sábado, 13 de abril de 2019

Conversa a pé do fogo. Um acampamento tradicional.




Conversa a pé do fogo.
Um acampamento tradicional.

Prólogo: - Ele com a sua sabedoria, encantou as florestas com os pássaros para entoar em nossos ouvidos com suas melodias; vislumbrou as montanhas com rios e cachoeiras para encantar nossos olhos; acendeu o sol com a sua luz de energia para regenerar a vida; soprou a brisa para acalentar a luz do sol. E a natureza respondeu produzindo alimentos. Deus!

                           Ele me perguntou: - Vocês vão acampar? Vamos sim, desta vez vamos longe, doze quilômetros a pé. – A pé? Mas como? Você não mora mais no interior, nossa cidade é grande. Dei risadas. E daí? Está tudo preparado – Afinal fizemos duas excursões e um acampamento só de monitores no mês passado em um fim de semana para nos adestrar. Eles mesmos prepararam tudo que precisamos levar. E olhe tudo vai nas costas, desta vez sem ônibus alugado e sem pais para ajudar no transporte. Ele pensou e perguntou novamente: - Seria isto possível? Sorri para ele e disse que sim. – Os monitores fizeram uma lista tríplice para acampamentos curtos, médios e longos. Chamam de ração A, B e C. A ração A é para uma atividade de um dia, a ração B para dois dias e a C para um acampamento de três dias ou mais. Assim fica mais fácil. Eles mesmos fizeram o cardápio, calcularam por pessoa e cada um dos participantes leva sua parte da ração. Tem aquelas que três levam arroz, tem aquela que um só leva. Eles acharam melhor um cardápio simples onde com uma panela, um caldeirão e uma frigideira eles fazem tudo. Achei interessante.

                      Conta-me mais. E como é levada a intendência e o material de patrulha? - Fácil ele disse. Também dividida por cada um da patrulha. Agora usamos o lampião a querosene. Ele vai vazio e bem embalado em um recipiente a querosene. As barracas são pequenas e simples de carregar com a mão ou prender na mochila. Assim gastamos o mínimo possivel. Hoje a taxa foi de dez reais. Isto paga o ônibus ida e volta. Ele vai nos levar até o entroncamento da estrada de São Mateus. Lá vamos andar uns doze quilômetros e chegaremos ao sítio do Leopardo. Fomos lá antes eu e os monitores. O proprietário é gente boa. Disse que o local estava às ordens para quando quiséssemos acampar. – Mas será que a tropa aguenta? Claro que sim, fizemos duas excursões. Uma delas andamos sete quilômetros e a outra foi noturna. Mais nove quilômetros à noite. Claro lá pelas duas da madrugada em uma clareira jogamos as lonas e dormimos sob as estrelas. Cada um levou seu lanche. E sabe o melhor? Neste acampamento só eu levarei o celular para uma emergência. Será mesmo um acampamento mateiro.

                       Ele achou interessante. E o programa do acampamento? – Este vai ser um programa especial. Foram os monitores ouvindo suas patrulhas quem prepararam tudo. Vamos ter sim o normal de um acampamento de três dias. Levantar as seis, um pouco de física, café as oito e inspeção as nove. Lembre-se vamos acampar nos moldes de Giwell. Cada patrulha é autônoma. Terá seu campo de patrulha distante uma das outras por um mínimo de 60 metros. Desta vez até eu e o Chefe Leão teremos nosso campo de chefia e vamos levar nossa matutagem e nosso material. Nada de comer nas patrulhas. Elas só irão ter nossa presença se formos convidados.

                     – Ele pensou se isso iria dar certo. Ele conhecia uma tropa acostumada a acampar com pais levando tudo, e inclusive alguns lanches eles faziam. Continuou ouvindo o que explicava: - Teremos um programa sem muitos horários. Muitos reclamaram da falta de tempo livre para eles fazerem suas construções no campo de patrulha. Chamamos isso de ATL – Atividade tempo livre. Decidimos dar a eles liberdade na sua programação de campo sem interferir. Afinal não viemos aqui para aprender a fazer fazendo? Nada de chefes sapeando e explicando como fazer. As patrulhas irão aprender a seguir pistas de animais, tirar fotos de um animal ou pássaro. Será um jogo vence a que conseguir a melhor foto. Eles irão pescar e no cardápio está incluída uma fritada de peixes frescos. Risos.

                     - E se chover? Se chover estaremos prontos. Nada de serviço de meteorologia pelo rádio. Eles irão aprender previsão de tempo seja na mata ou no campo. Pelas formigas, pelos pássaros, e claro os vagalumes noturnos irão ensinar se vai fazer frio, se o orvalho vai ser forte, irão descobrir ninhos para ver de onde vem à chuva, Prestarão atenção ao vento, sua velocidade, e sabem de cor muitas quadrinhas de previsão de tempo – Se tens vento e depois água deixe andar que não faz mágoa, mas se tem água e depois vento põe-te em guarda e toma tento. Vermelho ao sol por, delicia do pastor, orvalho de madrugada faz cantar a passarada, são tantas! Mas se chover sem parar vamos aprender a fazer um pequeno celeiro só nosso para abrigar a todos durante o dia. – Já treinamos isto com bambus e folhas de bananeira. Vocês tem coragem eim? – Não é coragem, isto para nós é escotismo mateiro. Afinal para que aprender nó na sede sem usar no campo?  

                     - Teremos boa parte do tempo dedicado a transmissões à distância. Morse à noite e Semáforos ao dia. Teremos um grande jogo cujas instruções serão ditadas por sinais de fumaça a moda índia! - Caramba! Estou gostando do seu acampamento. Um dia vou fazer o mesmo na minha tropa. – Respondi para ele: - Conte comigo, darei todas as coordenadas. Além do fogo de Conselho todas as noites as patrulhas terão tempo livre para uma conversa ao pé do fogo, daquelas gostosas com batatas e bananas verdes assadas. Não vai faltar um bule de café na brasa. Levo uma penca de histórias para contar. Uma Escoteira tem uma flauta que toca divinamente. Vamos aprender com as estrelas e a posição das constelações. Ensinei aos monitores tudo sobre orientação noturna. Faremos um fogo de Conselho à moda dos exploradores. Sem animador de fogo, cada um senta onde quiser. A patrulha de serviço irá acender e manter o fogo todo o tempo. As patrulhas terão liberdade de apresentar canções, esquetes e histórias. As palmas serão criadas na hora. As canções surgirão espontaneamente. Ah! Esqueci-me de dizer, quatro Escoteiros estão treinando há meses como gaitistas. Vai ser um festival de gaitas. Risos.

                    - Alguns me pediram para saltar o fogo e receber o nome de guerra. Todos retirados dos índios brasileiros. Decidiram que só os mais antigos terão esse direito. Programa? Nada escrito, você já viu como vai ser. Cada Monitor se encarregará de uma parte. Esqueci-me de dizer, vamos fazer uma ponte pênsil em um córrego próximo. Estamos programando um jogo nela de rachar! Risos. As bolas de pano já estão prontas para a lança. Mas não vou contar – O Chefe pensou consigo: - Vai ser um acampamento inesquecível. - Eu sabia que nem tudo daria certo, mas quem não aprende a fazer fazendo não é Escoteiro não é verdade?