quarta-feira, 21 de março de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O assassinato da Minhoca.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O assassinato da Minhoca.

                Vado Escoteiro, alguém quer saber quem foi o assassino da Minhoca? Me “cutuco” pensativo. Francamente não sei. Uma vez no Pico do Pavão do Rabo Grande (não confundir com alguns dirigentes escoteiros) eu fiz um juramento. Esperei dar meia noite. De pé olhando a escuridão, pois não se via nada levantei a mão esquerda a moda nazista e fiz o juramento: Prometo quando for escritor só escrever sobre escotismo! Claro que não jurei com a mão direita e nem fazendo o sinal escoteiro. Não ficava bem!

                Mas tem dia que você acorda com o pé direito (ou é o esquerdo?) e pensa: - Escrever o que? Sobre BP? Acho que muitos não estão nem aí do que ele disse. - Escrever sobre as fotos e foguetórios das Assembleias Regionais? Nem pensar. Estou “porrrraqui” com esta camisa solta e o exemplo dos chefes. Tremo só em olhar. Mas não vou falar da tal vestimenta, que desbota tamanho único para barrigudo e magrelo, pega fogo fácil e custa os olhos da cara e ainda tem gente para bater palma e compra! Rarará!

                Fui fazer meu percurso de Gilwell o que faço todas as manhãs em um parque municipal próximo ao meu campo de Patrulha e enquanto corro meus quilômetros e quilômetros fico pensando o que vou escrever hoje. Cansado, já escrachado no banco do parque, respiração ofegante, pois hoje bati meu recorde dos seiscentos quilômetros me lembrei da minhoca!  

                Quando levanto sempre vou até a grade do portão da varanda, dou um bom dia a São Paulo apesar de habitar minha barraca em Osasco e depois faço minha prece a Deus pela noite e pela vida. Eis que vi em frente ao portal de campo no asfalto, uma minhoca... Isto mesmo, uma minhoca puladeira. Dizem que são ariscas e preferidas dos pescadores de plantão como eu. Usava as duas, a mole e a puladeira. Os peixes gostavam mais desta última. A mole sabida não se mexia e a peixarada era enganada!

                 Ajeitei-me na minha Pioneiría de campo, uma mesa que balança parecendo mesa de pata-tenra, fui ao tal You Tube e rodei o ratinho a francesa para ver qual a musica serviria de inspiração para escrever sobre a minhoca. Richard Clayderman e Mantovani não. Eram clássicos demais para este conto. Quem sabe Ennio Morricone e suas musicas do velho oeste? Também não. Procurei nas favoritas orquestradas e lá estava Love Song Piano Instrumental. Não seria uma boa pedida.

                Foi então que surpreso achei: - Minhoca! Me dá uma beijoca! Eita, esta tinha tudo para me fazer criar belas frases e contos “Minhoqueiros”! O som “minhocasso” se espalhou no meu campo de Patrulha. A pobre da minhoca pulava e pulava no asfalto. Como tinha sorte a danada... Os carros passavam e ela sempre viva a pular e pular. Vi com esses olhos que a terra a de comer (o meu não terrinha!) a chegada de um passarinho. No alto da enfumaçada cidade o “pistiado” viu a pobre minhoca pulando no asfalto. Pensou: - Tô feito!

                  Prestei bem atenção no “bicho” ou pássaro. Quem era? Nunca fui um bom ornitólogo para identificar os bichinhos voadores do céu. Mas dava pru gasto. Escoteirando nas matas do meu país aprendi muito. Era sem sombra de dúvida uma Saracura-de-asa-vermelha (aramides calopterus) que só é encontrada nas florestas subtropicais e em rios. O que a danada da Saracura fazia ali em Osasco?

                  Sem sombra de duvida viu um belo almoço. Se eu gosto de uma feijoada, um ensopado de peixe com bastante camarão ela tinha outras escolhas. Direitos são direitos. Se o cara resolvi se vestir de qualquer jeito com aquela papuda camisa escoteira fora da calça é direito dele não? A saracura pé ante pé foi até a pobre da minhoca puladeira. Deu a primeira bicada e nada... Deu a segunda a terceira e zaztraz! Engoliu a pobre da minhoca de uma só vez!  

                  Quase chorei de dó. Coitada da minhoca. Engolida como se fosse um quati na boca de uma Sucuri, a píton-real que apelidaram de Anaconda. Me lembrei do Zé Torquato. – Vado! Lembra-se daquela noite em volta do fogo na Floresta do Coral, quando você cantava feito taquara rachada e nossos troncos começaram a se movimentar? – Lembrei! Por uns metros pensei que era mágica e depois vi que o tronco era uma enorme cobrinha Sucuri!

                  A danado da Saracura me olhou de banda. Juro pelos dirigentes escoteiros do Brasil que vi e ouvi ela arrotar! Sorriu para mim, levantou voo e sumiu no ar. A minhoca? Voou com ela na pançuda barriga. Quem sabe ela também tem esta camisa que desbota que rasga e que queima como capim? Quase chorei de dó da minhoca. Quantos piaus poderia pegar com ela? Pensei em pegar o telefone ligar para o 190 e denunciar o assassinato da minhoca. Melhor não, o Gilmar Mendes ia me pegar de banda e... Melhor não contar.

                  Mas pelo bem ou pelo mal, assassinaram a minhoca! Jurei pelo Presidente da UEB que nunca mais deixaria uma minhoquinha morrer daquele jeito. Afinal o Escoteiro não é bom para os animais e as plantas? Mas onde encaixa a minhoca neste artigo?

Nota – Winston Churchill dizia que não passamos de minhocas. Mas se eu fosse uma minhoca seria uma minhoca escoteira que brilha. Não gostou do artigo? Olhe se a tristeza não se toca, saia você dessa toca, antes que, ela encha a tua cabeça... De minhoca! Kkkkkk.