quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. E quem disse que somos Velhos lobos?




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
E quem disse que somos Velhos lobos?

Sinceramente tenho andado indiferente com o tal Escotismo Moderno. Deixei na berlinda minha participação em grupos escoteiros há algum tempo. Quando tentei ajudar notei que não era bem vindo. Mais tarde vi que a própria Escoteiros do Brasil tinha uma norma enviada a todos os grupos alertando na aproximação de antigos escoteiros. Eles nem sempre eram bem vindos. Que se tomasse cuidado, pois a maioria iria querer coagir os chefes do escotismo do seu tempo que julgam ser o melhor. A principio concordei. Se participasse em um grupo formado iria sugerir, manifestar e aconselhar o que pensava e ainda penso sobre o Escotismo de BP. Ao ultimo grupo que ofereci meus préstimos não fui bem vindo. Basta dizer que na minha área onde moro existem diversos grupos e nenhum deles me convidou para uma palestra, para um bate papo ou para um aconselhamento. Compreendo...

Montei meu castelo escoteiro nas páginas das redes sociais. Com o passar do tempo vi que os visitantes faziam questão de me cumprimentar, mas poucos muito poucos deram ouvidos no que dizia em meus escritos. De BP falei centenas, de outros grandes nomes do escotismo outros tantos. Os escassos comentários postados não diziam quase nada com o tema desenvolvido. Tenho sim uma legião sincera de amigos, que lamento não poder apertar a mão, que ao seu modo procuram assimilar e compreender aonde quero chegar. Mas é pisada na lama e com perigo de escorregar. Os tais Assessores Pessoais são instruídos a manter sob rédea curta o aprendizado de seus pupilos conforme prescreve as normas da EB. Nem mesmo as novas associações escoteiras intituladas de Tradicionais mantem vínculo com o que acredito ser o verdadeiro escotismo tradicional de BP. Cada uma tem sua crença, sua lógica e seu pensamento do que é tradição.

E eis que dignamente, um amigo letrado, participante ativo do escotismo fraterno e colunista dos bons, me comparou a outro Chefe Escoteiro que como eu labuta nestas páginas tentando mostrar a verdadeira metodologia do Escotismo de Baden-Powell. Disse ele que não praticamos o escotismo. Ambos vivemos escoteiramente! Tocou no ponto “G” Escoteiro de cada um. Desculpe nada ver com o ponto do Ginecologista alemão Ernst Grafenberg. Pensando bem não há uma explicação lógica para isto. Eu e ele somos dois escoteiros com o mesmo ideal, mas com caminhos diferentes. Nasci em uma tropa onde os chefes quase não apareciam na sede e nos davam liberdade de ir e vir desde que aprovado pelos pais. Cada um de nós tinha de lutar para conseguir seus uniformes e trecos escoteiros. Eu engraxei, limpei quintais, capinei, lavei carroças e levei burros para pastar fora da cidade.

Na tropa que participei a programação quem fazia eram os monitores de comum acordo com o guia de tropa. Dava sono às vezes que nos reuníamos na sede e quando isso acontecia os jogos eram conhecidos. Briga de galo, quebra canela Salto em altura e Saltem o obstáculo não faltando à luta do Scalp. Adorávamos também devidamente acompanhada por Giba um Escoteiro da Falcão bom violeiro cantar canções e a nossa preferida era a Arvore da Montanha e sempre no final nosso amado “Quebra Coco”. Os campeões nesta época sobressaiam. Interessantes que os campeões não duravam muito tempo. As patrulhas acampavam sozinhas, e duas ou três vezes ao ano o Guia preparava um acampamento com todas as demais patrulhas, neste caso o Chefe aparecia, mas a programação, o cardápio e os “trecos de Patrulha” já estavam prontos. Arroz feijão, batata e macarrão. Era nossa ração que cada um levava no bornal devidamente separado pela “mamãe” que não deixava nada faltar. No campo na floresta nos rios e córregos tinha a mistura que precisávamos. Errado isso? Não sei.

Todos aqueles que participaram naquela época ficaram por muito tempo escoteirando e alguns foram escoteiros por toda a vida. Quando cresci tentei seguir o rumo do meu aprendizado em cursos bem diferente do que eu praticava, salvo a vida ao ar livre. Confesso que não me dei bem e só acertei quando deixei os meninos darem seus primeiros passos de liberdade. Hoje eu e o meu amigo envelhecemos, dizem que somos o farol a iluminar o caminho dos novos chefes. Ledo engano. Ele tem carta branca em diversos grupos e é sempre convidado para atividades especiais e até mesmo para conferencia e palestras. Ele sempre foi competente neste mister e eu nem tanto. Como sou um combatente sem armas contra o sistema de hoje não tenho muitos simpatizantes na alta cúpula e ele ao contrário é muito bem quisto. Alguns gostam de ler o que escrevemos, mas não arredam o pé do que fazem e do que aprenderam no novo caminho chamado pelos pedagogos e novos mestres como “Escotismo Moderno”.

Às vezes penso em guardar minha barraca no almoxarifado da “Lobo” assim como meus “trecos escoteiros” deixando só para alguns poucos meus alfarrábios espalhados por interesse de alguns. Pena que nem um livro tive a honra de fazer e editar. Uma leitora Escoteira amiga que sempre está presente nas minhas publicações foi enfática em dizer que as minhas lembranças do “meu tempo” de escotismo são lindas para ler, mas não para seguir. Acho que ela está certa. Comungo com o meu amigo dos mesmos ideais, diferimos somente na escolha do caminho. O meu já cheguei à conclusão que não levará a lugar nenhum. Há anos escrevendo vejo que não há “nada de novo no front” do escotismo que sonhei! Dificilmente vou desistir. Como meu amigo sei que habitamos o mesmo espaço de Baden-Powell e como disse Kaa somos do mesmo sangue, mas eu não sou Mowgly e ele não é Akelá. Vivemos em alcateias diferentes, quem sabe um de nós do lado de cá do Waingunga e o outro nas montanhas de Seeonee. Breve estaremos pendurando nossos uniformes, e só ficaremos nas lembranças daqueles que se aventuraram a nos seguir. Quem sabe iremos no encontrar devidamente uniformizados em outra estrela que já estão reservadas para nós... Bem longe da terra lá no céu de Lord Baden-Powell.