sábado, 5 de janeiro de 2013

A Santa Inquisição Escoteira.


Fundamentalistas dão um toque de arrogante intolerância e rígida indiferença para com aqueles que não compartilham suas visões de mundo.
Umberto Eco

A Santa Inquisição Escoteira.

Significado de Inquisição
 Ato de inquirir, de pesquisar.  Esforço empreendido pela Igreja Católica no sentido de identificar e punir hereges, ou seja, pessoas que professavam crenças diferentes dos ensinamentos da Igreja. A Inquisição teve lugar em muitos países da Europa e em suas colônias, mas a que ficou mais conhecida foi à espanhola.
(Cada ideologia tem a inquisição que merece)
Millôr Fernandes.

                       Estou preocupado. Quem sabe estarrecido. Primeiro a UEB cria um Manual Prático de Atuação, com mais de sessenta páginas, dizendo como se deve proceder em casos de faltas disciplinares praticadas pelos sócios, membros pertencentes à organização. Claro, feito a três mãos. Agora através de informes, resoluções, processos civis entre outras está fazendo uma verdadeira caça às bruxas, daqueles que se recusam a aderir ao seu esquema de escotismo, praticado no Brasil. De acordo com suas ponderações, ela é dona de tudo que diz respeito ao Escotismo. Dona do nome, da promessa, da lei, registrou tudo no INPI, (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Com sua maneira autoritária, abre processo a torto e a direito. Quem não quer pertencer a ela que faça escotismo com outro nome e outras leis e promessa e ache um novo fundador.

                       Fico perplexo, pois me lembra da Inquisição. A Santa inquisição foi criada nos anos 1160 e se estendeu até o século passado. Uma espécie de tribunal religioso criado na Idade Média para condenar todos àqueles que eram contra os dogmas pregados pela Igreja e aqueles que desejavam professar uma nova religião.
 E o que é pior, os sócios membros da UEB estão assistindo a tudo sem se manifestarem, deixando que uns poucos da liderança se transformem em um “Tomás de Torquemada” (o maior dos inquisidores de todos os tempos) a abrir processos a torto e a direito, chegando ao cúmulo de exigir pagamentos em dinheiro por cada membro da outra organização. Nunca pensei que chegaríamos a este ponto. Sei quem tem centenas para defenderem a posição da UEB. Sei que ela até pode ter razão em algumas situações, mas chegar a isto?

            Há dias fiquei pensando se não posso estar errado. Afinal a UEB conforme já comentei acima, tem todos os nomes e eventos registrados aqui no Brasil no INPI. Mas isto é certo? Será que Baden Powell assinaria em baixo estes processos? Eu nunca soube que ele tinha dado preferência a este ou aquele e pelo que saiba não legou a ninguém o direito de considerar proprietário de suas normas, nomenclaturas, métodos e assim por diante. Não discuto o direito da UEB quanto as suas publicações, distintivos e outros que através de sua Loja Escoteira produziu. Mas estão indo longe demais. Um amigo tentou me mostrar que se a UEB for vitoriosa, todos nós teremos a ganhar. Os próprios jovens das outras organizações poderão usufruir de um escotismo melhor etc. Palavras dele. Só esqueceu-se de dizer que a UEB pode perder e está perdendo. Faz parte do jogo democrático. Esqueceu-se de dizer também se os jovens não estão satisfeitos onde estão e não querem mudar.  

                       Se eu não estou satisfeito com as diretrizes estatutárias e regimentais, se eu não tenho nenhuma condição de alterar ou sugerir (apesar de que insistem em dizer que sim) não posso me rebelar? Não posso fazer uma organização de um escotismo que sempre acreditei que deveria ser? Liberdade de expressão? Democrático isto? Mas eu fiz uma promessa, me chamo de escoteiro, tenho no meu coração a lei e agora vou mudar tudo? Chamar-me de explorador, aventureiro, ou seja, lá o que for? Não posso concordar com isto. Se assim o for então todos são hereges. Todos somos ortodoxos. Não pode ser a fé que um movimento oferece que conta. Conta à esperança que se propõe (Humberto Eco).

                      Enquanto países tentam se entender, ou unificando ou respeitando as individualidades, aqui é diferente. Processos correm de norte a sul. Já houve casos que a UEB perdeu em duas ou mais instâncias e continua recorrendo. Sei que tem milhares de explicações de ambas às partes, mas quando isto chegar à imprensa será um prato cheio. Já temos exemplos de outros países com a pedofilia, acidentes mal explicados e agora está luta para ser a proprietária de um nome histórico. E olhe alguns lá na direção tem uma arrogância tão grande que somente há poucos meses informaram aos seus associados das providencias que estavam tomando. Lembro-me das diretrizes dadas pelos presidentes autoritários da revolução de 64. Uma enorme falta de respeito. Coloco-me na pele de um Chefe Escoteiro que tenta mostrar aos jovens de sua tropa ou alcateia que somos fraternos, amigos e irmãos dos demais escoteiros em todo o mundo, mas o Grupo Escoteiro que existe no outro bairro não. Eles são nossos inimigos.  

                       Não sei até onde isto irá levar. As outras organizações não cruzaram os braços. Os processos estão correndo. Enquanto eles não se ajoelharem e pedirem perdão conforme preceitua os mandamentos da inquisição, poderão ser levados a fogueira. Se criarem novos nomes, novas leis, novas promessas e um novo Baden Powell, quem sabe poderão escapar. Eles nunca serão nossos irmãos. Eles nunca serão nossos amigos. Como dizem por aí? “Aos amigos, tudo; aos inimigos a lei”? Não vai demorar que esta guerra de vaidades por parte da UEB irá trazer péssimos resultados ao que precisamos. Ensinar que formamos homens e mulheres com honra, com ética, respeito, diálogo, amor ao próximo. Demonstrar que ensinamos a crer em Deus um dia vai ser difícil. Amar aos outros como eu vos amei será apenas uma frase que os escoteiros irão desconhecer.

                      Tantas coisas com que deviam se preocupar, principalmente descer do pedestal, pois se julgam possuídos de direitos que os outros não tem. Ir lá à plebe e mostrar um pouco de amor e fraternidade, tirar esta arrogância de donos da verdade e de tudo que BP nos deixou seria bom. Lembro aos meus amigos que não sou da FET, da AEBP, não sou dos Florestais e tantos outros. Sei que lá tem alguns que precisam descer também do seu pedestal, mas como aqui tem muitos que são idealistas e merecem o nosso respeito. Tenho amigos lá. Gente que respeito e me respeitam. Mesmo não me registrando sou da UEB de coração. Não vou sair. Vou continuar minha luta. Luta que sei que aqui tem muitos contrários. Sei também que existem muitos que me querem ver pelas costas. Paciência. Não vai demorar! Aguardem.

                     Lembro que a inquisição atraia milhares de cristão nos julgamentos e outros milhares se divertiam quando os condenados eram sacrificados na fogueira. A cidade em peso presente. Quem sabe foguetórios serão soltos quando se chegarem ao final do processo e der ganho de causa a um ou outro lado? Eu só pergunto quem paga a conta? Claro os associados da UEB e da outra Organização. É você com sua taxa anual que está pagando isto. Ainda bem que temos uma democracia em nosso país. Quem viver verá. Fiz este artigo porque não gosto de injustiças. A UEB está de novo indo em um caminho errado. Não ouve ninguém. Decide sem consultas. Faz e desfaz em nome de normas que ela mesma criou. Como sempre é chover no molhado. Pensar que o “olho por olho, dente por dente” é o melhor caminho não é o que penso da amizade, fraternidade e irmandade que devia haver no escotismo.

O primeiro dever do bom inquisidor é o de suspeitar antes dos que te parecem sinceros.
Umberto Eco