terça-feira, 6 de outubro de 2015

Uma viagem através do tempo.


Conversa ao pé do fogo.
Uma viagem através do tempo.

                 Eita modernidade danada. Escotismo hoje é coceira na cuca para inventar o que fazer e não fazer. Alguns Chefes que sabem mandar e não sabem ouvir. Lideres que são donos da verdade inventando programas e outros afins sem dar satisfações a ninguém. Tem aqueles que sustentam que o passado não é como hoje. Garantem que as histórias dos velhos escoteiros ficaram na imaginação e nas histórias e que hoje não mais tem lugar. Têm marginais, tem perigos em cada curva, que deixam pais de orelha em pé. Muitos preocupados com seus filhos vão juntos para ver se tudo corre bem. E na cidade? Ir para uma balada não tem perigo? Andar pela rua não pode ser atropelado? Na escola não tem bullying? Não tem drogas? Onde podem esconder seus filhos dos perigos? Acampar? Nem pensar se for só se tiver toda segurança possivel. Lugar sem animais peçonhentos (até hoje nunca ouvi falar de escoteiros mordidos por cobra). E a parafernália de documentos para sair por aí? Isto para mim não é escotismo. O que fazem hoje é um simulacro do que foi e já não é.

                 Viagem comigo. Entrem nesta pequena nuvem que o vento vai nos transportar para o passado. Perigos? Vai haver sim, afinal um dia os filhos irão viver suas vidas e os pais continuaram preocupados. É no escotismo que vamos ensinar como ser dono da própria vida, como saltar o obstáculo e saber onde está o caminho a evitar. Se não acreditarmos em nossos filhos e se nos tornamos babá deles em todos os lugares que vão então melhor colocá-los em outra organização. Até mesmo os acampamentos de férias não são estas maravilhas que contam. Mas vamos deixar o vento nos levar, vamos até a Cachoeira do Macaco, incrivelmente bela! Chegamos lá por acaso na mata do Tenente. Chamava-se Tenente porque uma turma do Tiro de Guerra se perdeu lá por uma semana. Era bom demais seu ribombar, a névoa que subia aos céus e cobrir a mata como se fosse um manto branco para ninguém ver. Na época da piracema ver os peixes saltitando a subir as pequenas escarpas de águas corredeiras para desovar rio acima onde não seriam alcançados.

                  Vamos viajar pelas estradas e caminhos muitas vezes abertos com o facão, com as mãos, e quando a chuva cobria o céu de nuvens negras, parava-se em qualquer lugar. Uma lona jogada sobre a cabeça. Ali debaixo daquela cobertura contavam-se causos, ria-se, cantava-se até a chuva passar e depois pé na taboa. Deixe a nuvem nos levar até o Córrego das Antas. Belo lugar para acampar. Quantas vezes eu acampei ali? Dezenas. Ali fiz minha primeira mesa, meu primeiro almoço, um fogão suspenso de tirar o folego. Ali eu construí com ajuda da patrulha o mais belo Pórtico que fiz em minha vida. Seis metros no mínimo de altura e era bom demais toda patrulha lá em cima sentada a admirar o por do sol atrás da montanha do Roncador. Mas mudemos de rumo. Vamos atrás do Pico da Onça. Sinceramente? Nunca vi uma onça lá. Mas quantos locais de acampamentos tinham? Era demais. Duas horas e meia nas máquinas de aço e lá chegamos facilmente.

                 Não posso contar todos meus Fogos de Conselho nos meus tempos de jovem aventureiro. Não dá. Fogos de todo o tipo. Da Tropa, do Grupo e aquele que não me agradava onde se convidava muita gente de fora para participar. Quantas esquetes? Quantas histórias? E os fantasmas da noite? Perdi a conta das cidades visitadas a pé ou nos nossos cavalos de aço. Assim surgiram grupos em várias delas. Cobras? Onças? Animais peçonhentos? Vi muitos. Nunca fui mordido e nunca vi ninguém ser. Claro que eu e a patrulha ficamos mais de três horas num Jequitibá fugindo de uma pintada que resolveu ficar olhando para ver quanto tempo iriamos aguentar. Eu já fugi de touros bravos, até de um galo que me deu uma bela corrida. Quantas vezes acampei? Quantas noites vivi sobre as estrelas? Perdi a conta depois das oitocentas noites.

                 E as jornadas noturnas? Cada uma mais marcante que as outras. Na Pedra do Sino chegamos quando o sol estava chegando ao amanhecer. Coisa linda demais. E as chuvas? Os trovões? Os raios que um dia partiram uma Peroba-Rosa em cima de nossa barraca suspensa? Um tombo de mais de quinze metros. Até hoje penso que foi Deus quem nos ajudou. Os rios caudalosos que em pequenas embarcações ou uma leve jangada que nem sei como aguentavam a descer rios por vários quilômetros. Papai? Mamãe? Eles amavam como eu o escotismo. Acreditavam em mim. Eu dizia: - Mãe, pai vou acampar, volto amanhã à noite. Ou então: - Mãe, pai, eu vou fazer uma atividade aventureira. Volto na semana que vem (nas férias). Eles sorriam e deveriam pensar que o escotismo estava formando homens para o futuro do amanhã. Reuniões de sede? Existia, duas no máximo por mês. Era ali que encontrávamos nosso Chefe. As patrulhas tinha um Guia de Tropa, ele era a ponte entre o Chefe e os monitores.

                     Corte de Honra? Claro que sim. Sistema de Patrulhas? Perfeito. Fraternidade? Incrível. Respeito entre Chefe e escoteiros? Fora de série. Taxas? Pequenas que cabia no bolso de cada um. Ração A, Ração B ou C a gente levava de casa. Chefe! – Um disse outro dia – Hoje não dá mais. Não dá? Porque não? Já tentou fazer o verdadeiro escotismo de B-P? Hoje o que vemos é um amontado de meninos e meninas sem saber aonde ir. Um programa que não satisfaz chefes que se amedrontam com tudo. Uma liderança que só sabe fazer atividades nacionais, regionais e distritais e pomposamente propagandear os grandes eventos internacionais. Uma liderança que não apoia só cobra vive amedrontando quem entra e claro um dia ele sai. Desiste. Escotismo para ricos, para medrosos, para quem ainda não aprendeu a fazer fazendo junto aos seus monitores.

                    Nunca mais veremos quatro patrulhas completas por mais de dois anos juntas? Quando teremos resultados do método que nossos lideres nos impuseram sem ao menos nos perguntar se é isto que queremos? Quando poderemos mostrar orgulho em uma formação escoteira sem medo de ser criticado por sermos pseudo militares? Nunca mais iremos sentir o orgulho de um uniforme, postado com garbo e boa ordem? Quem são aqueles que criticam tudo isto? No ultimo desfile nas grandes capitais um passeio sem graça. Perguntaram por acaso ao público o que estavam achando? Estamos precisando de um bom escotismo, mas não quando teremos o orgulho de dizer a um jovem e uma jovem: - Parabéns, sua patrulha sua matilha mantêm os mesmos jovens de sempre nós últimos dois anos. Os críticos, os fazedores de opiniões ainda não sentiram que os resultados são pífios. Mas insistem nas suas ideias, afinal quem não sabe como deveria ser o escotismo de hoje?


Minha nuvem chegou ao ponto de partida. Final feliz na minha caminhada. Só gostaria de terminar perguntando aos rapazes e moças se este é o caminho para o sucesso?