sábado, 26 de julho de 2014

E você acredita que Acampamentos e acantonamentos são os Encantos dos chefes?


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
E você acredita que Acampamentos e acantonamentos são os Encantos dos chefes?

              Todos dizem: - Acampar é viver no paraíso. Outros dizem – Acantonar e viver com a natureza e desperta os lobos para uma vida de alegria e felicidade. Acredito nisto. Mas cá entre nós, você assim como eu sabe que não é bem assim. Existem “causos e causos” acontecido com todos nós. Você pode ter a experiência que eu tenho de mais de sessenta anos de escotismo ou pode ter apenas dois ou mais anos. Não difere muito dos fatos que acontecem na saída e na chegada de um acampamento ou acantonamento ontem e hoje. No fundo são todos iguais. Quem sabe você vai me dizer que isto não aconteceu com você. Parabéns! Precisamos conversar um dia para você me ensinar o caminho da felicidade dos chefes nestes dias. Interessante que todos reconhecem que se conhece o seu Escoteiro ou lobinho em acantonamento ou acampamento. Verdade, mas eu diria mais - Também na preparação, na saída e na chegada destas atividades.

                É nestas horas e nestes dias que a gente pensa quanto vale um Chefe ou uma Akelá. Valor imenso se pensar no que eles passam. Claro é divertido, pois passado os dias das alegrias da saída e chegada lembramos gostosamente de tudo. O programa diz que a atividade vem aí. Hora de você arregaçar as mangas e começar o “preparamento” como dizia o prefeito de Sucupira. Material de patrulha, de chefia, material extra, cardápio, compras supermercado, um mundão de coisas. Alguns fazem reunião com pais para discutirem tudo (a maioria não comparece e os que aparecem enchem a paciência), e claro não se esquecer do pedido de autorização da atividade. Então começamos nossa via sacra. Na tropa se as patrulhas não tem um excelente Intendente começa a briga para ver o material. Tem isto, falta aquilo, precisamos comprar. Adoro este precisamos comprar. “Money”? Procure o Diretor Técnico que o manda procurar o Diretor Financeiro que diz estar duro!

              Seu Pafuncio do Mercadinho ajuda com alguma coisa. Ótimo. Aí começa um escotismo às avessas. Você sabe que na entrada os pais foram cientificados que escotismo é no campo. Que eles vão acampar ou acantonar. Que eles vão aprender a se virar para ficarem independentes, que eles irão crescer mais e mais em cada atividade destas. Os pais balançaram a cabeça concordando. Mas quando chega a hora os novos começam a chorar: - Chefe, Mamãe não quer deixar ir. Chefe papai disse que dinheiro não nasce em árvores por isto não vai pagar a taxa do acampamento. E um sábado qualquer antes do evento aparece algumas mães: -
Chefe Ricardinho Pé de Pano tá gripado, Chefe Mané Orelhudo não foi bem na escola, Chefe e se ele chorar e não gostar? O que o senhor vai fazer?  - Você coça a orelha. Franze a testa. Sabe que sempre foi assim com os novatos. Mas como bom Chefe dá a volta por cima e chega o momento sublime ou o tormento sublime.

                Tudo programado para saírem às oito da manhã. O ônibus já encostou. Metade ainda não chegou. Chega uma mãe: - Chefe aqui está à lista de remédios, ele tem hora viu? – Chefe ele está tossindo muito a noite. Não deixe de ir à barraca dele e cobrir ele direito! – Chefe ele é enjoado para comer. Não come qualquer coisa. Dei a ele umas bolachas e algumas latas de conserva. Se ele não gostar do que o cozinheiro fizer o deixe comer o que tem! E assim prossegue a fila de mães. E eis que aparece um pai. – Chefe, cuidado com meu filho, estou entregando e confiando ele ao senhor intacto sem ter nada. Me entregue ele do mesmo jeito. Se acontecer alguma coisa o meto na cadeia! Putz! E agora? O pai nunca apareceu nem na admissão do filho. Sempre foi a mãe agora o ameaça? Dá vontade de mandar ele para a Tonga da milonga do cabuletê! Risos, o pior é que eu mando mesmo!

                  Sabe o que eu mais gosto nestas atividades? Dos pata tenra. Adoro. Eles chegam com aquele sorriso de que vai viver uma grande aventura, a mochila? Nossa! Tem de tudo. Mamãe, vovô, titia e vizinha sempre dizendo – Leve isto e mais isto. Não cabe mais nada. Então arrumam uma sacola, um saco e coisa e tal. Quando ele chega à sede mal consegue descer do carro. Mamãe e família atrás. Cada um ajuda como pode. Chefe! Gritam de longe. Não deixa ele se cansar! E lá está cobertor, travesseiro, saco de dormir, tem até desodorante e xampu para cabelo! O que fazer? Deixar. Tive um caso de um que a Vovó chegou com uma TV portátil – Chefe, ele assiste todos os dias a novela das seis no SBT! Caramba. Mas voltemos à rotina, você sabe que metade daquilo que trouxeram não será utilizado. Outra metade vai sumir no acampamento e por mais que você seja severo sabe perfeitamente que ele ainda acha que Mamãe está ali para guardar a bagunça dele.

                      Enfim, as patrulhas já transportaram tudo para o ônibus. Ou as matilhas nada fizeram e os chefes se desdobraram para guardar tudo no bagageiro. Partida, sorrisos, piadas, canções uma animação tremenda. A história começa ali, ainda não tinha começado. Chegar ao campo, montar campo, um Chefe prevenido levou um lanche para cada um. Alguns querem dois ou três. Carregar material para o campo escolhido. Mosquito mordendo. Um calor dos “infernos” a patrulha dá o grito. Tudo vai começar. Começar? O pata tenra quer um facão para cortar bambu. Nem sabe pegar no facão. Ele não quer fazer mais nada. Furar buraco para fossa, catar lenha, ajudar a fazer um fogão uma mesa e ele só olhando. Nada de almoço ele reclama, quer comer. Na sua casa já tinha almoçado. O Monitor suando e correndo aqui e ali e quando tem um Chefe que gosta de apitar coitado dele. Almoço lá pelas três quatro da tarde. Tudo atrasou. – Monitor, eu não como isso! Não como aquilo. O arroz tá preto. O bife da torrado! O Monitor está de saco cheio com o pata tenra.

                       Você macaco Velho já sabe disto. Se ele continuar na tropa o que é improvável o problema dele acaba e começa com outro novato que vem em seu lugar. E vem a noite. A hora mais terrível para o Pata Tenra. O Monitor vem correndo - Chefe o Nonô Pé de Pato está chorando e gritando que quer a Mamãe! O que fazer? É a vida do Chefe é só de alegria. Telefonar para a família vir buscar? Nem morto filho. Nem morto ele diz. Manda chamar o Escoteiro. Cada um tem um modo de agir. Eu só olho para ele e digo, chore a vontade. Vou te deixar ali debaixo daquela árvore. Chore a vontade, seu choro é bom para chamar onças e cobras. Vamos lá! Ele te olha arregalado, para de chorar e volta para sua patrulha. Não existe mais reclamações. Aos poucos os pata tenra vão aprendendo. A maioria torna-se ótimos lobos e ótimos Escoteiros. Outros dão adeus e não voltam mais. Melhor assim eu penso e vocês também podem pensar.

                     Aí vem a parte mais interessante. A chegada à sede. No ônibus a cantoria e os “causos” acabaram. Agora só roncos. Dormem o sono dos justos. Chega-se a sede. Está apinhada de pais querendo ver seus filhos e se mandar. Se o ônibus atrasou caramba, é um Deus nos acuda. Os pata tenras querem ser os primeiros a descerem e correr para abraçar a mamãe. Não pode você diz. Ele e sua patrulha tem obrigações a fazer, descarregar o ônibus, guardar o material, relatórios, avisos e os pais ali em volta impacientes. Eles não preocupam se você fez tudo para que seus filhos fossem felizes, para aprenderem que a vida é muito mais que um abraço da mamãe. Ninguém quer saber se você dormiu todas as noites e da sua preocupação, afinal eles tem um ou dois filhos e você tinha quantos lá no campo? Não se preocupe. Isto é muito comum.  Enfim tudo guardado, avisos dados vem o debandar. Alguns pais poucos é claro vem lhe agradecer. Adeus Chefe diz um mais antigo, até sábado diz você.


                   Enfim a sede fica vazia. Você olha os espíritos amigos que ali estão e diz: - Mais um, valeu, acho que fiz minha parte e ajudei a mim mesmo. Hora de partir, seu carrinho ou sua esposa lhe espera. Ela sabe como é, pois tem experiência de anos com você chegando dos acampamentos ou acantonamentos. Você pega sua mochila, caminha em direção a ela. Um beijinho e uma última olhada na sede. Até sábado, pois a vida continua. Mesmo com tudo isto você sorri. Você sabe que é um Chefe Escoteiro feliz!