segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Tropas mistas.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Tropas mistas.

                     Um Chefe Escoteiro me enviou um e-mail com as seguintes indagações: Olá chefe Osvaldo! Gostaria de ouvir sua opinião sobre o tema de formação das patrulhas de maneira misto (meninos e meninas juntos) ou separado por sexo. Quais os prós e contras com base em sua experiência e ponto de vista? Em nossa tropa sênior as patrulhas são separadas por gênero e segundo o chefe da seção funciona muito bem. Estou em dúvida se isso se aplicaria também para nossa tropa escoteira. Forte abraço!

                       Interessante sua duvida. Quando em 1983/84 surgiu o movimento feminino no Brasil, ele foi implantado com tropas separadas. Devido à falta de conhecimento de muitas chefes femininas, foi preciso abrir vagas para elas terem oportunidade de fazerem seus cursos escoteiros o que até então era vedado. Eu mesmo fui um dos precursores em São Paulo quando dirigi um curso Básico com muitas delas participando. Um ano depois vários grupos iniciaram as alcateias mistas. Era eu um Chefe de Grupo e enquanto tive a frente às sessões sempre foram separadas. A partir de 1986/87 teve início as atividades de seniores e guias atuando juntos e logo a sessão Sênior se transformou em mista. Posso afiançar sem
Sobra de dúvida e sem uma boa pesquisa, que a falta de chefes na época obrigou muitos Grupos Escoteiros a aceitarem as moças e a solução imediata era que elas participassem juntos aos meninos da Alcatéia e Tropa.

                      Acrescente a isto que não havia moças e senhoras preparadas para assumir as sessões. Isto forçou os grupos a ter tropas e alcateias mistas. Por sinal mais fácil para o grupo na sua programação anual de atividades. Hoje pelo que se vê, são poucos os grupos que adotam ainda as sessões em separado. Com isto se aproveitaram os modernistas para defenderem o escotismo misto como um novo marco educacional visando a dar maior visibilidade na coeducação e ao escotismo moderno. Os resultados podem ser vistos hoje pela maioria dos Grupos Escoteiros. Isto claro se eles fizeram pesquisas para saber se deu ou não certo.

                       Muitos se avocam em dizer que isto faz parte da nova metodologia educacional. Não sou pedagogo, psicólogo e nem mesmo um catedrático para contradizer. Tive a oportunidade de como Escoteiro viver plenamente o Sistema de Patrulhas e por mais que queira me adaptar a esta nova metodologia eu me sinto tolhido ao pensar que ainda sendo menino pudesse ter em minha patrulha um elemento feminino. As defesas são enormes por esta maneira de agir. Todos tem uma opinião e poucos divergem. Sinceramente não vejo como uma patrulha terá liberdade de ação em seu campo de patrulha, em jogos e em jornadas dividindo as mesmas tarefas com as jovens. A coeducação é um fato insofismável, mas ainda fico na dúvida se os jovens ou as jovens terão a liberdade de ação com ambos atuando e dividindo responsabilidade na mesma patrulha.

                       Pensando em termos de atividades ao ar livre, fica mais difícil pensar em uma patrulha mista em um acampamento, daqueles que ainda recomendo nos moldes de Gilwell fazendo as mesmas atividades e atuando em conjunto. A liberdade de que cada sexo faça seu escotismo sem fugir do método para mim ainda é o melhor caminho. Afinal o tabu da liberdade de sexo ainda não foi plenamente absorvido pelas famílias que não se adaptaram ao metodologismo da participação em conjunto. O exemplo é visto hoje nas olimpíadas, no futebol, e outros esportes que ainda não tem equipes mistas. Mormente sei que nas famílias como um todo cada filho ou filha tem seus aposentos, tem sua atividade familiar dentro dos padrões que sempre foram bases na formação familiar. Não esquecer que as tarefas em casa tem o endereço certo para o jovem e a jovem. Aprovo e saúdo tropas atuando separadas. Aprovo a coeducação no escotismo moderno.

                        Por experiência própria vi os resultados quando acampei com tropas femininas e masculinas, atuando separadamente em seus campos, mas fazendo atividades em conjunto desde que ressalvando a fisiologia de cada um. Muitas vezes vi as Escoteiras suplantarem diversas patrulhas masculinas nas suas atividades de campo. Quanto à experiência de campos de patrulha mistos eu nada posso dizer. Não sei se os chefes de hoje fazem pesquisas individuais. Sei que muitos tem suas opiniões sempre baseado em suas experiências. Apesar de Velho Escoteiro e sabendo que dificilmente terei novamente a possibilidade de conviver com tropas separadas ou mistas, acho que o método Escoteiro foi pensado por B-P de uma maneira mais masculina e mesmo como dizem alguns, se ele estivesse vivo teria concordado com estas novas concepções da formação escoteira, prefiro não contradizer. Aceito sim a coeducação, mas cada um na sua área de atuação.

                         Tenho como meta que tudo que é bom deve ser utilizado, analisando sempre se os resultados foram satisfatórios. Não os resultados individuais dos adultos e sim aqueles que foram feito com uma boa pesquisa de opinião mostrando o que era e o que é para que cada um desse seu parecer. A UEB nunca fez isto. Nunca fez um questionamento se os resultados estão sendo satisfatórios. Estamos vendo muitos chefes e dirigentes fazerem das suas sessões um laboratório do que acredita ser melhor para o escotismo. O Velho chavão Bipidiano de ouvir os jovens passa longe do que hoje se aplica em muitas tropas e alcateias no Brasil. Que eu saiba nunca perguntaram ao jovem se ele gostaria de estar em uma sessão ou patrulha com outros do mesmo sexo. Seria bom se ele pudesse pensar os dois lados para depois emitir sua opinião.


                         Nota-se que o escotismo anda muito desacreditado. Seja na sua apresentação, seja na sua metodologia. Sabemos que ainda nos consideram um movimento excessivamente infantil e sem grandes objetivos educacionais. Nosso marketing não existe. Nossa melhor forma de mostrar que estamos vivos e praticando o escotismo é escondido entre quatro paredes da sede. Quando muito em ocasiões especiais juntamos forças para nos mostrar a comunidade, mas como diz um vizinho meu que sabe que sou Escoteiro: - Seu Osvaldo, o que fizeram dos escoteiros? Nunca vi tanta gente mal apresentada... Continuar? Que cada um interprete como quiser.