Firmino.
Apenas
um monitor de Patrulha.
Quinta cheguei a casa lá pelas
seis da tarde. Foi um dia normal. Entrei e vi que Noêmia não estava. Deve ter
ido à casa da mãe dela. Já ia tomar um banho quando alguém bateu na porta. Pela
batida eu sabia que era. Firmino, sem sombra de dúvida. Veio semana passada
neste mesmo horário. Sabia que eu estava em casa. Abri a porta e lá estava ele.
Sério, compenetrado – Olá Chefe! Posso entrar? – Claro Firmino. Ele foi para a
sala e se se sentou na pontinha da poltrona. – O deixei iniciar a conversa. Nas
entrelinhas eu já sabia. Sempre reclamando da patrulha. – Pois não Firmino! – Chefe,
a patrulha não quer obedecer. Já tentei conversar, até gritar eu gritei e nada.
Calou e abaixou a cabeça. Na semana passada disse que dois patrulheiros foram
mal educados com ele.
Eu tinha duas possibilidades.
Dar mais tempo para ele se acertar ou sugerir um Conselho de Patrulha para fazerem
nova escolha de um novo monitor. –
Firmino, eu já disse a você. Seu exemplo de cortesia e fraternidade vem em
primeiro lugar. Você tem de ser compreensivo comunicativo sem exigir demais. Em
vez de dizer faça, diga vamos fazer. Tem de ser leal, eles precisam aprender a
ter confiança em você. Não seja ríspido, gritos não resolvem. Ponha-se no lugar
deles, quando não era monitor gostava quando gritavam com você? – Ele me olhou
com aquele olhar de Coruja que perdeu o filhote. Procure ouvir mais, lembre-se
um líder só aprende a liderar se souber ser liderado. Seja humilde, mostre que
seus amigos da patrulha são bons, dê valor a eles por pior que sejam. Já
elogiou alguns deles?
Eu já disse a você que nosso
mestre Baden-Powell quando foi perguntado se não fosse Chefe mundial o que ele
gostaria de ser no escotismo? Firmino me olhou enviesado. – Ele foi firme
dizendo que se permitissem a ele escolher, escolheria ser Monitor de Patrulha.
Ele julgava que o papel mais interessante dentro do escotismo era o de Monitor
de Patrulha. Lembre-se o que ele disse uma vez: - O monitor não manda, o
Monitor orienta. Ele não empurra a patrulha, ele providencia para que ela vá ao
seu lado. Mas Chefe! Eu já tentei tudo e não adiantou. – Olhei para Firmino.
Nunca foi um líder. Foi eleito pela patrulha e nunca soube por que o
escolheram. – Firmino, lembra-se do acampamento do mês passado? Você sempre fazendo,
não pedindo ajuda, só mandando para que eles furassem os buracos, buscassem
lenha e poucas vezes deu liberdade a eles de fazer.
Chega Firmino de ser o mauzão,
ficar zangado quando as coisas vão mal. Pare de ser o Patrão, delegue tarefas. Você
parece bucha de canhão e assume sozinho as responsabilidades dos outros! Ou você
muda sua maneira, ou serei obrigado a ver com a patrulha se eles querem mudar
de monitoria. Firmino abaixou a cabeça querendo chorar. – Eu sabia que a
principal função do Chefe Escoteiro era de fazer seus monitores serem capazes
de dirigir suas patrulhas. Os outros monitores iam bem, mas Firmino não. - Ora
Firmino, você veio aqui para conversar ou para chorar? Será que isto resolve?
Vai ficar chorando toda vez que não conseguir atingir seus objetivos
programados? Levante a cabeça, tome jeito, leia mais a unidades didáticas que
te dei sobre monitoria. Seja mais amigo, ouça, pergunte distribua responsabilidade.
Eu sabia como Chefe de Tropa
que a missão do monitor passa nada mais do que ser o Treinador, aquele que rega
o que está árido, o Irmão Mais Velho, aquele que cura o que está ferido, o
Modelador, aquele que dobra o que é duro e que aquece o que está frio, e
finalmente o Exemplo, aquele que guia os passos dos desencaminhados. Nunca
esqueci que para o Monitor obter bons resultados com o seu
trabalho precisa ter: - sacrifício, dedicação, exemplo, franqueza, coragem,
energia, pois a grande condição indispensável para se exercer uma ação de
formação junto dos seus escoteiros é o seu exemplo como Monitor. Firmino
levantou e me disse: Chefe não vou desistir! O Senhor pode confiar em mim!
Saiu sorrindo diferente de quando entrou. Se ele vai mudar não sei, mas
eu nunca vou desistir de fazer dele um bom líder. Afinal isto não é minha
obrigação?