terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Se precisar... Chamem os Escoteiros!


Lendas escoteiras.
Se precisar... Chamem os Escoteiros!

             Quando contei esta história disseram-me que sonhar é bom, mas com os pés no chão. – Chefe isto nunca vai acontecer. Acho que o senhor está criando uma história que não é real. Bem real ou não aconteceu. E como é uma história das mil e uma noites eu nunca deixei de contar para ninguém. Se um dia me disserem que outros “causos” como este também aconteceram e houve testemunhas, vou concordar novamente que sonhar é bom. Claro com os pés no chão. Aqui nas minhas parcas letras eu faço dos meus sonhos a minha realidade.  Sei que sem uma boa dose de realidade nunca irão transformar o impossível no autêntico fato que sonhamos. Bem chega de entretantos e vamos aos finalmentes. Em 2011 viajava para Santana dos Verdes Mares para encontrar um Velho amigo. Na BR-245 no quilômetro 567 uma luz vermelha acendeu no painel. Fiquei preocupado e logo na frente uma placa indicava que eu estava próximo à cidade de Sonhos Dourados. No trevo tomei o rumo da cidade. Precisava encontrar um eletricista e voltar a minha viagem para Santana dos Verdes Mares.

             Fiquei maravilhado com o pórtico da entrada da cidade. Estava escrito – Sonhos Dourados – 35.000 habitantes onde a felicidade existe. Não esqueçam, precisando chamem os Escoteiros! Caramba! E agora? Precisava saber tudo sobre isto afinal gosto de escrever sobre escotismo e uma cidade assim não pode ficar oculta. Vi uma placa onde dizia: Hotel Baden Powell. Parei. Uma moça sorridente me recebeu na recepção. Na lapela uma linda flor de lis. – Pois não Senhor? – Moça, um quarto só para hoje. Estranhei, pois não devia ficar ali, mas pela primeira vez eu senti um ar Escoteiro a soprar pela cidade. Após os transmites legais perguntei a ela onde encontraria um eletricista – Lá no final da rua. Procure o Chefe Robin, ele conhece e bem. Chefe? Vamos lá ver o Chefe. Ele me recebeu efusivamente. Não me apresentei como Escoteiro, mas o danado trabalhava e perguntava. – Conhece o Movimento Escoteiro? Dizer o que? Afinal não juramos dizer sempre a verdade? Apresentei-me e ele me cumprimentou com a esquerda, fez uma saudação e falou alto – Seja bem vindo Chefe a nossa cidade!

            O carro ficou pronto e ele não me deixou ir embora. Pegou o telefone e ligou para vários chefes. Pronto Chefe, todos querem conhecê-lo. Vamos para o Restaurante do Chefe Joel. Já almoçou? Não me deixou falar mais nada. Pegou sua C-10 e lá fomos nós. Parece brincadeira, mas é verdade. Contei por alto uns 45 adultos e todos uniformizados. E olhe não parava de chegar outros. Uma festa. Abraços, saudações, e até beijinhos da turma feminina. Uma grande mesa em forma de “U” foi montada. Aos poucos me contavam sobre a cidade e os Escoteiros. Eram seis organizações escoteiras, uma da UEB, uma da FET, uma AEPB, uma dos Escoteiros Florestais e os Desbravadores. – Olhe Chefe, aqui tem também uma Companhia Bandeirante e somos bons amigos. Hoje não encontrei nenhuma delas, mas antes de partir o senhor vai conhecer sem sombra de dúvida. Que coisa. Quem podia imaginar?

           Fiquei na cidade por dois dias. Atrasei tudo que ia fazer em Santana dos Verdes Mares, mas valeu a pena. Todas as associações escoteiras tinham o máximo respeito uma das outras e se consideravam irmãos. Napolitano uma espécie de líder me disse que só a UEB era contra, mas ali no grupo ninguém ligava. Acampavam juntos, faziam atividades juntos e o respeito da cidade pelos Escoteiros, desbravadores e bandeirantes era enorme. Pena que quando a UEB fazia alguma atividade ou mesmo nos cursos que aplicava não autorizava a presença dos demais. Ao contrário os chefes do Grupo da UEB fizeram vários cursos nas outras organizações além de comparecer em todas as atividades nacionais e regionais. Estava comovido e revoltado. Meu Deus! Não dizem que somos irmãos e amigos de todos? O que os meninos têm com esta forma de atuação? O que eles devem pensar da filosofia escoteira?

           Pois é Chefe. Já estiveram em nossa cidade dirigentes da UEB tentando tudo para mudarmos de opinião. Fizemos questão de chamar todos os chefes e eles quase carregaram estes dirigentes pela cidade. Uma festa. Fomos entendidos? Não fomos chefes. Mas quer saber? Não nos preocupamos com isto. Aqui somos felizes assim. A cidade inteira sabe que pode contar com os escoteiros. Tudo começou quando a Favela do Circo Feliz pegou fogo. Quase cem famílias ao relento. Sem perceber todas as organizações deram as mãos. Os mais velhos a construir casas de madeira. Os menores de casa em casa com sacolas recebendo roupas e víveres. Mais de quatrocentos adultos trabalhando dia e noite. O prefeito era Escoteiro, o delegado também. Doutor Fontes o Juiz idem. E olhe era uma cantoria só. A cidade em peso veio ver e era tanta gente querendo ajudar que muitos chefes tiveram de organizar todos em patrulhas. Risos. Depois qualquer ajuda qualquer trabalho lá estavam todos. Não vou dizer que não houve dissidências, houve sim. E não foram poucas, no entanto aqueles que nasceram com espírito Escoteiro se mantiveram firmes na irmandade.

            Um dos chefes saiu do grupo e resolveu fundar outro. Não teve procura. A cidade em peso ficou sabendo. Nenhum pai queria matricular o filho lá. Ainda estão vivos. É um Grupo Escoteiro pequeno. Tentamos ser amigos e eles irredutíveis a nos chamar de traidores. Tudo bem até o dia que a sede deles pegou fogo. Lá estávamos nós a ajudar. Doamos material de sapa, barracas, mesas, cadeiras, cordas bandeiras, enfim eles viram que no escotismo somos todos irmãos. Não se admite o contrário. Fiquei em Sonhos Dourados dois dias. Sempre volto lá anualmente. Estive no Jamboree que organizaram. Um espetáculo. Quase tudo grátis. Mais de 3.000 participantes. Uma pena que da UEB eram menos de duzentos. E olhe vi com estes olhos que a terra a de comer que era tudo na base do Sistema de Patrulhas. Não como nos que os jovens vão sós e nem pensam em estar junto a sua patrulha. Egoísmo? Não acredito.


             Bem esta é minha história. Este é meu conto. Este é meu relato. Não posso sonhar? Não posso ver que somos todos irmãos? Tenho de aceitar imposições, patrulhamento ou mesmo processos judiciais e dizer – Estamos certos? Mesmo? E onde foi parar a Lei Escoteira? Onde foi parar? Dizer fraternidade, dizer que somos leais, dizer que somos amigos de todos e irmãos dos demais é só utopia? Quem sabe um dia uma aureola de luz desçam sobre os homens Escoteiros e digam a eles que a verdadeira felicidade é fazer a felicidade dos outros. Que o amor é tudo. Direitos devem existir, mas a fraternidade escoteira tem de estar sempre em primeiro lugar!