Conversa
ao pé do fogo.
Qual
líder eu devo ser ou seguir?
Uma vez li que não se nasce
líder, mas que bem treinado podemos aprender e até agir como um líder. Se bem
treinado se torna um hábito de comportamento. Sei que se levam anos para
preparar um líder. Mas existem aqueles que são natos. Eles têm o dom da
palavra, da escrita e quando discursam levam consigo multidões que acreditam em
suas ideias. Afinal ser um líder não é fácil. Sei que nem todos precisam ser
bons lideres para serem bons chefes. Eu conheci muitos que se saiam
estupendamente bem nas suas funções. Gente simples, humilde cheio de amor para
dar. Sei de chefes de lobinhos que formaram jovens e hoje se orgulham de seu
trabalho. Sei de chefes Escoteiros e seniores que conduziam seus rapazes e
moças como sempre pensou Baden-Powell ao criar as bases do escotismo. Eu sei
que o que estraga o escotismo é o tal chefão. Aquele que só ele faz, só ele
sabe. Esqueceu que ali estão meninos e meninas que precisam dele não para
ensinar a andar, mas ficar ao seu lado enquanto aprendem a andar. Estes chefões
estão localizados em toda a hierarquia Escoteira.
Muitos já falaram e
escreveram sobre este tema. Austeridade a gente deve ter, mas o sorriso tem de
vir em dobro. Tornar-se amigo, um irmão mais Velho nem sempre é fácil quando
ainda não sabemos lidar com os jovens e mesmo tendo filhos achamos que aqueles
que orientamos também são iguais aos nossos. Devemos lembrar que não somos uma
fábrica de Escoteiros padrões. Não devemos fazer deles nosso espelho, pois nem
sempre ele é o que se deseja. O que devemos fazer é progredir junto com eles.
Reclamar que eles não querem que eles fingem gostar, mas não gostam que dizem e
prometem que irão participar com vontade e alegria nós sabemos que a culpa é de
um somente. – A culpa é nossa. Nós os chefes. Ninguém precisa de super
Escoteiros. Precisamos formar caráter e homens honrados. Ensiná-los a achar o
seu caminho para o sucesso na sua vida de adulto.
Temos tudo para alcançar o
sucesso na formação dos jovens. Ainda existem em nosso meio boa parte que
acreditam na centralização Escoteira. Acampamentos Nacionais, Regionais,
Jamborees e atividades em seu município são
muito bons, mas quando muito frequentes são desastrosos. Temos que dar aos
chefes Escoteiros e de Alcateia a maior oportunidade possível para trabalhar
com sua tropa e Alcateia. Devemos deixar que eles possam infundir-lhes os bons
princípios e não juntar os rapazes e moças em grandes massas para um grande
espetáculo. É comum termos um número de atividades organizadas pelo distrito
região ou mesmo a nacional que tira sem perceber o resto do tempo para o Chefe
trabalhar com suas patrulhas e alcatéias.
Baden-Powell nos deixou
um método simples, e ele mesmo proclamava com orgulho e alegria que o número de
Escoteiros no mundo que a cada ano aumentava foi devido justamente a sua
simplicidade e ao prazer dos rapazes em participar. Não nos enganemos que
sabemos o que é bom para eles. Podemos sim ter noções de civilidade e formação
de jovens, mas o escotismo não pode fugir do seu método e podemos até adaptar a
nova realidade moderna do mundo, mas sem tocar no seu principal – Fazer com que
os rapazes e moças seguirem com entusiasmo e para isto nós temos que aprender a
manejar e guiar os rapazes dentro da simplicidade que caracteriza o movimento
Escoteiro e no entusiasmo que ele sempre inspirou. Não esqueçamos que nos primórdios
do escotismo os jovens se organizavam, faziam seus acampamentos, e atividades
nas florestas londrinas. E sem Chefe!
Infelizmente estamos sempre
dizendo que sabemos onde pisamos. Não canso de ver chefes e dirigentes a
dizerem que sabem o que os jovens querem. Muitos estão a decidir por ele sem
ouvi-lo, sem saber se este é o caminho que ele escolheu. As mudanças havidas,
as alterações e estas mesmo não dando os resultados esperados continuam. Aquela
velha premissa que o importante são os resultados não está sendo observada por
muitos. A cada dia estamos vendo os rapazes e moças se afastarem do movimento.
Nossos lideres estão a liderar um deserto de deserções. Deviam lembrar-se da
lei do lobinho onde se diz que devemos abrir os olhos e os ouvidos. Precisamos
dar uma volta ao passado não para viver no presente como era antes. Mas através
do tempo saber onde estamos errando. Se aquele escotismo do campo, das boas
ações, da patrulhas e matilhas completas a correr pelos campos em busca de
aventuras e da amizade entre eles e os chefes deram certo, porque não repetir?
Repetir o Velho chavão
daquele Chefe de campo talvez não resolve. Ainda temos uma austeridade
demasiada no trato com os jovens. Queremos nos fazer como um movimento
respeitável, mas procuramos rapazes e moças de boa índole sem ver que isto se
consegue no programa Escoteiro. Um líder do passado disse e eu concordo que os
únicos capazes e possíveis de pôr o escotismo a perder são os próprios chefes e
dirigentes. Quando nos tornamos arrogantes, complacentes e a nos fazermos
passar por demasiado auto-suficientes, então – e apenas com essas coisas
poderemos arruinar o Movimento Escoteiro. Não adianta fingir que estamos no
caminho certo. Podemos até chegar aos cem mil e quem sabe nos duzentos mil, mas
não estamos produzindo bons Escoteiros, com boas lembranças para quando se
tornarem homens ou mulheres na comunidade ou no seu trabalho profissional pelo
menos dizerem: Eu fui Escoteiro, me orgulho do que aprendi ali com eles. E
então e só então teremos o valor que merecemos pela sociedade brasileira.
Nunca esqueçamos que o escotismo
nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoram
deste então, e se por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão
pobres como naquela época, é deles o escotismo que BP idealizou. São eles que
realmente necessitam do escotismo. Não é o que estamos vendo agora. Esta
mentalidade de ser rico para fazer escotismo pode nos levar a um caminho sem
volta. Será que é isto mesmo que estamos fazendo e pensando?
Obs. Muitos dos temas aqui colocados
são baseados no artigo de
John Thurman – Os sete perigos de agosto de 1957 (Foi o chefe de campo de Giwell Park).
John Thurman – Os sete perigos de agosto de 1957 (Foi o chefe de campo de Giwell Park).