domingo, 30 de março de 2014

Somos todos irmãos. O Escoteiro é amigos de todos e irmão dos demais. É verdade?


Crônicas de um chefe Escoteiro.
Somos todos irmãos.
O Escoteiro é amigos de todos e irmão dos demais. É verdade?

        Os poetas são magníficos quando escrevem sobre a fraternidade. Dizem que aprendemos a voar como pássaros, e a andar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos. Como seria nas demais nações a convivência escoteira de todas as associações? Independente se pertence ou não a outra associação escoteira? Sou leigo, sei que em Portugal convivem fraternalmente. Aqui em nosso país parece que a irmandade e a fraternidade é só entre uma associação. As demais não. São consideradas inimigas. Se as outras pensam assim também eu ainda não sei. Falo da nossa, da mais antiga aquela que nos vendeu o escotismo puro, alegre, sincero e cheio de ideais. Onde as palavras ódio não existia. Onde nos cursos nos ensinaram que a lei escoteira estava acima de tudo. Onde se pregava o amor Escoteiro e nos diziam com sinceridade que éramos todos irmãos.

      Mas sabemos que não é assim. As outras organizações escoteiras são tratadas como inimigos. Acharam que elas estão usurpando nossos direitos. Dizem que somos donos do nome Escoteiro, do nome Indaba, do nome Jamboree e por aí em diante. Meia dúzia afirmam que se eles quiserem que criem outros nomes. Nomes centenários e que dizem pertencer a nossa Associação. Um dia tentaram contestar os desbravadores, marcas de grupos centenários. A lista é grande. Não sei e nem quero saber se o outro lado é certo ou errado. Não pertenço a eles apesar de que tenho ótimos amigos e irmãos escoteiros fazendo um belo escotismo lá. A arrogância prisma pela elegância. Dizem que o egoísmo e o ódio têm uma só pátria. A fraternidade não a tem. Verdade mesmo? Melhor dizer que um irmão pode ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão, e nisto eu acredito.

       Sem perceber estamos nos tornando um movimento inverso ao que o Fundador pretendia. Ele dizia e eu acreditava que o escotismo seria uma forma excelente de unir nações, de que os jovens quando adultos e tivessem participado do movimento teriam outra visão e a fraternidade escoteira iria ser uma força nas relações humanas. Ele acreditava que somente pela fraternidade a liberdade será preservada. Dizer que as religiões estão mudando e sentindo que sem amor ao próximo nunca seremos nada pode não valer para alguns. Porque nossa Associação insiste nestes processos absurdos? Porque ela se acha proprietária de nomenclaturas que foram criadas a centenas de anos? Vi e amei uma atividade nacional realizada em outra nação. – Fizeram um convite assim: - Esta atividade está aberta a todos que participam do escotismo independente ou não da associação a que pertençam. Maravilhoso! Quem sabe esta sim seria a verdadeira fraternidade?
      
        E nós? Nossos lideres fazem questão de escrever – Esta atividade é somente para os membros registrados da UEB. Ou seja, os demais estão fora. Eu que não faço meu registro há alguns anos nem pensar. Estou fora. Já pensou hipoteticamente as outras organizações escoteiras receberem um convite? – A UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL TEM A HONRA DE CONVIDAR TODOS OS ASSOCIADOS DE SUA ASSOCIAÇÃO PARA PARTICIPAR DO JAMBOREE NO RIO GRANDE DO NORTE! – Estou maluco? Quem sabe. Mas se um dia a nossa liderança fizesse uma pesquisa de campo como todos os 87.000 mil membros eu acho que um número considerável iria votar a favor de que a fraternidade não tem fronteiras. Não basta tentar explicar que eles são errados se não corrigirmos nossos próprios erros. Vejam a nova vestimenta, fico preocupado cada vez que vou a uma atividade e lá estão os adeptos usando o que querem como querem. Afinal são tantas as escolhas. Uma profusão de arranjos que se não fosse à cor eu diria que somos um movimento DESUNIFORMIZADO!

      Colocar a culpa nos outros é fácil. Olhar para dentro de nós e ver se somos perfeitos é muito difícil. Os erros existem. Só não erra os que não querem acertar. Muitos que não estão mais conosco tem suas razões. Eu mesmo uma época quase me afastei e por sugestões de amigos me sugeriram criar uma nova associação escoteira. Achei que não. Nasci na UEB mesmo sem registro e nela quero estar até meu ultimo dia na terra. (mesmo sem registro). As explicações deles são perfeitas. Mas explicar a falta de união, a falta de amor, a falta de fraternidade é difícil. Muitos um dia foram até indelicados comigo. Estes se sentem donos da voz e da razão. Tem argumentos mil. Mas e o amor? Ou será que o Mestre um dia disse sobre caridade e amor ao proximo só serve para os que acreditam nele? Não seria possivel termos benevolência para com todos, indulgencia para as imperfeições alheias, perdão para as ofensas?

           Acho que não na visão dos nossos dirigentes. Para eles e não afirmo se é verdade a lei é clara, e ela está conosco. E quem sabe eles completam, para os amigos tudo, para os inimigos a lei. É, nossos irmãos Escoteiros de outras associações ou mudam ou serão condenados ao fogo do inferno. Estes que estão lá, gastando dinheiro da associação com processos, (e perdendo todos) com admoestações, aceitando em contra partida adulações e esperando só elogios pelo que fazem, seria uma maneira incompreensível de saber quem realmente queremos para estar ao seu lado. Eu sonho por uma democracia plena onde todos os associados tenham voz e voto. Que nossos lideres sejam mais transparentes, que discutam a exaustão mudanças que existem há anos. Podem ter a divisão que quiserem para implantar seu escotismo moderno, mas nenhuma delas é dona da verdade. Nenhum delas pode ter certeza absoluta que está fazendo corretamente e que estas mudanças um futuro promissor.   


        Hoje e ontem nunca ambicionei o poder. Nunca quis ficar ao lado dos poderosos. No escotismo amava estar junto aos grupos, cantando, brincando, contando histórias e acho que fui o primeiro diretor a convidar todos os chefes de alguns cursos que liderei a comer uma pizza e tomar um chope gelado em um local fora do acampamento. E (risos) despesa paga com a taxa (bem pequena) dos cursos. São coisas que marcam. Marcam mais que cara feia, com idiotices de ser o dono de tudo, de ser o dono da verdade, o único a saber o que deve ou não ser feito e realizado. Termino com citações que  nos ajudam a meditar. Como dizia Fernando Sabino – Sou dono de uma verdade que não se traduz em palavras, sou inteligente, sei disso, mas minha inteligência não é capaz de iluminações nem de distribuir justiça. E repetindo Nelson Mandela, sonho com o dia que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos. – E porque não finalizar com Martin Luther King que dizia - Ou vivemos todos juntos como irmãos, ou morreremos todos juntos como idiotas!