Histórias da
vida real.
Pedrão Boca
de Ouro.
Baseado em uma
história verídica.
Ah! Tempos encantadores. São
histórias que vivemos e que hoje poucos poderão absorver situações reais de um
passado tão gostoso de reviver. Hoje na minha caminhada matinal me lembrei de
Pedrão Boca de Ouro. Logo ele. Deixou saudades com sua boca cheia de dentes de
ouro. Boca de Ouro? Bem voltemos um pouco no tempo. Uns cinquenta ou mais anos.
Década de 60. Quieto no meu grupo na capital o Akelá insistiu para ir ao um
ARP. Acampamento Regional de Patrulhas. – Chefe, vou ser o responsável por um
sub-campo sênior. Faço questão da sua presença. Na ultima hora ele não foi. A
contra gosto o Distrital me perguntou se podia assumir. Não sabia, mas o
Escoteiro Chefe estava lá. Eu não conhecia o figurão. Época boa. Época de
inocência escoteira. Época de sorrisos de sinceridade e de grandes amigos.
Final do encontro e uma ovação de todos os participantes. Cerca de 650 por aí.
Os seniores participavam com 25 patrulhas de vários estados brasileiros. Como
fiz amizade com eles, Deus do céu! Gente indo embora e os seniores me
carregando pelo campo. Caramba! O marmanjão começou a chorar e não parava. Os
dirigentes do ARP não acreditavam no que viam.
Dois meses depois um telegrama. Era
do Escoteiro Chefe. Dizia -
Chego sábado pela manhã. Quer almoçar comigo? Porque não? O que assustou foi o convite. Precisamos de você para Comissário do Estado. Logo eu? Bocó, matuto do interior? Aceitei mesmo sabendo que tinha muitos outros melhores que eu e o pior, um pobretão que vivia de pequeno salário. O Escoteiro Chefe riu quando disse isto. As histórias do meu tempo de regional se multiplicaram. Se fosse contar todas daria um livro. Mas a do Pedrão nunca esqueci. – Chefe Vado, dizia o Escoteiro Chefe, precisamos melhorar a apresentação dos chefes, eles precisam ver que são o espelho da garotada e da comunidade onde fazem escotismo. Interessante, hoje quando vejo fotos de alguns chefes que existem por aí lembro que muitas vezes eu prefiro os do passado. Desculpe, mas eram mais apresentáveis. Continuemos a historia: – Você terá uma missão difícil. Mudar a aparência e escolher pessoas que os outros possam acreditar que o escotismo pode ajudar. – Que aparência chefão? – fácil, Chefe, é só ver se você gosta do quer está vendo. Se concentre nos banguelos, caolhos, os que não tomam banhos, que vestem mal e aí por diante – Perguntei: - Tem gente assim? Ele respondeu: - Claro que tem!
Chego sábado pela manhã. Quer almoçar comigo? Porque não? O que assustou foi o convite. Precisamos de você para Comissário do Estado. Logo eu? Bocó, matuto do interior? Aceitei mesmo sabendo que tinha muitos outros melhores que eu e o pior, um pobretão que vivia de pequeno salário. O Escoteiro Chefe riu quando disse isto. As histórias do meu tempo de regional se multiplicaram. Se fosse contar todas daria um livro. Mas a do Pedrão nunca esqueci. – Chefe Vado, dizia o Escoteiro Chefe, precisamos melhorar a apresentação dos chefes, eles precisam ver que são o espelho da garotada e da comunidade onde fazem escotismo. Interessante, hoje quando vejo fotos de alguns chefes que existem por aí lembro que muitas vezes eu prefiro os do passado. Desculpe, mas eram mais apresentáveis. Continuemos a historia: – Você terá uma missão difícil. Mudar a aparência e escolher pessoas que os outros possam acreditar que o escotismo pode ajudar. – Que aparência chefão? – fácil, Chefe, é só ver se você gosta do quer está vendo. Se concentre nos banguelos, caolhos, os que não tomam banhos, que vestem mal e aí por diante – Perguntei: - Tem gente assim? Ele respondeu: - Claro que tem!
Confesso que aquela conversa não foi
do meu agrado. Mas no fundo ele tinha razão. O Chefe quando não se apresenta
adequadamente deixa uma má impressão que pode levar a uma interpretação
malévola do movimento Escoteiro. Encontrei dezenas de chefes que conversando
como amigo pude sentir mudanças. Mas era uma tarefa árdua. Não vou dizer a
cidade, mas fui convidado a visitar um Grupo Escoteiro antigo. Muito antigo. Na
rodoviária uma multidão de jovens. Olhe que estavam nos “trinques”, contei por
baixo uns trezentos. Que estrutura eles tinham para ter tantos? Desci do ônibus
e um homenzarrão de uns 120 quilos me abraçou e praticamente me elevou pelos
ares. Abriu a enorme bocarra e quando vi aquilo tremi! Se for mordido já era
pensei. Desceu-me suavemente até o chão e juntou os cascos no melhor estilo
militar – Sempre Alerta Chefe! Sou o Pedrão, o Boca de ouro! E o danado depois
ajoelhou e beijou minhas mãos. Patativa! Fui pego de surpresa. Logo veio o
prefeito e outras autoridades. Falar o que?
Fiquei dois dias lá.
Pedrão Boca de Ouro era querido, muito querido. A cidade em peso quando passava
gritava: - Valeu Chefe Pedrão, só você para trazer a nata do escotismo em nossa
cidade. Eu calado, não sabia o que dizer. O cara parecia àqueles lutadores de
Boxe peso pesados. Mas quer saber? Nunca vi em minha vida alguém como Pedrão
Boca de Ouro. Uma alma linda, cheia de amor, fazia um trabalho estupendo no
Grupo Escoteiro. Na cidade era o Juiz de Menores, ainda ajudava em uma casa de
menores infratores e todos lá o adoravam. Assustei com os trezentos, mas ele
tinha mais de quarenta chefes, todos amigos e tinham por Pedrão uma amizade
impar. As reuniões eram perfeitas e olhe ninguém tinha curso. A técnica de
campo era perfeita. A meninada o adorava e também aos chefes de sessões. Quatro
alcateias com mais de cinco chefes em cada uma. Assisti a abertura de uma
reunião e fiquei pasmado. Nunca vi uma ferradura tripla. Questão de segundos
para se formarem. A disciplina era linda sem ser gritada ou imposta.
Voltei àquela cidade diversas vezes.
Quando fizeram o primeiro registro, pois antes não era exigido, a foto do
Pedrão sorrindo era chamativa. (naquela época a região pedia fotos 3/4) e
quando o Escoteiro Chefe viu, riu e perguntou: - Quem é ele? Pedrão Boca de
Ouro respondi. – Mas isto é bom? – Mais que bom, se tivéssemos cem Pedrões como
ele no escotismo brasileiro, seriamos outro movimento. – Bem você quem sabe,
mas se fosse eu não o registraria e nem o deixava participar – Sorri para mim
mesmo e disse – Porque não vai lá comigo? O Escoteiro Chefe não disse nada. No
primeiro Conselho Regional que organizei (hoje se chama Assembleia) fiz questão
de que o Pedrão viesse. Sabia que o Escoteiro Chefe estaria presente com sua
turma. – O apresentei normalmente: – Doutor Escoteiro Chefe, honrado em
conhecê-lo. Quero apresentar o Doutor Marciano, Presidente do Grupo e Juiz de
Direito, a Doutora Marli Akelá e Promotora de Justiça, o meu compadre
Anastácio, Chefe da tropa sênior e prefeito da cidade, O Bispo Lourenço nosso
eminente mentor espiritual. E assim ele foi apresentando um por um. O escoteiro
Chefe ficou boquiaberto.
Pedrão Boca de Ouro. Onde deve
andar? Éramos mais ou menos da mesma idade. Será que está vivo ainda? Valeu
Pedrão, hoje você estaria fora do meio. Eu sei. Nunca aceitaria estes chapéus
esquisitos, estes uniformes que não uniformizam esta baladeira de sapatos
coloridos. Sinto saudades daquele Escoteiro Chefe, que sabia que nosso
movimento precisa de gente séria, bem apresentável, que possam dizer o que
Pedrão dizia sempre: - Escotismo sem o apoio das autoridades e da comunidade
não tem como crescer. Não sei quantos dentes de ouro ele tinha, mas sei que o
coração conquistava multidões. Eu mesmo fui conquistado. Se estiver me lendo
Pedrão, saiba que guardo de você eternas saudades. E aceite meu Sempre Alerta,
pois sei que você como eu nunca diria SAPS. Afinal você nunca pensou que isto
um dia existiria não? Risos. É Pedrão, agora é tudo novo. O modernismo está aí.
Abraços Pedrão Boca de Ouro. Sei que se ainda estiver vivo estará sorrindo
nestas plagas montanhosas das Minas Gerais. “Liberta quae sera tamen”!