terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Legião dos Esquecidos & Altar dos egos e vaidades.


“Examinai todas as ações que se fazem debaixo do sol; na verdade, não passam de vaidade e correr atrás do vento."
 (Textos Bíblicos)

Conversa ao pé do fogo X.

A Legião dos Esquecidos & Altar dos egos e vaidades.

            Estou à procura deles. Alguém sabe onde estão? Porque os procuro em todos os lugares e não consigo encontrá-los? Agora são outros? Não tem rostos? Não tem nomes? Desapareceram no tempo? Deixaram de ser alguém como nós? Foram esquecidos na memória e ninguém mais lembrou que eles um dia foram como nós? Saudades. Muitas saudades. Difícil não relembrar os momentos vividos um dia. Se eles foram bons ou maus não importa, o que importa na verdade é a essência que ficou e marcou. A Organização peca. Eu sei que ela não é consciente e nem viva. Eu sei que ela é inanimada. Não aproxima de ninguém. Se hoje eles não estão mais ao lado dela para ela sim, eles se tornaram uma Legião de Esquecidos.

            E foram tantos e tantos. Foram aqueles que deram o que tinham e não tinham pela organização. Eles fizeram parte da história e a organização esqueceu. Eles sempre diziam que não era para ela e sim para colher flores colorida nos jardins da juventude. Ah! Foram pessoas que passaram e se foram. Tiveram seus momentos e de repente viraram lembranças. Ações que foram geradas no calor de um ideal e hoje, delas os acontecimentos se acabaram. Mas a organização é implacável. Tem as suas convicções e dela não abre mão. Ela vive o sonho de seus devaneios de altivez de pensar que eles aqueles que são a Legião dos esquecidos não tem mais serventia para ela. Ela sabe que tem sempre uma Legião dos presentes que quem sabe um dia poderá ir para outras plagas e ficaram também no limbo da Legião dos esquecidos.

            A organização não lembra que eles um dia foram presentes sacrificaram o que podiam e não tinham acreditando que ela, a organização estaria sempre ao seu lado. Não foi assim. Nunca foi. Já disse a organização nunca se interessou por eles. Interessa sim pelos vivos presentes nas fileiras do altar que jazem nos escaninhos da organização. Ela se sente bem com a fila que se forma, da reverência que se faz, do sim e o não sem discordar. Para ela todos os momentos que eles viveram intensamente acabaram se transformando em memórias tristes que ela faz questão de apagar e esquecer. Pergunta-se a organização o porquê ela não os procurou? O porquê ela não mandou pelo menos uma carta, pequena, simples, sem afetação, com poucas palavras escritas – Obrigado! Você me fez feliz um dia. Não. Nem isto ela fez e sabemos que ela nunca fará.

           Para ela, esta Legião dos Esquecidos não existe mais. São ignorados, não existe gesto de nobreza, não importa o que eles fizeram, se sacrificaram os seus que viviam ao seu redor, se fez dos seus proventos uma doação sem volta. Se ele ficou sem dormir para domar o vento e que ele pudesse soprar com carinho aqueles que estavam ali a dormir sob as estrelas. Ele deu tudo que tinha e nunca foi agraciado e um dia ele achou melhor partir. Tentou ao seu modo achar o caminho a seguir. Ele não acreditava que todos os momentos vividos intensamente acabariam se transformando em apenas memórias tristes ou quem sabe alegres. Para ele agora não vale a pena lutar. Lutar por um ideal. Não o da organização e sim daquele que criou o espirito aventureiro, que pensou que o amor, que a força de um ideal nunca seria esquecido. Pensou que ali estava o verdadeiro caminho do sucesso para formação de caráter. Esta sim foi sua paga quando ali estava sem um retorno da organização.

            São tantos, são milhares, estão por aí espalhados nesta terra imensa, que Cabral nos deixou. Eles hoje vivem com suas memórias ainda vivas de um passado. Uma poetiza sintetizou tudo sobre eles. O tempo. O tempo passa tão rápido. O tempo deixa para trás, os momentos vividos. Os bons e os sofridos, mas que jamais são esquecidos. Não há volta, não existe convite de retorno. A Organização não se presta para isto. Ela não importa de quem chega e de quem se foi. Claro, já foi dito e falado, ela não é consciente e nem viva e por isto segue seu caminho sem volta. Não haverá medalhas, não haverá um agradecimento, não existe nos escaninhos de seu ser qualquer menção a ser lembrada dos que se foram. Para ela eles são a Legião dos Esquecidos.

             Ah! Organização. Não precisava ser assim. Esta legião podia voltar. Tantas coisas a ajudar. Quem sabe um sorriso furtivo ajudaria? Quem sabe uma palavra de carinho? Porque não apagar esta insensatez, esta frieza e pensar que dar as mãos seria melhor? Sei que não. Não adianta remar sua própria canoa. As águas revoltas e os turbilhões da vida levaram a canoa e ela se foi para sempre. A organização esqueceu-se dos remos, agora ela tem quem rema para ela, sempre será assim, com rumos definidos que não comportam em suas fileiras esta Legião dos Esquecidos. E eu fico aqui matutando, e copiando Estefani Moury, que dizia, - E eu continuo olhando as estrelas e lembrando-se do seu sorriso, dos momentos com você vividos que nunca mais voltarão! 

Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro.


O altar dos egos e vaidades existe?

            Se você perguntar irão jurar de “pé junto” que no escotismo não tem. Quando me dizem isto abaixo a cabeça e dou uma risadinha sem graça.  “Minino”! Não ria alto. Será mal interpretado. Pode ser que eles chamam por outros nomes, mas é um festival de vaidades e altos egos na nossa associação que poderíamos chamar de o Altar dos Egos e Vaidades Perdidas. Sei que existe em todo lugar. Mas aqui? Conheci alguns que para falar, se apresentar faziam trejeitos, voz pastosa ou cavernosa, peito inflado, firmando-se nos dois pés, cabeça alta e a técnica de “olho nos olho”. Um muito amigo meu me disse que eles estudavam em frente a um espelho como ficariam mais apresentáveis. Dias e dias ali. Faziam até discursos para a pasta de dente, a escova e o sabonete. Espontaneidade ali não existia. Meu amigo dizem-me, isto não existe mais. Hoje acabou. Todos são “iguais perante a lei”. A lei. Ora a lei.

               Em mil novecentos e antigamente conheci duas escotistas famosas. Ambas DCIM. Uma em um estado e a outra em outro. Também havia mais duas, mas distante ainda do estrelato. Quando se encontravam rajadas de ventos e raios pipocavam por todo o lado. Mas quem visse de longe veria duas chefes sorrindo uma para outra. Sorriso perfeito. Sorriso de grandes atrizes de Hollywood. Ah! Ainda bem que o lobismo ganhava com grandes performances das duas. Eram “feras” na história da jângal. Eu mesmo fiz um curso com uma delas. Mas não vamos deixar de lado os DCIMs que pipocavam de estado em estado. Um ar professoral pose de Velho lobo, não conheci pessoalmente, mas tinham jeito de BP. Alguns diziam que eles sabiam mais do o Velho fundador. Era assim – Pode galgar escada, mas, por favor, não me ultrapasse. Aguarde sua vez aqui ou na eternidade. Risos e risos.

               Garantem-me que isto hoje não existe mais. Só vendo para crer. As vaidades fazem parte da vida. Quem diz que não tem vai direto para um mundo melhor na espiritualidade ou no céu. No meio dos dirigentes infelizmente ainda existem aqueles vaidosos e aqueles que querem um dia ter a sua oportunidade também de ter a honra de ser vaidoso. Nietzsche foi feliz em dizer que a vaidade dos outros só vai contra o nosso gosto quando vai contra a nossa vaidade. Verdade verdadeira. Participei em minha vida de algumas centenas de reuniões onde os Grandes Chefes estavam presentes. Sempre faziam e ainda fazem as reuniões de Giwell. Sem menosprezar o festival de vaidades ali tinha seu lugar ao sol.

               Ei! Espere! Não vamos generalizar. Conheço milhares que não tem isto. São os abnegados. Os que dão a alma e o sangue pelo escotismo. São eles realmente que movimentam a engrenagem desta máquina maravilhosa que é a associação Escoteira. Você dificilmente irá ver neles, ou ostentando orgulhosamente uma Medalha Tiradentes, Uma Cruz São Jorge, uma gratidão ouro ou um Tapir de Prata. Não. Estas são reservadas para outros. Julgados mais importantes para ter este direito. Não me condenem. Tem muitos que recebem estas condecorações e não são vaidosos. Trabalham com amor e esforço para um escotismo melhor. Mas os vaidosos! Hummm! Ego ou egocêntricos? Sem lá.

              Toda vez que escrevo sobre algum tema que machuca na alma, recebo centenas de e-mail, e perco a conta daqueles que discordam falando francamente onde devia colocar a postagem. Risos.  Paciência. Não sou daqueles que arrastam frases como “A verdade dói”. Cada um tem a sua verdade. Mas será que eu já fui um deles? Se fui juro que não fui! Risos. Mas quantos não correm atrás de um taco a mais. De um cargo a mais. Não preciso dizer. Você que me lê e não é um deles sabe quem são. São aqueles que quando estão na alta cúpula e veem você, lhe dão um tapinha, um sorrisinho sem graça, um oi e um até logo. Estão sempre com pressa. Os grupinhos deles se formam na calada da noite. Os temas secretos. Mudanças. Nomeações. Escolhas. Fico com Augusto Cury que dizia – A Vaidade é o caminho curto para o paraíso da satisfação, porém ela é, ao mesmo tempo, o solo onde a burrice melhor se desenvolve. Risos.

               Tenho saudades deles. Daria tudo para estar presente de novo nas assembleias e nos Congressos. Adorava no passado a apresentação da equipe em curso. Formados em linha. Empertigados. Podia ali marcar sem sombra de duvida os vaidosos. Já pensou? Eu em uma assembleia? Arre! Tremo só em pensar. Irão olhar para mim, olhos faiscando, dando um risinho sem graça – Você então é o Chefe Osvaldo? Risos. Turma é ele! Podem bater a vontade! Risos. Sem comentários. Não estarei lá. A saúde não permite. Tenho medo de ser expulso sem direito a defesa nas reuniões secretas que ali fazem. São elas sim que deviam ser abertas. Mas o melhor é ficar aqui. Um ermitão que já deu o que tinha de dar. Chega por hoje. Os vaidosos que me desculpem, mas prefiro lembrar-me de Jean de La bruyere e Paul Valéry que diziam - A falsa modéstia é o ultimo requinte da vaidade. Agradar a si mesmo é orgulho, aos demais, a vaidade.

"A vaidade, grande inimiga do egoísmo, pode dar origem a todos os efeitos do amor pelo próximo."
(Paul Valéry)