sexta-feira, 13 de junho de 2014

O poder do nada.




Crônicas de um Chefe Escoteiro.
O poder do nada.

     (Desejamos o poder a fim de nos tornarmos alguma coisa. O poder que a riqueza pode oferecer o poder que a política pode fornecer o poder que o prestígio pode fornecer. Desejamos o poder para sermos alguma coisa, e esse sutra diz: Deseje ardentemente o poder - mas aquele poder que o tornará ninguém, nada).

      Desculpe meu amigo e minha amiga. Sei que vocês não estão incluídos nas minhas ferinas palavras. São aqueles poucos que querem a todo custo conquistar o poder no escotismo. Poder? Claro, um poder do nada. Não têm dividendos há não ser condecorações e respeito. Respeito? Não sei se ele tem o meu. Você que acredita que está aí para ajudar, para colaborar com a juventude sabe do que estou falando. Olhe ao seu redor e vai encontrar o “dito cujo”. Ele distribui sorrisos, mas sem se colocar em posição de destaque. Dificilmente concorda com o que você fala a não ser se você também pertence à elite escoteira. Quando ele está no inicio da caminhada para o seu sucesso, ele olha com calma o terreno onde pisar. Cumpre tudo que os lideres ordenam. Defende-os com unhas e dentes. Luta pelo sua Insígnia da Madeira se ainda não a tem. Sempre correndo a abraçar alguém da elite ou satisfazer seus desejos e concordar sem discordar de suas normas. Agora com a nova vestimenta ele ficou mais a vontade (não todos, considerem os bons chefes fora da minha argumentação).

       Note que mesmo antes do grupo decidir se mudariam ou não a uniformização ele já apareceu em foto ou até presente envergando orgulhosamente a vestimenta. Isto é claro para agradar aos nossos lideres que foram unanimes em pedir exemplos em todos os grupos e na equipe de formação. Eles são pródigos, pois na calada da noite disseram em suas normas que o outro iria permanecer e o aspirante ao poder bate palmas. Vocês acreditam nele? Eu não. Em poucos anos se ele não desaparecer, pois existe um maciço marketing para a nova vestimenta poucos irão lembrar-se dele. Afinal somos um movimento mutável onde a evasão se faz presente principalmente com adultos. Os novos que irão chegar nem saberão da história. Mas voltemos ao escotista que almeja o poder. Quando ele é arrogante valha-me Deus. Ele tem o poder de definir quem fica e quem sai. Agora que tem a IM sua luta é para ser convidado a um avançado, pois só assim poderá almejar a terceira conta. Ser convidado para um curso. Já pensou? Seu sonho vai aos poucos se realizando.

         Se você é bastante inteligente como eu sei que é, vais ver que o escotista em questão na maioria das vezes tem uma função subalterna no seu emprego ou quem sabe tem uma lojinha na esquina. Ele pode até ter um curso superior e veja, sempre faz questão de colocar isto quando assina qualquer documento. Você dificilmente verá um alto executivo atuando no escotismo (raras exceções), pois ele sabe bem como funciona a engrenagem de uma empresa e ali no escotismo ele ficará subalterno aos “mandões” cujo benefício ao escotismo nunca irá existir. Este sonhador do poder vai defender que o escotismo cresce que o escotismo é democrático e que tudo que os lideres fazem é para o bem de todos. Eles são pródigos em dizer amem! Há dois tipos de poder. Primeiro aquele poder que você pode acumular a partir dos outros - aquele poder que lhe pode ser dado pelos outros ou que você pode tomar dos outros. Ele depende dos outros. O poder que depende dos outros fará com que ele se torne alguém aos olhos dos outros. Ele finge que é o mesmo de antes, mas, aos olhos dos outros, tornar-se-á alguém. Esse “ser alguém” é uma pretensão do ego. E o ego é a barreira.

            Não sei e não posso afirmar, mas é isto que faz o nosso movimento ficar estagnado. A engrenagem é fraca e muitas vezes quebra. Ele o escotismo não cresce. Cresce? Diga-me então – Temos grandes homens na liderança em suas diversas áreas que dão testemunho do seu valor? Quantos vemos na imprensa falada, escrita e televisada que dizem maravilhas do escotismo? Por acaso você conhece um grande conferencista Escoteiro que é procurado para dar palestras nas empresas ou organizações diversas? Nos órgãos governamentais onde nos situamos? Porque sempre quando vamos procurá-los temos de mendigar? E aceitar migalhas? E o nosso marketing? Existe? Onde que não vejo? Falaram maravilhas do novo programa, agora da vestimenta e eu até me preocupo, pois um amigo meu, que já foi Escoteiro me perguntou – Osvaldo, esta tal vestimenta é realmente o novo uniforme? Tem cada tipo vestido como quer que ainda não entendi nada. Tentei explicar a ele que são dezoito tipos. Cada um escolhe o que quiser. Ele deu de ombros e se foi. Nem quis comentar.

         Quando vejo estes tipos cheios de pompa, achando que são os chefões, que podem agora serem olhados como um Velho lobo me vem à mente aquela metáfora do Imperador: - Ele, um imperador maometano, estava rezando numa mesquita, num dia santificado. Ele estava orando a Deus e dizia: “Eu sou ninguém. Sou nada. Tenha piedade de mim”. Então, subitamente, ele ouviu um mendigo que também estava rezando próximo a ele. O mendigo também dizia: “Eu sou ninguém. Tenha piedade de mim”. O imperador sentiu-se ofendido! Olhou para o mendigo e disse: “Ouça, quem é você para competir comigo? Quando eu digo, ‘Eu sou ninguém’, quem mais se atreve a dizer ‘Eu sou ninguém’? Quem é você para tentar competir comigo?”. Até mesmo no estado de “ser ninguém” você pode ser um competidor. Então, o essencial, o ponto principal, é perdido. O imperador não podia tolerar que um outro, diante dele, reivindicasse para si o ser ninguém. Quando ele dizia para Deus que era ninguém, ele não queria dizer que era ninguém. Através do “ser ninguém” ele estava criando o “ser alguém”. Você também pode criar o ego a partir do nada.

Não vou mais além. Escotismo não era assim. Havia queira ou não uma amizade uma fraternidade. Os egoístas, os portentosos, os arrogantes eram bem poucos e sempre desprezados pelos demais. Hoje não. Eles para atingirem o poder não medem consequências. Se tiver de pisar na cabeça de alguém eles pisam. Se alguém se for por causa deles eles sorriem. Mas eles têm um jeitinho de se sentirem menos desprezados, alguns tipos insistem que tentam ajudar, mas no fundo mesmo, é como dizia nosso mestre Baden-Powell – “A maior ameaça a uma democracia é o homem que não quer pensar pôr si mesmo e não quer aprender a pensar logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta”. A democracia pode salvar o mundo, porém jamais será salva enquanto os preguiçosos mentais não forem salvos de si mesmos. Eles não querem pensar, desejam apenas ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes, alguém os guia puxando-os pelo nariz! - Saia da sua estreita rotina se quer alargar sua mente.


Precisamos dizer mais alguma coisa?