Crônicas de um Chefe Escoteiro.
A Legião dos Esquecidos.
Estou à
procura deles. Alguém sabe onde estão? Porque os procuro em todos os lugares e
não consigo encontrá-los? Agora são outros? Não tem rostos? Não tem nomes? Desapareceram
no tempo? Deixaram de ser alguém como nós? Foram esquecidos na memória e
ninguém mais lembrou que eles um dia foram como nós? Saudades. Muitas saudades.
Difícil não relembrar os momentos vividos um dia. Se eles foram bons ou maus
não importa, o que importa na verdade é a essência que ficou e marcou. A
Organização peca. Eu sei que ela não é consciente e nem viva. Eu sei que ela é
inanimada. Não aproxima de ninguém. Se hoje eles não estão mais ao lado dela
para ela sim, eles se tornaram uma Legião de Esquecidos.
E foram tantos
e tantos. Os jovens que um dia pensaram em ficar para toda a vida. Os entraves
aconteceram e eles se foram. E aqueles que deram o que tinham e não tinham pela
organização? Eles fizeram parte da história e a organização esqueceu. Eles
sempre diziam que não era para ela e sim para colher flores colorida nos jardins
da juventude. Ah! Foram pessoas que passaram e se foram. Tiveram seus momentos
e de repente viraram lembranças. Ações que foram geradas no calor de um ideal e
hoje, delas os acontecimentos se acabaram. Mas a organização é implacável. Tem
as suas convicções e dela não abre mão. Ela vive o sonho de seus devaneios de
altivez de pensar que eles aqueles que são a Legião dos esquecidos não tem mais
serventia para ela. Afinal eles não saíram por livre e espontânea vontade? Será
mesmo? Quantos se foram sem dizer adeus? Ela sabe que tem sempre uma Legião dos
presentes que dá força para ela continuar. Quem sabe um dia eles irão para outras
plagas e ficaram também no limbo da Legião dos esquecidos.
A organização
não lembra que eles um dia foram presentes sacrificaram o que podiam e não
tinham acreditando que ela, a organização estaria sempre ao seu lado. Não foi
assim. Nunca foi. Já disse a organização nunca se interessou por eles.
Interessa sim pelos vivos presentes nas fileiras do altar que jazem nos
escaninhos da organização. Ela se sente bem com a fila que se forma, da
reverência que se faz, do sim e o não sem discordar. Ela gosta disto. Sua disciplina
é ferrenha. Para ela todos os momentos que eles viveram intensamente acabaram
se transformando em memórias tristes que ela faz questão de apagar e esquecer.
Pergunta-se a organização o porquê ela não os procurou? O porquê ela não mandou
pelo menos uma carta, pequena, simples, sem afetação, com poucas palavras
escritas – Obrigado! Você me fez feliz um dia. Quando quiser as portas estarão
abertas! Mas Não. Nem isto ela fez e sabemos que ela nunca o fará.
Para ela, esta
Legião dos Esquecidos não existe mais. Não trazem dividendos. São ignorados,
não existe gesto de nobreza, não importa o que eles fizeram, sacrificaram os
seus que viviam ao seu redor, fez-se dos seus proventos uma doação sem volta.
Se ele ficou sem dormir para domar o vento e não importa. O que ele fez para
que o vento soprasse com carinho aqueles que estavam ali a dormir sob as
estrelas foi esquecido. Ele deu tudo que tinha e nunca foi agraciado, pois ele
pensou que seu trabalho era acima da burocracia. Um dia ele achou melhor
partir. Tentou ao seu modo achar o caminho a seguir. Ele não acreditava que
todos os momentos vividos intensamente acabariam se transformando em apenas
memórias tristes ou quem sabe alegres. Para ele agora não vale a pena lutar.
Lutar por um ideal. Não o da organização e sim daquele que criou o espirito
aventureiro, que pensou que o amor, que a força de um ideal nunca seria
esquecido. Pensou que ali estava o verdadeiro caminho do sucesso para formação
de caráter. Esta sim foi sua paga quando ali estava sem um retorno da
organização que só sabia exigir e não dar nada em troca. Ah! Ela não, mas os
jovens foram marcados para sempre em seu coração.
São tantos,
são milhares, estão por aí espalhados nesta terra imensa, que Cabral nos
deixou. Eles hoje vivem com suas memórias ainda vivas de um passado. Uma
poetiza sintetizou tudo sobre eles. O tempo. O tempo passa tão rápido. O tempo
deixa para trás, os momentos vividos. Os bons e os sofridos, mas que jamais são
esquecidos. Não há volta, não existe convite de retorno. A Organização não se
presta para isto. Ela não importa de quem chega e de quem se foi. Claro, já foi
dito e falado, ela não é consciente e nem viva e por isto segue seu caminho sem
volta. Não haverá medalhas, não haverá um agradecimento, não existe nos
escaninhos de seu ser qualquer menção a ser lembrada dos que se foram. Para ela
eles são a Legião dos Esquecidos.
Ah!
Organização. Não precisava ser assim. Esta legião dos esquecidos podia voltar.
Tantas coisas a ajudar. Quem sabe um sorriso furtivo ajudaria? Quem sabe uma
palavra de carinho? Porque não apagar esta insensatez, esta frieza e pensar que
dar as mãos seria melhor? Sei que não. Não adianta remar sua própria canoa. As
águas revoltas e os turbilhões da vida levaram a canoa e ela se foi para
sempre. A organização esqueceu-se dos remos, agora ela tem quem rema para ela,
sempre será assim, com rumos definidos que não comportam em suas fileiras esta
Legião dos Esquecidos. E eu fico aqui matutando, e copiando Estefani Moury, que
dizia, - E eu continuo olhando as estrelas e lembrando-se do seu sorriso, dos
momentos com você vividos que nunca mais voltarão!
“Estou atrás do que fica atrás do
pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não
me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso
dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre
limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível
limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é
uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um
modo ou de outro”.