Conversa ao
pé do fogo.
Uma viagem através
do tempo.
Eita modernidade danada.
Escotismo hoje é coceira na cuca para inventar o que fazer e não fazer. Alguns Chefes
que sabem mandar e não sabem ouvir. Lideres que são donos da verdade inventando
programas e outros afins sem dar satisfações a ninguém. Tem aqueles que sustentam
que o passado não é como hoje. Garantem que as histórias dos velhos escoteiros
ficaram na imaginação e nas histórias e que hoje não mais tem lugar. Têm
marginais, tem perigos em cada curva, que deixam pais de orelha em pé. Muitos
preocupados com seus filhos vão juntos para ver se tudo corre bem. E na cidade?
Ir para uma balada não tem perigo? Andar pela rua não pode ser atropelado? Na
escola não tem bullying? Não tem drogas? Onde podem esconder seus filhos dos
perigos? Acampar? Nem pensar se for só se tiver toda segurança possivel. Lugar
sem animais peçonhentos (até hoje nunca ouvi falar de escoteiros mordidos por
cobra). E a parafernália de documentos para sair por aí? Isto para mim não é
escotismo. O que fazem hoje é um simulacro do que foi e já não é.
Viagem comigo. Entrem nesta
pequena nuvem que o vento vai nos transportar para o passado. Perigos? Vai
haver sim, afinal um dia os filhos irão viver suas vidas e os pais continuaram
preocupados. É no escotismo que vamos ensinar como ser dono da própria vida,
como saltar o obstáculo e saber onde está o caminho a evitar. Se não
acreditarmos em nossos filhos e se nos tornamos babá deles em todos os lugares
que vão então melhor colocá-los em outra organização. Até mesmo os acampamentos
de férias não são estas maravilhas que contam. Mas vamos deixar o vento nos
levar, vamos até a Cachoeira do Macaco, incrivelmente bela! Chegamos lá por
acaso na mata do Tenente. Chamava-se Tenente porque uma turma do Tiro de Guerra
se perdeu lá por uma semana. Era bom demais seu ribombar, a névoa que subia aos
céus e cobrir a mata como se fosse um manto branco para ninguém ver. Na época
da piracema ver os peixes saltitando a subir as pequenas escarpas de águas
corredeiras para desovar rio acima onde não seriam alcançados.
Vamos viajar pelas estradas e
caminhos muitas vezes abertos com o facão, com as mãos, e quando a chuva cobria
o céu de nuvens negras, parava-se em qualquer lugar. Uma lona jogada sobre a
cabeça. Ali debaixo daquela cobertura contavam-se causos, ria-se, cantava-se
até a chuva passar e depois pé na taboa. Deixe a nuvem nos levar até o Córrego
das Antas. Belo lugar para acampar. Quantas vezes eu acampei ali? Dezenas. Ali
fiz minha primeira mesa, meu primeiro almoço, um fogão suspenso de tirar o
folego. Ali eu construí com ajuda da patrulha o mais belo Pórtico que fiz em
minha vida. Seis metros no mínimo de altura e era bom demais toda patrulha lá
em cima sentada a admirar o por do sol atrás da montanha do Roncador. Mas mudemos
de rumo. Vamos atrás do Pico da Onça. Sinceramente? Nunca vi uma onça lá. Mas quantos
locais de acampamentos tinham? Era demais. Duas horas e meia nas máquinas de
aço e lá chegamos facilmente.
Não posso contar todos meus
Fogos de Conselho nos meus tempos de jovem aventureiro. Não dá. Fogos de todo o
tipo. Da Tropa, do Grupo e aquele que não me agradava onde se convidava muita
gente de fora para participar. Quantas esquetes? Quantas histórias? E os
fantasmas da noite? Perdi a conta das cidades visitadas a pé ou nos nossos
cavalos de aço. Assim surgiram grupos em várias delas. Cobras? Onças? Animais peçonhentos?
Vi muitos. Nunca fui mordido e nunca vi ninguém ser. Claro que eu e a patrulha
ficamos mais de três horas num Jequitibá fugindo de uma pintada que resolveu
ficar olhando para ver quanto tempo iriamos aguentar. Eu já fugi de touros
bravos, até de um galo que me deu uma bela corrida. Quantas vezes acampei?
Quantas noites vivi sobre as estrelas? Perdi a conta depois das oitocentas
noites.
E as jornadas noturnas? Cada uma mais
marcante que as outras. Na Pedra do Sino chegamos quando o sol estava chegando
ao amanhecer. Coisa linda demais. E as chuvas? Os trovões? Os raios que um dia
partiram uma Peroba-Rosa em cima de nossa barraca suspensa? Um tombo de mais de
quinze metros. Até hoje penso que foi Deus quem nos ajudou. Os rios caudalosos
que em pequenas embarcações ou uma leve jangada que nem sei como aguentavam a
descer rios por vários quilômetros. Papai? Mamãe? Eles amavam como eu o
escotismo. Acreditavam em mim. Eu dizia: - Mãe, pai vou acampar, volto amanhã à
noite. Ou então: - Mãe, pai, eu vou fazer uma atividade aventureira. Volto na
semana que vem (nas férias). Eles sorriam e deveriam pensar que o escotismo
estava formando homens para o futuro do amanhã. Reuniões de sede? Existia, duas
no máximo por mês. Era ali que encontrávamos nosso Chefe. As patrulhas tinha um
Guia de Tropa, ele era a ponte entre o Chefe e os monitores.
Corte de Honra? Claro que
sim. Sistema de Patrulhas? Perfeito. Fraternidade? Incrível. Respeito entre Chefe
e escoteiros? Fora de série. Taxas? Pequenas que cabia no bolso de cada um. Ração
A, Ração B ou C a gente levava de casa. Chefe! – Um disse outro dia – Hoje não
dá mais. Não dá? Porque não? Já tentou fazer o verdadeiro escotismo de B-P?
Hoje o que vemos é um amontado de meninos e meninas sem saber aonde ir. Um
programa que não satisfaz chefes que se amedrontam com tudo. Uma liderança que
só sabe fazer atividades nacionais, regionais e distritais e pomposamente
propagandear os grandes eventos internacionais. Uma liderança que não apoia só
cobra vive amedrontando quem entra e claro um dia ele sai. Desiste. Escotismo
para ricos, para medrosos, para quem ainda não aprendeu a fazer fazendo junto
aos seus monitores.
Nunca mais veremos quatro
patrulhas completas por mais de dois anos juntas? Quando teremos resultados do
método que nossos lideres nos impuseram sem ao menos nos perguntar se é isto
que queremos? Quando poderemos mostrar orgulho em uma formação escoteira sem
medo de ser criticado por sermos pseudo militares? Nunca mais iremos sentir o
orgulho de um uniforme, postado com garbo e boa ordem? Quem são aqueles que
criticam tudo isto? No ultimo desfile nas grandes capitais um passeio sem graça.
Perguntaram por acaso ao público o que estavam achando? Estamos precisando de
um bom escotismo, mas não quando teremos o orgulho de dizer a um jovem e uma
jovem: - Parabéns, sua patrulha sua matilha mantêm os mesmos jovens de sempre
nós últimos dois anos. Os críticos, os fazedores de opiniões ainda não sentiram
que os resultados são pífios. Mas insistem nas suas ideias, afinal quem não
sabe como deveria ser o escotismo de hoje?
Minha nuvem chegou ao
ponto de partida. Final feliz na minha caminhada. Só gostaria de terminar
perguntando aos rapazes e moças se este é o caminho para o sucesso?