Crônicas de
um Chefe Escoteiro.
O poder do
nada.
(Desejamos
o poder a fim de nos tornarmos alguma coisa. O poder que a riqueza pode
oferecer o poder que a política pode fornecer o poder que o prestígio pode
fornecer. Desejamos o poder para sermos alguma coisa, e esse sutra diz: Deseje
ardentemente o poder - mas aquele poder que o tornará ninguém, nada).
Desculpe meu amigo e minha amiga. Sei que vocês não estão incluídos nas
minhas ferinas palavras. São aqueles poucos que querem a todo custo conquistar
o poder no escotismo. Poder? Claro, um poder do nada. Não têm dividendos há não
ser condecorações e respeito. Respeito? Não sei se ele tem o meu. Você que
acredita que está aí para ajudar, para colaborar com a juventude sabe do que
estou falando. Olhe ao seu redor e vai encontrar o “dito cujo”. Ele distribui
sorrisos, mas sem se colocar em posição de destaque. Dificilmente concorda com
o que você fala a não ser se você também pertence à elite escoteira. Quando ele
está no inicio da caminhada para o seu sucesso, ele olha com calma o terreno
onde pisar. Cumpre tudo que os lideres ordenam. Defende-os com unhas e dentes.
Luta pelo sua Insígnia da Madeira se ainda não a tem. Sempre correndo a abraçar
alguém da elite ou satisfazer seus desejos e concordar sem discordar de suas
normas. Agora com a nova vestimenta ele ficou mais a vontade (não todos,
considerem os bons chefes fora da minha argumentação).
Note
que mesmo antes do grupo decidir se mudariam ou não a uniformização ele já
apareceu em foto ou até presente envergando orgulhosamente a vestimenta. Isto é
claro para agradar aos nossos lideres que foram unanimes em pedir exemplos em
todos os grupos e na equipe de formação. Eles são pródigos, pois na calada da
noite disseram em suas normas que o outro iria permanecer e o aspirante ao
poder bate palmas. Vocês acreditam nele? Eu não. Em poucos anos se ele não
desaparecer, pois existe um maciço marketing para a nova vestimenta poucos irão
lembrar-se dele. Afinal somos um movimento mutável onde a evasão se faz presente
principalmente com adultos. Os novos que irão chegar nem saberão da história.
Mas voltemos ao escotista que almeja o poder. Quando ele é arrogante valha-me
Deus. Ele tem o poder de definir quem fica e quem sai. Agora que tem a IM sua
luta é para ser convidado a um avançado, pois só assim poderá almejar a
terceira conta. Ser convidado para um curso. Já pensou? Seu sonho vai aos
poucos se realizando.
Se
você é bastante inteligente como eu sei que é, vais ver que o escotista em
questão na maioria das vezes tem uma função subalterna no seu emprego ou quem
sabe tem uma lojinha na esquina. Ele pode até ter um curso superior e veja,
sempre faz questão de colocar isto quando assina qualquer documento. Você
dificilmente verá um alto executivo atuando no escotismo (raras exceções), pois
ele sabe bem como funciona a engrenagem de uma empresa e ali no escotismo ele
ficará subalterno aos “mandões” cujo benefício ao escotismo nunca irá existir.
Este sonhador do poder vai defender que o escotismo cresce que o escotismo é
democrático e que tudo que os lideres fazem é para o bem de todos. Eles são
pródigos em dizer amem! Há dois tipos de poder. Primeiro aquele poder que você
pode acumular a partir dos outros - aquele poder que lhe pode ser dado pelos
outros ou que você pode tomar dos outros. Ele depende dos outros. O poder que
depende dos outros fará com que ele se torne alguém aos olhos dos outros. Ele
finge que é o mesmo de antes, mas, aos olhos dos outros, tornar-se-á alguém.
Esse “ser alguém” é uma pretensão do ego. E o ego é a barreira.
Não sei e não posso afirmar, mas é isto que faz o nosso movimento ficar
estagnado. A engrenagem é fraca e muitas vezes quebra. Ele o escotismo não
cresce. Cresce? Diga-me então – Temos grandes homens na liderança em suas
diversas áreas que dão testemunho do seu valor? Quantos vemos na imprensa
falada, escrita e televisada que dizem maravilhas do escotismo? Por acaso você
conhece um grande conferencista Escoteiro que é procurado para dar palestras
nas empresas ou organizações diversas? Nos órgãos governamentais onde nos
situamos? Porque sempre quando vamos procurá-los temos de mendigar? E aceitar
migalhas? E o nosso marketing? Existe? Onde que não vejo? Falaram maravilhas do
novo programa, agora da vestimenta e eu até me preocupo, pois um amigo meu, que
já foi Escoteiro me perguntou – Osvaldo, esta tal vestimenta é realmente o novo
uniforme? Tem cada tipo vestido como quer que ainda não entendi nada. Tentei
explicar a ele que são dezoito tipos. Cada um escolhe o que quiser. Ele deu de
ombros e se foi. Nem quis comentar.
Quando vejo estes tipos cheios de pompa, achando que são os chefões, que
podem agora serem olhados como um Velho lobo me vem à mente aquela metáfora do
Imperador: - Ele, um imperador maometano, estava rezando numa mesquita, num dia
santificado. Ele estava orando a Deus e dizia: “Eu sou ninguém. Sou nada. Tenha
piedade de mim”. Então, subitamente, ele ouviu um mendigo que também estava
rezando próximo a ele. O mendigo também dizia: “Eu sou ninguém. Tenha piedade
de mim”. O imperador sentiu-se ofendido! Olhou para o mendigo e disse: “Ouça,
quem é você para competir comigo? Quando eu digo, ‘Eu sou ninguém’, quem mais
se atreve a dizer ‘Eu sou ninguém’? Quem é você para tentar competir comigo?”. Até mesmo no estado
de “ser ninguém” você pode ser um competidor. Então, o essencial, o ponto
principal, é perdido. O imperador não podia tolerar que um outro, diante dele,
reivindicasse para si o ser ninguém. Quando ele dizia para Deus que era
ninguém, ele não queria dizer que era ninguém. Através do “ser ninguém” ele
estava criando o “ser alguém”. Você também pode criar o ego a partir do nada.
Não vou mais além.
Escotismo não era assim. Havia queira ou não uma amizade uma fraternidade. Os
egoístas, os portentosos, os arrogantes eram bem poucos e sempre desprezados
pelos demais. Hoje não. Eles para atingirem o poder não medem consequências. Se
tiver de pisar na cabeça de alguém eles pisam. Se alguém se for por causa deles
eles sorriem. Mas eles têm um jeitinho de se sentirem menos desprezados, alguns
tipos insistem que tentam ajudar, mas no fundo mesmo, é como dizia nosso mestre
Baden-Powell – “A maior ameaça a uma democracia
é o homem que não quer pensar pôr si mesmo e não quer aprender a pensar
logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta”. A
democracia pode salvar o mundo, porém jamais será salva enquanto os preguiçosos
mentais não forem salvos de si mesmos. Eles não querem pensar, desejam apenas
ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes,
alguém os guia puxando-os pelo nariz! - Saia da sua estreita rotina se quer
alargar sua mente.
Precisamos dizer mais alguma coisa?