Crônicas de
um Chefe Escoteiro.
Afinal, mudar
ou não mudar? Eis a questão.
Vejamos:
No Brasil o Grupo
Escoteiro é considerado a célula mater para manter a formação do jovem deste a
mais tenra idade até a idade da razão (24 anos) ou mais. Isto até hoje é um
fato e nunca foi discutido abertamente se tem vantagens ou não. Aceitamos sem
discutir. Chamamos o Grupo de a grande família. O jovem entra e cresce entre
amigos aprendendo e fazendo o que o método Escoteiro propõe. Pensando em termos
de 4 sessões em funcionamento (Alcateia, Tropa Escoteira, tropa sênior e Clã
Pioneiro) tem que existir uma estrutura quase empresarial para o
desenvolvimento das necessidades do grupo escoteiro. Uma boa diretoria, um bom
corpo técnico de chefia e claro, uma sede própria (sonho de todos) ou não. Área
para atividades enfim uma parafernália de necessidades que todos nós sabemos
que deve existir afinal foi de lá que surgimos como Escoteiros.
Sabemos que nem cinco por
cento dos grupos Escoteiros no Brasil alcançam com sucesso estas necessidades. As
maiorias dos grupos sofrem com a falta de estrutura, muitas vezes nas mãos de
um idealista, que fundou o grupo e permanece a sua frente por toda sua vida. Para
ele é sua capitania e ele não abre mão. Certo ou errado dificilmente vinte por
cento dos que iniciaram suas atividades como lobos irão até pioneiros.
Francamente estes vinte por cento é ainda benevolente.
Temos uma série de dificuldades
para crescer. Batemo-nos em muitos temas pensando em crescimento quantitativo e
qualitativo e aos poucos cada um vai evoluindo seu aprendizado, mas deixando
pelo caminho amigos que resolveram mudar seu rumo de vida assim como muitos
jovens que preferem não continuar.
Pensando em termos de
países que tem uma estrutura diferente, já com um efetivo consolidado por anos
e anos sabemos que muitos deles não utilizam a estrutura de um Grupo Escoteiro.
Seria então uma razão para pensar se estamos no caminho certo com esta célula
que dizem ser a mais importante no escotismo nacional? Nossos resultados até
hoje dizem que não somos vencedores. Pensar em termos de BSA onde se forma
tropas ou sessões independentes, vemos que eles são bem considerados pela
sociedade americana. Seria exemplo para nós? Poderia servir para nós o seu
sistema? Vale a pena pensar no assunto?
Ou é melhor esquecer e dizer: - O Grupo Escoteiro tem sua razão de ser e nada
pode ser mudado.
Mas convenhamos, o tema é discutível? Temos
como exemplo outros temas interessantes, mas por nos acostumarmos a ele, nos
fechamos como uma ostra. A própria UEB merecia uma longa discussão se sua
estrutura é a melhor ou não. Entramos no escotismo, vivenciamos e aprendemos a
gostar de tudo. Nunca discordar. Sempre tem aqueles que dizem que a prioridade
é o jovem. Eles os novos sem perceber acreditam que nossa estrutura é
badeniana. Tudo que temos aqui é fruto do que BP nos deixou. Claro que os
entendidos, os dirigentes, os politicamente corretos sabem que não é assim. E assim
vamos levando sem nunca entrarmos nesta seara. Seria imutável? Sempre me lembro
de que apesar de todos dizerem que o Grupo Escoteiro é a razão de ser do
escotismo, sabemos que ele não tem voz e voto nas diretrizes
organizacionais. Claro que tem aqueles
que dizem o contrário. Mas quem se arrisca a dizer que não?
Pegue um voluntário. O
coloque a frente de alguma sessão Escoteira. Pronto. Se ele for mordido pelo
bichinho Escoteiro não terá mais tempo nas suas atividades familiares e sociais
quiçá a profissional. Outro dia recebi um relato de um ex Chefe que
exemplificou bem o tema. Estava saindo, pois a pressão era grande e a estrutura
de um Grupo Escoteiro não o fazia sentir que participava de uma grande família.
Achava ele que para ser um líder Escoteiro a entrega pessoal é tão grande que
se esquece da vida familiar e social. Lembremos que tem muitos cuja família não
participa e até cobra sua participação. Quem sabe em uma unidade ou sessão
autônoma ele teria mais tempo? Sem as programações hoje de grupo distrito e
região? Bem para ter certeza precisamos saber como os outros países fazem. Aqui
o lema é ou você é um Escoteiro obediente e disciplinado, ou então desista.
Escoteiro para muitos é aquele que está presente, sempre dando seu Sempre Alerta,
firme junto aos demais não importa se chove ou não. Não seria isto motivo de
desistência por parte de centenas ou milhares que desistem do escotismo não
importando a idade?
Teríamos nós a coragem de
repensar o que fazemos? Será que algum dia poderíamos idealizar um escotismo
perfeito? Se nos países de primeiro mundo a estrutura de um Grupo Escoteiro
como o nosso não existe, porque não discutir o sucesso deles, afinal tem muito
maior número de membros Escoteiros não só em qualidade como em quantidade.
Qualquer um bem informado sabe que nestes países mais avançados o escotismo é
visto como um importante meio auxiliar na educação de um jovem para a vida. E
nos enquanto isto pecamos por falta de uma boa divulgação e ficamos na rotina
de dizer a A ou B que não vendemos biscoito e nem ajudamos a velhinha a
atravessar a rua. É pena que até hoje tenhamos medo de discutir o obvio, ou
melhor, discutir se nosso caminho para o sucesso é o mais correto.
Vale a pena pensar a
respeito?