Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Tropas mistas.
Um Chefe Escoteiro me enviou um e-mail com as seguintes indagações: Olá
chefe Osvaldo! Gostaria de ouvir sua opinião sobre o tema de formação das
patrulhas de maneira misto (meninos e meninas juntos) ou separado por sexo.
Quais os prós e contras com base em sua experiência e ponto de vista? Em nossa
tropa sênior as patrulhas são separadas por gênero e segundo o chefe da seção
funciona muito bem. Estou em dúvida se isso se aplicaria também para nossa
tropa escoteira. Forte abraço!
Interessante sua duvida.
Quando em 1983/84 surgiu o movimento feminino no Brasil, ele foi implantado com
tropas separadas. Devido à falta de conhecimento de muitas chefes femininas, foi
preciso abrir vagas para elas terem oportunidade de fazerem seus cursos escoteiros
o que até então era vedado. Eu mesmo fui um dos precursores em São Paulo quando
dirigi um curso Básico com muitas delas participando. Um ano depois vários
grupos iniciaram as alcateias mistas. Era eu um Chefe de Grupo e enquanto tive
a frente às sessões sempre foram separadas. A partir de 1986/87 teve início as
atividades de seniores e guias atuando juntos e logo a sessão Sênior se
transformou em mista. Posso afiançar sem
Sobra de dúvida e sem uma boa pesquisa, que a falta
de chefes na época obrigou muitos Grupos Escoteiros a aceitarem as moças e a
solução imediata era que elas participassem juntos aos meninos da Alcatéia e Tropa.
Acrescente a isto que não
havia moças e senhoras preparadas para assumir as sessões. Isto forçou os
grupos a ter tropas e alcateias mistas. Por sinal mais fácil para o grupo na
sua programação anual de atividades. Hoje pelo que se vê, são poucos os grupos
que adotam ainda as sessões em separado. Com isto se aproveitaram os
modernistas para defenderem o escotismo misto como um novo marco educacional
visando a dar maior visibilidade na coeducação e ao escotismo moderno. Os
resultados podem ser vistos hoje pela maioria dos Grupos Escoteiros. Isto claro
se eles fizeram pesquisas para saber se deu ou não certo.
Muitos se avocam em
dizer que isto faz parte da nova metodologia educacional. Não sou pedagogo, psicólogo
e nem mesmo um catedrático para contradizer. Tive a oportunidade de como
Escoteiro viver plenamente o Sistema de Patrulhas e por mais que queira me
adaptar a esta nova metodologia eu me sinto tolhido ao pensar que ainda sendo
menino pudesse ter em minha patrulha um elemento feminino. As defesas são
enormes por esta maneira de agir. Todos tem uma opinião e poucos divergem.
Sinceramente não vejo como uma patrulha terá liberdade de ação em seu campo de
patrulha, em jogos e em jornadas dividindo as mesmas tarefas com as jovens. A
coeducação é um fato insofismável, mas ainda fico na dúvida se os jovens ou as
jovens terão a liberdade de ação com ambos atuando e dividindo responsabilidade
na mesma patrulha.
Pensando em termos de
atividades ao ar livre, fica mais difícil pensar em uma patrulha mista em um
acampamento, daqueles que ainda recomendo nos moldes de Gilwell fazendo as
mesmas atividades e atuando em conjunto. A liberdade de que cada sexo faça seu
escotismo sem fugir do método para mim ainda é o melhor caminho. Afinal o tabu
da liberdade de sexo ainda não foi plenamente absorvido pelas famílias que não
se adaptaram ao metodologismo da participação em conjunto. O exemplo é visto
hoje nas olimpíadas, no futebol, e outros esportes que ainda não tem equipes
mistas. Mormente sei que nas famílias como um todo cada filho ou filha tem seus
aposentos, tem sua atividade familiar dentro dos padrões que sempre foram bases
na formação familiar. Não esquecer que as tarefas em casa tem o endereço certo
para o jovem e a jovem. Aprovo e saúdo tropas atuando separadas. Aprovo a
coeducação no escotismo moderno.
Por experiência própria
vi os resultados quando acampei com tropas femininas e masculinas, atuando
separadamente em seus campos, mas fazendo atividades em conjunto desde que
ressalvando a fisiologia de cada um. Muitas vezes vi as Escoteiras suplantarem
diversas patrulhas masculinas nas suas atividades de campo. Quanto à
experiência de campos de patrulha mistos eu nada posso dizer. Não sei se os
chefes de hoje fazem pesquisas individuais. Sei que muitos tem suas opiniões
sempre baseado em suas experiências. Apesar de Velho Escoteiro e sabendo que
dificilmente terei novamente a possibilidade de conviver com tropas separadas
ou mistas, acho que o método Escoteiro foi pensado por B-P de uma maneira mais
masculina e mesmo como dizem alguns, se ele estivesse vivo teria concordado com
estas novas concepções da formação escoteira, prefiro não contradizer. Aceito
sim a coeducação, mas cada um na sua área de atuação.
Tenho como meta que
tudo que é bom deve ser utilizado, analisando sempre se os resultados foram
satisfatórios. Não os resultados individuais dos adultos e sim aqueles que
foram feito com uma boa pesquisa de opinião mostrando o que era e o que é para
que cada um desse seu parecer. A UEB nunca fez isto. Nunca fez um
questionamento se os resultados estão sendo satisfatórios. Estamos vendo muitos
chefes e dirigentes fazerem das suas sessões um laboratório do que acredita ser
melhor para o escotismo. O Velho chavão Bipidiano de ouvir os jovens passa
longe do que hoje se aplica em muitas tropas e alcateias no Brasil. Que eu
saiba nunca perguntaram ao jovem se ele gostaria de estar em uma sessão ou
patrulha com outros do mesmo sexo. Seria bom se ele pudesse pensar os dois
lados para depois emitir sua opinião.
Nota-se que o escotismo anda
muito desacreditado. Seja na sua apresentação, seja na sua metodologia. Sabemos
que ainda nos consideram um movimento excessivamente infantil e sem grandes
objetivos educacionais. Nosso marketing não existe. Nossa melhor forma de
mostrar que estamos vivos e praticando o escotismo é escondido entre quatro
paredes da sede. Quando muito em ocasiões especiais juntamos forças para nos
mostrar a comunidade, mas como diz um vizinho meu que sabe que sou Escoteiro: -
Seu Osvaldo, o que fizeram dos escoteiros? Nunca vi tanta gente mal
apresentada... Continuar? Que cada um interprete como quiser.