domingo, 17 de novembro de 2013

Afinal sou ou não sou um Escoteiro? fasc. 87



Um dia de liberdade para um Escoteiro que dizem que não é.
Afinal sou ou não sou um Escoteiro?

(este artigo foi escrito baseado na publicação de um grupo no Facebook em que se discutia se quem não tem registro não pode ser chamado Escoteiro. Vários diziam sim e outros não e foram arduamente discutidos as luzes das leis e normas existentes).

           Epicteto escreveu que se quiseres ser livre saiba que para esta liberdade só existe um caminho: - O desprezo das coisas que não dependem de nós. Estão a dizer por aí que só pode ser chamado Escoteiro quem tiver registro na Nave Mãe.  Tiraram meu direito? Quem cara pálida? Não sou e não pretendo ter enquanto ver a ditadura que nos impuseram e enquanto não ver entre todos a paz o amor e a fraternidade que tantos nos apregoaram um dia. Não foi assim nos primórdios escoteiros? A liberdade plena de ir e vir, o pensamento solitário respeitado e a saudosa transparência do passado. Nem sei se sou livre para dizer isto, Luiz Fernando Veríssimo comentou que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo.

        Agora uns poucos se arvoraram de um nome internacionalmente conhecido para dizer que são donos, proprietários e os politicamente corretos defendem com unhas e dentes esta propriedade como se eles fossem os donos da verdade, uma verdade que desconheço e não aceito. Uma discussão de sábios se faz saber nas elites escoteiras, nas páginas e grupos. O tema é controverso com uns defendendo e outros discordando. Escrevi em um deles: - Entrei no escotismo em 1947, muitos desses dirigentes nem haviam nascido ou nem sonhavam em ser Escoteiro. Fiz uma promessa como lobo no mesmo ano. Nunca mais sai do escotismo. Registro? Nem sonhávamos. Quem viveu a época sabe que cidades longínquas não tinham transporte ou até os correios demoravam uma fábula para entregar uma correspondência. Só na década de sessenta tive meu primeiro registro. Depois por motivos diversos deixem de me registrar e ainda não o fiz e não pretendo fazer enquanto perdurar o que acredito ser uma ditadura escoteira imposta por um sistema de leis forjados em Estatutos que poucos tiveram oportunidade de opinar.

         Quem conhece minha trajetória sabe o quanto colaborei no escotismo. Tempo, dinheiro, horas que deveria estar em convívio com a família, mas lá estava com a juventude ou colaborando em cursos Escoteiros, palestra e outros. Viajei por dezenas de cidades e alguns estados e poucos países. Impossibilitado por motivo de saúde me entreguei nas hostes sociais da internet para divulgar o escotismo. Quem me lê ou quem sabe da minha linha de ação entende que poucos fizeram tanto para engradecer o nome do movimento Escoteiro como eu. Milhares de fotos dignificando o orgulho, a honra e a honestidade escoteira. Centenas de artigos e histórias que exaltam a lei e a promessa, que mostra o caminho do método Badeniano e, portanto não aceito e nunca vou aceitar que por não ter registro na UEB não posso ser chamado Escoteiro. Preciso me registrar? Nunca! Minha consciência não permite. Luto por um escotismo alegre, feito de maneira espontânea, dentro do método e da filosofia que aprendi um dia sem esta pressão de me dizerem o que fazer sem me consultarem. Dignifico o bom Escoteiro ou o bom Chefe. Não nego um elogio a quem quer que seja e também não me bandeei para outra organização. Meu sonho é ver milhões de Escoteiros militando nas hostes de uma organização que inspira confiança e lealdade. Digo isto sem desmerecer a quem quer que seja.

      Discutem nas páginas sociais da internet como se o escotismo tivesse dono. Dizem que mais de cento e sessenta países fazem o escotismo de BP. Em muitos deles convivem harmoniosamente como verdadeiros irmãos. Aqui não. Gandhi dizia sempre que o fraco jamais perdoa, o perdão é uma das características do forte. E ele continua – Olho por olho e o mundo acabará cego. Este não é meu escotismo. Não vou entrar neste jogo, pois o livro arbítrio todos tem o direito de possuir. A lei do ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos da mesma maneira, e nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos. Sempre citando este grande homem completo: - A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão. Devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão.

         “Se eu não posso ser chamado de Escoteiro, pois esta palavra tem “propriedade” (?) Eu perguntei se alguém poderia me dizer que não sou Escoteiro”. Ninguém respondeu, mas em outras palavras e algumas técnicas demais para mim tentaram explicar as razões de um lado e outro. Aceitar está imposição seria atentar com minha própria honra escoteira. Honra que aprendi sem necessidade de um registro. Honra que um Chefe “Matuto” do interior meu deu. Ele sem saber que existia um Shakespeare dizia que é mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que a ponta da espada. O mundo não é o mesmo e o que conquistei e o que acredito ninguém nunca vai tirar. Ninguém vai tirar minha centenas de noites de acampamentos, de lugares incríveis que visitei. Nem se contarem para mim quantas estrelas existe no céu. Ninguém vai desmerecer os amigos que na minha jornada fiz. Eles iriam estranhar ao dizerem que sem registro não somos Escoteiros.

          Alguém um dia escreveu que a lágrima disse ao sorriso: Invejo-te porque vives sempre feliz. O sorriso respondeu: engana-te, pois muitas vezes sou apenas o disfarce de tua dor. Citações eu sei que podem dizer que não dizem nada. Esta luta surda que transborda nos meios forenses, estes processos intermináveis que cada lado defende pode até fazer parte dos direitos e deveres de cada um. Mas nenhuma organização pode ser dona da minha honra, da minha palavra, da minha lealdade do meu pensamento e de me considerar um Escoteiro. Nunca vou me aliar a quem não sabe abraçar, a perdoar e aceitar os outros como devem ser. Se um dia sem me consultarem colocaram no final da promessa que também devemos servir a nossa liderança maior eu pergunto: Por quê? Porque me obrigam a dizer isto? Não tenho voz? Não posso pensar? Sou um seguidor sem ideais que não são os meus? Vivemos em uma organização do Grande Irmão? Nem BP aceitou isto quando disse que devemos olhar para frente do nosso nariz e não ser um gansinho que sempre segue o pai ganso.

         Para mim não importa se a lua vai nascer quadrada. Se o sol vai chover água mineral. Se A ou B discordarem de mim. Conheço de dezenas de anos os politicamente corretos. Sei como são e os aceito como irmãos apesar de nem sempre a recíproca ser verdadeira. Para mim Importa o que penso, importa o que acredito que sou. Sempre a favor da democracia onde impera a vontade de todos e não de meia dúzia. Jurei um dia e foi um juramento sério sobre a égide de uma bandeira. “Cumprir o meu dever para com Deus e a Pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro”. Não jurei ser subserviente e aceitar regras e normas que não as fiz e nem fui consultado. Sempre parodiando os grandes pensadores me lembrei de Deboraggio que disse:

      No caminho desta semana encontrei pedras chamadas decepções, indiferença, inveja... Mas ao passar por elas calcei meus pés com a paz... A paz de Deus que me fez entender que não serão essas pedras que me fariam parar... Então prosseguindo encontrei também pontes, de amizade, de confiança, de relacionamentos... Ao passar por elas me revesti de amor... O amor de Deus que nos faz ver o outro e aceitá-lo, que transforma o coração daquele que com um pequeno gesto de carinho pode te surpreender com um sorriso e te mostrar que neste caminho o Amor de Deus é que faz toda a diferença... Após passar pelas pontes avistei de longe um parque muito lindo que tinha uma placa que dizia assim: 
Você conseguiu parabéns mais uma semana vencida!
Então me sentei na grama e agradeci a Deus por sua graça e sustento na caminhada até aqui...  Obrigado Senhor!


E quer saber? Eu sou Escoteiro com muito orgulho e nunca deixarei de ser!