domingo, 18 de março de 2018

Quem quer dinheiro?



Quem quer dinheiro?

- Sou das antigas. Um punhado de arroz, macarrão e uma naca de linguiça e lá íamos nós acampar. Um dois três até doze dias dependendo a época escolar. Atividades distritais? Cada cidade se virava. O prefeito o Seu Joaquim do Armazém, os pais correndo de chapéu não mão e tudo saia nos contendo. Fui crescendo fazendo minhas atividades escoteiras sem Money, sem tutu, sem necas de catibiriba de dólar. Até hoje sou um velho escoteiro esclerosado. Detesto taxas, mensalidades e coisa e tal.

- Mas sei que elas precisam existir. Nem sempre se consegue um bom material de Patrulha, de Matilha, da diretoria do grupo e até mesmo o deslocamento para o campo. Isto claro se o grupo adotar o método Badeniano de viver a vida escoteira ao ar livre.  Quem sofre mais são os grupos nas grandes cidades. Um sufoco para sair. Agora pagar para acampar em um terreno? Juro que não pagaria. Jamé!

- Se tivesse condições “saudescas e juventude” eu toparia começar de novo, em um grupo, fazendo o que fiz. Dizer que o escotismo mudou pode ser. Ele não mudou eles é que mudaram com ele. Criaram normas, artigos, subitens e meteram tudo na casa de BP. Pobre Paxtu, agora é um programa de computador. Eles não perdoam o mestre. Risos.

- Outro dia li a pergunta de um Chefe que queria saber quanto cada grupo cobra de mensalidade. Eita! Grande “Perguntasso”! Fiquei embasbacado, soube de grupo que cobra tantos Euros que tremi na base. Tem aqueles que cobram em Dólar e outros ficaram nos trinta e pouco até duzentos mangos. Mas os humildes escreveram com pena: - Chefe! Apenas cinco paus! E olhe que é duro para receber! Sei como é. Já vi este programa por demais sem TV.

- Quando vejo os preços cobrados para atividades distritais regionais e nacionais quase dou um troço! Já sem ar corro a me tacar na cara meu inalador pessoal. E as brigas, discussões, desavenças, pau na cumbuca em atividades nacionais e regionais? Lá estão às fotos, os vídeos dos barrigudos, barbudos com as camisas esvoaçantes na pança, gritando, dando berros querendo seus direitos.

- Meu Deus! Isto é fraternidade? O cara paga caro uma vestimenta, solta a camisa, paga a viagem, paga a taxa de inscrição, compra quinquilharias na lojinha, só para assistir este espetáculo grotesco? Mas tem outros que não. Tiram o sábado para tascar medalhas. Todas foram regiamente pagas. Se o medalhado merece tudo bem se não fica o dito pelo não dito.

- Tem estados apaziguados. A turma vai para se confraternizar. Beijinhos, abraços, aperto de mão e sempre alerta, claro sempre com a camisa solta no ar. Eita camisa idolatrada pela chefaiada atual. Fico pensando o que o povão acha disso. A dona EB até hoje não perguntou. Queria saber o que o Ibope e o Datafolha iriam perguntar: - Gosta de barbudo, barrigudo com a camisa prá fora?

- Tenho dito que este escotismo de hoje não é o meu. Não é mesmo. Tive a honra de ser convidado para ser um Comissário Regional em Minas Gerais. Fiz com meus amigos assistentes, gente fina, que se dedicaram sem esperar recompensas e sem mandar cartinhas ameaçando alguém um escotismo fraterno e amigo. Sem desavenças. Apenas um papo, umas caipirinhas ou as loirinhas da Brama ou Antárticas e tudo se resolvia. Nada como conversar. Assim se entende não é?

- Me lembro dos Conselhos Regionais. Conselhos gente! A turma achou melhor copiar o PT a CUT e o escambal e mudaram para Assembleia. Nunca ouve taxa. Nunca. E olhe que ofertávamos o material. Doado por alguma empresa ou por dirigentes de famosas lojas locais. E olhe que ainda tinha transporte gratuito. Isto pode? Pode e se não acredita pergunte a quem esteve lá. Ainda tem muitos.

- Foram muitos Acampamentos Regionais. Todos sem taxa. Levamos centenas de patrulhas pelo interior de Minas Gerais. Mas famosas mesmo ficaram as Indabas. Estas tinham o cheiro de quero mais. Bate papo, Fogo de Conselho, jogos, trabalho em grupo, sistema de patrulhas, todos dando ideias de como melhorar o escotismo e o Estado Escoteiro. Isto não existe mais.

- Sei que tem muitos que estão lendo de outros estados que fizeram o mesmo. Outro escotismo onde o dinheiro não era tudo. Onde o Zé Pereira de Mato Dentro e o Escoteirinho de Brejo Seco podiam participar. Às vezes eu me pergunto: - Será que estou errado? Porque esta grandeza, esta superioridade em ser o melhor? Comprar sedes monumentais, viajar pelas “estranjas” Oferecer riquezas e nobrezas a quem paga e quem não paga que vá dormir na barraca furada?

- Ah! Domingo, lá vai eu pedalando meus dissabores, meus penhores que penhoradamente vivo por aqui a reclamar. Tenho direitos? Acho que tenho. Foram oito anos como Comissário Regional. Uma sede simples cedida, a gente lá fazendo plantão para receber os escoteiros visitantes do interior ou pegando ônibus de carreira para uma visita em alguma cidade de nosso estado. Planejando, só a Vovó Conceição ajudando na burocracia, e a turma de assistentes verdadeiros heróis combatentes lutando para oferecer tudo... De graça gente! De graça!

Nota - Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a nos converter em um movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o Movimento para os rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam do Escotismo. Por John Thurman - (chefe de campo de Gilwell Park)