sexta-feira, 9 de março de 2012

Qualidade ou quantidade? Eis a questão!



Qualidade ou quantidade? Eis a questão!

Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.

Sempre sou surpreendido aqui e ali, por ver notícias ou mesmo alguns escotistas que iniciando uma sessão Escoteira ou mesmo um Grupo Escoteiro tem a única preocupação da quantidade. Vejo também até distritos, regiões que em menos de um ano duplicou seu efetivo de forma assustadora. Isso é bom? Não é o que digo sempre, aumentar nosso efetivo nacional?

O tema que pretendo lançar aqui é o inicio de um Grupo Escoteiro ou de uma sessão com grande numero de pessoas. Tenho como exemplo uma construção de qualquer coisa. Um prédio, uma casa, um veículo etc. Tudo demanda tempo. Se quiseres fazer bem feito faça por etapas. Nada a ver com a linha de montagem que Henry Ford desenvolveu em 1863 para produção em série. Sua linha de montagem ficou famosa e até hoje é copiada por todos.

Estamos lidando com seres humanos. Formação de personalidades, diretrizes de conduta, normas de comportamento e tantas outras noções de civilidade que fazem parte do método Escoteiro. Em todos os cursos que participei assim me foi ensinado. Começar com poucos. Se hoje falam diferente não sei. Assim como aprendi, também executei com êxito. Em nenhum caso tentei fazer escotismo em massa para satisfazer egos de amigos ou políticos que assim o desejavam.

Os exemplos não partem somente dos novos grupos cujos dirigentes ainda estão em fase de aprendizado. Partem também de regiões e distritos que de forma ambígua não dão o suporte necessário. Se formos ver em escala por todo o território nacional estamos assistindo a esta corrida que pode até dar certo, mas vai levar o dobro de tempo se ao contrário a maneira correta fosse realizada.

Outro dia conversei com escotistas bem formados, alguns Insígnias de Madeira, que organizando um grupo novo, fizeram inscrições em massa e o mesmo com a promessa. Ora, se isso acontece com quem deveria saber como agir certo, quiçá com aqueles que não foram orientados para isso. O futuro para muitos que começaram assim não será promissor. Acredito mesmo que alguns já estão sofrendo a perda de jovens porque não começaram da maneira correta.

E qual é a maneira correta? Começar com poucos. Na Alcatéia pelo menos oito jovens que poderão ou não ser os futuros primos e segundos. Na tropa a insistência é maior. Também o número máximo de oito jovens que serão os futuros monitores e subs. Estes serão bem formados (adestrados) para quando as patrulhas forem formadas poderão estar devidamente preparados para levar sua patrulha ao caminho do sucesso esperado.

Seniores, guias, pioneiros e pioneiras? Eu não começaria tão cedo. Se você tem jovens nesta idade advindos da própria tropa, a possibilidade de sucesso é grande. Isto não acontece com a formação usando somente novos sem o suporte de antigos. Portanto só iniciaria quando tivessem elementos em condições de começar advindos da própria tropa. Agora eu pergunto. Porque a pressa? Porque querer em pouco tempo ter todas as sessões? Alguns me dizem que não podem deixar que aqueles que querem fazer escotismo não podem ficar de fora.

Bem, quando temos uma quantidade boa de adultos, e principalmente escotistas bem formados até que se pode pensar no assunto. Eu não o faria, mas admito que tenha outros mais preparados do que eu e podem levar a bom termo a nova tropa ou grupo. Sei que poderão dar vários exemplos bem sucedidos. Concordo, mas ao contrário poderia eu mesmo dar outros tantos ou talvez muito mais de exemplos que não deram certo.

Claro que é lindo e espetacular além extremamente agradável ver cinquenta, cem ou mais jovens, como digo brincado – “Durinhos” fazendo uma promessa em massa satisfazendo o ego da população, dos políticos e dos pais que agora irão acreditar que os seus filhos, a comunidade irão receber os benefícios que tantos esperavam. Mas a decepção poderá vir muito rápido. Acredito no crescimento paulatino e na minha modesta opinião é uma forma correta e não uma forma impensada da massa sobrepondo o indivíduo.

Por outro lado, nosso método tão bem idealizado por Baden Powell (BP), nos mostra a força do sistema com uma promessa com poucos. Orgulho de quem a fez, sabendo de sua importância e não em ser mais um junto a tantos outros que levantaram a mão e repetiram uma promessa que pode não ter marcado na memoria a sua importância.

Se isso fosse feito, garanto (experiência pessoal) que a fila de espera teria uma enorme importância. Todos saberiam que a entrada em um Grupo Escoteiro não é tão simples, e quando houver uma chamada o interessado irá dar grande valor a sua entrada no Grupo Escoteiro. Infelizmente vejo hoje, membros adultos escoteiros postando aqui e em outros sites, que as inscrições estão abertas. Abertas? Tem época para isso? Ou é um engodo para tentar arregimentar jovens que por um motivo ou outro são convidados para substituir os que se foram ou uma forma de querer voltar a ser grande. Não é uma maneira feliz de arregimentar.

Uma vez, em um passado remoto, em uma cidade do interior, um religioso me procurou interessado em ter uma tropa Escoteira em sua paróquia. Na época colaborava com um grupo Escoteiro em um bairro próximo. Pedi que escolhesse oito jovens. Seriam os futuros monitores. No entanto o religioso se entusiasmou. Quando lá cheguei no horário determinado, vi em um pátio coberto mais de quinhentos jovens. Quase cai de costas! Mas essa é outra historia. Megalomania de um que não satisfez em começar por baixo.

Sei que tem grupos escoteiros que deram certo. Ótimo. Mas acredito que é minoria. Sei também que muitos hoje lutam com sacrificios enormes da evasão dos jovens, falta de adultos responsáveis, desentendimentos entre chefia, um líder que assumiu e não passa o bastão a outro. Outros que na posição de líder sabe liderar, mas nunca aceitou ser liderado. Isto é uma reação em cadeia. Os exemplos estão aí para quem quiser analisar nos últimos cem anos.

Talvez esse seja um dos nossos motivos do crescimento pífio que sempre tivemos. Não sei. “Doutores” assim como eu terão sempre diversas explicações. Acompanho o escotismo com visão de adulto deste 1961. (entre com sete anos em 1947). Fui aprendendo a cada ano e vendo o porquê não temos um comparativo com outras nações com escotismo grande e forte em qualidade e quantidade.

Infelizmente eu sei que também não vou mudar nada. Não tenho autoridade para isso. Falei por falar. Sugeri por sugerir. O amanhã terá a mesma brisa, o vento irá soprar de novo e ele pode ser um vento sul ou um vento vindo do norte. As flores irão desabrochar. Os pássaros irão cantar nas serras distantes. O sol vai nascer e se por. As estrelas brilhantes no céu sempre serão acompanhadas de uma lua fulgurante.

Não sei quem disse que palavra são apenas palavras! Que elas tem apenas e tão somente o valor que cada um lhes quiser dar. As pessoas definem-se pelas suas reais atitudes e não pelas suas possíveis intenções. Não sei quanto tempo ainda irei aqui dizer o que penso. Não importa. Se amanhã tiver de prestar contas dos meus atos irei prestar com alegria por ter dito o que pensava. O que fiz no passado deu certo. Graças a Deus! O que sempre acreditei como deveria ser tenho orgulho de tê-lo feito.

“Se ficarmos só nas intenções, não vamos a lugar nenhum!” Ou como se costuma dizer: - Palavras leva-as o vento. Mas há palavras ditas que marcam uma vida! Portanto, COMECE COM POUCOS!

Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.