sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Leis, normas princípios, regras e o escambal!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Leis, normas princípios, regras e o escambal!

... – Muitos passam longe das minhas escritas e não gostam quando reclamo do escotismo atual. Direito ou não vou discordando e achando que o caminho percorrido vai de encontro aos meus pensamentos do Escotismo de BP. Motivação, parceria, trabalho em equipe é o segredo do sucesso. Verdade?

- Ouve uma época que fazia muita continência para os mais velhos, os chefes, os monitores e quando via um dirigente ficava durinho quem nem pau de sebo nas noites de São João. Mas sempre me deram liberdade para escoteirar. Meu livro da vida tem páginas e paginas escoteirando, em uma época de mamãe e papai legal. Mãe! Vô acampar! Posso pegar a ração B? – Vem cá que te ajudo filho! E lá ia eu com a Patrulha, sem pagar taxa, pegando uma estradinha, uma trilha, uma serra montanhosa ou até mesmo um vale florido locais que amava acampar e cantar meu Rataplã. Dizem-me que hoje tudo mudou. A modernidade, a esperteza de “enricar” cobrando para acampar, as diretrizes impostas cerceando a liberdade de ir e vir, o ECA feito pelos homens sem perguntar aos meninos se isto é bom, e os sabidões escoteiros a dizerem para onde o menino sonhador deve ir. Nossa! Eu nunca poderia ser escoteiro hoje. Sêneca bom sujeito dizia que se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre. Se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico. Danado de Sêneca inteligente!

Não quero tirar a liberdade de pensamentos de ninguém ou a forma de curtir e expressar o escotismo como aprendeu e gosta de fazer. São tantos a dizerem que o escotismo mudou sua vida, que agora é outro eu prefiro não comentar. Prefiro deixar o tempo passar e ver se daqui a dez, trinta sessenta anos o pensamento é o mesmo. Eu cá no meu canto do mundo, vejo muitos me procurando para ser meu amigo e quando escrevo o que não gostam, se mandam sem nada dizer. Quá! “Ancê só ficô um muncadinho” chefão? Num gostô? Se manca entonse! Pois é, hoje tô mais prá lá do que prá cá! Não preciso mais prestar continência a ninguém. Não me registro em nenhum lugar. Sou um passarinho que gosta de voar sem rumo e direção. Se me querem bem saio de braço dado, como dois irmãos. Ao contrário, se acham ser importantes demais, se não tem uma visão firme do bom escotismo como deve ser feito, eu digo: - Asta lá vista, Baby! O Barão de Montesquieu era mestre em dizer que liberdade é o direito de fazer tudo que as leis permitem. Mas quá! Que liberdade é essa?

Fui em minha vida escoteira desafiado, amado, desprezado e chacoalhado no meu ego de menino homem sonhador. Dei belas gargalhadas nas minhas andanças escoteiras. Vibrei com a natureza em flor. Em uma jangada de piteira no Rio Paraopeba, dormi o sono do Beija Flor e acordei molhado ao cair da Cachoeira dos Macacos. Bati palmas para o nascimento de um pintassilgo que caiu do seu ninho e eu o voltei para seu lugar. Eram “coisas” descobertas que valiam uma vida escoteira e não tudo programado para ser como os homens dirigentes hoje querem. Danadamente cresci. Matuto do interior fui jogado como Chefe de um campo sênior em um Ajuri qualquer. Vibrei! Gritei! Amei cada dia vivendo com aquela rapaziada. Passado que nunca esqueci. Fizeram-me importante. Chamaram-me Comissário e Adestrador. Quatro tacos chefão! Disse o Escoteiro Chefe. Logo eu um matuto que só sabia escoteirar. Foi então que comecei a entender Mahatma Gandhi ao dizer que quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade de homem obedecer a leis injustas, nenhum tirania pode escravizá-lo.

O menino mineiro escoteiro virou homem. Não mais saia para lobear na selva da Jângal. Sua bicicleta pneu balão deixou de existir, a carretinha que cantava musicas eternas no óleo das rodas de madeira se calaram. Agora era ver homens se digladiando. Cada um tentando ser mais importante. Sempre a dizer que na sua vida escoteira se dizia o meu menino, o meu Monitor, a minha Patrulha a minha tropa e o meu grupo. Tudo meu. Quanto pagou? Ser Insígnia, diretor, presidente, mostrar que tem mil idéias para fazer o escotismo melhor. Melhor? Qual? O meu ou o seu? Eu naquela luta de “criolo doido” recorria quando podia a um emérito pensador: - Apague Chefe as minhas interrogações. Porque estamos tão perto e tão longe? Faça o favor me ajude a acabar com as leis da física, mesmo sendo escoteiro será que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar? Mineirinho “Turrão” cheguei à conclusão que nem tudo que reluz é ouro.
   
Hoje vivo de histórias, lendas contos e até mesmo narrativas e fábulas. Chamam-me de contador de histórias. Uma honra! Mas riem de mim quando digo que fiz escotismo dos “bão”. Melosamente digo que entendo pacas. Já não posso mais correr mundo. Botar uma mochila nas costas, escolher o vento sul e o vento norte para achar o melhor caminho. Vejo valentes dirigentes até hoje usurpando o poder que Baden-Powell não deu. Não sabem abraçar, dizer desculpe, eu não queria ofender! Não sabem ou desconfiam que a Lei do Criador do Escotismo têm tudo para atender o que ele pretendeu dar aos homens e mulheres de boa vontade. Um dia vou “bater as botas” ainda não decidi se vou à escoteira ou natural. Lá no buraco fundo não me olharei no espelho, ele não vai dizer que sou feio, ele não vai dizer nada. Tudo vai se decompor. Se for prú céu eu não sei. Mas de uma coisa eu sei, levo comigo a paz, a fraternidade e o amor. E termino com Allan Kardec: - Todas as leis da natureza são leis divinas, pois que Deus é seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais.

               Um grande e fraterno abraço. Quem sabe um dia todos irão entender que não tem o melhor, não existe o chefão! Afinal somos ou não somos todos irmãos?