Crônicas de um Chefe Escoteiro.
O caminho para o sucesso.
Afinal existe oposição no escotismo?
Alguns dizem
que o escotismo é uma filosofia de vida, outros dizem que é uma diversão e
outros fazem da sua participação um aprendizado para a vida toda. Poucos são
aqueles que discordam e falam o que pensam e se assim o fazem é somente em OF e
afirmam que o escotismo é para colaborar e fazer os jovens caminhar para o
sucesso. Sempre me pautei por criticar nossos dirigentes, claro quando achei que
merecem. Sabemos que entre eles tem muitos cheios de boas ideias, mas que ainda
se aferram no cargo que estão nunca discordando do certo e do errado. Poderia
enumerar aqui centenas deles. Porque não crescemos apesar de que nossos
dirigentes dizem ao contrário. Aceitamos tudo de mão beijada e nunca damos
nossa opinião e quando o fazemos logo tem um para dizer – O Escoteiro é
obediente e disciplinado. Dito isto todos concordam e não dizem mais nada. Isto
é bom para nossos dirigentes. Eles decidem entre eles o que fazer como fazer e
nunca nos perguntam se deveria ser assim ou não.
Se os meus
leitores tiverem paciência vão ver que tenho muitos artigos aqui publicados que
mostram onde estamos errando. Participo de algumas listas aonde por e-mail
vamos discutindo e aprendendo uns com os outros. Ainda nesta semana um amigo
mineiro escreveu respondendo a uma pergunta minha sobre a evasão. Tudo surgiu
porque outro amigo mostrou um estudo da UEB sobre ela. O estudo baseou em
poucos associados e ali nada poderia ser levado em conta. Não representava nada
em relação ao que todos nós estudiosos do escotismo estamos vendo, uma evasão
que prejudica e se ela acontece é porque o escotismo não caminha para o rumo do
programa que um dia BP nos deu. Não vou me alongar e transcrevo abaixo tudo que
um Chefe meu amigo escreveu. Vou manter o nome dele em OF. Sei que já não
participa mais diretamente conosco. Poderia eu mesmo ter escrito em outras
palavras, mas sobre evasão ele atingiu em cheio tudo aquilo que penso. Com a
palavra o meu amigo:
- Às vezes eu acho os participantes do escotismo inocentes. Não há
interesse da UEB em computar e divulgar números da evasão. Percebam quais são
os principais argumentos dos politicamente corretos defendendo nossos lideres:
Eles dizem - "Se está tão ruim porque estamos tendo crescimento? meu
distrito cresceu, meu GE está com fila de espera", como se não houvesse
evasão, como se não faltassem adultos, como se jovens não estivessem largando o
Movimento Escoteiro pelos mais variados motivos. Aliás, estes tipos não dão a
menor importância para a evasão, pois vivem a apontar a porta da rua para quem
está insatisfeito com os rumos da instituição. Mesmo que haja um enorme déficit
de adultos voluntários que, em geral eles sabem que quando deixam o ME levam
mais algumas pessoas consigo. O que acontece é que o adulto voluntário não é
valorizado. A direção trata os adultos como mão de obra barata que deveriam se
sentir demais satisfeitos e privilegiados por serem aceitos como voluntários. A
oposição não é bem vinda, as críticas às patacoadas muito menos (não é
escoteiro apontar os erros que fazem) e, claro, se o sujeito não sair por livre
e espontânea vontade se arruma um processo na comissão de ética com acusações
imbecis e infundadas ou o colocam no ostracismo.
O ME hoje é dividido em dois extremos: os "Profetas do
Caos" e os "Senhores de Xangri-la". Os primeiros conseguem
enxergar que o Movimento Escoteiro é uma ferramenta válida para a formação dos
jovens, acredita nos ideais, mas não fazem vistas grossas às constantes
patacoadas da direção. Os segundos vivem em um mundo perfeito, aonde o
Escotismo brasileiro vai muito bem, onde dirigentes não cometem erros sérios,
onde tudo é justificável e relativo e, claro, pensando e agindo assim, tem um
lugar ao sol junto à direção. Esta é a turma que vive falando de Lei e Promessa
para os que criticam, mas acham que tais mandamentos não se aplicam aos
dirigentes, em especial aqueles de notório Poder dentro da instituição. Então
para esta turma, por exemplo, é muito ético, normal, escoteiro, que um
comissário indique a si mesmo para se manter no cargo, como se entre 80 mil
associados não exista outro capaz de exercê-lo. É a turma que afirma ser a AR
uma instituição democrática, mas quando uma jovem é censurada não mexe uma
palha quanto isto.
O que tenho constatado em conversas com outros escotistas de todo
país é que existe MUITA GENTE descontente com esta turminha que vem há anos se
revezando na direção nacional. O caminho que muitos têm escolhido é deixar o ME
e levar consigo amigos e parentes, pois não acreditam valer a pena ficar dando
murros em ponta de faca tentando mudar o que uma maioria, por interesses
vários, deseja manter. Os que apoiam não o fazem, muitas vezes, por que são a
favor do que está sendo feito e sim com vistas às medalhas, honrarias e cargos.
Como disse
eu deixei o nome do Chefe que escreveu em OF. Melhor assim, ele tem caráter,
tem honra, faz tudo para que o escotismo cresça, mas hoje é considerado
“persona no grata” por muitos dirigentes. Não sei se já recebeu sua IM. Estava
guardada em alguma gaveta de um dirigente. Sinto tristeza nesta hora em ver que
ainda existem pessoas de índole contrária a que se espera de um movimento
fraterno, onde a Lei e a Promessa só vale para os amigos. Ele é mineiro e tudo
que aconteceu com ele enfrentou de cabeça erguida. Quando fui Comissário neste
valoroso Estado sempre me orgulhei das amizades e das transparências que fazíamos
para que todos tivessem oportunidade de dizer sim ou não. Sei que meu estado
tem um contingente muito grande de valorosos escotistas que lutam para que o
movimento seja um exemplo de formação da juventude. Não vou alongar mais, melhor
mesmo é colocar a cabeça no travesseiro e pensar se o escotismo como dizia BP
tem seu Caminho Para o Sucesso garantido. A sede de poder, a vontade de ser
alguém e pertencer à casta dos lideres ainda vão existir por muitos e muitos
anos.