concerne às qualidades e virtudes que o Chefe pretende obter do Escoteiro ou nele desenvolver. São dois pontos de vista que geralmente se confundem. O Escoteiro entra para a tropa por causa das excursões, os acampamentos, os jogos, etc. O Chefe aproveita precisamente essas atividades para fazê-lo cumprir insensível, porém progressivamente, a Promessa e a Lei Escoteira. Para ajudar os meninos a compreenderem o significado dessas pedras angulares do Escotismo, os assistentes das diversas denominações religiosas, tem importante papel.

                     2) Ninguém melhor que um religioso poderá infundir num menino a noção de seus deveres para com Deus, contidos na primeira parte da Promessa Escoteira. O Método Escoteiro não estará sendo aplicado, se não se estimula o cumprimento individual da Promessa e da Lei; daí, a necessidade de que as Tropas sejam constituídas por um número limitado de meninos, compatível com esse trabalho pessoal, por meio do qual o chefe e os religiosos podem conhecer o ambiente em que se desenvolve cada escoteiro: lar, colégio, comunidade etc.; todo o restante do trabalho escoteiro será inútil se não se consegue obter por parte do Chefe e dos Escoteiros, resultados positivos e tangíveis na prática diária da Promessa e da Lei.

                      3) Apesar de várias organizações escolares e militares adotarem também o Sistema de Patrulhas, por sua enorme utilidade, ainda existem Chefes (?) que lhe são contrários, baseando-se em vários argumentos completamente ante escoteiros, como sejam: — "Tenho medo de dar responsabilidade a meus monitores; prefiro fazer as coisas por mim mesmo, porque saem mais rápidas e Melhores, etc., etc. “Com isto fazem desaparecer uma das características mais Importantes e típicas do Movimento, que contribuem para a formação do CARÁTER, constituindo verdadeira Escola de Responsabilidade.

                     As melhores tropas que tenho visitado e as que tem obtido melhores resultados, atingindo uma maior permanência do rapaz no Movimento, tem sido aquelas onde o Sistema de Patrulhas preside a todas as atividades. E' muito importante recordar as palavras do Capitão Roland Philips, que por encargo do próprio B.P. redigiu as bases originais do trabalho por Patrulhas: "O Sistema de Patrulhas não é um método para praticar Escotismo: É o ÚNICO MEIO POSSÍVEL". Também se deve insistir contra o erro bastante comum de acreditar que para aplicar o Sistema de Patrulhas é suficiente dividir a tropa em patrulhas. Isto é completamente artificial. E' precisamente a "reunião das Patrulhas que constitui a tropa".

                  Assim posto, fico a pensar se o caminho percorrido e as ideias que vão sendo postas em prática são validas. Escotistas mais esclarecidos tem feito comentários diversos. Marketing, Chefes competentes, voluntariado são sempre citados. Quando virei “gente” no escotismo à sede nacional era no Rio de Janeiro. Com o advento da capital federal alguns chefes conseguiram que ela fosse transferida para Brasília. Contam-se aos montes histórias de um e outro, onde muito se perdeu e a falta de bons dirigentes dificultaram a sua permanência nestas capitais. Levaram a sede nacional para Curitiba. Quando isto aconteceu acreditei que lá estava escotistas de alto gabarito. Pelo que dizem, os novos dirigentes conseguiram uma boa restruturação, sede própria, mas me pergunto – É o local ideal? Parabéns ao trabalho realizado, mas isto em minha opinião só implica em uma coisa. A falta de bons profissionais escoteiros. Sempre trabalhamos com voluntários amadores. Pessoas que apesar de sacrificarem muito tem outras ocupações. Contam-se nos dedos os Profissionais contratados nos últimos 40 anos.

                  A alegação sempre é que não temos estrutura financeira para isto. Não sei. Acho que pecamos pelo nosso amadorismo. O profissionalismo no escotismo desde que me conheço por Chefe nunca teve um desenvolvimento esperado. Tivemos uma época que os cursos para profissionais proliferaram. Posteriormente quando se admitia um profissional destes sempre era pessoas ligadas aos dirigentes quando não um dos próprios dirigentes. Neste caso não estamos copiando nossos lideres inteligentes do além mar. Um profissional com formação acadêmica, para área especifica, com um salário específico e complementação através de porcentagens das doações que conseguir seria difícil? Acho que o difícil é o amadorismo de todos nós. Além de não termos um plano de carreira, de desenvolvimento, aceitar um profissional arrolando pessoas importantes, fazendo contatos externos visando uma expansão planejada, não seria bem visto. Posso até dizer que muitos se sentiriam diminuídos com suas posições de liderança. Dificilmente um trabalho bem feito poderia ser realizado.  Se até hoje não tivemos um bom profissional (agora soube de um novo contratado, vamos ver os resultados) para desenvolver o escotismo em suas diversas áreas não sei como podemos crescer qualitativamente e quantitativamente. Quando um país do além mar ostenta em seu seio mais de cinco mil deles, fico pensando onde estamos nestas mudanças estapafúrdias.

                 De uma coisa eu sei. As ideias e planejamentos sempre serão feitas a quatro paredes. Alterações, mudanças de estatutos, regimentos e normas eu não acredito mais. Portanto podemos discutir o que quisermos. Nada será alterado. Hoje o palavreado e a maneira de conduzir o escotismo é todo ele feito de palavras e ações que não atingem os leigos. Aqueles que fazem o escotismo. Conhecendo o novo questionário para Insígnias a maioria das questões eram burocráticas. Atividades de Patrulha de campo, e outras importantes foram substituídas pelas normas vigentes, e imaginem, de muitas normas diretivas e acredito que elas são mais importantes para a UEB. Até mesmo o Manual prático de atuação no regime disciplinar da UEB está lá. Por quê? Forma intimidatória? Prefiro não comentar o questionário do passado. Este sim, visava o conhecimento técnico e teórico do Chefe escoteiro.

                 Em um artigo de 1957 escrito pelo Chefe de Campo de Giwell Park, chamado de os Sete Perigos, John Thurman foi enfático em dizer em um item o seguinte:

Sem dúvida, Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou. OS ÚNICOS CAPAZES E POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES.
 Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado autossuficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.

                     Falar mais o que?

Ética profissional é o conjunto de normas morais pelas quais um indivíduo deve orientar seu comportamento profissional. A Ética é importante em todas as profissões, e para todo ser humano, para que todos possam viver bem em sociedade.