terça-feira, 17 de março de 2015

O trabuco do pistoleiro Calango. (para divertir)



Conversa ao pé do fogo.
O trabuco do pistoleiro Calango.
(para divertir)

                 Não sei de onde o danado apareceu. Sorriu para mim com seu 45 cano longo apontado para minha testa. Eu sabia que seu sorriso era enganação. Calango era um pistoleiro. Matava por qualquer tostão. Mas me matar? Eu não fiz nada, era de boa paz, sei que tinha a língua grande e afiada e escrevia o que não devia dos “homes” lá de cima, assim diziam, mas não queria mal a ninguém. Levantei as mãos! – Calango porque quer me matar? Sou de paz meu amigo, sou Escoteiro, agora um Velho Escoteiro, dizem que sou chato e implicante, mas não me mate agora. Deixe pelo menos eu dar um abraço na Célia antes que me mande para minha última morada nas estrelas! - Cale a boca seu merda! Você fala muito, escreve o que não deve, ele disse. Chega desta palhaçada de escrever contra a nossa querida UEB. Vou mandar você para o inferno e lá irá prestar contas de sua esperteza ao capeta. Diga a ele o que aprontou aqui na terra. Quer uma bala no bucho? No trazeiro? Na boca? Ou no coração? – Deus do céu que me proteja. – Calango, não quero bala nenhuma a não ser de hortelã ou puxa-puxa de chocolate que adoro!

                Calango estava possesso. Foi menino como eu. Nunca usou arma nenhuma e quando brigava era de socos. Um dia tentou ser Escoteiro e Galo Seco Guia da Tropa falou para o Chefe Farofa: - Melhor não chefe, este menino vai ser um ladrão ordinário e nem Baden-Powell pode dar jeito. O Chefe Farofa sabia que quando Galo Seco falava era para levar a sério. Sei não, quem sabe se ele tivesse sido Escoteiro eu não estaria ali agora todo mijado e quase borrando as calças? Calango prometeu dar uma coça no Galo Seco. Não conseguiu, pois Galo Seco era macho prá xuxu. Quem levou uma coça foi Calango. Calango descontou em muitos Escoteiros raquíticos eu mesmo apanhei duas vezes. Passamos a andar sempre em dupla. Não podíamos facilitar. O tempo passou, eu cresci, fiquei bobo e envelheci. Mal conseguia andar e falar e o filho da mãe ali na minha frente dizendo que ia me matar pode?

                          Ajoelhei e disse – Calango me deixa rezar. Quero ir para o céu sorrindo e em paz com o Senhor. Orar faz bem, por favor, Calango! – Ele me olhou, seus olhos estavam vermelhos de ódio. Achei que o demônio o incorporou. – Me jogou uma sacola – O que tem na sacola Calango? A vestimenta Escoteira seu maldito. Vista e vou deixar você viver mais alguns anos. – Putz grila! Vestir aquele troço? – Calango camisa para fora da calça ou dentro? Ele me fuzilou com os olhos. De meinha branca ou azul? Ele vomitou de raiva.  Calça comprida ou curta? Ele apontou o trabuco para mim. Lenço amarrado nas pontas ou puxado pelo arganéu? Chapéu australiano ou texano? Vá a merda ele gritou. Vista logo antes que lhe meta uma bala naquele lugar! – Bah! Ia doer prá xuxu. Calango! Falei atire nos meus olhos! Estou com catarata se uma bala entrar virarei defunto com barata. Kkkk. Levei um chute no traseiro. – Vista logo seu merdinha. A UEB me disse que se eu mandar uma foto sua com a vestimenta e publicar nas redes sociais, eu posso deixar você viver mais dois anos. – Só dois anos Calango? E agradeça a benevolência dos presidentes do CAN e do DEN, são gente boa. Não regatearam quando pedi cem mil reais para mandar você para o inferno. Olhe que eles gastam muito menos para processar esta cambada tradicionalista que se juntam por aí e que dizem ser Escoteiros!

                  Olhei a vestimenta. Ardeu como pimenta! Vestir este troço? Não disse um dia que nem morto iria usar? Tirar meu caquezinho querido e colocar esta coisa escura no corpo? Coisa feia que até o lenço Escoteiro e os distintivos reclamam? – Olhei para Calango, tirei meu lenço de IM que ganhei em 1966, minha camisa caqui e só de calças curtas e meião disse: - Atire seu merda! Prefiro morrer a vestir este troço! Calango não se fez de rogado. Engatilhou e atirou. Tiro certeiro. Abriu uma brecha em minha testa. Morri na hora com meu caqui querido. Acordei com o Anjo Gabriel e Baden-Powell lutando com dois capetas e um demônio. Queriam me levar para o céu e os outros para o inferno. – Calma! Calma eu disse. Se a capetada e o demônio vestir a vestimenta Escoteira irei com eles sem reclamar e me queimar nas profundezas do inferno! O Demônio e a capetada me olharam sorriram e disseram: - Nem morto, nem morto Velho Escoteiro de uma figa!


                    Acordei aos berros com a Celia me chamando. Acorde Osvaldo, acorde! Pare de gritar. – Perguntei a ela: - Cadê o Calango? Calango? Não conheço e nunca ouvi falar. Ele existe? Sorri, a respiração voltou ao normal. Corri até o Guarda Roupa, meu caqui estava lá limpinho e bem passado. Vesti com orgulho e fui dormir de novo, desta vez uniformizado e abraçado ao meu chapéu de três bicos. Sonhei com coqueiros, montanhas picos enormes, vales inimagináveis e minha patrulha ao meu lado cantando o Rataplã!