A boa ação escoteira.
Por Lord Baden Powell
Prefácio.
O Centenário do Escotismo comemora-se cem anos após o Acampamento
Experimental de 1907, mas, quanto ao início das ideias de Baden-Powell para a
juventude, que terão estado na origem do Escotismo, torna-se mais difícil uma
localização no tempo. O Cerco de Mafeking fez de B-P um herói nacional,
conhecido além-fronteiras e venerado no Império Britânico - tanto por adultos,
como por jovens. Por essa altura, coexistiam na Inglaterra várias associações e
clubes dedicadas à formação dos jovens, como a YMCA (Young Mens. Christian
Association) e a Boys’ Brigade. Um desses clubes escreveu a B-P, que se
encontrava a braços com a formação da Polícia Sul Africana, pedindo-lhe que
enviasse uma mensagem para os seus rapazes. B-P respondeu a 21 de Julho
de 1901, a partir de Zuurfontein, no Transvaal (África do Sul), com
uma mensagem alusiva a um dos aspectos que mais contribuiu para imortalizar a
imagem do escoteiro: a Boa Ação!
Meus caros rapazes, (por Baden-Powell).
O regulamento da vossa associação obriga-vos
a manterem-se longe das bebidas, do tabaco, do jogo ilícito, do uso dos
palavrões, etc. Não há nada melhor do que seguir essas regras e admiro-vos por
as seguirem. Outros rapazes, que não têm a coragem de se juntar a vocês nem de
se manterem fiéis a essas regras, provavelmente ganharão maus hábitos dos quais
nunca se conseguirão libertar e, em muitos casos, as suas vidas tornar-se-ão
histórias de miséria e fracasso: enquanto que vocês, saindo do vosso clube
sóbrios e com a mente limpa, provavelmente sair-se-ão bem na vida, quando
crescerem – se continuarem a aderir a essas regras.
Mas lembrem-se disto: Quando os soldados defendem um local, não ficam sentados, mas lançam contra-ataques para fazer debandar o inimigo. Por isso, não devem contentar-se em ficar sentados para se defenderem dos maus hábitos, mas devem também ser ativos para fazer o bem. Por “fazer o bem” quero dizer tornarem-se úteis e fazerem pequenos gestos de bondade a outras pessoas – sejam amigos ou desconhecidos. Não é algo difícil, e a melhor maneira de concretizá-lo é decidirem fazer pelo menos uma “boa ação” a alguém todos os dias, ganhando, assim, o hábito de fazerem sempre boas ações. Não importa o quão pequena possa ser a “boa ação” – nem que seja apenas ajudar uma senhora de idade a atravessar a rua, ou dizer uma palavra amiga em favor de alguém que foi difamado. O importante é fazer algo.
Quando um homem está a morrer, não está com
tanto medo de morrer como de sentir que podia ter feito melhor uso do seu tempo
enquanto viveu. O homem que fez “boas ações” toda a sua vida não tem nada a
temer quando estiver a morrer. Se esse
homem sentir que fez algo de bom aos seus semelhantes sentir-se-á ainda mais
feliz do que aquele que apenas se manteve afastado dos maus hábitos. Por isso,
sugiro a cada um de vós, que leem esta carta, que devem, não só afastar-se da
bebida e dos maus caminhos que lhe estão associados, mas também tentar. “Fazer
boas ações às pessoas à vossa volta”. “Podem começar já hoje e, se
quiserem escrever e contar-me sobre a vossa primeira “boa ação”, terei todo o
gosto em conhecê-la.”.