quarta-feira, 7 de maio de 2014

A Lei do Escoteiro. “Para que uma lei se ela não for levada a sério?”


Conversa ao pé do fogo.
A Lei do Escoteiro.

“Para que uma lei se ela não for levada a sério?”

          Quando menino ouvi falar pela primeira vez na Lei dos Escoteiros. Uma época onde a leitura se fazia na biblioteca da cidade, onde as conversas giravam nas atividades ao ar livre e não havia ainda as tecnologias de hoje. Fui conhecer TV já nos meus dezessete anos. O mundo mudou muito e tinha de mudar. Nada pode ser estático sem uma razão de ser. Se nós crescemos tudo cresce a nossa volta. O escotismo é uma fonte inesgotável de experiências. Algumas boas outras nem tanto. O progresso trouxe muitas mudanças. No Movimento Escoteiro nunca em menos de vinte anos se mudou tanto. Se valer a pena ou se está valendo só o futuro dirá. BP nunca foi contra as mudanças deste que a finalidade fosse alcançada. Aquela áurea de nobreza de caráter, onde se acreditava em sonhos, onde o sentimento batia forte e todos acreditavam ter um anjo ao seu lado já não é a mesma. De um dia para o outro aparecem novas metodologias, novas maneiras de pensar e a imprensa principalmente a televisada nos trás diariamente fatos que não escolhemos. Ela a TV nos trás em nossa sala a interpretação de um autor ou roteirista que sem perceber mudam nossa maneira de vivenciar o bem e do mal.

        Ficamos presos a um processo tal que dificilmente escapamos dele. Em nosso país boa parte da população assiste as séries e novelas, comenta e sem perceber assimilam os heróis, as personagens a trama as vestimentas e esta é motivo de discussões em diversas situações diárias na vida de cada um. Não vou analisar aqui as vantagens e desvantagens apesar de que minha maneira de pensar e agir não aceita facilmente este tipo de comportamento. O jovem de hoje em sua maioria já não tem mais aqueles sonhos aventureiros onde uma Távola Redonda já não faz parte mais do seu modo de agir. As leis, as normas da sociedade e a visão ética do mundo não estão sendo assimilada como no passado e que os jovens acreditavam. Quem conhece ainda a história de um homem que um dia tirou uma espada Excalibur da pedra e se tornou rei? Um rei que comandou uma das maiores sagas contadas por séculos e séculos em livros de história e vivida por milhares de Escoteiros que sonharam com isto?

        Tenho escrito aqui sobre os sonhos dos jovens, como eles veem a natureza, como reconhecem a Deus sobre todas as coisas e nem sei se é assim mesmo que pensam. O palavreado moderno me assusta e suas maneiras de ver o mundo mais ainda. Se o escotismo pode trazer dividendos em sua formação quem sabe a modernidade está aos poucos os afastando da verdadeira interpretação do escotismo. Temos hoje a liberdade de expressão o que é muito válido e a formação religiosa que ficou em segundo plano o importante é discutir os valores que alguns defendem tais como a liberdade sexual, o homossexual, bissexual entre outros como se isto fosse importante na formação escoteira. Sempre pensei que isto era obrigação dos pais ao criar a família. Temos ainda o ateísmo que muitos defendem e os temas são discutidos em detrimento de outros que alguns julgam importantes. Não tiro o mérito de nenhuma forma de aceitação sexual e ateísta. É um direito, mas discutir isto no escotismo tão em falta de valores éticos e morais é como mudar toda uma forma de pensamento que produziu as normas da sociedade como são vistas hoje.

        Claro que contestações são um direito e devemos levar em consideração o que cada um acredita, mas no escotismo que caminha em minha opinião tropegamente, precisamos primeiro fortalecer o que falta na formação escoteira para depois enraizados abrir as portas para aqueles que acreditam e querem ser aceitos conforme suas escolhas pessoais. Vejo muitos arvorando nos seus direitos, mas será que eu não tenho os meus? Sou obrigado a aceitar estas mudanças que nunca fiz parte? Tenho de discutir se eles estão certos ou errados? Na visão de muitos eu sei que sou errado, mas sempre acreditei num escotismo puro nas suas ações e nas suas palavras onde Deus é a fonte de tudo. Não me vejo em um mundo Escoteiro onde Deus não está presente. Se outros não pensam assim é um direito, mas forçar uma situação para que se mude ou se dê liberdade às mudanças de comportamento ou palavras ditas na promessa não compactuarei com ninguém.

       Outro dia em uma atividade escoteira um alto dirigente pertencente à equipe de formação dizia que por muitos anos a UEB se descuidou com a formação religiosa. Ele, entretanto acreditava nas palavras de BP que o escotismo colabora na formação e educação do jovem na escola, na religião e em seu lar. Colabora e não substitui. Disse o dirigente que está havendo uma mudança de comportamento. Agora já pensam em uma volta ao passado com diretores religiosos. Pensei comigo porque isto aconteceu? No passado quando atuava Equipe de cursos tínhamos como a mais importante das palestras a Lei e Promessa. Lembro que me esmerava quando era o responsável por ela. Preparava-me com esmero e nunca deixei que ela caísse no lugar comum em que alguns religiosos já tem como comprometimento, com um discurso pronto em suas concepções. Mudei inclusive horários e a parte da Lei e Promessa saltou de meia hora para uma hora. Fiz uma unidade didática diferente, participativa com grupos de trabalho ao ar livre, montagens de peças e vivencia escoteira. Questão de honra em quem acreditava e acredita.

         Lembro que quando menino, quando fui fazer minha promessa escoteira meu Chefe me chamou e conversou comigo por muito tempo. Ouviu mais do que falou. Deixou-me pensativo com os artigos da lei. Fui para casa e os li novamente. Já os tinha decorado, mas queria mais, queria me sentir responsável a cumprir o que seria prometido, pois iria fazer uma promessa e me ensinaram que uma promessa é uma norma que exige muito no caráter e da honra de um escoteiro. Marcou-me profundamente e olhe que pedi ao Chefe antes de fazer a promessa que me deixasse dar um testemunho do novo Escoteiro que iria surgir em mim. Eu ia prometer e minha promessa seria para sempre. Uma lei é para ser cumprida não para aprender e esquecer. Durante todo o tempo que fui menino Escoteiro até na vida adulta mantive o mesmo “status-quo”. Sempre exigi de todos que ela a Lei e Promessa deveria estar presentes em todos os momentos da vida escoteira. Antes eram corriqueiros os jogos da lei, os jograis, as enquetes e tantas outras formas que nos faziam lembrar a todo instante que sem uma lei, sem uma promessa não existe a palavra do Escoteiro. Já nem sei se isto ainda existe nas sessões escoteiras.


          Espero que não levem minhas palavras como alguém que se arraiga a um passado e que hoje o que escrevi são meras quimeras de um tempo que já se foi. Se assim for, se o mundo é outro e se a modernidade não comporta mais este saudosismo ou esta norma de comportamento ou de vida então, e só então eu acredito que o escotismo que conheci está nos seus estertores finais. Sei que me dirão que irá surgir das cinzas do passado um novo escotismo, mais livre, mais forte e moderno, cheio de jovens que acreditam em si e não precisam acreditar em Deus. Ainda bem que não estarei aqui para ver...