quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Caro Escoteiro, evite a Cascavel, ela tem veneno.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Caro Escoteiro, evite a Cascavel, ela tem veneno.

                                Nossa! Acordei hoje pisando ovos. Já me disseram que devemos tomar cuidado para que a velhice não nos enrugue mais o espírito que o rosto. Pois é, o inteligente se previne de tudo, o idiota faz observações sobre tudo. Hoje me sinto um idiota sentado em dia de chuva num barranco para não cair. Quando envelhecemos costumamos ser eloquente, falador, tagarela e loquaz. Dizem que falamos pelos cotovelos, e olhe andei pensando como usar os cotovelos na verborragia escoteira. Só consegui usar quando jovem na Briga de Galo usava os cotovelos como asas e esporas para defesa e ataque.

                               Ultimamente tenho andado cauteloso com minha maneira de agir falar e pensar. O homem prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz. Afinal vejo por onde leio, por onde piso por onde me meto em aventuras já não tantas aventurosas, mas sempre saudosas do que fiz e não posso mais fazer. Alguém me perguntou: - Chefe, o que você entende de escotismo? Putz Grila! Que pergunta mais besta! Foi como um sopapo no nariz de tamborim. Bem, afinal entendo ou não de escotismo? Tem hora que me confundo. O de ontem ou o de hoje?

                              É por esta e outras que me resguardo de uma resposta batuta. Contento-me em responder, dizer o que penso do escotismo que amo e que tanto amei. Um famoso poeta me disse: - Meu velho amigo é preciso variar, se não tivermos cuidado a vida torna-se rapidamente previsível, monótona e seca. Deu vontade de perguntar para ele: - Amigo qual escotismo? Se for o de hoje não entendo bulhufas. Do passado sou doutor. Chega de fanfarronice e vamos aos finalmente.

                             Francamente não dá às vezes me revolto, fico abespinhado, irritado e até zangado como o que vejo por aí. Outro dia vi uma foto de gente jovem entre 18 a 21 anos que diziam ser Escoteiros do Brasil apareceram com meu querido caqui. Uns de calça comprida outros de curta, camisa aberta ao peito e solta e lenço amarrado nas pontas e os de calça curta sem meião com meinha colorida. Na cabeça chapéus e bonés tirados da imaginação. Bah! Dar os parabéns? Dizer bem vindos a este novo mundo, das criativas modernas do estilista Karl Lagerfed, o cara da Chanel da moda parisiense? As notas dos jornais dizem que faleceu. Criou tanto que os modernos escoteiros do Brasil acharam bom inventar e quem sabe ficarem famoso como ele na nova filosofia pedagógica que chamam de novo Escotismo e um amigo diz que é neo-escotismo.

                             Mas logo alguém vai dizer: - Chefe se entende de escotismo sabe que tem um POR e lá diz que se pode usar e... Abusar! Deus meu! Um ou dois que se julgam dono do poder escrevem as besteiras que querem e fazem do bom nome do uniforme caqui, que usei por anos, que me orgulhei por onde passei para lambuzar de invenções tiradas da burra imaginação? Já chega a tal vestimenta que mudou para vestuário que breve deve mudar também, onde se usa a mais perfeita apresentação démodé de todos os tempos! Calma... Sei que tem gente que gosta. Há gosto para tudo! (cala-te boca!).

                             Devo me calar? Os defensores dos direitos autorais de corneta na mão gritam aos quatro ventos que isto é o melhor escotismo, que isto é a melhor maneira de agir e fazer que o mundo seja outro, que estamos vivendo tempos modernos e eu um pobre diabo do passado não posso me exprimir? Caramba carambola, isto é conversa mole para boi dormir. Há dias ando engasgado com tantas coisas que estou vendo. Briga interna no CAN, facilidades para alguns protegidos viajarem a custa da tal EB ao estrangeiro. E tudo fica no bem bão? Chefe, me gritam, vai haver eleições! Melhor é dar risada. Kkkkkkk.

                            Me seco na cadeira de praia na varanda da rua onde moro. Fecho os olhos e penso: - Tenha cuidado Chefe com a tristeza. É um vício. Cuide bem de você, não sofra sem necessidades. Cacilda é verdade, o que ganho com isso em me revoltar com o que acreditei ser um ideal escoteiro? Saio andando com minha bengala da arena do circo. Cansei de assistir a dança da chuva e as piadas dos palhaços. Sei que minhas passadas serão curtas, logo, logo estarei bengalando em outras plagas do universo e então os pedagogos, os modernistas, os doutores irão aplaudir.

                            Desta vez não vou pedir desculpas, afinal sou um velho esquizofrênico, que muitos dizem que sofro de alucinações, delírios incoerência mental e etc. Agora será que eles têm razão quando me perguntam de eu entendo de escotismo? Porque não perguntar aos candidatos aos eleitos? Afinal será que eles já viram a lua nascer em uma montanha qualquer? Será que já dormiram sob as estrelas em noite estrelada? Será que reconhecem a estrela Dalva ou a constelação de Orion? Será que dominam o passo escoteiro ou o passo duplo, sabem fazer nós de fateixa e balso pelo seio?

                          Chefe! Isto é bobagem, para ser dirigente não precisa...  E eu então na minha timidez idiota vou tocar minha harmônica que é um remedido e tanto para as tristezas. “O meu chapéu tem três bicos, tem três bicos o meu chapéu, se não tivesse três bicos não seria o meu chapéu”! E o velho gagá escoteiro vai pela estrada afora pensando de que estirpe é feita hoje a nossa liderança escoteira. Ainda bem que não estarei aqui para ver o que aquele cego da EB fez: Levou sua trupe a acreditar dizendo maravilhas do novo escotismo e “entonse” caíram todos no buraco.