segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Sem crônicas, sem lendas, sem nada... Hoje não tem historias...



Sem crônicas, sem lendas, sem nada...
Hoje não tem historias...

- Não tem. Ando meio desanimado. Resolvi fazer um recesso. Dar um tempo. Contei historias demais. Hoje até escrevi uma historia. Não gostei. Deletei do meu pensamento. O tema não foi do meu interesse e não seria de ninguém que me segue nas mágicas páginas onde costumo escrever. Era sobre um Escoteiro que cantava para espantar a tristeza. Um escoteiro que sonhou ter uma barraca e sair por aí para acampar. Ele não tinha Chefe, não tinha Patrulha não tinha registro na Direção Nacional. Muitos perguntavam quem era ele e até ele mesmo não sabia o que dizer. Dizia que só tinha sua palavra para provar que era um Escoteiro do Brasil.

- Seria uma boa história? Acho que não. - Houve um tempo que leu e estudou muito o escotismo. Saia pelas florestas procurava uma boa aguada, fazia sozinho um fogão tropeiro, montava seu todo de folhas verdes, um lenheiro e até cozinhou para sí um belo jantar. E quando a noite chegou, olhou o céu estrelado, pensou em pegar carona em algum cometa viajado e sair por aí soltando poeiras coloridas no ar... O escoteiro cresceu, virou homem, continuou fazendo suas viagens “Escoteiras” (aquele que anda só).

- Mas hoje não vou contar histórias. Para que contar e para quem? Quem se interessa pelo Escoteiro que cantava para espantar sua tristeza? Vale a pena contar que ele saia pelos campos, nos montes e horizontes, sonhava acender uma fogueira no alto da montanha onde o vento açoitava as noites de luar? Queria uma fogueira para iluminar o mundo, daquelas que soltavam fagulhas coloridas, que brincavam de esconde, esconde com os pirilampos que acendiam suas lanternas querendo brilhar...

- Para que contar uma história? Contar que ele era um apaixonado escoteiro que gostava de cantar? Cantava em Si-bemol, tocava uma harmônica e tocava mal um violão em qualquer trilha lá estava ele solfejando podia ser na sombra ou no sol. Gostava de colocar sua mochila nas tardes de sexta, sair por aí sonhando ser Fernão Dias Paes, o bandeirante, daqueles que adentraram pelo Brasil a procura de esmeraldas... E se perdeu em uma montanha sem nada encontrar...

- Não, hoje não vou contar histórias. São tantas que nem sei quais são as verdadeiras, as vividas, as sonhadas, as que marcaram cicatrizes no vai e vem da vida ou as tiradas da imaginação. Nem vou dizer que o Escoteiro cantador adorava ouvir o som da floresta, ouvir a voz do vento nas tempestades e ou no amanhecer de um belo dia de sol. Gostava de ver a passarada e nas madrugadas sentava em volta de uma fogueira ouvindo a Cotovia e o Uirapuru quando saiam para fazer duetos para os insetos, e sentir o gostoso chilrear dos pássaros que gostavam de ouvir. 

- Se fosse ontem, ou anteontem quem sabe eu iria contar uma história. Hoje não. Não daquele Escoteiro que tinha um Lobo Cinzento como amigo, um beija flor espantado que passava por ele sorrindo. Ele e seus amigos da floresta gostavam de confraternizar, e nunca esqueceu o dia que fez uma amizade com uma coruja de olhos verdes, que nas noites estreladas contava para ele como se fosse sua mestra, as lendas e os segredos noturnos da Floresta.

- Não insista, por favor... Hoje não vou contar uma história. Nem mesmo do escoteiro que um dia lá no Vale distante, sozinho, hasteou a Bandeira Nacional, em posição de sentido fez sua promessa: - Senhor Baden-Powell, meu mentor... Eu prometo ser fiel a Deus e a minha Pátria. Cumprirei minha promessa, e juro pela minha honra que serei um Escoteiro Alegre nas dificuldades, que ajudarei o próximo em qualquer ocasião, que serei leal e puro nos meus pensamentos nas minhas palavras e nas minhas ações.

- Não, não irei hoje contar uma história. Para que? Dizer que aquele escoteiro que não tinha inscrição no topo da pirâmide dos Escoteiros do Brasil, que dizia para sim mesmo que iria ser irmão de todos, que iria cumprir sua lei por toda sua vida. Ele aquele escoteiro que anda só disse ao Seu Deus que a vida passa e que as histórias ficam no tempo e nunca mudam de lugar.

- Eu queria mesmo contar uma historia, mas me perdi no tempo, me perdi onde não sabia e aonde iria chegar... É... Eu queria contar uma história... Quem sabe você conta uma para mim?