Causas e
efeitos
Você está
satisfeito com nosso efetivo atual?
O tema para mim sempre
foi fascinante. Não para nossos dirigentes. Pode até ser que estou enganado.
Não acredito que o tema mais importante para o Escotismo hoje seja a EVASÃO. Se
nossos dirigentes estão preocupados se estão tentando saber as causas e os
efeitos estão entre quatro paredes. Os grupos na sua maioria estão contentes
com o que fazem. A preocupação com a evasão é mínima. Diversas vezes comentei
aqui minha opinião. Mas hoje vou entrar a fundo. Talvez possa ferir
susceptibilidades. Paciência. Tenho até a certeza que não atingirei o alvo
pretendendo. Que assim seja. Não adianta mais malhar ferro frio.
Vejamos um histórico do
passado com respeito à evasão. Até 1980 ela existia, mas não na
proporcionalidade de hoje. Os grupos conseguiam manter a maioria dos jovens
praticando o escotismo e mesmo que o crescimento não fosse satisfatório, era
comum o lobinho passar para Escoteiro, idem Sênior e até Pioneiro se o grupo
possuísse o Clã. Sempre se encontrava nos grupos vários escotistas nascidos e
crescidos nas hostes escoteiras. Na comunidade em que existiam por não haver a
facilidade hoje de locomoção os escoteiros eram bem conhecidos. Isto até
ajudava em muito na admissão de novos membros.
Em 1984/85 deu-se o
inicio do escotismo feminino. Iniciado com varias normas de conduta e não era
totalmente liberado como hoje para sua organização. Isto trouxe novo ânimo aos
Grupos, pois muitas jovens queriam participar e o bandeirantismo nem sempre estava
acessível. Tropas e alcateias separadas é claro. Não tenho dados em mãos, mas
acredito que no período 85/90 com raras exceções o escotismo se fortaleceu
bastante. Foi então que começou a experiência nas alcateias e tropas
mistas. Conheço muitos casos que isto
foi provocado pela falta de chefia. Os grupos sem base querendo crescer foram
aceitando as inscrições e se viram forçados a entregar as tropas femininas aos
chefes que já labutavam em tropas masculinas. Dai foi um pulo a unificação em
patrulhas mistas. Mas isto foi bom, podem dizer principalmente os modernistas.
Não concordo. Foi o principio do afastamento e saída de muitos jovens. Não só
entre os elementos masculinos, mas em alguns casos até com o elemento feminino.
Por quê? Posso afirmar
com convicção que o sistema de patrulhas, a maneira de desenvolver as tropas, o
programa Escoteiro idealizado por Baden Powell (BP) não podia ser realizado em
tropas mistas. Não são palavras minhas, mas a diferença é enorme. Alguns itens
que aleatoriamente peguei na internet, mas que poderiam é claro ser
interpretados de outra maneira:
- Meninos apresentam
níveis mais elevados de testosterona, o que estimula neles um comportamento
mais agressivo que o das meninas;
- Desde o início, meninas controlam suas emoções mais que
meninos. Eles choram mais quando estão tristes, enquanto elas dão preferência a
chupar o dedo; (risos).
- Durante as conversas, as filhas ficam mais tempo
olhando para os pais (chefes) do que os meninos. Aos quatro meses, elas
reconhecem mais rostos que eles;
- Meninas estão mais preparadas para construir
relacionamentos e interpretar suas emoções;
- Meninos comunicam-se por palavras em 60% do tempo. Os
40% restantes são completados por barulhos feitos com a boca, reproduzindo
ruídos de socos, carros, motos, aviões. Meninas praticamente só usam palavras e
raramente imitam motores.
- E finalmente, nos bairros as turmas de amigos sempre
fizeram e fazem programa separado um do outro. Meninas de um lado meninos de
outro. Até nas casas onde se é possível existe o quarto do menino e o da
menina.
Como se vê, meninos e meninas são diferentes e
apresentariam disparidades de comportamento ainda que criados na selva por
gorilas, feito Tarzan. Até chegar a essa conclusão, a ciência consumiu décadas
em debates, pois havia uma dúvida. Um segmento de estudiosos achava que as
crianças não nasciam com diferenças cerebrais ou comportamentais perceptíveis.
Na opinião deles, tal distinção se manifestaria apenas em decorrência das
atitudes dos pais durante o processo de criação dos filhos. O debate não
acabou, pois há grande divergência sobre o peso do DNA na determinação do
"destino" comportamental da criança. Os estudos, no entanto,
concordam em que a carga genética produz diferenças menores do que a carga cultural
exercida pela criação.
Por
que os pais se preocupam tanto quando uma menina quer brincar com espada ou o
menino quer pentear a boneca? Não reforce as diferenças. Meninos dão
preferência a jogos competitivos e meninas a brincadeiras cooperativas. Este
estudo finaliza - Não obrigue seu filho ou sua filha a brincar com crianças do
sexo oposto. Nos primeiros anos de vida, tanto meninos quanto meninas preferem
estar com crianças do mesmo sexo.
Sei que haverá centenas de escotistas e pedagogos a me
contradizer. Ótimo. Não sou perfeito, só confirmo que o escotismo não cresce em
quantidade e qualidade e que talvez, repito talvez este possa ser um dos
motivos. Dizer que ele está crescendo é desmerecer a mentalidade de alguém que
está vendo o dia a dia do escotismo nacional. Mas vamos continuar o nosso ponto
de vista. Se for válido ou não fica a critério dos leitores escotistas. Você já
viu uma charge onde se diz que o jovem entrou para o escotismo pensando
encontrar atividades fortes, aventureiras e não encontrou nada disto? Seria
possível realizar tais atividades com patrulhas mistas?
Dizer que em uma Patrulha os jovens aceitam de bom
alvitre as meninas e os meninos seria dizer que eles não conhecem o programa
Escoteiro na sua forma tradicional. E olhem, podem dizer: Em minha tropa isto
não acontece! Bom, mas não acredito que a liberdade de uma Patrulha se faria
com meninos e meninas juntos. Se digo isto tenho experiência própria. Já vi Patrulhas
masculinas e femininas em tropas separadas fazendo um excelente escotismo e
permanecendo por longos anos no Grupo Escoteiro. Claro, atividades em conjunto
existiram. Mas devidamente programadas e aceitas pelos jovens.
Porque as atividades aventureiras, os acampamentos no
molde de Gilwell rarearam? O menino tem um sonho. A menina tem outro? Não vejo
como haver competitividade entre eles e olhem que esta é base do programa
Escoteiro. Quando se tem tropas mistas e patrulhas mistas os jogos não podem
ter o mesmo efeito para ambos. Como fazer um jogo de briga de galo (exemplo)
entre meninas e meninos? Está fora de propósito nos objetivos a serem
conseguidos. E finalmente as atividades aventureiras rarearam. Os grandes
acampamentos de tropa estão desaparecendo. As atividades Intergrupos,
distritais regionais e nacionais passaram a ter fator preponderante. O programa
de tropa foi substituído por estas atividades e muitas delas surgidas sem
programa preparatório. A maneira de programar foi totalmente alterada. Hoje
qualquer um pode ver nas redes sociais, jovens e escotistas motivados ou motivando
nas participações de atividades que surgem do nada e claro, devem alterar de
forma surpreendente qualquer programa de tropa.
Encontros religiosos,
encontrões escoteiros, passeio em tal e tal lugar, atividades distritais,
regionais e nacionais que tomam todo o tempo de uma sessão Escoteira. Claro,
pode ser um chamativo. Mas seria para todos? Que o digam os jovens que estão
saindo. Alguém já foi até eles perguntar e fazer uma pesquisa de campo bem
feita? E esta disparidade do uniforme? Uns a favor do atual e novas mudanças e
outros não? Por acaso a UEB sabe quantos grupos usam só o caqui e quantos só o
cinza mescla em todo território nacional?
E o tal do traje?
Apesar de que tem aí um novo, vejo que agora só o lenço identifica o membro do
escotismo. Não sei se o sonho do jovem ou da jovem acabou. Aquele chapelão, o
caqui conhecido de norte a sul do Brasil e tantas outras coisas que fizeram o
sonho daqueles que permaneceram por longos e longos anos. Isto sem dizer da tal
progressão do jovem em sua senda Escoteira. Estão confundindo muito a
modernidade com o verdadeiro espírito que existia no escotismo. Mudaram tanto
que esqueceram o método de BP, as tradições e estão colocando agora um novo
escotismo. Este eu não conheço.
Infelizmente as causas
e efeitos da evasão ainda não foram devidamente estudadas e analisadas. Para se
ter voz e voto só pertencendo à elite dos dirigentes nacionais. Tudo bem. Enquanto
isto a procura dos motivos reais da saída de milhares de jovens por ano das
fileiras escoteiras ficam sem resposta. Ninguém foi perguntar a eles porque
saíram. Não tenho o dom da infalibilidade. A perfeição ainda não consegui
atingir. Mas não é da maneira que estão fazendo os nossos dirigentes que iremos
atingir o ponto X da solução final. Iremos talvez crescer aqui e ali. Mas não
será um crescimento real. Enquanto os jovens e adultos participantes do
escotismo Brasileiro não permanecerem pelo menos por alguns anos nas fileiras
escoteiras o hoje e o amanhã será conforme agora. Que o digam aos dirigentes nacionais.