sábado, 24 de março de 2012

As três portas do sucesso – Parte I - II e III


As três portas do sucesso – Parte I

A Alcatéia, a Tropa Escoteira e a tropa Sênior.

Deveriam ser quatro. Porque não incluí a última ficarei devendo. O Clã Pioneiro. Claro tem validade. Muita mesmo. Entretanto neste artigo não é primordial na aplicação do método Escoteiro que vou explanar aqui. Sua importância não se discute. É fundamental. Mas não cabe agora comentar. Por quê? Um artigo sobre os pioneiros pretendo escrever proximamente. Afinal fui um deles. Outra época, mas fui por dois anos e meio.

Muitos podem discordar e até aceito. Mas a porta principal do movimento Escoteiro é a tropa Escoteira. Ela é o coração do Grupo Escoteiro. Com o passar dos anos as idades sucessivas para as sessões escoteiras foram alteradas, sempre pensando no desenvolvimento do rapaz. As idades que na maneira de ver dos dirigentes deveriam receber formação Escoteira foram alteradas através dos tempos conforme se pensa da maturidade nos dias de hoje.

E os Lobinhos? Não são importantes? Claro que são. Mas vejamos – BP vendo que os “pequenos” também queriam participar deu uma oportunidade a eles. Como não podiam ainda viver a vida aventureira do Escoteiro, surgiu os lobinhos com a fenomenal ideia da Mística da Jângal. Assim como os escoteiros, naquela época tudo era muito simples. Nada como o tal mundo sociológico e pedagógico de hoje. Risos.

Sempre houve uma preocupação com a tropa Escoteira. Sem desmerecer, ela é um baluarte em qualquer Grupo Escoteiro. É comum termos alcateias sempre cheias. Mas as tropas não são fáceis de manter. Tanto que nem sempre os lobos advindos da alcatéia permanecem muito tempo na tropa. Existem é claro aqueles abnegados e também existem boas tropas que sabem receber e manter o lobo em seu meio por mais tempo. Mas isso é exceção e não a regra.

Se olharmos com atenção, os seniores/guias tem sempre o menor número das sessões escoteiras. Por quê? Porque todos os jovens que passam para esta tropa abandonam em menos de um ano? Em minhas andanças por este Brasil afora, vi poucas tropas seniores/guias com mais de duas patrulhas. Advindos todos da Tropa Escoteira só encontrei uma meia dúzia com quatro patrulhas. Se não fosse as moças acredito mesmo que ter duas seria uma exceção e não a regra. Será um tema interessante para discutir.

Portanto a Tropa Escoteira era e ainda é o sustentáculo da permanência dos jovens dentro da vida Escoteira. Se ela for realmente uma tropa onde se pratica um bom escotismo, é claro que muitos desses jovens ao passar para a idade da Rota Sênior irão pelo menos “engordar” mais as patrulhas que lá estão. Mas não podemos e esquecer que, se eles aprenderam a opinar, a sugerir, a fazer seus próprios programas e ali forem tolhidos pelos chefes, não irão ficar por muito tempo.

Acredito, portanto, que as três partes do sucesso do escotismo são: A Alcatéia, A tropa Escoteira e a Tropa Sênior. Agora temos que pensar que sem uma boa tropa Escoteira dificilmente o Grupo Escoteiro irá ter o sucesso esperado no seu crescimento quantitativo e qualitativo. Pretendo dissecar o assunto com mais clareza em artigos futuros. É para ela que sempre se volta o pensamento quando se organiza um grupo e é ela quem dará o caminho para o sucesso a todas as demais que irão se materializar ali.

Para não alongar, no próximo artigo irei dar minhas opiniões sobre a tropa Escoteira em especial. As três partes do sucesso da Tropa está presente nesta sessão de outra forma. Podem ser reconhecidas como O Monitor a Patrulha e a Corte de Honra.  Aqueles que por um motivo ou outro não concordam com o meu raciocínio, aceito de bom grado. Insisto e torno a insistir que somos amadores. Se não nos virem assim nunca iremos fazer o escotismo como queria Baden Powell (BP).

E torno a afirmar que nosso movimento é de fim de semana e não semanal. Quando todos nós nos imbuirmos que nosso voluntariado deve ser exercido de maneira simples, então tenho a certeza que vamos ter sucesso em nossa jornada.

As três portas do sucesso – Parte II

A Tropa Escoteira

Quem viu o vídeo de Ian Hislops, sobre a vida de Baden Powell (BP) (Escotismo para Rapazes segundo Ian Hislops – Ficheiro único (pt-pt) no You Tube poderá ter uma ideia mais clara do que significa escotismo tradicional, ou seja, na minha modesta opinião escotismo em sua forma simples, atingindo de maneira clara seus objetivos. Sempre acreditei que isso que o jovem procura quando adentra no escotismo.

As ideias e as práticas com o passar dos anos foram sendo alteradas. BP nos deixou um legado. Muitos hoje em nome dele dizem que se estivesse vivo estaria mudando também. Será? (quantos gostam de falar por ele). Quando ele escreveu em forma de fascículos o Escotismo para Rapazes, estava assentado as bases do movimento Escoteiro. Os jovens aos milhares começaram a fazer o escotismo na sua forma original. Claro precisavam de um rumo. Se isso não acontecesse não seria benéfico para uma organização que se avizinhava.

E foi aí que surgiu à organização. Homens querendo dar um rumo a historia do escotismo. Lembramos que conforme Aldous Huxley em seu livro Admirável mundo Novo ele dizia: Uma organização não é consciente nem viva. Seu valor é instrumental e derivado. Não é boa em si, é boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são parte do todo. Dar primazia as organizações as pessoas é subordinar os fins ao meio. A organização precisava mostrar a que veio.

Se pudéssemos ver o passar da história veríamos que a cada década um pouco do escotismo original mudava. Agora acrescentavam suas ideias no método escoteiro na forma como começou. Chegamos a tal ponto que hoje os pedagogos entre outros acreditam piamente que o passado deve ser enterrado. O escotismo na sua nova fórmula atual não permite a simplicidade. Os cursos de formação a cada ano vão dando novo sabor ao aprendizado. Ainda lembro que quando comecei a labutar na seara do adestramento, os manuais mimeografados eram ainda em língua inglesa. Não era a pureza na sua forma original, mas se aproximava muito.

Seria interessante ver que na “época de ouro” se podemos chamar assim, o aumento quantitativo foi surpreendente. Analisar o que aconteceu em muitos países seria difícil, mas em alguns deles o escotismo chegou a multiplicar-se anualmente. Porque os jovens gostavam tanto? Todos irão responder que era pela maneira nova e simples que se apresentava aos rapazes, dando oportunidade a todos que ali ingressassem em ser heróis, a fazer o que sempre liam nos quadrinhos. A busca da aventura, das atividades mateiras, enfim o sonho de toda criança.

E o tempo foi passando. Em nosso país ele não cresceu tanto. Poderia analisar aqui talvez os motivos. Mas fica para um futuro próximo. É bom lembrar que tudo já foi absorvido e aplicado de maneira constante e sistemática. Isto se tornou um hábito de comportamento. Esta a maneira com que os ditadores fazem para mudar a mentalidade dos seus povos. Não quero dizer que no escotismo tenhamos ditadores, não.  Mas os dirigentes a cada ano passaram a pensar pelos jovens. Passaram a dizer o que é bom ou ruim para eles.

O escotismo na sua forma original passou a ser considerado ultrapassado e ineficaz. Não deram condições de ver o outro lado. Quem sabe se tivessemos seguido outro caminho ele poderia ser mais bem aceito pelos jovens do que é hoje. As mudanças foram feitas. O advento da internet, da TV avançada, do celular da ultima geração. Ou então a velha crença de que os jovens estão crescendo mentalmente acima de suas idades. Penso que isso deu espaço para que o desejo da aventura fossem substituídos por outros valores. A debandada foi natural. Muitos ADULTOS falando em nome dos jovens.

As três portas do sucesso – Parte III

A Tropa Escoteira

Tentaram colocar os jovens para opinar. Como? Já havia um hábito de comportamento entre eles. Aprenderam com a nova terminologia. Agora só se sabia fazer o que faziam. Não tiveram nenhuma possibilidade de fazer o que BP pensou nos primórdios escoteiros. Não funciona agora! – Dizem. Se alguns de voces prestarem atenção no que falam alguns jovens que publicam em sites de relacionamentos, se vê que o desejo da aventura está ainda arraigado em seus pensamentos. Já viu algum deles dizerem que adoram as provas escoteiras para pesquisa na internet?

É como dizem. Temos que mudar para viver bem no meio sociológico e pedagógico de hoje. Os jovens querem mudar. Estão pensando diferente. Vamos dar a eles o que eles querem. Será mesmo? Sempre adultos falando em nome dos jovens. Sei que tem muitas tropas espalhadas pelo rincão brasileiro que ainda vivem um pouco da originalidade. Não se preocupam com as mudanças. Fazem ou dizem que fazem o escotismo tradicional.

Lembro-me bem que nosso "Chefe" Escoteiro era uma pessoa esplendida. Não ficava ali a apitar, fazer sinais manuais e inventar atividades sociológicas e pedagógicas. Cada um de nos tinha em suas casas o Guia do Escoteiro. (escrito pelo Almirante Benjamim Sodré em 1925). A cada página uma descoberta, uma aventura, um desejo de fazer o que estava escrito. Sei que hoje isso não é possível. Mas se pudesse se tivesse condições iria fazer uma tropa nesses moldes. Convidar oito rapazes. Entregar a cada um deles o Guia do Escoteiro e perguntar um mês depois – E aí? Vamos fazer nossa Patrulha? E tenho certeza que quase todos iriam topar.

Seria é claro algum novo. Deixar que eles fossem responsáveis pelo seu adestramento, sua formação. Mas podem me dizer, é isso que fazemos hoje. Não é não, irei responder. Poucos sabem fazer o Sistema de Patrulhas. Poucos deixam que os monitores façam sua Patrulha andar. Sempre o adulto com seu novo manual na mão a dizer – Vamos treinar isso e aquilo. (vejam meu artigo o Sistema de Patrulhas para não ficar repetitivo).

Seria bom que muitos dos leitores revissem suas estratégias. Sei que poucos procuram estudar melhor a falta de motivação de novos para terem suas tropas completas. É como se fosse uma obrigação semanal ir à reunião e voltar para casa. Mas acredito que muitos devem se perguntar – O que estou fazendo aqui? Formar cidadãos honestos? Mas como se a cada ano sempre tenho escoteiros novos?

Uma pena que poucos grupos tem em suas fileiras as bases escoteiras completas. Sessões em que as vagas são poucas. Mas que lutam para criar outras dando maior poder de participação àqueles que ainda não conhecem o escotismo e agora se motivaram. O vídeo de Ian Hislops nos mostra que aquele escotismo nos seus primórdios ainda persistem em muitas mentes de jovens pela nossa nação hoje e claro pelo mundo.

Melhor seria que nossos audazes dirigentes mudassem nosso nome ou mudassem nosso método. Aprender a fazer fazendo está complicado. Muitas interpretações. Cursos de formação para isso e aquilo. Bastava que dissessem, vamos ver as tropas Escoteiras em ação? Liberdade de pensamento, democracia nas patrulhas, respeito as suas ideias e isso seria o começo de uma nova era.

E para terminar, nada melhor que o que Kipling, que não era Escoteiro escreveu:
   “ Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.